O silêncio nos conecta com tudo. Hoje tudo é dito, tudo é mostrado. Há um afâ excessivo em mostrar, em dizer, em fazer. Em nos atribuirmos méritos. Tudo é posto para fora, tudo quer ser dito, mostrado, evidenciado, explicado, demonstrado. Mas a dimensão exteriorizável da existência é apenas a parte visível de um iceberg infinito. Estes dias atrás, tenho-me visto (e ainda estou) às voltas com limitações que vem com o tempo.
Todos somos desafiados a irmos aceitando que já não podemos fazer tanto quanto em outras épocas da vida. Mas lamentar isto, que é natural, iria me aleijar do processo da vida. Esqueceria que o passar do tempo vai me levando para uma margem onde todos os barcos vão recalar. E essa dimensão maior é o amor, é o infinito, é o silêncio, que costura todas as coisas. Pensava no que José Comblin dizia sobre o amor, sobre a mensagem de Jesus, a sua simplicidade.
Não cito estes nomes por querer estabelecer alguma barreira, alguma separação. Ao contrário, é para ir partilhando cómo, a través do que é simples, podemos ir nos unificando com o todo. “Pessoas simples, fazendo pequenas coisas, em lugares pouco importantes, produzem mudanças extraordinárias,” dizia um boletim das CEBs.
Creio que nenhum de nós esqueceu pessoas simples que conhecemos nas nossas vidas. Cómo viviam em mundos que agora talvez estejamos podendo alcançar.
O tempo vai passando, o outono chegou, e as folhas secas no chão vão nos dizendo coisas. Muita gente quer mudar o mundo. Esse mundo começa dentro de cada um, de cada uma de nós.

Doutor em sociologia (USP). Terapeuta Comunitário. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora, 2001. Publicado em espanhol pela Editora Homo Sapiens. Buenos Aires, 2005), Mosaico (João Pessoa: Editora da UFPB, 2003), Resurrección, (2009). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/