Veja como é fácil entender a “lógica” da circulação de informações em nossa sociedade brasileira ultraliberal.
O caso dos médicos cubanos ficou sendo discutido por infinitos meses, com a acusação de que eles estariam sendo “escravizados”. O que havia, de fato, eram questões trabalhistas — pontuais, porém pertinentes. Virou “TRABALHO ESCRAVO” e ficou sendo bombardeado na TV e nos principais meios eletrônicos e impressos dias a fio, sem qualquer razão para tal designação estúpida.
Por outro lado, desde o início do ano dois grupos de imigrantes já sofreram EFETIVAMENTE com o TRABALHO ESCRAVO. Esse sim, comprovado, denunciado, com amplas informações disponíveis, fontes etc.
Citando apenas três flagrantes, 134 estrangeiros foram resgatados em alojamentos que mais pareciam senzalas ou chiqueiros (um era efetivamente um chiqueiro).
Alguém aqui — que não trabalhe diretamente com o assunto, aí não vale — sabe onde ocorreram e quais são as nacionalidades? Alguém? O senhor aí atrás? A senhora?
Google também não vale. Alguém?
Pois é.
E nós, em plena “Era da Internet”, nos julgamos bem informados.
Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.