No entanto, derrapou melancolicamente ao escrever o que deveria ser uma análise do filme Lula, o filho do Brasil para a Folha de S. Paulo (Os Filhos do Brasil).
Acusa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de lhe haver revelado que tentou currar um preso jovem, durante o mês que passou preso no Dops em 1980.
Primeiramente, Benjamin já deveria saber que algo tão grave não pode ser trombeteado com respaldo tão frágil.
Não procurou a suposta vítima, nem sequer trouxe o endosso dos três brasileiros que, segundo ele, teriam escutado a conversa (afora um estadunidense que não entendia nosso idioma). Ficou na base do “ele disse, eu ouvi”.
Sendo, como é, adversário político do Lula, estava obrigado a apresentar testemunhos para coonestar seu relato. Unicamente com os elementos contidos no texto, qualquer tribunal o condenaria como caluniador.
Também não vi pertinência. Por que exumar algo tão longínquo, se não presenciou o episódio, não conta com o aval da (repito) suposta vítima, nem tem certeza de que realmente ocorreu e de que se passou dessa maneira?
Sempre fui avesso à promiscuidade com o poder. Procuro manter, em relação aos poderosos, o que outrora chamávamos de distanciamento crítico.
No entanto, Lula não é nenhum Berlusconi. Pode ser criticado como qualquer ator político, mas sem golpes baixos.
O fato é que essa afirmação sem comprovação será difundida exaustivamente na internet e na imprensa, produzindo um estrago na imagem de Lula que poderá ser injusto.
Ou seja, mesmo que nada se prove e ninguém corrobore, ainda assim muitos cidadãos concluirão que a verdade estará sendo acobertada.
Quem já sofreu tantas acusações levianas da extrema-direita, como Benjamin, deveria ser o primeiro a não incidir na mesma prática.
Polanski foi acusado de, numa festa de notáveis de Hollywood, haver mantido relações sexuais com uma modelo de 13 anos.
O termo estupro andou sendo utilizado levianamente pela imprensa brasileira, já que, em nosso País, subentende coação. Os estadunidenses, com seu moralismo de jecas, o aplicam até a sexo consentido, desde que praticado por adulto com menor. Faltou explicar esta diferença
Polanski admitiu ter transado com a modelo, mas afirmou que a relação foi consentida e que ela não era virgem.
Em meus artigos, concedi o benefício da dúvida a Polanski, por vários motivos:
- o caso pareceu-me semelhante à arapuca que uma vigarista armou para extorquir dinheiro de Mike Tyson, inacreditavelmente apoiada pela Justiça dos EUA;
- Polanski estava na mira dos segmentos mais conservadores e fanatizados da sociedade estadunidense desde 1968, quando dirigiu O Bebê de Rosemary, então pode ter havido parcialidade na condução do seu caso;
- a suposta vítima acabou retirando, quando adulta, a queixa que seus país apresentaram contra Polanski;
- como jornalista, conheço muito bem a compulsão por holofotes de alguns burocratas que exercem atividades tediosas e medíocres, então tenho absoluta certeza de que, fosse Polanski um cidadão comum, não estaria sendo perseguido de forma tão encarniçada tanto tempo depois; e
- sempre considerei a prescrição de crimes um componente fundamental da civilização, então avalio como uma desumanidade os dois meses de detenção a que foi submetido Polanski, aos 76 anos de idade, quando sua periculosidade para a sociedade é nenhuma e sua contribuição, das mais relevantes.
Como fez no caso de Marina Petrella, ultimamente Sarkozy vem colocando os sentimentos humanitários à frente das razões de estado, o que contribui para tornar o ar de nosso planeta mais respirável. Houvesse só Berlusconis e o fedor seria insuportável.
A comunidade se chama Sou de Direita, e daí?.
Isto comprova, mais uma vez, que a atuação do Ministério Público Federal no combate aos crimes virtuais deixa muito a desejar.
Praticamente se restringe ao estelionato e pedofilia, nada fazendo, p. ex., para defender a imagem dos resistentes que lutamos bravamente contra a ditadura militar e hoje somos, dia após dia, alvos de injúrias, difamações e calúnias nos sites e redes de e-mails fascistas.
De resto, a baixaria da comunidade direitista comprova que os reacionários brasileiros estão aí para limitar liberdades, disseminando o ódio e a irracionalidade. São herdeiros da Ku Klux Klan.