Para sobreviver nesta selva, melhor esquecer Brasília e o governo

Por Ricardo Kotscho

Sei que não é fácil, mas não tem outro jeito: para manter um mínimo de sanidade mental e sobreviver nesta selva bolsonariana é melhor esquecer Brasilia e o governo, o STF e o Congresso.

Não sei se isso acontece também com os caros leitores, mas ao terminar de ler o noticiário pela manhã não me dá vontade nem de sair de casa.

Pensei nisso ao ler na coluna do Nizan Guanaes, na Folha, sobre os 24 brasileiros que participaram com ele de um curso em Harvard:

“Gente que não quer saber de más notícias, gente que não quer saber de Brasília. Eles sabem e fazem a hora, não esperam acontecer”.

Nizan cita o exemplo do chef italiano Rodolfo De Santis, que chegou ao Brasil em 2010 e, de lá para cá, abre um restaurante ao lado do outro, todos com o maior sucesso.

“Neste momento econômico do Brasil, cheio de ansiedades e interrogações, quem é o maluco que vai investir? Rodolfo de Santis vai”.

Só reclamar da vida e fazer cara feia é que não vai pagar as contas de ninguém.

Se um caminho se fecha, é preciso abrir outro, correr o risco, botar a cara para bater, como o grande Mino Carta sempre fez na vida.

Mino gosta de dizer que criou seus próprios empregos, depois de ser demitido da Veja, ao abrir um leque de novas revistas por conta própria.

Jornalistas que ficaram sem espaço na grande mídia, cada vez com menos vagas e salários aviltados, não param de criar novos blogs, sites e agências de notícias.

Estão criando uma rede de repórteres independentes que hoje já fazem concorrência à imprensa tradicional.

Um bom exemplo é o site Intercept, do jornalista americano Glenn Greenewald, que fez as denúncias sobre as maracutaias da dupla Moro & Dallagnol na Lava Jato.

Mídias independentes fora do main stream deram e continuam dando ampla cobertura às denúncias, que já estão sumindo do noticiário de quem acha que a Lava Jato salvou o país da corrupção.

Outro exemplo é a Agência Pública, criada pelas repórteres Marina Amaral e Natália Viana, que estão quase sozinhas, com sua equipe de jovens jornalistas denunciando sem parar o escândalo da liberação de venenos na agricultura, entre outras reportagens que não se vê mais na grande mídia.

Com muito orgulho, faço parte, desde a sua fundação, do conselho editorial da Pública, que reúne alguns dos mais respeitados jornalistas do país.

Faço parte também do grupo Jornalistas Pela Democracia, que publica meus posts no portal Brasil 247.

Uma coisa não elimina a outra, todo trabalho pode ser bem feito em qualquer lugar.

Também estou muito feliz por poder continuar publicando minhas reportagens na Folha, com toda liberdade, já na minha quarta passagem pelo jornal, ao mesmo tempo em que toco sozinho este blog Balaio já faz quase 11 anos.

Uma coisa que me incomoda muito é ficar refém das pautas do governo, que só geram más notícias, e acabam nos fechando os olhos para a vida fora dos gabinetes oficiais, nas quebradas e nos becos, onde o povo brasileiro luta para sobreviver.

Em seu artigo, Nizan fala dessa “meninada empreendedora”, mas para fazer coisas novas não importa a idade.

Na Vejinha desta semana, fiquei sabendo que meu amigo Rogério Fasano, que deve ter a minha idade e não para de criar novos restaurantes, hotéis e resorts, inaugura hoje mais um, o Gero Panini, dedicado a sanduíches.

Eu mesmo estou planejando um programa de televisão no Youtube, o “Ricardão e Ricardinho”, junto com meu velho parceiro Ricardo Carvalho, na Agência Click, de Paulo Amaral, que vai passar no Google Brasil, em sua nova fase de investir em projetos jornalísticos.

E vou terminando por aqui porque agora tenho um almoço de trabalho para tratar de novas pautas e projetos com outros dois veteranos, os fotógrafos Helio Campos Mello e Jorge Araújo.

É isso, bola pra frente, que atrás vem gente.

Vida que segue, apesar do governo.

Fonte: Balaio do Kotscho

(18-06-2019)

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