É preciso ter poder de fogo para enfrentar a Globo

Foto: Reprodução da internet.
Foto: Reprodução da internet.

Enquanto dezenas de intelectuais denunciam mais uma vez os abusos – “Quem vai limitar a arbitrariedade da força-tarefa da Operação Lava-Jato e do juiz Sérgio Moro?” -, a campanha eleitoral segue impávida. E com um toque sensacional: o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, antecipa mais cacete no PT num comício do PSDB.
De Salvador-Bahia – Um dia desses topei com uma senhora num shopping daqui da nossa capital desancando o petismo/lulismo, o que não é bem uma novidade digna de registro. O que me despertou para a fervente catilinária da mulher – supostamente com certo nível de conhecimento, já que é aposentada do INSS, onde chegou a exercer cargos de chefia – foi a inacreditável tese que defendeu.
Era o apogeu do cassa-não-cassa Eduardo Cunha. Ela disse que Cunha era nada mais nada menos do que um pau-mandado do Lula.
– Mas como assim? Não me aguentei – Cunha não é inimigo do Lula, Cunha não liderou o golpe contra Dilma?
– Coisa nenhuma, rebateu raivosa, são todos corruptos e ele faz o que Lula manda.
Espero que vocês não pensem que estou fazendo ficção para dar mais colorido aos meus modestos escritos. Fiquei tão surpreendido quanto vocês.
Portanto, vamos raciocinar juntos. Como é que uma pessoa chega a tal grau de confusão mental? Fico imaginando: que o Cunha é corrupto, ninguém duvida. Mas o corrupto maior só pode ser o Lula, todo dia a TV Globo e seus cúmplices da mídia hegemônica matracam isso, então o Cunha só pode ser gente do Lula.
O processo de aguda desinformação da senhora provavelmente segue um roteiro que, na essência, não difere da “teoria do domínio do fato”, aquela famosa e desfocada teoria que levou o hoje quase esquecido Joaquim Barbosa a condenar José Dirceu, sem prova alguma, condenação chancelada pela maioria do STF. Foi o clímax anunciado no esquema batizado de “mensalão”.
O mesmo roteiro seguido também pelos procuradores da Lava Jato ao anunciarem a convicção (sem provas) de que Lula é o “comandante supremo” do megaprocesso do “petrolão”. Roteiro referendado até aqui pelo juiz Moro, agora posto acima da lei, explicitamente, pela maioria do Tribunal Regional Federal da 4ª. Região, tudo sob a complacência da maioria dos juízes maiores do STF.
O que a senhora acha da TV Globo?
Como eu sou vidrado na Globo – acredito mesmo que tudo de ruim que ataca o povo brasileiro vem dela (ou através dela) -, interrompi seu veemente discurso anti-corrupção e perguntei:
– E a Globo? O que a senhora acha da TV Globo?
Ela ficou assim meio abestalhada: “A Globo!? O que é que tem a ver a TV Globo?”
A verdade é que ela não viu qualquer sentido na pergunta. Se fossem a política, os políticos e os partidos aí sim ela entenderia bem, pois são todos corruptos. Mas a Globo!?
Aí está, caríssimos irmãos e irmãs, a força da Globo, aí está o perigo que vem da Globo: grande parte da população a vê não como um “partido” político, mas como um mero meio de comunicação, independente, apartidário, que noticia inocentemente os acontecimentos, interpreta e comenta com isenção os fatos.
E ainda entretém as famílias brasileiras, com novelas, filmes, programas de auditório, humorismo, futebol, corrida de carros, belos anúncios publicitários, etc, etc. Tudo “de boa”, sem parti pris.
Estaria eu, atropelando a crescente influência da Internet, superestimando o poder da Rede Globo?
Recentemente, perguntei a dois políticos do interior baiano – um do sudoeste, cidade de Brumado, e outro de Bonito, município da Chapada Diamantina – sobre a influência do Jornal Nacional. Ambos garantiram: é muito importante, influencia muita gente.
As esquerdas vão continuar indignadas e acuadas?
Vejo todos os dias os companheiros da blogosfera progressista, valorosa trincheira da resistência democrática, esperneando na tentativa de fazer o contraponto à Globo e demais veículos dos monopólios da mídia.
Fazem o bom combate, travam uma luta notável, incansável, mas desigual. Não têm poder de fogo suficiente. É como os palestinos, de pedras nas mãos, tentando atacar desesperadamente os tanques israelenses.
A propósito, acaba de sair uma veemente denúncia assinada por dezenas de respeitáveis e indignados intelectuais brasileiros, perguntando: “Quem vai limitar a arbitrariedade da força-tarefa da Operação Lava-Jato e do juiz Sérgio Moro?”
Lembram a aberrante “condução coercitiva” do Lula há seis meses e a recente e desumana investida contra o ex-ministro Guido Mantega, além das “intervenções provocativas, abusivas e desproporcionais” da Polícia Militar contra o direito ao protesto coletivo.
É mais uma denúncia grave, que só encontra guarida, em se falando de meios de comunicação do Brasil, entre os blogueiros progressistas.
Enquanto isso, a Lava Jato e Moro seguem impávidos, inclusive e sobretudo em plena campanha eleitoral. E com um toque sensacional a uma semana da eleição: o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, antecipa mais cacete no PT num comício do PSDB no domingo em Ribeirão Preto (SP), reduto de Antônio Palocci. Adivinhe quem seria preso na segunda-feira…
Imaginem: a Lava Jato e Moro seguiriam impávidos se denúncias como esta dos intelectuais ganhassem algum destaque no Jornal Nacional?
Ou: a Lava Jato e Moro seguiriam impávidos se denúncias deste tipo ganhassem algum destaque numa emissora de TV de alcance nacional?
Se as esquerdas não despertam e não começam a lutar para construir uma poderosa rede nacional de mídia contra-hegemônica, estão fadadas a continuar indignadas e acuadas.
(*) Jadson Oliveira é jornalista baiano. Trabalhou nos jornais Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, Diário de Notícias, Estado de S.Paulo e Movimento. Depois de aposentado virou blogueiro e tem viajado pela América do Sul e Caribe.

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