Paula Batista, da redação
A frase foi dita há muito tempo, mas ela é cheia de inteligência. Às vezes sinto várias pontas de inveja ao ler falas dos intelectuais governistas da atualidade e os da idade média. É surpreendente que uma das únicas coisas que não evoluem com o passar dos séculos, é a inteligência de determinados tipos políticos.
A crise aérea anunciada em 2001 pela Associação dos Pilotos da Varig e re-anunciada em 2002 pelo então presidente do PT, o Lula, no jornal Gazeta Mercantil, está deixando a população cada vez mais brava. Agora à tarde, por volta das 14h e alguns minutos, mais um avião da GOL apresentou problemas. Desta vez longe da pista inconseqüentemente liberada, de Congonhas, mas em Goiás. Para azar da GOL e dos governantes no poder, no vôo 1355, havia celebridades. Elas ficaram indignadas com a situação, principalmente porque, segundo elas até o momento, quase duas horas depois, a GOL ainda não deu nenhuma explicação sobre o incidente – e será que vai dar?-.
A história só se repete a cada dia. Tanto que ela já está se tornando por demais, cansativa. O presidente Lula, agora, resolve debochar das vaias que anda recebendo democraticamente pelo país. Sinal de que está se sentindo seguro, acima de tudo, e de todos. Essa é uma das sensações mais interessantes, relatadas por vários ex-governantes: a sensação de poder e de ser inatingível. Até ser atingido.
Voltando ao caso dos acidentes de aviões, os dados deste ano só aumentam. Com esse incidente com o vôo 1355 da GOL, com pessoas feridas, chegamos ao 43º acidente com a aviação civil de janeiro a agosto deste ano. Ano passado foram 48 e em 2005, durante todo o ano, 42. Em 2005, 33 pessoas morreram nesses acidentes. Em 2006, 215 e, até julho de 2007, 228 mortes.
E há quem diz que voar no Brasil é seguro e que esses dados não passam de estatísticas incompletas. Mas são dados curiosos, que demonstram o descaso por parte do Estado. Se é tão seguro voar no Brasil, porque é que temos que pagar o seguro embutido nas passagens? Se é seguro, é garantido que nada vai nos acontecer, deveríamos não ter que pagar isso.
Vi mais atentamente uma entrevista do vice-presidente da Associação Brasileira de Aviação Geral, Adalberto Febeliano, dizendo que é seguro voar no Brasil. Eu me preocupei. E me preocupei mais ainda quando ele conta, tranquilamente, num programa de TV do dia 24 de julho à noite, que a instituição dele participou de reuniões com as empresas áreas, ANAC, Infraero, FAB e órgãos do governo, e eles decidiram que era preciso liberar a pista principal de Congonhas, mesmo sem a finalização das obras, por causa da alta-estação das férias de julho. E para se explicar, ele diz que essa decisão foi tomada com base na meteorologia. É isso mesmo, meteorologia. Segundo ele, os meses de Julho e Agosto são os que menos chovem, por isso, bastava que os aviões não pousassem ou decolassem na pista de Congonhas, caso estivesse chovendo. Pois não é que em julho choveu e os aviões, com a pista incompleta liberada, decolaram e pousaram?!!. Dias depois, essa pista liberada por eles, ocasionou a morte de 199 pessoas, no vôo da TAM.
Eu ainda não tinha ouvido, realmente, alguém dizer tão claramente de quem era a responsabilidade da liberação da pista de Congonhas, antes da conclusão das obras. Tá aí: é desse grupo todo, que para não perder dinheiro com as férias, liberaram a pista, isso porque, nesses meses, não chove muito. Então é simples. Basta ouvir a meteorologia na TV para que um piloto decida sobre pousar ou não em Congonhas ou para pousar ou decolar em qualquer pista problemática do país.
Nessa mesma entrevista, um professor de engenharia da UFRJ, diz que a segurança de voar no Brasil está diretamente ligada às questões de segurança das empresas aéreas e às regras da Aeronáutica. Pois bem, então é simples. Basta fecharmos os olhos e acreditar fielmente no que diz a GOL e a TAM e viajaremos mais tranquilos, estando em alta ou baixa temporada, com a pista completa ou incompleta, chovendo ou com o sol brilhando. Não importa. Se as empresas nos disserem que cumprem as regras, a gente acredita. Se a ANAC diz que fiscaliza, a gente acredita e se a Infraero disser que o piloto está seguindo o plano de vôo, a gente também acredita. E voa mais tranquilo, afinal, “nunca na história deste país” aconteceram tantos acidentes aéreos sem explicação, do que nos últimos três anos.
*Curiosidade: a aviação civil no Brasil é um concessão pública, portanto, de responsabilidade do Estado. Igualzinho às TVs e Rádios.