Por Max laureano
Chegam de forma tímida. Olham ao redor procurando alguém conhecido. Outros vêm em grupos das escolas. São profissionais da Educação da cidade do Rio de Janeiro. Comparecem a mais uma assembleia de sua categoria, após uma greve de um mês e dois dias. Impensáveis 32 dias, para quem não fazia greve há 19 anos. Os olhares de cansaço se misturam à sensação de dever cumprido. Parecem dizer com orgulho: “Sim, sou professor. Sim, sou merendeira, sou auxiliar de creche, agente educador. E sim, fiz greve”.
Os profissionais da Educação, da maior rede pública municipal da América Latina demonstraram garra, coragem e disposição de luta. Mesmo depois de 19 anos, enfrentaram medos, discursos de assédio moral, ameaças de corte de ponto por parte do Prefeito, da secretária e de diretores de escola.
Mas mesmo assim, assembleia após assembleia, lotaram ruas, praças. A cada ameaça, a cada mentira lançada pela prefeitura através da “grande mídia”, as reuniões por escolas aumentavam, as assembleias locais se tornavam massivas. As assembleias gerais tinham que passar a ser em lugares cada vez maiores. A vontade de lutar, a disposição de enfrentar os inimigos da Educação Pública já não cabiam em clubes, ginásios.
A praça, aquela que o poeta dizia ser do povo, como o céu é do Condor, virou o teatro a céu aberto. Os atores principais? Uma categoria orgulhosa por reconquistar sua autoestima como ser social, bem vista e aplaudida nas ruas. O coro da peça? Esse gritava, bem alto, para quem quisesse ouvir “A Educação Parou! A Educação Parou!”; “A greve continua! Prefeito, a culpa é sua!” e “O SEPE SOMOS NÓS, NOSSA FORÇA, NOSSA VOZ!”
As Jornadas de Junho movimentaram o país. Lotaram ruas, praças. Com disposição para lutar, milhares de pessoas enfrentaram bomba de gás e cassetetes das tropas de choque pelo país afora. Vimos um avanço na consciência do conjunto dos trabalhadores e estudantes e se conseguiu levantar um conjunto de demandas importantes. Sem as mobilizações e as lutas que aconteceram, não poderíamos ter esse cenário atual. Pois mostraram que é possível lutar. E é possível vencer.
A rede municipal do Rio de Janeiro, através de uma greve forte, com mais de 80% de adesão e com manifestações que reuniram milhares de pessoas nas ruas, demonstrou que aprendeu com essas Jornadas, usando as redes sociais, a comunicação alternativa, aumentando a força e o poder da mobilização. Nunca uma greve tão grande foi tão fotografada. Assembleias gigantescas eram convocadas quase que diariamente e rapidamente divulgadas.
Mas é importante também lembrar de algo: a greve foi sustentada pelos braços dos trabalhadores e principalmente das trabalhadoras da Educação da cidade do Rio de Janeiro, pois esta foi uma greve “mulher”. Elas foram as que mais militaram na campanha, fizeram piquetes e operação “Fecha Escola”, distribuíram milhares de panfletos e atuaram até nos fins de semana, a plenos pulmões.
Com isso tudo, a categoria, apoiada pelo SEPE, foi mostrando sua força, desmascarando a política de sucateamento da Educação Pública da gestão de Eduardo Paes. Sai vitoriosa, orgulhosa de si, mostrando o caminho, que só a luta muda a vida!
Que ninguém jamais duvide da capacidade de luta e organização dos Profissionais de Educação da cidade do Rio de Janeiro!