Por Isaac Bigio
LONDRES, outubro/2004. Para Bush e Kerry, o que ocorre no Sudão é um genocídio. Na última década, a África presenciou holocaustos como o de Ruanda, Burundi e Congo (5 milhões de mortos), a expansão da AIDS (que ameaça infectar 50 milhões de pessoas) e o retrocesso de sua efêmera participação na economia mundial.
Os dois candidatos norte-americanos concordam que não se deve mandar tropas do país para lá. Ao Iraque, onde existe o ouro negro, se enviou soldados duas vezes, mas os “negros sem ouro” não são prioridade, ainda que a catástrofe que vivem hoje incida em todo o globo.
A África não necessita de mais tropas brancas, mas precisa que o Hemisfério Norte mude as exigências do pagamento de suas dívidas, mude o protecionismo diante de seus produtos agrários e que se reduza os preços dos remédios contra a AIDS e outras doenças.
Com uma pequena parte do orçamento militar dos EUA sendo investida em obras de infra-estrutura como o tratamento da água, o saneamento básico e a proteção social, o continente negro poderia deixar de produzir a cada dia uma quantidade de vítimas civis equivalente ao atentado de 11 de Setembro.
Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.