Várias entidades –como a OAB, Anistia Internacional, ENSP-Fiocruz, ABRASCO, entre outras– tem se manifestado repudiando o feroz massacre praticado pelo governo de José Richa, do Paraná, contra os docentes que reclamavam pacificamente pelos seus direitos.
Este fato me remontou ao começo da minha vida política. Iniciei-me nas manifestações de rua com 13 anos, em 1966. Resistindo a uma ditadura que afastou da presidência da República Argentina o Dr. Arturo Uberto Illia, um médico decente, correto.
Passaram-se anos de atropelo às liberdades individuais. Tortura, assassinato de operários e estudantes. Hoje, na minha idade, a esta altura de mim mesmo, julgo que estaria traindo aquele jovem que saía à rua em favor da justiça e da liberdade, se me calasse diante do que soube que aconteceu no Paraná. Esses colegas, essas colegas, não me são indiferentes.
Eu me pergunto se nós, terapeutas comunitários-as, não temos algo a dizer a este país que está cada vez mais dividido entre os que se preocupam com o próximo, e os que praticam o egoísmo individualista. Ou a TCI seria apenas um passatempo, algo para certas ocasiões?
Eu comecei a me recuperar como pessoa, das sequelas que uma outra ditadura na Argentina, a do carrasco Videla, deixara em mim, nas rodas da TCI no bairro dos Ambulantes, em João Pessoa. Foi no meio dessa gente simples unida às docentes da UFPB e estudantes, que fui recuperando a noção de mim mesmo. A noção da pessoa que sou.
Passaram-se muitos anos. E cada vez que eu participava de um encontro de TCI, ia voltando mais e mais a ser quem sou. É por isto, que me sinto a vontade de me dirigir a vocês, colegas da TCI de todo o Brasil, pensando em dialogar abertamente sobre a gravidade do momento que o país enfrenta.
Silenciar diante das atrocidades praticadas contra os docentes do Paraná, nos tornaria cúmplices, por omissão, de algo que lembra as práticas da polícia da ditadura. Posso dizer a vocês, com a mão no coração, que isto, na minha opinião, não pode nem deve ficar impune.
Não poso esquecer que foi a omissão de muita gente de bem, que, por medo, calava, que as ditaduras que me tocou sobreviver, fizeram o que fizeram. Milhares de mortos e desaparecidos. No Paraná, foram 200 feridos. O que vamos esperar? Que venham por nós? É melhor que nos encontrem de pé.

Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/