Muitas coisas vem ao pensamento, a respeito da mobilização de domingo passado, contra a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, e contra o PT, o Partido dos Trabalhadores. Essas passeatas tiveram o tom do ódio, do ressentimento. Dilma disse ontem à noite, na TV, algo que creio que todo mundo deve ter prestado atenção. Ou deveria. A presidenta da República advertiu que quem cria instabilidade, está fazendo um jogo perigoso.
A instabilidade vai atingir não apenas a quem estes agitadores visam, mas o conjunto da sociedade e do sistema democrático. Esta é uma advertência séria. Acredito, como muitas pessoas, que não se pode pôr em risco a institucionalidade democrática, sob o subterfúgio de que se está “combatendo a corrupção. Corrupção = PT”. Este é o jogo da rede Globo. Este é o jogo de outras emissoras de TV que seguem à risca essa mesma cartilha.
Martelam de manhã, de tarde e de noite com a mesma ladainha: congresso corrupto, políticos corruptos. Leia-se: “Políticos corruptos = políticos do PT”. Estão destruindo a credibilidade na democracia. É o jogo do fascismo. É o jogo da ultradireita antidemocrática. Essa massa de desmiolados que encheram as ruas com cruzes esvásticas e apelos para que venha uma ditadura, deveriam ser enquadrados em alguma lei de defesa da democracia, se é que esta lei existe. E se não existe, deve ser criada.
A democracia deve ser capaz de se defender dos seus inimigos. Democraticamente. Não sou do PT, embora o tenha votado em várias disputas eleitorais. Isto me deixa muito à vontade para partilhar estas considerações. Mas não posso ficar parado vendo o jogo perverso que a direita mais reacionária está fazendo, mobilizando uma multidão de ressentidos inconformados com a derrota do PSDB nas últimas eleições, e com a política de inclusão social que vem sendo praticada pelas gestões nacionais do PT, em campos chave da vida social, como a educação superior, a moradia e a saúde.
Muito há ainda para ser feito, mas este país tem dado passos largos em direção a uma sociedade mais igualitária. Até os inimigos da democracia seriam mais felizes em um país onde não houvesse tantos pobres nem marginalizados. Mas para isto deveriam mudar o foco do TER, para o SER. Algo que Paulo Freire ensinou, e pelo qual continua a ser reconhecido em todo o Brasil e no mundo inteiro.

Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/