II Fórum de Mídia Livre

fml2
Nas vésperas da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), o Fórum de Mídia Livre (FML) realizou sua segunda edição, entre os dias 04 e 06 de dezembro, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Vitória. Com cerca de 300 participantes, além da troca cultural entre entidades de todo o país, ocorreram atividades que vão desde shows musicais e oficinas aos debates políticos. Comunicadores populares, educadores, militantes sociais, jornalistas, dentre outros, participaram do evento.
“Antes de tudo, o Fórum é um encontro de gerações que hoje produzem cultura a partir de valores associados à colaboração e à rede, visando a produção de um novo mercado da comunicação: o mercado do diálogo”, ressalta Fábio Malini, coordenador local do II Fórum de Mídia Livre.
Organização criada em São Paulo, envolvendo 42 jornalistas, estudantes, professores ou pessoas atuantes na área das comunicações, de diferentes regiões do Brasil, o FML vem se tornando um movimento representativo na área. De lá pra cá foram realizadas reuniões em diversos estados, o I FML em 2008 na Universidade Federal do Rio de Janeiro e no Fórum Social Mundial, em Belém (PA), participou da construção do II Fórum Mundial de Mídia Livre.
conf_abertura
Conferência de abertura, da esquerda para a direita: o jornalista Luis Nassif, Ivana Bentes, coordenadora da Eco/Ufrj e Giussepe Cocco, cientista político. Foto: Eduardo Sá/Fazendo Media.
Numa lona montada no campus da UFES, a “tenda midialivrista”, onde os shows noturnos foram realizados, ocorreu a conferência de abertura com o jornalista Luis Nassif, a diretora da ECO/UFRJ, Ivana Bentes, e Giussepe Cocco, cientista político também da UFRJ. Foram diversos os temas abordados, a fim de introduzir o debate e a reflexão sobre os demais campos da comunicação durante o evento. Em se tratando de mídia, Nassif foi enfático ao apontar os problemas estruturais na distribuição das informações no Brasil, destacando a necessidade de uma auditoria sobre as tiragens das grandes corporações da mídia. Para ele, inclusive, “a atual geração de diretores na imprensa brasileira é a mais medíocre que já vi, é um desastre, está desmoralizada”.
Durante o Fórum muitos Grupos de Trabalho (Gt) foram construídos, alguns buscando a interação dos Pontos de Mídia Livre presentes, veículos premiados por um edital realizado no ano passado pelo Ministério da Cultura, uma das conquistas do I FML. Eixos temáticos discutiram assuntos como a sustentabilidade, produção de conteúdo, políticas públicas para o setor, e etc. Nas desconferências, como eram chamados os Gt’s, os participantes fizeram algumas propostas, para serem sistematizadas ao final do evento, buscando apresentá-las na reunião entre os delegados da sociedade civil para a Confecom. Na ocasião também foi criada a Rede de Solidariedade e Proteção à Blogosfera, que contará com o apoio de juristas e advogados, em defesa dos jornalistas que estão sendo processados por suas atividades independentes na internet e com isso imobilizados pelas pressões jurídicas e financeiras.
 
desconferenciaNum dos Gt’s realizados, com a fala o integrante do Soylocoporti, de Curitiba (PR). Foto: Eduardo Sá/Fazendo Media.
Nas discussões, esses foram alguns pontos valorizados: democratizar a publicidade, universalização da internet banda larga, criação de um Fundo Nacional das Comunicações e do Conselho de Comunicação, instrumentalizar um portal central das rádios comunitárias, discriminação dos valores das propagandas veiculadas (projeto aprovado para a propaganda eleitoral de 2010), portal com divulgação de editais, inserção da mídia livre em debates e na grade curricular dos cursos de comunicação, reedição do edital dos pontos de mídia livre também no âmbito estadual e municipal, multiculturalismo viabilizando o intercâmbio interestadual entre os comunicadores, descentralização da distribuição dos recursos, etc.
O jornalista Altamiro Borges, integrante do Grupo de Trabalho Executivo do FML, preocupado com a quantidade de encaminhamentos e consciente da uniformidade das propostas do campo empresarial, sugeriu sete prioridades tentando “unificar os campos para obter vitórias”. Concessões Públicas e direito à propriedade, radiodifusão comunitária, publicidade oficial, banda larga para todos, fortalecimento da rede pública, marco regulatório e participação da sociedade (conselho de comunicação) são, em sua opinião, os principais temas a se reivindicar na Confecom.
Fora a ausência dos estudantes e algumas dificuldades pela organização do Fórum que acabou, por questões operacionais, não contando com a presença de mais participantes, houve uma intensa troca de experiência que trouxe relatos de projetos de quase todos os estados do Brasil. Inclusive de pessoas que trabalham com cultura, sobretudo músicos, que se integraram ao debate. Ao final foi sugerida uma nova comissão organizadora do Fórum, que já começará a articular o próximo FML para 2010 em local ainda não definido.
“O Fórum depurou antigas e estabeleceu novas demandas para o movimento midialivrista brasileiro, bem como abriu um leque maior de articulação com diferentes movimentos sociais que hoje pensam e produzem cultura livre pelo país”. “Nosso desafio já é o de planejar e começar a realizar a terceira edição do FML. E fazer ampliar, pelo país, nossa máxima: nós somos a mídia!”, destacou Fabio Malini.

Deixe uma resposta