Certa vez, estava passando ao lado de uma ocupação na Mangueira, muito próximo ao Maracanã — no máximo 10 minutos a pé. “São centenas de famílias”, me disse a autoridade, apontando para o prédio de uns 10 andares.
Algum poder público tentou entrar? Conversar com as famílias? Ver se precisam de atenção médica, ou o que querem? Alguém foi lá pra levar ajuda de desenvolvimento?
“Não, o prédio é do IBGE, tá na Justiça. No máximo a UPP, que não tem essa função, né? Mas tudo agora é a UPP. Até quando falta luz, é pra UPP que ligam. O que a UPP tem a ver com isso? Não pode ser tudo na conta da segurança.”
O outro ‘mundial’ é isso aí, foi o que vi com meus próprios olhos. Nós, cidadãos, não temos a capacidade para mudar sozinhos, isolados, essa situação. Trabalhamos 10 horas por dia, seis dias por semana, para tentar pagar o aluguel. O dinheiro vai, em grande parte, pro Estado, que tem as condições e responsabilidade de fazer alguma coisa. E o que o Estado faz? Trabalha para o lucro dos empresários, que eles chamam de “desenvolvimento”.
Mas, juntos, os cidadãos precisamos mudar isso. Precisamos enfrentar a organização orientada do Estado e seus interesses não declarados.
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Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.