Sobre mídia e política

1) Principal bandeira do governador Sérgio Cabral, o projeto das UPPs está longe de ser apresentado de forma honesta pelas corporações de mídia. Como são cerca de mil favelas no estado, e as UPPs estão apenas em treze delas, pode-se dizer que o que Cabral está fazendo não é combater a criminalidade, e sim redefinir o mapa da criminalidade em função dos mega-eventos esportivos (Jogos Militares, Copa do Mundo e Olimpíadas). Niterói, São Gonçalo e municípios do interior do estado estão sendo tomados, gradativamente, pelos traficantes varejistas expulsos de favelas como Rocinha e Morro dos Macacos. Quem sofre são os moradores dos bairros para onde vão os bandidos. Num deles houve troca de tiros dois dias seguidos, sem que aparecesse um policial sequer para amenizar o sofrimento dos moradores. O cidadão comum ignorar essa realidade é compreensível, mas por que será que calam as corporações de mídia?
2) Na semana seguinte à vitória de Dilma, primeira presidenta do Brasil, as corporações de mídia abandonaram o ódio cultivado contra ela durante a campanha. Agora está sendo tratada com mais condescendência. Em jogo, a urgente regulação das comunicações e cerca de um bilhão de reais em verbas publicitárias.
3) Fato interessante nas eleições parlamentares. No Rio de Janeiro, os três candidatos mais identificados com os Direitos Humanos – Chico Alencar e Alessandro Molon, eleitos deputados federais, e Marcelo Freixo, eleito deputado estadual – receberam quase o dobro da votação de três dos candidatos que se manifestam abertamente contra os Direitos Humanos, como os deputados federais Arolde de Oliveira e Jair Bolsonaro, e o deputado estadual Flávio Bolsonaro, que numa das manifestações mais contundentes afirmou: “Sou de direita. Luto contra os Direitos Humanos, que só servem para proteger os bandidos e os marginais”. O resultado das urnas foi 547.492 votos para os que lutam por Direitos Humanos x 278.425 votos para os outros três.
4) A qualidade da TV aberta no Brasil continua sofrível, e parece piorar a cada dia. Um argumento comum dos direitistas é: “está insatisfeito, use o controle remoto e troque de canal”. O problema é que não faz muita diferença alterar entre Globo, Rede TV, Band, SBT, CNT e Record. Em determinados dias e horários, então, é preciso uma saúde mental muito elevada para não cortar os pulsos. Só a TV Brasil oferece uma programação diferenciada, e mesmo assim ainda precisa melhorar muito. Desejo sorte ao novo Congresso Nacional, à presidente eleita, ao juízes, promotores e todos os movimentos sociais organizados que lutam pela democratização da comunicação. Cada passo que avançamos aqui representa um pulo enorme em todas as outras áreas. No Brasil de 190 milhões de habitantes e que ruma para ser a quinta economia do mundo, temos que ter pelo menos 50 emissoras em sinal aberto, todas com a mesma qualidade de som e imagem, e respeitado o artigo constitucional que prevê complementariedade entre os sistemas privado, público e estatal, assim como deve ser garantida a participação de movimentos sociais, sindicatos, universidades, entidades de classe e tudo o mais que cheire a povão botando a cara, os anseios e a sua visão de mundo na televisão. Depois disso, concordo com o argumento do controle remoto.
5) O Enem deu 99,9% certo, mas está sendo atacado dia e noite pela chamada “indústria do vestibular”, com ampla divulgação pelas corporações de mídia. Leia aqui a matéria de Anselmo Massad.

6 comentários sobre “Sobre mídia e política”

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  2. Os donos de Tv devem ser chamados pelo novo
    governo para trabalhar pela educação no Brasil.
    È impossível continuarmos com uma programação
    deste nível que é exibida. As estatais e o próprio governo sódevem anunciar em programas que tenham conteúdo educativo.

  3. Deve-se acabar com este foco único sobre o eixo Rio-São Paulo, neste aspecto reconheço que a RecordNews transmite a programação de suas
    afiliadas regionais para todos país. A música brasileira de qualidade deve ser veiculada.

  4. O rádio am praticamente está se extinguindo no
    país. As emissoras estão nas mãos de grupos religiosos que alienam a população, mas este
    veículo ainda é de grande importância na educação do povo.

  5. O Cabral teve a audácia de prometer duramte campanha pacificar todas as favelas… Ninguém questionou!?!
    Gostaria de aproveitar este espaço e manifestar a minha indignação com relação a Programação da Rede Globo que tem exibido “As Cariocas” – que ficam rotuladas como vadias insaciáveis, adúlteras… a cada episódio.

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