Quando cai um prédio no Rio, a mídia aceita falar, sem problema algum, de “desaparecidos” a partir de relatos dos parentes. A palavra das famílias e conhecidos é a que vale.
Já em Pinheirinho, mesmo com dezenas de relatos de moradores sobre desaparecidos, todos públicos e disponíveis pela internet, aí não rola.
Alguém me explica? Por que a diferença de tratamento?
Impressionante como a “técnica jornalística” é, nestes momentos, superada pelas diferenças de classe.
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CADÊ OS MORTOS? Participantes da audiência pública realizada na noite desta segunda (30/1) na Câmara Municipal de São José dos Campos, São Paulo, receberam o documento que registra uma série de violações de direitos humanos no despejo de centenas de famílias por forças policiais na manhã de domingo, 22 de janeiro.
Até o momento da finalização do relatório preliminar não foi possível comprovar as mortes que teriam acontecido durante a ação realizada pela polícia do Estado de São Paulo e nos confrontos posteriores nos bairros vizinhos. No entanto, de acordo com relatos de moradores, há famílias de pessoas desaparecidas sendo coagidas a não denunciar os casos e nenhum corpo foi encontrado até o momento.
Sindicatos, organizações sociais e indivíduos que num primeiro momento tentaram acesso ao Instituto Médico Legal e aos hospitais para obter informações foram obstruídos, o que sugere que as buscas e investigações devem prosseguir e demonstra a urgência de uma ação mais contundente do governo federal em apurar os fatos.
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GREVE DE FOME NO RIO. O episódio que ficou popularmente conhecido como “Massacre do Pinheirinho“, a expulsão violenta de milhares de moradores pobres de suas casas em um terreno pertencente à massa falida de de Naji Nahas, foi fotografada e filmada sob os mais diversos ângulos.
Desde o dia anterior à desocupação em si, aos momentos de pânico por parte da população enquanto era vítima da brutalidade policial na cidade de São José dos Campos, até os depoimentos colhidos após terminada a desocupação, com a população alojada em abrigos precários e sendo assediada pelas forças policias que deveriam protegê-las.
Não faltaram denúncias de abuso de poder e de violência extrema, além de denúncias de que muitas pessoas teriam sido feridas e mesmo mortas, mas ninguém parece conseguir informações nem nos hospitais da cidade e nem no (IML) Instituto de Medicina Legal local.
O ativista carioca Pedro Rios Leão foi à cidade de São José dos Campos e entrevistou dezenas de moradores que, na frente das câmeras, afirmaram a existência de mortos e feridos que estariam sendo escondidos pela prefeitura e governo estadual.
O ativista encontra-se em greve de fome, acorrentado em uma das entradas da Rede Globo de Televisão no Rio de Janeiro, a quem ele acusa de conivência com o Massacre, que vem sendo escondido pela grande mídia ou tratado com total normalidade. Acesse aqui a ótima matéria do Global Voices em português ou a do Vírus Planetário.
Assista à entrevista com Pedro:
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PINHEIRINHO ESQUECIDO PELO GOVERNO FEDERAL. Você começa a ler uma nota em que acha que finalmente vai ser apurado, pelo governo federal, o que acontece. O nome da nota é “Sobre as violações de Direitos Humanos na reintegração de posse do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos/SP”.
E eis que eles falam apenas da situação dos abrigos.
E sobre a questão do direito a moradia? Os ataques violentos? A barbárie ocorrida? Os desaparecidos? Nenhuma linha.
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DOIS PAÍSES. Chico Alencar questiona via twitter: “Naji Nahas, especulador vitorioso com destruição das casas de 1.500 famílias pobres, mora em mansão com quadra de tênis, piscina e elevador. Que país é esse? Nahas, com processos judiciais e devedor de milhões, segue no luxo, enquanto povo de Pinheirinho é massacrado.”
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EX-MINISTRO DO STJ: ORDEM JUDICIAL NÃO PODE VALER MAIS QUE A VIDA. ”Uma ordem judicial não pode valer uma vida humana.” A afirmação do ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (hoje aposentado), consta de decisão tomada pelo tribunal em agosto de 2009, na discussão de um caso idêntico ao do bairro Pinheirinho, na cidade de São José dos Campos (SP).
A decisão do STJ indica que a reintegração de posse do Pinheirinho, feita pela Polícia Militar de São Paulo no domingo passado (22/1), não era a única alternativa para resolver a disputa judicial travada em torno da propriedade do terreno que há oito anos foi ocupado por famílias de baixa renda. No julgamento de um pedido de reintegração de posse do terreno onde hoje há o bairro Renascer, em Cuiabá (MT), o STJ decidiu que o emprego de força policial para a retomada da área poderia ser a medida necessária, mas não era a mais adequada.
Os ministros tomaram a decisão em um pedido de intervenção federal no estado de Mato Grosso feito pela massa falida da empresa Provalle Incorporadora, dona da área de quase 500 mil metros quadrados onde nasceu o bairro na capital de Mato Grosso. Como em Pinheirinho, a empresa obteve na Justiça estadual, em 2004, a ordem de reintegração de posse. Mas a ordem não foi cumprida pelo então governador Blairo Maggi — hoje senador pelo PR. E o STJ deu razão ao governador.
A íntegra deste esclarecedor texto e os votos dos ministros do STJ e a discussão no julgamento do caso do bairro Renascer, leia clicando aqui
Um outro caso semelhante, lembra Tatiana Costa, foi a desocupação de Sonho Real, em Goiânia.
O vídeo abaixo, sobre isso, mostra o desrespeito das autoridades e as violações dos direitos humanos desde antes da violenta desocupação.
A ocupação começou em maio de 2004 em uma área que estava abandonada há anos e rapidamente agregou cerca de 3 mil famílias. Em setembro, a justiça ordenou a reintegração de posse da área, prorrogada por motivos eleitoreiros até janeiro de 2005.
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DIGNIDADE. É o que pedem os bombeiros, policiais, guardas municipais e inspetores penitenciários do Rio. Foto abaixo da manifestação neste domingo (29/1).
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PARA ONDE VAI O DINHEIRO. O Sindicato dos Policiais Civis do Rio de Janeiro (Sindpol RJ) observa que o PIB do Estado do Rio é superior ao de 140 países, incluindo os vizinhos Chile, Peru, Equador, Uruguai, Bolívia e Paraguai.
“Se não há dinheiro para segurança pública, saúde e educação, para que há?”, questionam as lideranças.
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HAITIANOS NO BRASIL. O Ministério do Desenvolvimento Social liberou uma verba de R$ 900 mil para os governos de Acre e Amazonas, pelo grande fluxo de imigrantes haitianos, informou a Folha hoje (31). Destes, R$ 540 mil vão para o Amazonas, que já recebeu 4.600 haitianos, segundo o ministério. O Acre, onde já estão 1.400 imigrantes, terá R$ 360 mil do governo federal.
De acordo com o texto publicado no Diário Oficial da União, o objetivo é dar apoio técnico e financeiro aos Estados para que atendam imigrantes sob risco pessoal e social. O governo ainda ajudará as regiões a implementar medidas de atendimento. O Ministério da Saúde já havia liberado R$ 1,3 milhão para os cuidados dos haitianos no Acre.
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OI? A empresa de telefonia Oi, para continuar prestando os péssimos serviços que possui, quer a anulação junto à ANATEL de regras sobre a qualidade dos serviços. É mole?
A empresa soltou uma nota sobre o assunto, que foi rapidamente rebatida (leia aqui).
No Brasil, em 90% dos municípios não há competição nem na banda larga fixa nem na móvel. Se a prestadora não oferece um serviço de qualidade, o consumidor não tem opção.
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MÍDIA LIVRE EM DEBATE. Confira os vídeos do que aconteceu no 3º Fórum de Mídia Livre clicando aqui.
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PESSOAS TRANS AMPLIAM DIREITOS NA ARGENTINA. Os direitos de travestis e transexuais na Argentina, que estavam entre as minorias sexuais mais marginalizadas, se consolidam cada vez mais graças à aprovação, há um ano e meio, do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
“O casamento igualitário ajudou muito a nos dar visibilidade e portas começaram a abrir”, disse à IPS a travesti Valeria Ramírez, encarregada desse setor na Fundação Buenos Aires Aids.
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TRANSIÇÃO DIFÍCIL NA LÍBIA. Em reunião sobre a Líbia na semana passada, a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, demonstrou preocupação com os casos de tortura em centros de detenção, bem como com a falta de controle sobre os grupos armados no país.
Muitos presos não possuem qualquer base legal para se defenderem e há intensa perseguição política no país, após os conflitos do ano passado. A reunião foi no Conselho de Segurança na quarta 25.
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HEROIS AMERICANOS. Não há bandeira tão grande que cubra a vergonha.
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TORTURA AINDA É COMUM. O século XXI segue sendo um mundo de torturadores. Dos 193 países integrantes das Nações Unidas, 100 deles praticam regularmente a tortura, seja como meio para obter informações ou confissões, seja como metodologia para fazer reinar o terror.
Segundo o Opera Mundi, Síria, Egito, Argélia, Chile, Argentina, Brasil, Cuba, Estados Unidos, França, Espanha, China, Vietnã, índia ou Rússia: não há continente que esteja livre dessa barbárie.
Esta é a vergonhosa conclusão do informe “Um mundo de torturadores”, publicado na França pela organização não-governamental ACAT (Ação dos Cristãos Contra a Tortura).
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QUESTÃO LGBT NA ÁFRICA. O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, afirmou no último domingo (29/01) que as Nações africanas devem parar de tratar gays como “cidadãos de segunda classe, ou mesmo criminosos”.
A afirmação foi feita durante a reunião dos líderes africanos na capital da Etiópia. De acordo com Ban, a discriminação baseada em orientação sexual “vem sendo ignorada ou mesmo sancionada por muitos estados por muito tempo”.
Ban disse também estar consciente sobre não ter um público receptivo, já que muitos líderes africanos têm profundo preconceito sobre relacionamentos homossexuais.
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MAIS UM ATENTADO À MEMÓRIA DO BRASIL. “Somente em 1964, com a mudança operada no pensamento político da Nação, a idéia da criação de um Departamento Federal de Segurança Pública, com capacidade de atuação em todo o território, prosperou e veio a tornar-se realidade (…)”
Do site da Polícia Federal. É mole? (via Agência Pública)
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POLONESES TENTAM SALVAR LINCES. Antes fáceis de achar nas florestas polonesas, os linces estão, hoje, em extinção.
Um grupo de veterinários do sul do país abriu uma unidade especial para cuidar e, talvez, salvar os felinos, apesar do terror que despertam. A matéria é da AFP.
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MATANDO AS SAUDADES. Dois papagaios-do-mar (Fratercula arctica ou, em inglês, Puffin).
Pássaro visto em rochedos costeiros. Plumagens em preto e branco, com um bico colorido brilhante durante a estação reprodutiva. Visto de março a meados de agosto no Reino Unido.
A foto mostra o casal após o retorno de um deles de uma viagem de pesca. Eles esfregam os bicos, o famoso ‘beijo de esquimó’. (Original em http://bit.ly/zpvAIv)
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GRAVE DENÚNCIA DE SAÚDE PÚBLICA. Gravíssima denúncia de saúde pública para quem gosta de alisar o cabelo: “Formol é usado ilegalmente em salões de beleza para alisar os cabelos. Em 2009 a Anvisa proibiu a venda de formol puro no país todo. Mesmo assim, ele continuou sendo usado agora com outros nomes: escova inteligente, marroquina, egípcia e de chocolate.”
O INCA (Instituto Nacional do Câncer) emitiu alerta em 2004 sobre graves consequências para a saúde.
Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.