Natal ! Anúncio de que algo vai vir, estrela que serve de orientação para quem caminha, famílias migrantes em busca de um novo lar e proteção da vida em gestação, manjedoura que serve de leito para o migrante recém-nascido. Símbolos tão velhos como a história da humanidade e ao mesmo tempo tão atual.
No passado, enquanto anjos anunciavam a boa nova, boatos circulavam que o nascimento de uma criança era uma ameaça ao poder estabelecido. Erodes decreta a perseguição a matança de varões recém-nascidos. A ordem era matar, dizimar os primogênitos, símbolo da esperança que poderia ameaçar o poder político da época.
Afim de proteger seus filhos, muitas famílias buscaram asilo em terras estranhas e foi lá que nasceu a criança que mudou a história da humanidade. Apesar de todas as manobras políticas para silenciar a esperança dos perseguidos, apesar de todas as “fake news” para impedir a vinda do novo, o novo nasce em terras de exílio, bem longe de tudo que era oficial.
No presente, as guerras motivadas seja pela avidez insaciável de lucros, ou por ideologias de direitas ou esquerdas, obrigam populações inteiras a buscarem abrigos em terras estranhas ou a se sentirem prisioneiras em seus próprios países de origem. No Brasil não é tão diferente.
Nesta confusão orquestrada, enquanto muitos tentam seguir uma estrela guia, reaparecem as “fake news” para confundir ainda mais, para desorientar pessoas, famílias e até toda uma nação. Cria-se insegurança para se vender proteção. A quem interessa espalhar mentiras?
A quem interessa semear inverdades, estimular preconceitos e promover a violência senão aqueles que tiram proveito desta confusão? A quem interessa um lobo usar pele de cordeiro ou confundir o joio com o trigo, senão aqueles que tem o hábito de devorarem o dinheiro público na surdina dos conchavos políticos partidários?
O certo é que vivemos um caos construído intencionalmente no laboratório da intriga, da divisão, da mentira que quer confundir, de ideologias que não admitem que se pense, questione e descubra as falcatruas do poder. Neste contexto, a escuridão que desorienta, ou as luzes que ofuscam ambas nos obrigam a uma parada a uma pausa.
Nos lembra a lenda cristã que é neste ambiente de insegurança, de perseguição de precariedade que a sagrada família faz uma pausa. Nasce então a boa nova tão esperada. Foram os animais que com o seu calor aqueceram o recém-nascido, foi a manjedoura que alimentava os brutos que acolheu a divina criança nascida de um casal de fugitivos.
Hoje, o caos externo, construído minuciosamente, para nos confundir, nos dividir, nos convida a rever nossas certezas que nos aprisionam e nos impedem de abandonar territórios onde prevalecem a intolerância e a divisão. É o momento de fazer uma pausa.
Olhar para dentro de si e buscar nos orientar por nossos valores, princípios que reconheçam o direito à vida e a convivência pacífica, onde o lucro não seja mais importante do que a solidariedade. É neste universo que o refugiado Jesus de Nazaré, símbolo do amor emerge como luz que clareia em harmonia com a natureza.
Natureza hoje ameaçada de extinção pela avidez do lucro da política neoliberal que põe em risco a sobrevivência dos primeiros brasileiros, nossos indígenas e a biodiversidade da Amazônia fonte de vida para toda a humanidade. Faça uma pausa neste natal!
Se está de olhos abertos, feche-os o suficiente para se conectar consigo mesmo, com seus princípios e valores; se anda de olhos fechados abra-os o necessário para perceber os caminhos que está percorrendo e tenha a coragem de mudar se for preciso.
Pare, olhe, escute, pense e descubra que a boa nova já está em cada um de nós. Que está criança divina nasceu quando nascemos. Ela já está lá, só aguardando que você a reconheça e a adote. Feliz Pausa! Feliz Natal!

Doutor em Psiquiatria e Antropologia. Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria Social. Criador da Terapia Comunitária Integrativa. Autor de vários livros. CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/8155674496013599.