O caso do goleiro Bruno mostra algo de mais profundo, mais perverso, do que a simples trajetória de um garoto pobre que se perdeu.
Mostra que no sistema, com dinheiro, você tem muitos amigos, muitos “parceiros” e muito poder, exercido diariamente. Sem dinheiro, todos o abandonam e a “solidariedade” some, assim, de repente.
Algo está provavelmente errado com um sistema que possui o racismo, o machismo e o menosprezo por um ser humano – e não a solidariedade – como um valor maior. De “herói”, ele virou para a mídia um mero “produto social” – sociologizado, explicado e, finalmente, descartado.
Nada sobre quem lucra com Elizas e Brunos, impunes e elevados – na própria mídia – a meros mediadores desse sistema desumano. Nada sobre a responsabilidade dos dirigentes do Flamengo, do Estado que não fiscaliza todo o tipo de violência no futebol, dos atravessadores que estão, cada vez, mais ricos.
A culpa é, toda, do Bruno e do Macarrão. Danem-se, dizem em uníssono. E tapam os olhos, tentando esquecer o problema e seus co-responsáveis.
Como estratégia para essa argumentação, nada melhor do que a boa e velha demonização e individualização dos nossos problemas sociais.
Jornalista, 38, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (fb.com/gustavo.barreto.rio) e Twitter (@gustavobarreto_).
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