
No Rio de Janeiro, um recruta de 27 anos teve sua morte cerebral diagnosticada após participar, segundo a família, de um trote violento que deixou pelo menos outros 30 outros policiais com queimaduras, convulsões e desmaios.
O local onde a morte do rapaz foi provocada: o “Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças” (CFAP), que treinava praças para atuar em UPPs, a polícia pacificadora do Rio de Janeiro.
Uma prima da família nega a versão da corporação: “Ele não teve insolação, nem mal súbito. Alguém tem que ser punido. Levaram nosso menino”.
Um policial questiona em um grupo no Facebook: “Como querem formar bons policiais, para respeitar os direitos humanos dos outros, se os direitos humanos dos policiais não são respeitados desde a sua formação?”
Em outra mensagem, um praça desabafa: “E agora, comandante geral da PM? Como falamos aqui antes: Se os instrutores fossem 4 praças, já estariam presos mesmo antes das averiguações. Mas, como são 4 oficiais, ainda estão soltos, e vão aguardar um IPM de merda, presidido por também oficiais, que com certeza, vão passar as mãos na cabeças destes 4 ASSASSINOS.”
Os alunos contaram ao jornal Extra que o treinamento de terça-feira foi uma “suga”, que leva o recruta ao limite físico. Segundo os relatos, quem não conseguia acompanhar a turma, era submetido a choque térmico com água gelada ou era obrigado a sentar no asfalto quente. No dia, a temperatura no CFAP, em Sulacap, chegou aos 42°C, com sensação térmica acima dos 50°C.
O comandante deste centro de formação, Nélio Monteiro Campos, deu a seguinte declaração (acompanhe): “O CFAP lamenta o que ocorreu. O Paulo (Aparecido Santos de Lima, a vítima) é um filho da PM. O dia 12 foi atípico.”
O que isso quer dizer, exatamente? Como assim “é filho da PM”? Se não o fosse, os maus-tratos (que beiram a tortura) seriam tolerados? E como assim foi atípico se esta prática é relatada por muitos praças e tem até apelido (“suga”)?
Um soldado ouvido pelo jornal Extra explicou que, por volta de 15h daquele dia, Paulo desmaiou. Segundo ele, o instrutor, pensando que o jovem estava fingindo, chegou a gritar: “Levanta daí e para de ser marica!”.
Diz o aluno: “Lá, tudo é na base da vara. Geralmente, os cursos de formação têm rigidez, mas não dessa forma. Eles (os instrutores) extrapolam todos os limites.”
Em vídeo ao qual o jornal Extra teve acesso, um outro tenente grita e dá ordens a alunos numa espécie de favela cenográfica dentro do centro de treinamentos. No local, o oficial orienta os aspirantes e dá um tapa no rosto de um dos recrutas, que está fardado no momento em que é agredido.
O jornalista da Rádio BandNews Ricardo Boechat, um dos poucos que acompanhou o caso sem tomar a versão da PM como a definitiva, comentou que esse não é uma atitude atípica. “Temos relatos de que os recrutas são preparados como se para uma guerra convencional fossem, e o resultado é o que nós já conhecemos, nas ruas.”
Matéria do Extra: http://glo.bo/1aOAMX4
Outro relato de um recruta: http://glo.bo/1aOAQpR
Relato de um blog de um policial: http://bit.ly/1b5cf5W
Relato sobre o tema da tortura dentro da PMERJ: http://bit.ly/1b5cgqM