A leitura de alguns textos, a escuta de algumas observações e frases, têm a virtude de mobilizar vários sentimentos e percepções*
A sensação de consolo e alívio diante de um panorama que tende a ser mostrado como sem saída, numa perspectiva catastrofista, desde as esferas do poder e desde a mídia venal.
A certeza de que há leituras da realidade em profundidade, com fundamentação histórica e científica e (o que me parece crucial nos dias de hoje e sempre) com impecabilidade ética.
Em circunstâncias de crise (e em algum sentido toda circunstância é crítica) a pressão para encontrar uma saída pode levar a esquecer caminhos imprescindíveis. O recurso à história. A visão integradora. A necessária interseção de pontos de vista e perspectivas superadoras de megalomanias salvacionistas. A projeção de horizontes positivos que dependem, no entanto, de árdua e laboriosa ação pessoal e coletiva.
A perspectiva do vivido aconselha paciência tanto quanto ação integrada e integradora. Isto é: trabalhar para se construir a cada instante como sujeito com as feições que a trajetória pessoal configura. Preservação da memória como reservatório seguro daquilo que não morre. Consciência de que a identidade é a única fortaleza segura que habilita o jogo da sobrevivência com o tom da esperança. Ou seja: como coexistir com as situações adversas potenciando ao nosso favor a pressão desumanizadora.
Isto exige uma humildade que nos aproxima da totalidade. Diferentemente do atual cenário em que se tritura a individualidade tanto quanto a comunidade para conformar massas amorfas manipuláveis, a ação libertadora demanda uma atenção contínua a esmerada para as esferas mais sutis da existência.
O cuidado tanto conosco mesmos/as como com relação às outras pessoas, vistas como criação de Deus e merecedoras de todo respeito. O cultivo cotidiano do olhar artístico e poético nas suas diversas manifestações, como maneira de nos resguardarmos da despersonalização que tentam nos impor. Refiro-me aqui a essa capacidade humana de ver e ir além do imediato. Projetar a vida para um além feito por nós mesmos/as, o lugar dos sonhos pessoais e coletivos.
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*Refiro-me aqui e agora ao texto de Alder Calado publicado na edição de hoje. Mas a minha observação recolhe também algumas outras leituras da realidade que tenho tido a oportunidade de conhecer (Ramón P. Muñoz Soler, Graciela Maturo, Fritjof Capra, Karel Kosik, Anais Nin, Herbert Read)

Doutor em sociologia (USP). Terapeuta Comunitário. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora, 2001. Publicado em espanhol pela Editora Homo Sapiens. Buenos Aires, 2005), Mosaico (João Pessoa: Editora da UFPB, 2003), Resurrección, (2009). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/
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Caro Rolando
Muito boa sua reflexão. Precisamos muito no tempo atual. Cultivar o olhar e ainda mais, o afeto que une as pessoas. Viver o hoje, mas sentindo a efemeridade da vida. Amar sempre quem nos rodeia. Presença constante para o bem querer
Um abraço em Maria
Cara Magdala. Obrigado pelos seus comentários. A sua presença entre nós é contínua. Um grande abraço e que Deus a abençoe mais e mias!