Hoje lembrava, ao relembrar dos tempos da ditadura, como seria ruim ter as lembranças do lado de lá, as lembranças de quem matou, torturou, roubou, seqüestrou, mentiu, traiu a pátria, violentou. Isso seria muito ruim, pensei. Ainda bem que tenho as lembranças do lado de cá. Sei que elas permanecerão conosco até o final. Mas são, afinal, as lembranças boas, as dos que sabem estar e sempre ter estado, embora possam ter errado, do lado do bem. Pense como seria o contrário, você ter sido um ladrão, um estuprador, um traidor, um vendepátria, um canalha, um assassino, um mentiroso. Você, como eu, sabe que as dores do horror não perecem. São, no entanto, um galardão, não um baldão, como seriam se você tivesse estado do outro lado. Dois lados

Doutor em sociologia (USP). Terapeuta Comunitário. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora, 2001. Publicado em espanhol pela Editora Homo Sapiens. Buenos Aires, 2005), Mosaico (João Pessoa: Editora da UFPB, 2003), Resurrección, (2009). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/