Teleféricos, Iphones e esgoto

Que os moradores das favelas cariocas merecem mais conforto em seu percurso diário entre o morro e o asfalto não se discute. A jornada pode ser cansativa até para jovens, o que dirá para idosos, gestantes, crianças e deficientes físicos.

Mas é curiosa a rapidez com que governantes costumam disponibilizar verbas para empreendimentos espetaculares, como os teleféricos do Alemão e da Rocinha, no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que carecem de recursos projetos dos mais básicos nessas mesmas comunidades, como obras de saneamento básico e infraestrutura.

Não causa espanto, contudo, a predileção dos dirigentes brasileiros. A cada dia que passa, torna-se mais clara a sujeição da prática política ao fisiolologismo, de modo que o menor dos movimentos feitos no âmbito das relações de poder é cuidadosamente pensado em temos da contrapartida eleitoral. É evidente que, com isso, a lógica do espetáculo, calcada na visibilidade, acaba imperando.

Não é uma coincidência que, hoje, se diga que já não há mais ideologia, tampouco partidos políticos que apresentem, de fato, uma identidade. O que se vê é uma profusão de coligações que misturam legendas das mais variadas naturezas, sejam operárias ou empresariais; comunistas, social-democratas ou neoliberais. É a política pela política, ou melhor, pelo business.

A atual conjuntura brasileira é significativa a esse respeito. Claro que é digno de comemoração que menos pessoas estejam passando fome e que mais cidadãos se vejam em condições de adquirir bens materiais. No entanto,  a mesma faixa da população que está comprando TVs de plasma, Iphones, DVDs e panelas inox ainda convive com valas de esgoto ao lado de suas casas sem reboco. E, tão ou mais grave quanto, segue sem acesso à educação de qualidade.

O sociólogo Pierre Bourdieu há muito apontava que não é o capital econômico que está no princípio da desigualdade social, mas o capital intelectual, algo a que, definitivamente, a chamada nova classe média ainda não teve o devido acesso.

A explosão de consumo vista ultimamente no Brasil é, acima de tudo, resultado de uma estratégia de perpetuação de um projeto de poder – no caso, liderado pelo PT-PMDB, mas certamente outras coligações partidárias fariam o mesmo se tivesse a chance. O povo fica satisfeito com seus novos eletrodomésticos, mas é mantido em uma condição de exclusão, de miséria cultural. (Neo)populismo puro.

E um detalhe: no modelo de expansão da economia pela via do estímulo ao consumo, que já não se mostrou sustentável em outros países, há sempre o risco da formação de uma bolha, que pode explodir a qualquer momento (vale lembrar que quase metade das famílias brasileiras está endividada neste momento).

Como se não bastasse, há ainda a questão do ônus ambiental. Depois de tanto se falar nos males causados pela chamada sociedades do consumo, o governo brasileiro, em pleno século 21, contribui para a humanidade reduzindo o IPI de automóveis. Novamente, ludibria-se o cidadão, satisfaz-se o lobby da indústria e enche-se o bolso dos acionistas do “National Congress Business Center”.

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