Honduras: 'Um dos principais apoios do golpe foram os meios de comunicação'

Entrevista concedida a Marcelo Salles, Raquel Junia, Mariana Vidal, Eduardo Sá, Tatiane Mendes e Gilka Resende. Fotos: Fernanda Chaves.
216bA arquiteta Gioconda Perla assumiu, há um ano, o cargo de Cônsul-Geral de Honduras no Rio de Janeiro. Integrante do Partido Liberal, o mesmo do presidente Manuel Zelaya, ela afirma que o golpe de 28 de junho foi uma surpresa. “Pensávamos que isso era uma coisa do passado. É como resgatar um morto do túmulo, com toda a podridão e tudo o que isso implica”, diz. A diplomata recebeu a carta de demissão, via fax, no dia 16 de julho, assinada por Roberto Micheletti, que se auto-intitulou presidente. Seu salário foi cortado, assim como a verba de representação. Apesar disso, Gioconda seguiu trabalhando, pois não reconhece a legitimidade do governo de fato. Nesta entrevista, realizada num café próximo ao Consulado, ela comenta algumas das causas do golpe (mudança na lei de petróleo e aumento do salário mínimo) e garante que, hoje, existe uma ditadura em seu país. Mas, apesar de tudo, está confiante no retorno do presidente Zelaya, em face do enorme apoio manifestado pela comunidade internacional. Por fim, a diplomata faz uma declaração reveladora: não foi procurada por nenhuma das corporações de mídia para dar sua versão dos fatos.
Como tem sido o dia a dia do povo em Honduras? As pessoas estão saindo às ruas? Estão se manifestando? Porque a gente não consegue ver…
Vocês não conseguem ver na televisão, nem vão conseguir ver. Mas as pessoas têm se organizado, especialmente o grupo dos professores – alguns deles, inclusive, foram mortos. Mas, sim, as pessoas estão se manifestando.
O trabalho continua? As escolas continuam? Como está isso?
Não, as escolas não continuam. Há algumas semanas se suspenderam as aulas.
Então o país não está numa situação de normalidade?
Não. Alguém disse pela rádio que não havia crise, mas não é verdade porque o país está numa convulsão total. Muita gente está ameaçada.
E a energia desse povo mobilizado, você acha que continua mesmo com toda essa repressão?
Eu creio que sim. Eu creio que, inclusive, à medida que vai passando o tempo a gente vai organizando forças cada vez maiores e isso vai dando impulso e as pessoas vão se tornando mais seguras, vão se juntando a essa onde de repúdio ao que está acontecendo.
A gente vem tendo informações pela internet da resistência hondurenha e acompanhado, também, via Telesur, que o presidente Zelaya tenta retornar. Também soubemos que o governo golpista estaria implantando uma ditadura lá…
Sim, um sistema de terror. Porque, por exemplo, quando o presidente Zelaya tentou regressar, nesta vez que estava na Nicarágua, e quis entrar pela fronteira, havia milhares de pessoas o esperando, mas não foi possível chegar até a fronteira porque foram reprimidos. Conheço pessoas que tiveram suas casas ameaçadas, gente que foi despedida de seu trabalho, então há todo um sistema de terror.
Seriam nove mortos e mais de dois mil presos, você confirma essa informação?
Na realidade, é bem difícil confiar no que sai na imprensa. Porque, por exemplo, eu havia recebido dos meus amigos de Honduras uma notícia de que havia sido seqüestrada uma pessoa, de que foi maltratada e obrigada a dizer onde estão as pessoas ligadas ao presidente Zelaya. Então, essas coisas não saem à luz, entende? Não são publicadas todas as coisas que estão ocorrendo em Honduras.
Quais as suas principais fontes de informação?
Meus amigos que estão lá dentro de Honduras e os que estão fora de Honduras, mas perto das fronteiras, perto do presidente. Alguns ministros, algumas pessoas conhecidas que estavam no governo e tiveram que sair acompanhando o presidente e todas as pessoas do povo que escrevem e passam os correios comuns. Essas são as minhas fontes de informações.
Você está acompanhando as notícias que saem na mídia brasileira?
Nem sempre, trato de seguir pelas agencias internacionais e as notícias dos meios de Honduras. Estou há uma semana sem ler as brasileiras.
118b
Você chegou a ser ameaçada?
Eu fui despedida pelo governo atual. Apesar de eles terem feito uma promessa pública de que não despediriam as pessoas que não estão, digamos, na cúpula do governo. Mas é a maior demissão em massa. Por exemplo: no meu caso, que sou a Cônsul-Geral de Honduras aqui no Rio de Janeiro, fui despedida, suspenderam meu salário, suspenderam a verba de representação. Ou seja, não se pode pagar a minha sala, não se pode pagar os telefones, a residência, uma forma que me parece sutil, mas uma forma de reprimir. De evitar que nós não nos pronunciemos, não denunciemos o que conhecemos e sabemos.
Você segue trabalhando todo dia na oficina?
Sigo.
E como a senhora está fazendo para arcar com as despesas?
Bem, nesta hora dando desculpas a todas as pessoas com que temos compromisso, esperando que isso se vá resolver.
Isso está acontecendo em outros países também?
Sim, na Europa estão despedindo muitos embaixadores, na América do Sul e na América do Norte ocorreram muitas demissões.
Nessa questão diplomática, como você observa as escolhas que foram feitas para mediar a questão do golpe?
Eu creio que as pessoas escolhidas, em princípio o presidente da Costa Rica, que é de um país irmão, tem sido uma pessoa muito estável, tanto no caráter quanto sua trajetória: sempre buscando a paz, buscando o encontro. A negociação nunca é fácil, mas eu creio que ele é uma pessoa indicada.
E o apoio de outros dos outros países, por exemplo, da Bolívia, da Venezuela? Como a senhora vê esse apoio ao presidente Zelaya?
Bem, nós não temos somente o apoio deles. Por exemplo, o apoio do presidente Lula está sendo total, está sendo magnífico. Na verdade, nas ocasiões em que ele falou para a imprensa declarou claramente que o seu apoio era total e que ele não iria reconhecer nenhum governo de fato. E a verdade é que todos os países apóiam da mesma forma.
O ministro brasileiro Celso Amorim, das Relações Exteriores, disse que nunca viu um outro assunto internacional que tenha tanto unanimidade. Qual a sua visão sobre essa declaração?
Primeiro é a época em que estamos, é uma coisa que, inclusive para nós hondurenhos, pensávamos que havíamos dado esse passo, que isso era uma coisa do passado. Nós nunca imaginamos que seríamos surpreendidos por uma figura assim. É como resgatar um morto do túmulo, com toda a podridão e tudo o que isso implica. Penso que as relações internacionais do presidente Zelaya estão sendo muito boas. Ele apostou nas relações com todos os presidentes e com todos os países, principalmente da América Latina.
Alguns integrantes da Frente Nacional de Resistência ao golpe afirmaram que o apoio estadunidense fica apenas nas declarações. Que não têm nenhuma ação efetiva com relação ao golpe.
Eu creio que não é certo, creio que os Estados Unidos estão apoiando Zelaya.
Mas apoiando como?
Estão apoiando o presidente Zelaya porque a negociação, em princípio, parte de um convite da secretária de Estado norte-americana ao presidente costarriquense, assim nasce a mediação. É nesse ponto que me parece importante, claro que não é uma questão de um homem, mas eu creio que o pensamento do presidente Obama não é o pensamento dos presidentes anteriores nos Estados Unidos. Agora, dentro do Senado é outra coisa, porque obviamente estão todas as estruturas diferentes, como a extrema direita e todos os demais representantes. Eu sei que há alguns senadores que têm chamado a secretária de Estado, isto está na internet, a refletir sobre a posição dos Estados Unidos com relação a Honduras, dizendo-lhe inclusive que a posição dos Estados Unidos atual é equivocada.
Eu gostaria de saber quais os principais parceiros comerciais de Honduras.
Estados Unidos, México, temos grandes relações econômicas com o Brasil, importamos muitíssimo do Brasil. Mas queria terminar de analisar um pouco a pergunta anterior, porque me parece que há também outro tipo de medida que tem sido tomada pelos Estados Unidos com relação aos golpistas. Por exemplo, ter cancelado os vistos, porque nessa parte centro-americana, especialmente em Honduras, onde há tanto comércio, e numa relação tão forte entre Estados Unidos e Honduras, perder o visto americano é uma perda muito grande. Então serão suspensos os vistos do governo militar e sua cúpula, e dos mais próximos ao golpe. Sim, penso que pode haver medidas um pouco mais fortes, mas o que tenho escutado e o que se fala também na negociação é de tratar de um espaço de conversações para ver se é possível evitar mais medidas. Porque se sabe que as medidas também não abarcam somente os golpistas, mas também o povo. E o povo hondurenho é um povo muito pobre. O povo hondurenho é um povo trabalhador, porém é um povo que pode morrer se sofrer sanções econômicas, entende? A essa altura Honduras deveria estar começando acordos para novos investimentos e todo esse movimento é um retrocesso econômico, para nós pode ser fatal.
Isso tem a ver com os cortes financeiros de apoio de outros países?
Claro, então nesse sentido eu sei que as medidas são necessárias, mas também penso em tudo o que significa. Não é somente pressionar os golpistas, mas também pensar num povo que praticamente é dependente de todas essas ajudas.
E quais são os principais artigos de exportação de Honduras?
Frutas, tabaco, açúcar, madeira, agora exportamos alguma peças de carro que são feitas em Honduras, mas as principais são as frutas; a produção de camarões também é muito boa.
E em relação aos recursos naturais? Que interesses econômicos estariam em jogo nessa área?
Essa pergunta é importante, porque na realidade me dá oportunidade de falar como tudo começou. Eu recordo que no primeiro discurso do presidente ele assinalou as medidas que iria tomar para proteger os recursos naturais. Também em seu discurso de posse ele disse que iria promover licitações mais amplas para a exploração do petróleo; 14 países participaram para termos novos preços do barril de petróleo. E isto foi, talvez, a medida mais forte que ele tomou e a que mais lhe trouxe conseqüências. Diante de tudo isso, as reações foram muito fortes, surgiram declarações de que nunca nenhum presidente havia tomado uma medida semelhante. Nos últimos 80 anos praticamente a mesma companhia estava vendendo derivados de petróleo para Honduras e agora isso ia mudar.
Só sobre o petróleo?
Só. Mais adiante, essa busca de barrar os preços do petróleo foi o que deu entrada na relação com a companhia Petrocaribe do Sul.
Inclusive a adesão à ALBA?
Depois disso veio a ALBA, depois de ter feito o acordo com o Petrocaribe.
Falando também sobre esse momento pré-golpe, você identifica algum outro interesse além do petróleo?
Sim, uma coisa que influiu muitíssimo foi que o presidente Zelaya aumentou o salário mínimo e nesse momento os empresários se voltaram contra ele. O salário aumentou numa porcentagem importante e me parece que foi realmente uma mudança para o povo.
Quanto é o salário mínimo?
Creio que andava em 2.500 lempiras (131 dólares) se não me engano, não sou muito boa com números, mas creio que era 2.500 e subiu para 4.000 (210 dólares).
Então quase duplicou, né?
Sim, se não me engano foi em torno de 60 a 80%. Mas quando você vê o poder aquisitivo dessa quantidade é de dar dó.
O Micheletti, que lidera o golpe, representa quais setores da sociedade?
Ele trabalha há trinta anos no Congresso. Penso que ele representa os interesses da minoria de Honduras. Ele não representa os interesses da maioria, que está com o presidente Zelaya.
Há uma grande desinformação sobre o texto do plebiscito de 28 de junho. Qual é, em realidade, esse texto?
Na realidade, o presidente queria realizar era uma enquete. Então todos os hondurenhos iriam ter, pela primeira vez, a oportunidade de dar a opinião com relação a algo [no caso, se no plebiscito do dia 28 de junho deveria ser incluída uma urna em que o povo votaria pela convocação, ou não, de uma Assembléia Constituinte]. Era uma coisa que ele vinha lutando desde o princípio. A lei passou no Congresso e com base nessa lei se pensava em fazer uma consulta.
Era uma pergunta se podia se levar uma quarta urna?
Sim, e nada mais. Isso não tinha vínculo com nada, não era obrigatório que se votasse.
Nada sobre a reeleição dele?
Não, a pergunta era exatamente se você queria que essa quarta urna.
Então por que a mídia fala o tempo todo que ele queria se reeleger e por essa razão o teriam removido do poder?
Eu creio que ante a possibilidade de que o povo pudesse aprender, conhecer seus direitos, saber que ele pode participar, eu penso que as estruturas tremem, me entende? Não é fácil para eles, então creio que tentam desinformar. Essa informação é como uma fumaça que não permite que se veja claramente o que realmente estava se passando.
Qual o papel, no golpe, dos meios de comunicação comerciais hondurenhos?
Eu penso que vários donos dos meios e os meios em si foram um dos principais apoios que o golpe encontrou. Nós estávamos na expectativa no domingo 28, mas não passaram nada sobre o plebiscito. As notícias falavam de programa de saúde, mas jamais, em Honduras, quando há uma votação ou acontece uma coisa como essa… é todo o dia, todo o dia se fala nisso. Se passaram várias horas e nós não escutamos absolutamente nada. De repente, como às onze da manhã, saiu uma só notícia de que havia ocorrido o golpe e não ouvimos mais nada o dia inteiro. É claro que usamos os telefones e a internet para averiguar, porque inclusive as pessoas dentro de Honduras não se davam conta de que o presidente fora seqüestrado pela manhã. Soubemos mais adiante que uma das principais rádios que nós hondurenhos estamos acostumados a ouvir, uma rádio típica, foi explodida com uma bomba e sabotaram seus transmissores; sei que a rádio não pôde transmitir.
Tem um jornalista, Johnny Lagos, que disse que existe uma lista de pessoas, comunicadores populares, inclusive ele, marcadas para morrer. A Amarc, a Associação de Rádios Comunitárias, enviou um correspondente para Honduras e as informações que eles têm enviado é que rádios comunitárias também estão sendo fechadas. Qual era a relação do Zelaya com o movimento de rádios comunitárias e mídias alternativas e populares?
A relação dele era sempre muito boa, ele se relacionava com as rádios e com todos os meios e também ele foi o primeiro presidente a instaurar uma rádio estatal.
Esses meios estão sendo perseguidos agora?
Sim, tanto que uma das coisas que mais me impressionou, além de tudo isso, é o fato de que o conhecidíssimo caricaturista Allan McDonald foi seqüestrado no mesmo dia em que foi seqüestrado o presidente. Ele foi seqüestrado com a sua filha de dois ou três anos. Para que vocês vejam: um caricaturista não tem a liberdade de fazer um discurso político. Essa é a situação.
Quais são as perspectivas agora? Está esperançosa de que o governo possa voltar?
Sim, eu penso que o presidente Zelaya é um homem muito dinâmico, que tem a simpatia e o apoio dos demais países. Creio que com o apoio internacional ele poderá voltar. Eu creio que sim, acho que vai ser possível.
Ele tem respaldo em alguns setores militares?
Não, definitivamente os militares foram a ferramenta que usaram para removê-lo do poder.
Ele disse que voltaria com um exército popular pacífico. Que exército seria esse?
Quando ele se refere a isso, seria o grupo de pessoas pacíficas que formam parte do povo hondurenho.
Os movimentos sociais…
Sim, a isso ele se refere. Ele não tem um exército regular, mas tem um exército de hondurenhos, do povo hondurenho, que está preocupado em defendê-lo e em defender a democracia.
De que forma a comunidade internacional pode atuar nesse conflito?
Eu creio que com as medidas que vem sendo tomadas, por exemplo, de não receber emissários do governo de fato e não aceitá-los como legítimos… Com o tempo eles estão entendendo que não podem negociar nenhuma coisa porque não estão negociando legitimamente.
Os jornais já te procuraram para falar sobre essa situação no Brasil?
Não, na realidade não.
Nenhum outro meio de comunicação brasileiro?
Não.
É a primeira entrevista que a senhora dá sobre o tema?
Sim. Creio que somente uma pessoa de São Paulo me procurou por telefone, em princípio para conhecer melhor o que estava acontecendo.
Era jornalista?
Sim.
Você lembra o meio de comunicação?
Era um meio que circula somente pela internet, de São Paulo. Porque ele prometeu que mandava a informação pelo correio, mas não…
Para você ver, a quarta maior emissora de televisão do mundo é sediada aqui no Rio de Janeiro… Mas eu queria te fazer uma pergunta: alguns analistas têm trabalhado com a hipótese de um retorno negociado na medida em que eles garantiriam a volta do presidente Zelaya, mas de modo que ele não tivesse poder para fazer nada. Simplesmente estender o mandato dele até ao final e sem nenhum poder de fato. Como é que você analisa essa hipótese?
Eu creio que se ele regressa será como presidente, se ele não tem poder não tem nenhum sentido. Eu penso que o importante é que todos apóiem para que haja um regresso não figurado. Me parece que o correto é que ele assuma a sua função completa como presidente; é ele quem preside, quem maneja, quem leva, quem conduz. Porque o presidente Zelaya é um homem que foi eleito.
Em relação à violação dos direitos humanos?
Eu mencionava no principio, há casos que eu não vejo na imprensa, eu não vejo mencionarem isso. Eu vejo que se fala sobre a tentativa de regresso do presidente, mas não está se falando de um pessoa que realmente está sendo golpeada, que está sendo seqüestrada, isso não está saindo.
Com a violação dos direitos humanos, podemos chamar o governo de Roberto Micheletti de ditadura?
Sim, de todos os pontos de vistas.
Como se posiciona o Poder Judiciário em Honduras?
Eu creio que agora o papel do sistema judiciário é seguramente penoso, porque eles foram os que se prestaram a dar as ordens para criar as acusações contra o presidente. Mas penso que não é todo o corpo judiciário, mas a cúpula atual que está se prestando a isso.
Qual é a trajetória política do Zelaya?
O Zelaya tinha participado em algumas ocasiões do governo, ele atuou numa área que era para serviço social em Honduras, onde teve um rendimento muito bom.
Mas ele se identifica como um governo de esquerda?
Não, ele nunca se identificou como um governo de esquerda.
E o partido?
O partido é um partido liberal, eu também sou liberal, eu penso assim, a verdade é essa, justamente é a liberdade de poder haver várias correntes, vários pensamentos, várias propostas. Não é um partido de esquerda, mas penso que é um partido que escuta, um partido com alguma vocação de centro-esquerda também. A pessoa que mais colocou mulheres no seu governo foi o presidente Manoel Zelaya, então eu penso que ele tem uma variedade de coisas entende? Coisas que podem se identificar com a esquerda, mas que na realidade só tem interesses sociais para Honduras. Por exemplo, ele aumentou o salário mínimo dos hondurenhos. Isso não é uma evidencia de esquerdismo, senão um cumprimento de uma necessidade evidente do povo hondurenho, assim como a licitação de petróleo e tudo mais.
A senhora acha que o governo golpista é capaz de matar o presidente Zelaya?
Eu creio que ele já havia sido morto por manifestar-se, por dar a sua opinião, é aí onde você pode encontrar a resposta.
Vou fazer uma pergunta provocativa para você: se os adversários controlam o poder judiciário, o poder legislativo, as forças armadas, o poder executivo agora, os meios de comunicação de massa, por que você acha que o Zelaya vai conseguir voltar ao poder?
Por causa do apoio internacional. Eu penso que esses grupos que você mencionou são as cúpulas, mas também há um povo que elege as pessoas que pensamos ser homens que nós queremos no poder. Não é somente ele que quer regressar, há um povo que quer que ele regresse. Aliás, é um povo que está sendo reprimido e mesmo com toda essa repressão é um povo que está lutando, com muitas dificuldades, mas está lutando. E também com o apoio internacional que, como eu mencionei no princípio, é um apoio definitivo. Como vocês afirmaram, é a primeira vez que está havendo um apoio consensual, na história do mundo é a primeira vez que se apóia a nossa pátria. Eu creio que mais cedo ou mais tarde o governo legítimo vai voltar.
A senhora acredita na intervenção das forças de paz da ONU?
Eu creio que deveria ocorrer uma intervenção.
Eu gostaria que você encerrasse com uma mensagem aos brasileiros, o que você diria aos nossos leitores?
Especialmente, agradeço ao governo brasileiro, que o povo brasileiro escolheu. As declarações do presidente Lula têm sido contundentes e firmes. Eu agradeço a cobertura de vocês, pelo interesse em saber, por quererem chegar um pouco mais adiante do que é visto nas notícias, porque também é sempre necessário estar com a pessoa que conhece o país e como funciona a coisa lá dentro. Então eu agradeço esse interesse de buscar saber um pouco mais e estou às ordens para qualquer coisa que necessitem saber.

5 comentários sobre “Honduras: 'Um dos principais apoios do golpe foram os meios de comunicação'”

  1. Pingback: FazendoMedia: A mídia e o Golpe em Honduras - OCOMPRIMIDO.COM

  2. Impressionante como a grande mídia teme os governos que buscam aliar melhorias no âmbito social ao desenvolvimento econômico, o que é possível, não fosse a sede por lucro. Para escamotear por exemplo, o aumento do salário mínimo e a proteção aos recursos naturais – o que não encontrei menção em nenhum veículo de comunicação entre os expressivos, a partir dos quais a maioria das pessoas formam suas opiniões sobre os fatos – é valido dizer que Zelaya queria se ‘perpetuar’ no poder, praticamente justificando o golpe nas entrelinhas. Apesar de que seja politicamente correto dizer no país da ditabranda que isto é antidemocrático. Parabéns pela entrevista.

  3. Pingback: Escrevinhador

Deixe uma resposta