Veja repete os slogans das viúvas da ditadura contra as reparações

A Veja continua repetindo os mais falaciosos slogans da extrema-direita, como se fosse apenas a versão impressa dos sites fascistas.

Estes, aliás, adoram disponibilizar a seus primatas… digo, seguidores, a propaganda enganosa da revista.

Numa rápida incursão pelos depósitos de imundície virtual, encontrei:

  • no Ternuma, ponto de encontro de todos os totalitários, link para matéria da Veja atacando o MST, 25 anos de crimes e impunidade;
  • no A Verdade Sufocada, do Brilhante Ustra, há um sem-número de artigos de um tal Jailton de Carvalho citando sempre a Veja como fonte das informações tendenciosas, a exemplo deste aqui atacando as Farc;
  • no Mídia Sem Máscara, do Olavo de Carvalho, constantes citações da revista Veja e elogios efusivos de OC ao blogueiro mais reacionário da revista, Reinaldo Azevedo, por ter explicado a crise hondurenha exatamente como Goebbels recomendava; e
  • no Usina de Letras, que dá abrigo a Felix Mayer, um dos principais gurus das viúvas da ditadura, este também reproduz e recomenda a desinformação programada de Reinaldo Azevedo acerca dos eventos de Honduras.
E por aí vai, nos sites e blogues militares, nas correntes de e-mails golpistas, enfim, em todos os tentáculos dessa máquina de emburrecer e fanatizar cidadãos já tendentes à intolerância.

Na edição de 14/10, que está nas bancas, a Veja ataca de novo as reparações concedidas pelo Estado brasileiro às vítimas da ditadura militar, em O esquema do Bolsa Guerrilha.

Seu alvo, desta vez, é Ana de Cerqueira César Corbisier, que militou na ALN de Carlos Marighella.

RESISTENTES SALVARAM A HONRA NACIONAL

Ana participou de duas expropriações de bancos (o que importa o roubo de um banco diante do crime inominável de fundar-se um banco? – indagava Brecht), para sustentar a luta contra os usurpadores do poder daqui, exatamente como fazia a Resistência Francesa para sustentar a luta contra os nazistas de lá.

A França reconhece e homenageia o martírio e o heroísmo dos que salvaram a honra nacional – não fosse a Resistência, o país ficaria idenficado apenas com os colaboracionistas da República de Vichy.

A Veja continua denegrindo, injuriando e caluniando os bravos que aqui exerceram o milenar direito da resistência à tirania, salvando igualmente a honra brasileira – caso contrário, o País ficaria identificado apenas com os insensíveis yuppies do milagre econômico, aqueles que zurravam “Brasil, ame-o ou deixe-o!”.

Ademais, a revista que virou house-organ obscurantista quer anular os grandes marcos da civilização, fazendo-nos retornar a antes da Grécia antiga. Se depender dela, acabaremos voltando às cavernas.

Falaciosamente, sempre omite que o Estado brasileiro seguiu à risca uma das recomendações da ONU para países que saem de ditaduras: o ressarcimento dos terríveis prejuízos que o arbítrio causa à vida dos cidadãos, assassinando-os, torturando-os, mutilando-os, enlouquecendo-os, perseguindo-os, discriminando-os.

Para a Veja – e para os que, como ela, repetem até hoje os slogans criados e difundidos pelos serviços de guerra psicológica das Forças Armadas durante a ditadura -, Ana é “ex-terrorista”.

Se alguém quem quiser maiores esclarecimentos sobre a impropriedade desse rótulo propagandístico, recomendo a leitura de Militantes contra a ditadura: heróis ou terroristas, no excelente blogue do jurista All Mon.

Ele reproduz um parágrafo do constitucionalista Daniel Sarmento que vai ao âmago da questão:

“Não se deve caracterizar os atos praticados contra a ditadura militar como crimes políticos ou de terrorismo. Até porque, de acordo com a definição do art. 2º da Lei 7.170/83, foram os golpistas de 1964, e não os insurgentes de esquerda, que subverteram a ordem constitucional vigente, estabelecendo, sob a égide da violência, do terror e do medo, uma nova ‘ordem’ político-institucional, sem qualquer salvaguarda dos princípios básicos atinentes à fundamentação da soberania democrática do Estado”.

E conclui:

“…a própria Lei da Anistia (que os próprios militares citam como uma lei pactuada democraticamente, mas não passou de mais uma decisão unilateral dos juristas da repressão) deixou de punir crimes considerados políticos. E se deixou de punir, excluiu a própria antijuridicidade destes atos”.

PARA A “VEJA”, CONFRONTAR O ARBÍTRIO É “ABSURDO”!

Voltando à nauseabunda matéria da Veja, a revista ousa contestar o direito de Ana a ser indenizada por todos os riscos que correu e todos os traumas decorrentes de haver travado luta tão desigual, tendo, ainda, de passar uma década inteira no exílio, para ficar a salvo de ser estuprada, torturada, assassinada:

“Em 2001, Ana bateu à porta da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e, desde 2007, recebe da União uma pensão mensal vitalícia de 2 744 reais, além de indenização parcelada de 361 500 reais. Ana é um dos 30 967 brasileiros beneficiados com os 2,6 bilhões de reais concedidos a vítimas do regime militar. Já é absurdo chamar de ‘vítima’ alguém que entrou voluntariamente para uma organização terrorista e atuou num assalto que resultou em homicídio (não se tem notícia de que ela tenha sido presa ou torturada)”.

Quem entrou voluntariamente para uma organização que jamais se caracterizou como terrorista na conceituação civilizada, tinha uma coragem e um idealismo inalcançáveis para os pigmeus morais da Veja!

Infelizmente, 40 anos depois, Ana comete um deslize imperdoável: está pleiteando uma vultosa indenização trabalhista da Fundação Padre Anchieta por ter sido obrigada a deixar o emprego em função da perseguição política que sofreu. Só que a pensão que por ela recebida da União já se destina, principalmente, a reparar o prejuízo que a ditadura causou à sua carreira profissional.

Fornece, portanto, trunfo valioso à propaganda inimiga, assim como o fizeram Carlos Heitor Cony e Ziraldo. Em respeito ao papel que desempenharam no passado, esses três e alguns outros não deveriam exagerar em suas demandas.

Como preço da magnanimidade com que se contemplaram certas celebridades, cujos casos foram priorizados e logo resolvidos pela anistia federal, houve em seguida uma redução acentuada nos valores das reparações dos resistentes anônimos deixados para depois (a grande maioria).

A alguns vips, mais do que mereciam receber. A boa parte dos que não alcançaram a notoriedade, menos do que deveriam receber.

Quem passou pelo inferno e teve a felicidade conservar a vida e a lucidez, deveria ser mais zeloso na preservação da imagem de nossa resistência – até em manifestação de respeito pelos companheiros que não estão mais conosco.

10 comentários sobre “Veja repete os slogans das viúvas da ditadura contra as reparações”

  1. Essa “revista”, as Páginas Marrons, é reduto do mais sujo que existe na política brasileira. É o nazismo mais infecto, a depravação moral, a falta de ética, a corrupção nua e crua, a distorsão sistemática da verdade. Se houvesse um Conselho de Ética no jornalismo, náo haveria uma só dessas latrinas ofendendo as pessoas de bem por aí. É lixo puro.

  2. Prezado Celso Lungaretti, você pode imaginar o que senti lendo a matéria da Veja. Enviei uma resposta que, claro, não foi publicada. Apenas as cartas que apoiavam e reforçavam a matéria foram publicadas. Como você também acreditou que eu pleiteio 70 milhões, mando-lhe minha carta, no intuito de que, ao lê-la, você perceba que não sou uma mercenária.Esse processo tem sido um longo calvário e a impressão que tive é que a matéria cujo título (“bolsa guerrilha”) remete à campanha de oposição ao governo Lula, tem também o intuito de minar minhas possibilidades de vitória, depois de um calvário de 27 anos em que a Fundação Padre Anchieta, na pessoa de seus sucessivos presidentes jamais se dignou, sequer, a conversar comigo… Desde já agradeço sua atenção. Ana Corbisier

    Carta aberta à Revista Veja

    São Paulo, 14 de outubro de 2009.

    Senhores

    Foi com espanto que li a matéria da jornalista Sandra Brasil, publicada no exemplar datado de 14 de outubro de 2009, “O esquema do bolsa guerrilha” (sic). Nos termos da Lei de Imprensa, solicito que esta carta-resposta seja publicada em espaço equivalente àquele em que foi publicada a matéria.

    Correções:

    1. “Agora, posa de vítima para receber indenização de 70 milhões de reais”.

    Conforme esclareci à jornalista, por telefone, o valor da minha causa, depois de 27 anos na Justiça, está muito longe dos 70 milhões de que fala a matéria. Assim, muito me estranha que a Fundação Padre Anchieta tenha chegado a esta cifra, que vai tão contra os seus interesses.

    2. “Presidência da República – Secretaria Geral (1995)

    Como o documento que faz parte da matéria foi rasgado, a impressão que fica do que foi montado é que eu matei pessoas, o que, como declarei à Comissão da Anistia, em 1995, nunca aconteceu.

    Esclarecimentos:

    1. “…por ter abandonado o emprego para pegar em armas”. “E o que a fundação tem a ver com isso? Nada…”

    Em 1969, o Prof. Soares Amora, diretor da Fundação Padre Anchieta, que fora meu chefe na Diretoria de Ensino daquela Fundação, preocupado com minha segurança, recomendou que eu não voltasse ao trabalho, pois “a polícia esteve aqui e deu uma batida em sua mesa” (palavras dele). Pedi, então, formalmente, uma licença para tratamento de saúde, visando evitar a prisão, como faculta a Lei brasileira, a tortura e talvez, a morte. Ou seja, não “abandonei o emprego”, mas fui orientada e obrigada a afastar-me, sob pena de ter a mesma sorte do jornalista Wladimir Herzog, também funcionário do Canal 2.

    2. Processo na Justiça X Comissão de Anistia

    Atendendo ao que me permitia a Lei da Anistia, promulgada em agosto de 1979, solicitei reintegração a meu cargo na TV Cultura. O mesmo Prof. Soares Amora, já então seu presidente, recusou minha reintegração. Estávamos ainda no Governo Maluf e a Fundação recusou também o outro direito que a Lei da Anistia me dava, o de contar os 10 anos em que estivera fora como tempo para aposentadoria. Assim, como não existia Comissão de Anistia, fui obrigada a entrar na Justiça para obter esta contagem de tempo.

    Em 1989, já no governo do PMDB, tentei um acordo com a Fundação. Ouvi do Sr. Roberto Muylaert, então presidente do Canal 2: “libero seu Fundo de Garantia, mas o processo continua na Justiça”.

    Nos anos seguintes, tentei uma audiência com o presidente seguinte, Sr. Jorge da Cunha Lima, que se recusou a receber-me. Encontrando-o casualmente, em uma exposição, ainda durante seu mandato, ouvi dele: “isso (referindo-se ao meu processo) é uma bobagem”, o que faz crer que, para a Fundação, esse processo representava algo insignificante e não os milhões de que fala a matéria da Veja. Ou seja, não consegui nunca resolver a questão por meios amigáveis e o processo continuou seu percurso.

    Em 1995, tendo o processo mais de 10 anos percorrendo várias instâncias, varas, cidades (São Paulo e Brasília), e tendo sido criada a Comissão da Anistia, recorri a ela, solicitando a indenização a que tinha direito. Depois de muitos anos em que a Fundação Padre Anchieta sempre se recusou a informar, inclusive à própria Comissão da Anistia, o valor do salário de um produtor em fim de carreira, para cálculo da indenização, este cálculo foi feito com base no salário da TV Educativa de Brasília, muito inferior ao de São Paulo (enquanto em maio de 2003, em São Paulo um produtor da TV Educativa ganhava R$ 3.500,00, em 2007, um produtor, em Brasília, ganhava R$ 2.744,00). Seja como for, a indenização que passei a receber é paga pelo Tesouro Nacional, nada tendo a ver com os recursos da Fundação Padre Anchieta. Mas, se eu vier a ganhar o processo, é de supor que o valor que eu já tenha recebido seja descontado daquele a que vier a fazer jus.

    2. “O dado irônico é que, em 1987, uma das testemunhas no processo foi seu amigo, Aloysio Nunes Ferreira, hoje secretário da Casa Civil do governo José Serra…”

    O Dr. Aloysio Nunes Ferreira foi de fato minha testemunha; solidário e democrático como é, nunca faltou aos que a ele recorreram, independentemente de suas idéias e do partido a que pertencessem.

    3. “… aderiu à luta armada como forma de combater o regime militar e instaurar uma ditadura comunista no Brasil”.

    Durante os anos que passei em Cuba, preparando-me para enfrentar a ditadura militar vigente no Brasil, conheci uma organização social diferente, que mesmo em um país pobre, acabara com a miséria, a extrema desigualdade, a população de rua, as favelas, as crianças sem escola, situações que, aqui, em meu país, me incomodavam e me incomodam muito. Enquanto isso, os militares, aqui, treinavam técnicas de tortura com os norte-americanos, no contexto da Operação Condor. Documentos do SNI, como o que faz parte da matéria da Veja, eram elaborados a partir de informações obtidas sob tortura ou de elementos infiltrados, o que lhes tira valor como fonte de dados.

    4. “Eles não estavam fazendo uma rebelião, mas um investimento. É o bolsa guerrilha”.

    Fiz um “investimento”, como afirma a matéria, citando Millôr Fernandes (quem diria?) – um investimento no futuro de meus filhos, então com 4 e 7 anos, e das crianças deste país, inclusive, provavelmente a jornalista Sandra Brasil porque, para mim, era inadmissível que vivessem sob a ditadura militar que se implantara no Brasil em 1964. Provavelmente, se não fosse a nossa luta e os horrores praticados pelos militares no poder e que culminaram com o assassinato sob tortura do jornalista Wladimir Herzog, a Sra. Sandra Brasil não poderia educar ou vir a educar seus filhos em uma democracia.

    5. “Não se tem notícia de que ela tenha sido presa ou torturada”.

    Não fui presa, felizmente, mas não desejo a ninguém, nem à jornalista Sandra Brasil, a tortura de viver 10 longos anos longe dos filhos, não acompanhando sua alfabetização, infância e adolescência, com pavor que qualquer contato comigo viesse a transformá-los em reféns dos militares, como estes fizeram com outras crianças, cujos pais também lutavam por um Brasil melhor.

    Ana Corbisier
    RG 2.601.229
    Rua Camilo, 371
    05045-020 – Vila Romana
    Tel. (11) 3801-1439

  3. Infelizmente, não fiquei sabendo do comentário da Ana quando ela o postou, só agora, um ano depois.

    Entrei em contato com ela para me desculpar e, como a Ana alega que é mentirosa a versão da “Veja” sobre um pedido de indenização de R$ 70 milhões, coloquei-me à disposição para tornar conhecida sua versão.

  4. Já li as matérias de out./2009 e de out./2010 da Revista Veja sobre essa tal coisa de Bolsa-Guerrilha envolvendo a Ana Cerqueira Cesár Corbisier e seu pleito “milionário” na justiça, segundo a publicação da Ed. Abril (pois é, eles voltaram á carga na edição de 13 de outubro de 2010 [pág.88]); aqui então, vai meu parecer sobre este caso:

    Se por acaso, ficar provado, que alguma das partes de toda esta contenda é mentirosa, significa que a guerra ideológica no Brasil vai existir para sempre !!!!!!!!!!!!!

    Tenho dito … ^^ !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  5. Sempre leio a revista Veja e acho-a extremamente importante para a democracia. Ela precisa continuar mostrando o que se tenta esconder neste país. Se a materia nao contem a verdade, escreva que a propria revista tem publicado os contra-pontos.

  6. Eu gostaria muito de saber melhor deste caso, pois em meu entendimento, por mais Ditadura em que se viva, naquela regra se vive. E o que dizer daqueles que morreram cumprindo seu dever na proteção do patrimônio do banco que foi roubado na ação em que a Ana estava participando de forma plenamente consciente? E agora, anos depois, vem pleitear toda uma indenização de uma instituição da qual não recebeu o fruto do trabalho ao qual se pleiteia o pagamento? E o que dizer daquele que morreu exercendo seu trabalho justo e honesto, certamente por um valor muito menor do que o piso de um produtor em fim de carreira em Brasília? Leis e mais leis, direitos e mais direitos, e ainda assim não basta a indenização mensal paga pelo governo dado o benefício da anistia, tem de esganar a empresa que nada tem a ver com a péssima escolha de vida da Ana em seguir no crime? Pergunto: porque não volta para Cuba, um país como ela declara com crianças nas escolas, sem crise, sem miséria, sem favelas, sem desigualdade social? Acredito que sejam crianças sem necessidade de um iPad, de um celular, de videogames, de carros blindados ou redes sociais? Crianças educadas em escolas abertas, com relacionamentos verdadeiros, com os pés no chão, com contato com a natureza, com espaço social? Porquê esta insistência em continuar neste país ao que se indica injusto, do qual pretende receber esta indenização que não se declara o valor pleiteado? Depois fala que a Veja é que está destruindo os valores deste país?!?! Eu realmente queria entender melhor isto… mas entender não o discurso formatado pelos advogados, mas entender na lei Divina, na verdade real dos fatos. Entender até mesmo o quanto a Ana foi mesmo contribuinte com a revolução que formou o atual Brasil, e que se realmente foi tão engajada assim, contribuiu para o pais ser assim tão injusto como se declara. Penso qual o grau de contribuição que de fato aconteceu, e a verdadeira relação de causa e efeito que a faz merecedora de qualquer tipo de benefício. Eu aprendi com meus pais que faz-se o bem e não necessariamente espera-se receber, tanto o bem quanto o mal. No processo de entendimento eu gostaria de perguntar aos filhos daqueles que morreram no tal assalto se deu tempo de aprenderam o mesmo dos pais deles, ou se de outra pessoa qualquer desta vida, e entendem o merecimento da Ana a algum tipo de indenização. Ou menos: a Ana algum dia se apresentou a eles, foi tomar um café com biscoitos, e lhes apresentou seus próprios filhos, e refizeram uma amizade? Um amparo? Um aconchego?

    Alex Zila

  7. Sr. Alex,

    o sr. não só desconhece este caso, como as regras e valores mais elementares da civilização, começando pelo direito de resistência à tirania, que é milenar, pois remonta à Grécia antiga.

    Como havia um governo legítimo no Brasil e ele foi derrubado por golpistas que implantararam o terrorismo de estado, os cidadãos corajosos e justos tinham todo direito e até o dever de pegarem em armas contra ele. E quem teve sua vida prejudicada pelo arbítrio, faz jus a reparações, sim, pois os danos físicos, morais, psicológicos e profissionais foram imensos.

    É o que a ONU recomenda aos países que se redemocratizam: apurarem os crimes cometidos durante a ditadura, punirem os culpados, indenizarem as vítimas e adotarem providências que dificultem a repetição desses eventos nefandos.

    Sem a Resistência, a França ficaria identificada para sempre com o governo fantoche de Vichy. Sem a Resistência brasileira, o Brasil ficaria identificado para sempre com os yuppies beneficiários do “milagre” econômico e outros oportunistas.

    Pagando um preço pessoal altíssimo, nós salvamos a honra do Brasil. Merecemos respeito.

  8. Sr. celso,

    Acredito que já somos mais evoluídos e mais civilizados do que os tiranos grecos aos quais vc nos compara neste momento.

    Acredito que nenhum bem material de indenização de qualquer natureza possa ser superior ao princípio da vida.

    Perguntaria o que os que já morreram vao fazer com a indenizacao a que tem direito de agora receber.

    Acredito que honra de país nenhum é mais importanter do que o direito de viver, o que foi tolhido de alguns inocentes no meio do caminho.

    Mas quem sabe evoluamos, não é mesmo?! Nem que seja à força como vc defende.

    Quem sabe estes mesmos fortes e inteligentes não deviam continuar nesta perseverança em face o que acontece em nossa política atual?

    Vou pesquisar mais, vou estudar mais, e um dia vou ser sábio como vcs, inteligentes armados merecedores de milhões em indenizações.

    E vou torcer para que no meio de toda esta tirania as empresas possam sobreviver às indenizacoes para manter o emprego dos que ainda aqui habitam, e estes não se tornem outros que um dia coloquem suas mãos em armas e por um ou outro motivo, ceifem a vida de mais algum inocente.

    Um abraço.

  9. Sr. Alex,

    desconheço tirano da Grécia antiga pior do que o Emílio Garrastazu Médici. Terá existido algum?

    O problema dos que sobreviveram foi o estado lastimável em que ficaram, com lesões físicas e/ou problemas psicológicos, limitações profissionais, etc.

    Veja meu caso: depois de ter o tímpano estourado nos porões da ditadura, tive de atuar no jornalismo sem escutar direito, não podendo trabalhar como repórter de rádio e TV, passando pelo constrangimento de pedir ao entrevistado para repetir o que já havia me dito, etc. Ou seja, fiz meus 34 anos de carreira em desvantagem. Como militante, nunca feri ninguém. Causaram-me uma lesão permanente e quase me mataram. Por muito pouco não enfartei aos 19 anos de idade.

    As famílias dos assassinados receberam indenizações da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.

    Eu nunca defendi o uso da força, salvo quando se tratou de resistir a governos impostos pela força. Numa democracia sou o mais cordial dos brasileiros.

    Os milhões que uns poucos ex-presos políticos receberam em indenizações, somados, são um grão de areia na praia dos prejuízos impostos aos brasileiros pela ganância capitalista — começando pelos grandes predadores e parasitas que são os bancos, casas de agiotagem consentida. Nem mesmo o montante da corrupção em todas as esferas governamentais chega perto da roubalheira legalizada que os bancos exercem.

    Finalmente: o ser humano não precisa de emprego nem de patrões. Precisa ter um trabalho e o direito de usufruir dos frutos desse trabalho, sem que eles lhe sejam surrupiados pelos donos do capital. Se reorganizássemos a sociedade em bases solidárias e justas, todos trabalharíamos muito menos e teríamos o suficiente para levar uma existência digna.

    Você vê a árvore apontada pela mídia tendenciosa e não enxerga a floresta por trás dela — imensa.

    Abs.

Deixe uma resposta