O Maraca é a cara do Rio

Truculência e demagogia do Grupamento Especial de Policiamento de Estádios (GEPE) é o destaque negativo da bela tarde de domingo no Maracanã. Por Gustavo Barreto.

Juan comemora o gol da vitória / Foto: Alexandre Cassiano/Globo Online

Fiquei emocionado ao ver o Maracanã cheio na tarde deste domingo (12), ainda mais com o Flamengo ganhando do Fluminense depois de o presidente do Flu transbordar arrogância durante a semana, dizendo que o Fla “treme” em decisões contra o tricolor carioca.

Destaque para as duas maiores torcidas do Flamengo – Raça Fla e Jovem Fla -, que deram um show de civilidade e se cruzaram ao se posicionarem nas arquibancadas, sem prejuízo para a boa convivência. Só quem esteve lá e já viveu outros momentos de tensão do Estadual para entender a importância deste momento. Sem contar com o grande número de amigos que lá encontrei.

Fico inclusive com a impressão de que o Maraca é a cara do Rio. Tudo parece estar melhorando (parece, não sei se está), exceto a polícia (que com certeza não está).

O método de intimidação e humilhação continua a ser a prerrogativa de uma polícia que não pensa, como é o caso da GEPE (Grupamento Especial de Policiamento de Estádios).

Eu estava nas cadeiras comuns, muito próximo ao campo, e por lá estavam os policiais Almeida (GEPE 399) e Dos Passos (GEPE 396). Assim como os seus demais colegas, eles olhavam com raiva para a massa de flamenguistas, dispostos a usar a qualquer momento o cacetete. Pareciam incitados a iniciar uma briga, por qualquer motivo. Pôr o pé na área de segurança entre a torcida e o campo, por exemplo, já era pretexto para que ficassem furiosos.

Acreditem ou não: se levantar para lamentar um gol perdido era um risco que os torcedores corriam, pois poderiam apanhar por isso (?). Outro policial – G. Barbosa (GEPE 395) – se aproximava sempre que “ameaçávamos” avançar na área de segurança. Isso porque o estádio estava absolutamente lotado (público pagante de mais de 70 mil pessoas!) e era impossível não “cair” nesta área de segurança com pelo menos um dos pés (era o meu caso, na primeira fila).

Para piorar, o policial Leandro (GEPE 063) passava com uma espécie de minibugre, muito próximo ao pé das pessoas, e por conta desta atitude, não raro, arranjava confusão com torcedores desavisados. Era o próprio GEPE que iniciava a maior parte das confusões, perto de onde eu estava.

Depois de uma destas confusões – igualmente iniciada pelo policial Leandro (GEPE 063) -, este mesmo policial decidiu, parecendo ter raiva pelo fato de que não conseguiu bater em alguém, jogar indiscrinadamente – repito: DEPOIS da rápida confusão provocada por eles próprios – um spray de pimenta, que atingiu todo o entorno. Incluindo meu olho direito. Fiquei com o olho lacrimejando durante 10 minutos, o que prejudicou substancialmente minha visão do jogo.

Sem contar que éramos obrigados a ficar sentados, a partir da seguinte ordem dada pelo policial G. Barbosa (GEPE 395): “Bora sentar, cambada”. Enquanto isso, volta e meia o policial Leandro (GEPE 063) sorria, tal como um político demagogo, para alguém na multidão, como se fosse popular. E não se furtou de carregar no minibugre uma criança, como se não tivesse jogado poucos minutos antes spray de pimenta em torcedores que nada tinham feito (tanto que ninguém foi detido naquela área).

Tamanha a beleza do espetáculo do Mengão, quase deixei pra lá esta situação humilhante que passaram parte dos torcedores ali presentes nas primeiras fileiras das cadeiras comuns (abaixo das cabines de radiodifusão). Mas não posso deixar de comentar que, se quisermos ter realmente paz nos estádios, além de policiamento, precisaremos de policiais melhor treinados, ao invés do policiamento truculento que temos atualmente. Que, repito, não pensa, apenas abusa do poder.

O poder público precisa entender que está ali para garantir o espetáculo. Não para humilhar os torcedores e abusar do fato de que está em posição privilegiada por possuir armas e gases imobilizadores.

E se alguém na Polícia Militar do Rio de Janeiro achar que eu estou fazendo alguma demagogia como membro da classe média carioca, do alto do meu confortável apartamento, sustento o que disse neste artigo e me identifico: Gustavo Barreto de Campos. Vai com cópia para a ouvidoria da PMERJ, tendo deixado no site da instituição meu CPF, carteira de identidade e contatos, incluindo o telefone celular (protocolo E2668/2009).

8 comentários sobre “O Maraca é a cara do Rio”

  1. Realmente lamentável! Sem mobilização, não haverá mudanças! É uma grande inversao de valores… estes caras são funcionários do público, e confundem autoridade com poder…

  2. A culpa é nossa, por insistirmos em ir ao Maracanã mesmo sendo tratados dessa forma.

    Na final da Copa do Brasil, onde ganhamos pra variar dos vascaídos, fui tratado como gado, onde os ‘ilustres’ policiais do GEPE, de cassetete em punho, nos mandavam levantar os braços e seguir em frente. E ai de quem saísse involuntariamente da ‘formação’.

    Achei que estava saindo de um trem e indo para Treblinka ou Sobibor… 🙁

  3. O povo tem certa culpa. Precisa protestar com mais vigor, talvez deixando de ir aos jogos. A polícia vai gostar, mas os clubes não e deverão se mexer.

    Só que esse povo brasileiro é passivo demais. E o carioca pior ainda. Sou carioca, saí do Rio e só assim consegui entender a diferença. Aceitam tudo, levam tudo na boa, deixam rolar o desmando e a cidade vai morrendo cada vez mais….

  4. gustavo, em sp tb é assim. a policia que causa tumulto e mal estar. nas duas brigas nos classicos (corinthians no morumbi e santos no pacaembu)eu estava e vi de perto. as duas vezes toda a confusão foi causada pelos policias. eu vi muitos torcedores sendo xingados por quem está lá para “servir e proteger”.

  5. Torcedor brasileiro sofre.
    E todos que frequentam estádios já devem ter visto cenas de abuso de autoridade.
    E o pior é que a polícia que deveria estar para proteger, se coloca na função de intimidar ainda mais o cidadão que já é acuado e para quem não falta motivos de ter medo de ir ao estádio. lamentável. A solução: assistir ao jogo em casa.

    Vou utilizar seu depoimento no blog (www.cultebol.com)
    abs.

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