Minha experiência hoje (8/3) na tentativa de voltar pra casa mostra um pouco sobre o que está acontecendo com o transporte público no Rio de Janeiro. Sempre que tento retornar entre 18h e 19h utilizando o Metrô no centro, sentido Zona Norte, frequentemente não consigo entrar. Esta semana, por duas vezes. Nos outros dois dias, só consegui porque já passava de 21h. É o famoso gargalo – está cheio deles e são cada vez mais numerosos.
A lógica é muito simples. Da forma que está, sem aumento proporcional de vagões, o metrô é uma linha reta que vai da Pavuna até Ipanema – um total de 40 km (se fosse em linha reta). Em breve, até a Barra da Tijuca. Com isso, a entrada no vagão, em diversas estações, é simplesmente impossível. Os poucos que tentam arriscam suas vidas e são esmagados pelas portas. Hoje mesmo, um homem teve que viajar numa situação inusitada. Ele dentro, a mochila fora.
O próprio segurança do Metrô, que “fiscalizava” o rebanho no seu ir e var bovino, concordou comigo. Pergunto eu: “Você me aconselha entrar aí?” Ele faz, então, a velha expressão facial “Sou apenas um funcionário que está tentando ganhar o pão de cada dia, não olhe pra mim”, me desaconselhando de me espremer para tentar a sorte.
Exigi meu bilhete de volta. A agente do metrô ensaiou um questionamento: “Não posso devolver se não houver falha no sistema.”
Retruquei: “O sistema está falido”. E fui atendido (foto abaixo):
E o sistema faliu porque quem está mantendo o sistema assim pretende. Em vez de ouvir especialistas, o Secretário de Transportes, Julio Lopes (PP-RJ), declarou: “O que nós queremos, do ponto de vista político, é eleger o nosso sucessor. Eleger a continuidade do governo. E para isso nós precisamos atender a maior parte da população, da melhor qualidade possível. (sic)” [vídeo abaixo]
O populismo barato de Lopes já faz há algum tempo as primeiras vítimas: passam os rebanhos que conseguiram entrar na cerquinha, enquanto os demais ficam à deriva.
Alternativas há poucas: pegar o trânsito inacreditavelmente caótico do centro do Rio ou… não há “ou”. Porque não há ciclovias no centro. Tampouco na Zona Norte (as poucas que existem levam de lugar algum para lugar nenhum).
Já que Julio Lopes e o Governador Sergio Cabral querem se eleger com este modelo, como deixam claro sempre que questionados – às vezes com notória sinceridade –, sugiro abordar o tema do ponto de vista agropecuário. Pois é isso o que terá que ser feito daqui pra frente: manejo de rebanho.
Com a ajuda de uma rápida pesquisa na Internet, posso dar algumas dicas importantes. Seguem:
1. O sucesso do manejo dos usuários do metrô depende de uma relação, sem medo, entre homem e animal. A princípio, o gado é arisco ao contato humano, mas com manejo adequado os seguranças conseguem se aproximar do gado e interagir com o lote ainda no pasto, quer dizer, na estação.
2. A distância entre os dois – o usuário e o agente da ordem – é a medida da “zona de fuga”, como chamam os especialistas. Conhecê-la e saber diminuir a distância de segurança para o gado torna-se um instrumento bastante útil na lida diária da locomoção dos trabalhadores.
3. Os primeiros contatos devem ser feitos com algum instrumento de apoio, como um cavalo ou um porrete. O agente da ordem pública deve parar no meio dos animais, digo, usuários e deixar que eles se aproximem. Se a área determinada pelos usuários – a zona de fuga – for violada, o rebanho se dispersa. Esse é o momento mais delicado. Com a repetição da aproximação durante os dias de manejo, os usuários ganham confiança e diminuem esta área, se adequando ao espaço mínimo possível.
4. Após este passo, é preciso humanizar o relacionamento e guardar o porrete – mas atenção: apenas depois que os animais estiverem acostumados ao manejo.
5. Por fim, sem correria nem movimentos bruscos, o agente da ordem consegue até mesmo laçar uma rês sem a necessidade de atirar a corda, bastando colocar o laço no pescoço do animal. Ops, essa não dá ainda para usar.
Caso não tenha ficado claro, mostramos como diminuir, neste didático vídeo abaixo da Embrapa, o estresse do rebanho ao disputar espaço com outros ruminantes. Conforme destaca o título do vídeo, “conforto e bem-estar aumentam a produtividade do rebanho”.
Portanto, conforme demonstrado, se você não quiser ficar pastando pelos próximos anos, escolha melhor seu/sua candidato(a) nas próximas eleições.
Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.
Cabral encontrará solução para tudo.