Enquanto isso, o Flamengo “agitou a possibilidade” de comprar o terreno do Derby Club, o que impediria a Prefeitura de instalar ali o Maracanã.
“Copa do Mundo em 48, no estádio da cidade. A Prefeitura retomará os estudos dos projetos”. Essa foi uma das manchetes do jornal governista A Noite de 15 de março de 1946. A então entidade máxima do futebol, a CBD – Confederação Brasileira de Desportos –, pediu para aumentar o prazo da entrega: de 1947 para… 1948.
“A construção do estádio da cidade é assunto que vem sendo debatido há muitos anos, não só pelos dirigentes desportivos como pelas autoridades governamentais”, continua o diário. No Rio, informa, há dois estádios construídos há muito – o do Vasco e o do Fluminense – mas “cujas lotações e condições gerais estão bem longe do estádio municipal do Pacaembú, em São Paulo e dos existentes em Buenos Aires”.
Anuncia o diário que “em 1947 ou 48 será realizado no Brasil a Copa do mundo, o Campeonato Mundial de Football, sensacional certame que reunirá scratches de vários paises da América e da Europa”. E esses jogos “solicitam um estádio no Rio de Janeiro ou a ampliação das praças de desportes do Vasco e Pacaembú”.
“Derby Club, o local ideal”
O jornal informa que “caberá à Prefeitura, com ou sem o auxilio financeiro do govêrno federal, construir o estádio da cidade”. E, após longos estudos, ficou indicado o local da praça de desportos do Rio, os terrenos do antigo Derby Club, na Avenida Maracanã.
Uma das possibilidades colocadas à mesa era o espaço do campo do São Cristovão. “Ficou entretanto decidido que o estádio seria construido nos terrenos do antigo Derby Club. O assunto fôra estudado pelo Ministério da Educação, mas transferida para a Prefeitura a solução concreta”, diz o A Noite.
Foram traçados planos para a construção: “Tanto assim que uma comissão, constituida pelos senhores Antonio Avelar, Carlos Martins da Rocha e Rafael Galvão iniciaram os estudos dos projetos do estádio da cidade”, diz o diário, completando: “Com o tempo, tudo ficou abandonado”.
Enquanto a Prefeitura “abandonava o problema”, diz o jornal, o Flamengo “agitou a possibilidade” de trocar seu estádio na Gávea pelos terrenos do Derby Club, no Maracanã, de propriedade do Jockey Club Brasileiro.
Se isso acontecesse, “ficaria a Prefeitura sem o melhor local para construir a praça de desportos da cidade, uma vez que não há, efetivamente, outros terrenos nas proximidades da cidade, para o Pacaembú carioca”.
“Copa do Mundo em 1948 e o Rio terá um estádio monumental!”
Este é o entretítulo da matéria do (conforme já dito) governista A Noite, que informava que a CBD iria pleitear junto à FIFA o adiamento da Copa, de 1947 para 1948. “A entidade dirigente do football mundial, devido as consequências da guerra, não terá urgência em organizar a próxima Copa do Mundo. É que muitos paises europeus, devido à guerra e a crise atual, não poderão enviar ao Brasil seus scratches”, tranquiliza o jornal.
Um dos membros da comissão sobre o tema, o então presidente do América, Antonio Avelar, declarou: “Estive com o prefeito Hildebrando Góis, ontem em seu gabinete. Os estudos dos projetos serão imediatamente retomados. A Prefeitura vai construir o estádio da cidade, tudo dependendo dos estudos finais da comissão constituida pelo arquiteto Rafael Galvão, Carlito Rocha e deste seu amigo”.
Agora, finalmente, parece que vai sair.
Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.