O Brasil que não evolui (2)

Não havia planejado uma continuação para “O Brasil que não evolui” – embora, de fato, as possibilidades associadas a este tema tendam ao infinito –, mas a informação de que o número de vereadores brasileiros eleitos no próximo sufrágio subirá 10% em relação às últimas eleições, o que representa a criação de 5 mil novas cadeiras nas câmaras municipais do país, é digna de repercussão.

Os dados são de matéria veiculada pelo jornal O Globo (3/7/12), que ainda destaca um irônico e triste detalhe: no estado do Rio, as duas cidades que mais terão aumento de vereadores serão Nova Friburgo e Teresópolis, justamente aquelas mais afetadas pela tragédia das chuvas de 2011 e cuja população, até hoje, não viu a cor do dinheiro que deveria ter sido investido na recuperação de infraestrutura e implementação de medidas de auxílio social. Nada mais recompensador para o povo da serra fluminense do que ver seu nobre corpo de representantes municipais aumentar depois dos flagrantes desvios de recursos públicos em suas cidades…

Mas no Brasil é assim mesmo. Faltam médicos, professores e policiais bem remunerados e treinados; mas, políticos, isso não falta. Não faltam também benesses para sua classe: salários bem superiores ao ganho médio dos brasileiros – e reajustados por eles mesmos acima da inflação todos os anos –, auxílio paletó, gasolina, viagens de avião, etc. etc. etc. (fica difícil imaginar o quanto mais não roubariam se não tivessem todo esse suporte).

Esse Brasil que não evolui advém da manutenção de práticas centenárias, ultrapassadas, retrógadas, oligárquicas e até mesmo monárquicas – literalmente. Afinal, o inchamento aparentemente arbitrário que ocorrerá nas câmaras municipais demonstra claramente como o país vem conservando com esmero uma velha tradição de seus governantes: manter uma nobreza absoluta e ridiculamente inflacionada. O seguinte trecho, extraído do livro “1822”, de Laurentino Gomes, é significativo a esse respeito:

“(…) a monarquia portuguesa, depois de 736 anos de existência, tinha 16 marqueses, oito viscondes, quatro barões e 26 condes, enquanto que a brasileira, com apenas oito anos, já ostentava 28 marqueses, 16 viscondes, 21 barões e oito condes”.

Se todos os incrementados números da classe política nacional ao menos se traduzissem em iniciativas de interesse social, em governos interessados e ativos, que promovessem políticas públicas eficientes e objetivas – e não fisiológicas, demagógicas e eleitoreiras –, ainda ia lá. Mas não é bem assim que a banda toca por aqui.

O que fica cada vez mais patente neste país é que o meio político serve a si mesmo e àqueles que são amigos do rei, isto é, que fazem parte, direta ou indiretamente, da nobreza.

Assim, grosso modo, a dinâmica que permanece vigente é esta: aos governantes, as verbas públicas e o trampolim para o sucesso como homens de negócio; aos ricos, a manutenção dos mecanismos políticos e econômicos que os mantêm em tal posição; ao povo, as bolsas da demagogia; e à classe média, os impostos.

 ……………………………

Só para não passar em branco: circula na internet um vídeo de 26 segundos de duração em que PMs cariocas espancam um motorista em uma garagem, em Barra Mansa, no Rio de Janeiro. Não importa o quão errado estava o sujeito; a ação dos PMs deveria ter sido, no máximo, a de encaminhá-lo à delegacia. Ao invés disso, os “bem” preparados servidores públicos covardemente agrediram o homem – isso após terem jogado spray de pimenta dentro de seu carro e fechado a porta (!). Mais um caso daquele Brasil que não evolui, tema do primeiro texto.

Deixe uma resposta