Mulheres refugiadas fabricam bolsas, tecem sonhos e estreitam laços

Oficina de costura e roda de conversa possibilitam momentos de criatividade, trocas culturais e novas perspectivas para refugiadas que vivem em Brasília. O projeto “Mulheres que Inspiram o Mundo” foi implementado pelo Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), organização parceira da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

Em um ateliê, em meio a linhas, agulhas e retalhos, o barulho das máquinas de costurar se mistura com conversas em diversos idiomas. As traduções simultâneas improvisadas não impedem que as risadas e a afinidade prevaleçam entre 11 mulheres refugiadas que compartilham e colocam em prática seus conhecimentos enquanto aprendem novas técnicas.

A tarefa exige atenção e certa habilidade. Medir e cortar panos, alinhavar estampas, coordenar o ritmo do pedal na inscrição e da linha no tecido, e assim por diante. Dessa maneira, cada uma com seu ritmo e estilo vai completando as etapas do processo criativo. Aos poucos, elas montam um conjunto de tiras de pano que, costuradas, se tornam belas e coloridas bolsas de algodão.

Esta peculiar oficina de costura aconteceu na quarta-feira (10), em Brasília, como parte do projeto “Mulheres que Inspiram o Mundo”, implementado pelo Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), organização parceira da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). Outras atividades como roda de conversa e almoço também fizeram parte da programação, que durou a tarde toda.

Durante a abertura do evento, a diretora do instituto, irmã Rosita Milesi, conversou com as mulheres que estavam presentes. “Nós podemos inspirar o mundo através das nossas atitudes de cada dia, a cada momento da nossa vida. E nós sabemos o quanto vocês têm sido e são capazes de ter essa atitude, de inspirarem coisas boas, esperança e confiança de um futuro melhor”.

A costura, assim como diversas outras atividades manuais, é frequentemente vista como uma atividade realizada por mulheres, que costumam passar adiante a habilidade como uma forma de tradição familiar. Gifty, refugiada de Gana, herdou de sua mãe o conhecimento desta arte quando era ainda pequena. “Lá em Gana, minha mãe costurava. Foi ela que me ensinou”, afirmou enquanto mostrava, orgulhosa, a versatilidade da bolsa feita por ela, que pode ser usada dos dois lados.

Refugiada há dois anos e meio no Brasil, a ganesa se encontra em um estágio avançado do processo de integração local e ingressou recentemente no mercado formal de trabalho. “Há um ano consegui meu visto permanente, graças ao trabalho da irmã Rosita”, disse ela, agradecida.

No entanto, Gifty não deixa de participar dos encontros com outras mulheres refugiadas ou solicitantes de refúgio. “Não é todo mundo que tem a oportunidade de estar empregada e ter um salário no final do mês. Encontros como esse geram boas oportunidades para muitas de nós”, afirmou.

Entretanto, a troca de conhecimentos não fica restrita às participantes da oficina. As facilitadoras e realizadoras do projeto também se sentem nutridas pela riqueza da interação. “Procuramos trazer essa horizontalidade: são nossas amigas, estamos aqui juntas e aprendemos umas com as outras”, compartilhou Marina Miranda, coordenadora de projetos do Bambuo, coletivo de marketing de experiência para impacto social. O coletivo, que organizou a dinâmica em conjunto com o ACNUR e o IMDH, trabalha na implementação de projetos cuja orientação é a perspectiva futura da vida de pessoas em situação de refúgio.

“Buscamos sempre trabalhar na perspectiva do futuro, dos sonhos – a construção de futuros desejáveis. É importante lembrar o passado, o lugar de onde viemos. Mas acreditamos que podemos aplicar nossas forças para a construção do futuro que a gente quer”, afirmou Marina.

Apesar da mistura de idiomas e culturas, é possível afirmar que a compreensão das palavras da irmã Rosita Milesi se fez de forma plena. Nitidamente, aquela tarde de quarta-feira foi marcada por sorrisos, pela consolidação de amizades e novas perspectivas.

“Esse tipo de encontro permite que a gente se encontre, conheça pessoas de outros países. E mesmo que nem todas nós sejamos fluentes no inglês, é uma forma de se conhecer e de expressão pessoal. É um ambiente em que aprendo muitas coisas”, comentou Gifty, contente e satisfeita, segurando sua nova bolsa costurada por ela mesma.

Fonte: Nações Unidas
https://nacoesunidas.org/mulheres-refugiadas-fabricam-bolsas-tecem-sonhos-e-estreitam-lacos/

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