Em 1968, o Brasil gemia sob a ditadura empresarial-militar. O país era governado por uma junta militar que decretou o AI5 – Ato Institucional nº 5, dando a si mesma plenos poderes para invadir os lares e prender as pessoas a qualquer hora, podia demitir, transferir, prender, desaparecer com os presos, torturar e assassinar, como fez com mais de 500 brasileiros.
O então Presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba, autor desta nota, entendeu que não poderia ficar calado diante daquela medida despótica e cruel. Publicou, então, no órgão informativo do Sindicato o manifesto que segue. Ele já tinha sido demitido do Banco do Nordeste, foi preso pela Polícia Federal por 22 dias, e foi destituído da presidência do sindicato.
“SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS DA PARAÍBA
Boletim Informativo – João Pessoa – Paraíba – 23.12.68 – nº 3968
NATAL
Não podemos, neste ano de 1968, desejar aos colegas bancários um simples “boas festas”.
Convém lembrar que somos entidade além de indivíduo, e por isso é impossível desvincular o Homem do universo e do processo histórico. Conforme Teillard de Chardin a existência do Homem é de 500 milhões de anos e forma o Homem um todo, do primeiro ao último.
Dentro dessa perspectiva, como podemos desejar aos colegas bancários “boas festas”
se no Brasil morre uma criança a cada 40 segundos?
se quase 1% de nossa população é tuberculosa?
se existem 50% de analfabetos?
se nossa renda “per capita” é uma das mais baixas do mundo?
se no Vietname bombas de napalm, fósforo e “cães vadios” estraçalham entranhas de milhares de crianças, mulheres, velhos e doentes?
se na Grécia (berço da civilização) um Homem está sendo oficialmente torturado até a morte?
se nossos padres são presos acusados de subversivos?
Não podemos, pois desejar aos bancários um doce “boas festas”, se o povo que eles integram atravessa uma das maiores crises de sua história. Nossa mensagem será no sentido de que os colegas participem, como sujeito, na transformação da sociedade, pois só um povo consciente poderá atingir sua felicidade e bem estar.
Resta-nos, pois o apelo geral:
Ao Bancário que nada sobre dinheiro e tem o estômago vazio:
Ao Operário que não passa de uma peça de máquina com que trabalha;
Ao Camponês que há 400 anos vive sob o tacão de seus patrões;
Ao Comerciário que junto às mercadorias que vende, embala também a honra e a liberdade;
À Empregada Doméstica que não integra a Comunidade Nacional;
VINDE TODOS, DEMOS AS MÃOS FORMEMOS O FEIXE MISTERIOSO QUE NEHNUMA FORÇA POSSA QUEBRAR – U N I Ã O”