Dia desses, uma manchete do jornal me chamou a atenção e talvez me tenha atrasado o sono. Dizia que “Brasileiro gasta mais com jogo de azar do que com educação”. Não por que o brasileiro não tenha o direito de gastar sua grana com o que bem entender. Mas pelo fato de como nós brasileiros fazemos nossas escolhas e nos relacionamos com elas. Por Marcos Sílvio de Santana, de Patos de Minas (MG)
A matéria do jornal aponta para as conseqüências de algumas escolhas que fazemos. Por exemplo, se gastamos mais com cigarros do que com livros, isso vai refletir na qualidade da mão-de-obra disponível no mercado diminuindo a nossa capacidade produtiva, a nossa competitividade, sem falar que o cigarro também vai piorar a saúde que por sua vez também reduz o potencial produtivo.
A autora da notícia lembra que a média de estudos do brasileiro é inferior a sete anos, enquanto que na Europa é superior a doze. Agora, imaginemos estar andando a 10 km/h e, à nossa frente, a uma distância “x”, alguém a 20 km/h e no mesmo sentido. Isso significa que, uma hora depois, esse alguém estará a uma distância “2x” de vantagem e, após duas horas, “3x”, e assim por diante. Considerando a forma com que o brasileiro encara a educação e também outros vários fatores básicos para a “ordem e o progresso” socioeconômico, diríamos que as perspectivas são desalentadoras.
Trazendo a idéia para o plano interno, é possível vislumbrar um “achatamento” ou uma deformação da atual pirâmide social. As poucas pessoas com maior renda vão cada vez ficando mais escassas, e as camadas mais carentes aumentando, em relação ao conjunto populacional, tendo em vista, principalmente, o controle de natalidade das famílias nos diversos estratos sociais.
Assim, aliando-se esses fatores a tantos outros, estaria o País caminhando para uma inexorável catástrofe social?
Outra questão inquietante é a nossa falta de compreensão dos temas políticos, a nossa forma de nos relacionarmos com os valores democráticos e com a cidadania. Recentemente, houve quem falasse em uma “nova constituinte”, uma revisão constitucional, ou coisa assim. Quem pensou na convocação de uma assembléia constituinte certamente não parou pra pensar no momento político que vivemos. Não refletiu nem um pouco sobre a nossa capacidade ou preparo para escolher ou eleger uma assembléia constituinte. O risco de termos a pior “safra” de representantes de todos os tempos é enorme. Isto por que as circunstâncias de momento inibem o surgimento de novos quadros e favorecem o aparecimento de mais aventureiros e oportunistas impregnados de interesses escusos.
Também não podemos nos esquecer de que os “políticos” saem do nosso meio. Eles não vêm de um outro mundo, o “mundo dos maus”. Eles são frutos da nossa sociedade, das nossas famílias e o que eles fazem é resultado do aprendizado adquirido no meio social. Não se quer aqui “pintar” um cenário de pessimismo. Porém, a melhor maneira de começar a equacionar os problemas é arrostar a realidade. As dificuldades domésticas devem ser resolvidas em casa e pelos donos da casa.
Não seria hora de darmos um “basta” nas bajulações enfadonhas, de rejeitarmos esses títulos hipócritas de povo íntegro, honesto, trabalhador, etc.? Aliás, precisamos desconstituir todo esse formato adquirido ao longo de 500 anos de erros. Recomeçarmos, iniciando por uma reconstrução social, através da remodelação dos nossos valores, da nossa postura como cidadãos, revendo o papel de cada um socialmente e na família. Quem sabe, pensar nua escola com educação moral e cívica, disciplina, religião, etc.
A expressão “resgate de valores” tem estado muito presente em vários segmentos da nossa sociedade. É um bom sinal, pois significa que as pessoas têm-se preocupado com o assunto. Porém, não há milagres. O tão almejado resgate de valores somente se dará quando formos capazes de reinventar a forma de nos educarmos, tanto na escola como na família. Somente com educação adequada será possível a reinversão dos nossos conceitos e nos tornarmos capazes de pensar por nós mesmos, com autocrítica e capacidade de discernimento. Então, obviamente, as nossas escolhas, as nossas preferências deixarão de ser alvo de assombros e deboches, e o Brasil sairá do desconforto de ser considerado um “país de 3ª divisão”.
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