Entre a raiva, o amor e o humor: quem são e o que queremos os manifestantes no Brasil?

Por Gustavo Barreto, julho de 2013 (*)

Estudante tenta beijar PM em cordão de isolamento de protesto no centro do Rio. Foto: Zulmair Rocha/UOL
Estudante tenta beijar PM em cordão de isolamento de protesto no centro do Rio. Foto: Zulmair Rocha/UOL

Resumo:

Este artigo é uma investigação sobre quem são e o que querem(os) os manifestantes que foram às ruas nos dois últimos meses no Brasil. Foi realizado um mapeamento conceitual não definitivo e uma pesquisa exploratória durante os protestos para dar início a uma investigação que, posteriormente, pretende ser aprofundada. Em um segundo momento, é discutida a crise da democracia e as “categorias lógicas” (Hardt e Negri) dos manifestantes, em meio a uma intensa produção biopolítica e, inclusive, midiática. A raiva, o amor e o humor são ingredientes frequentes desta aparente novidade no cenário político e social brasileiro – e, portanto, alvo de investigação.

1. INTRODUÇÃO

As manifestações que vêm ocorrendo no Brasil desde o início de junho de 2013 mobilizaram não apenas muita gente, como estão modificando a estrutura de funcionamento de diversas instituições e causando intensos questionamentos sobre os rumos que o país tomará a partir dessa aparente mudança de comportamento.

Sociólogos da mídia – esta espécie de palavra fácil e coerência difícil – tratavam de “explicar”, durante décadas, que o brasileiro possuía muitas “válvulas de escape” – o futebol, a cerveja, a música, a praia etc – e que revoluções, por aqui, não poderiam prosperar.

Este argumento pode ser questionado de uma forma simples: se fosse verdadeiro, seria bastante difícil para Hernâni Donato conseguir realizar uma obra de 593 páginas que fala exatamente sobre as batalhas brasileiras contra os poderes tradicionais desde o surgimento de Pindorama – o correspondente de “Brasil” no idioma indígena Tupi. A referida obra de Donato – “Dicionário das Batalhas Brasileiras” – nos lembra que, dos 365 dias do ano, apenas dois (25 de fevereiro e 26 de março) deixam de lembrar batalhas.

Muitos meios de comunicação e até mesmo grupos políticos e cidadãos comuns bem informados adotaram desde então a expressão “O gigante acordou”. É preciso concluir que, se o tal do “gigante” só acordou agora, deve ter um sono bem pesado. A História mostra justamente o contrário.

No cenário atual, a despeito da (1) descrença generalizada de que algo vá mudar e da (2) crença generalizada de que as coisas estão mudando, é necessário avaliar mais cuidadosamente, à luz não só dos acontecimentos em si mas também das consequências do que consideramos um “acontecimento” em si.

Argumento neste artigo que o conceito mais resgatado entre os manifestantes, “vândalos”, “baderneiros”, “anônimos” e outros indivíduos e coletivos sociais é o da cidadania, bem como a crítica à chamada democracia. Passarei a discuti-los agora.

José Murilo de Carvalho já observara, em um estudo de fundo datado de 2001, a ampla aceitação do uso do termo cidadania. Políticos, jornalistas, intelectuais, líderes sindicais e de movimentos sociais, dirigentes de associações ou simples cidadãos a incorporaram em seu cotidiano.

Mais ainda, cidadania substituiu o próprio povo na retórica política. “Não se diz mais o povo quer isto ou aquilo, diz-se a cidadania quer. Cidadania virou gente. No auge do entusiasmo cívico, chamamos a Constituição de 1988 de Constituição Cidadã”, diz Carvalho. Negri e Hardt poderiam notar – como o fizeram com a noção de povo – que cidadania seria mais um destes conceitos que servem bem ao poder, ao passo que tornam a população em geral una, unificada em uma coisa só, neste caso na cidadania. Incentivam a soberania como modo de massificar uma ampla gama de atores sociais e cidadãos ativos e detentores de direitos e de subjetividades.

O conceito de cidadania teve entre um de seus principais estudiosos – e certamente o mais influente deles – Thomas Humprey Marshall (1893-1981), sociólogo britânico, cujo principal ensaio foi “Cidadania e Classe Social” (Citizenship and Social Class), datado de 1950, a partir de uma conferência proferida no ano anterior.

Sua análise dava conta do desenvolvimento da cidadania a partir de três desdobramentos: direitos civis, direitos políticos e direitos sociais, nos séculos XVIII, XIX e XX, respectivamente. Estes direitos – nesta ordem específica – podem ser observados talvez apenas na Inglaterra e em uma penca de outros países. No Brasil de Getúlio Vargas, por exemplo, o terceiro antecedeu o segundo e até hoje nenhum deles é pleno.

Qualquer que tenha sido o agrupamento social a reivindicar nas ruas pelo país, reivindicavam mudanças na cidadania. Pediam direitos.

A primeira demanda mais visível – e tornada ainda mais visível pelos grandes meios de comunicação diante da total impossibilidade de escondê-la – foi por direitos sociais (melhorias no transporte, seguido de outras demandas sociais, como saúde e educação).

A segunda grande demanda estava relacionada aos direitos políticos (reforma nas instituições, transparência, direito de votar e ser votado etc.), em diversos momentos, e aos direitos civis (liberdade de manifestação pacífica, de reunião, de expressão etc.).

Em um terceiro momento, durante um “intervalo” entre as intensas mobilizações, as bandeiras tradicionalmente reivindicadas voltaram à pauta e os grupos que historicamente reivindicam direitos – como os sindicatos e os movimentos sociais mais antigos – passaram, mesmo que timidamente em meio ao intenso boicote midiático, a dar o tom do debate público. Em um quarto momento, como veremos, estes movimentos tradicionais foram – como de costume – engolidos pelo jogo político-ideológico que sempre marcou a História recente dos embates políticos nacionais. E quem restou, nas ruas e nas assembleias populares? A multidão. Quem é “ela”? É o que nos questionaremos a partir de agora.

Cabe aqui destacar dois parênteses importantes. O primeiro diz respeito à influência da mídia tradicional (de grande circulação e hegemônica, a depender da teoria utilizada) neste processo e sua relação com as mídias em rede, tópico que será analisado em outro momento, dada a sua importância. O segundo diz respeito ao papel desempenhado pelos movimentos tradicionais em meio às novas formas de mobilização e à própria crise de representação – neste caso, não julgando positiva ou negativamente o conceito “crise”. Este segundo aspecto será analisado durante todo este trabalho.

Partindo dessa premissa – aberta evidentemente a comentários e contrapropostas –, é essencial procurar compreender o que entendemos por “cidadão”. A palavra é tão amplamente difundida que cabe, nas próximas páginas, esquematizar e detalhar dois aspectos da linha da raciocínio: como definir estes três direitos e quais são os agrupamentos sociais que compõe as manifestações. É o que veremos a partir de agora.

2. QUEM SÃO OS MANIFESTANTES?

Esta é a pergunta que muitos têm feito sistematicamente – infelizmente, por “sistematicamente”, queremos dizer continuamente, e não metodologicamente. Por isso faremos este esforço.

Antes de explorar cada um dos grupos, devemos notar que as manifestações, apesar de serem compostas por grupos distintos e cidadãos que, muitas vezes, não tinha qualquer vínculo com uma causa específica, foi convocada por agrupamentos destacadamente constituídos de pautas históricas, como o direito a educação, saúde, mobilidade entre outros. Manifestações convocadas por “redes sociais” de forma difusa e desorganizada socialmente tiveram uma adesão pífia e risível. [Vide matéria do jornal ‘O Dia’ sobre uma delas em http://bit.ly/11tHFzk%5D

Além disso, esta espécie de mapa conceitual é um esboço que, neste mesmo trabalho, será reinterpretado a partir dos marcos conceituais e eventos que por oram se desenvolvem no Brasil. Estes acontecimentos possuem evidentemente um caráter global, e esse aspecto também será contemplado. Adicionalmente, é importante notar que estes grupos não são blocos sólidos e possuem tendências notavelmente coalizacionais. Passamos a eles:

2.1 Movimentos sociais tradicionais.

Chamaremos o primeiro grupo de movimentos sociais tradicionais para indicar os grupos que historicamente sempre estiveram à frente das reivindicações por direitos, como os sindicatos, os anarquistas, os movimentos sem-teto e sem-terra, movimentos estudantis e grupos ligados a correntes de partidos políticos. Em meio a uma multidão de milhões de manifestantes, estes grupos são menores em número, porém são os grupos que dão uma certa qualidade política ao processo, a priori.

Em geral, os movimentos sociais tradicionais são os que apresentam a maioria das reivindicações objetivas. Isto ocorre pelo simples fato de que estes agrupamentos sociais sempre a tiveram e, agora, possuem uma espécie de vitrine para estas demandas. Os meios de comunicação costumam convidar “especialistas” que não demoram em apontar a ausência da reivindicações objetivas, mesmo que estas sejam claras quando se trata de investigá-las a partir deste agrupamento. Centrais sindicais como CUT e Conlutas e movimentos como MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] e FIST [Frente Internacionalista dos Sem-Teto] são alguns exemplos.

2.2 Movimentos sociais centrados em direitos específicos.

Estes movimentos estão amplamente presentes e centram suas reivindicações não só em objetivos específicos, mas também em direitos bastante objetivos: luta por transporte; educação pública, universal e de qualidade; direito à saúde; ampliação dos direitos dos trabalhadores das forças de segurança; entre outros.

Um dos grupos que obteve a maior visibilidade em meio às dezenas de bandeiras políticas, liderando em parte o processo de mobilização em massa, foi justamente o Movimento Passe Livre (MPL), criado formalmente durante um fórum em 2005 e que se define como um “movimento social brasileiro que luta por um transporte público de verdade, fora da iniciativa privada”. Uma das principais bandeiras do movimento, continua a descrição do grupo, é a “migração do sistema de transporte privado para um sistema público, garantindo o acesso universal através do passe livre para todas as camadas da população” [vide http://mpl.org.br/?q=node/1].

A reivindicação do MPL está descrita no inciso XV do artigo 5o da Constituição Federal de 1988: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. O MPL também afirma querer “aprofundar o debate sobre o direito de ir e vir, sobre a mobilidade urbana nas grandes cidades e sobre um novo modelo de transporte para o Brasil”.

Oportunamente, em meio à intensificação dos protestos pelo país, a presidente Dilma Rousseff “anunciou” em junho de 2013 um “Plano Nacional de Mobilidade Urbana”, apesar de a Política Nacional de Mobilidade Urbana já estar em vigência desde meados de 2012 e nunca ter sido levada a sério pelas diferentes esferas de governo. O artigo 26 da lei 12.587, que criou a diretriz, afirma que a lei “se aplica, no que couber, ao planejamento, controle, fiscalização e operação dos serviços de transporte público coletivo intermunicipal, interestadual e internacional de caráter urbano”.

Podemos citar como outros exemplos de movimentos deste segmento os movimentos sociais da saúde, organizados em fóruns, sindicatos e conselhos, e as organizações não governamentais da área da educação.

Além disso, grupos cuja identidade é tida como “tradicional” – originária, indígena, quilombola etc. – serão incluídos neste grupo de movimentos. Ao mesmo tempo em que estes segmentos apresentam demandas amplas e populares, como os direitos dos indígenas às suas terras, o fazem especificamente para seu grupo. São reconhecidamente valorizados pela quase totalidade dos demais movimentos.

2.3 Movimentos mundializantes.

Estes movimentos passaram a ter notoriedade principalmente a partir do primeiro episódio que se tornou um marco das manifestações “antiglobalização”: as manifestações ocorridas durante um encontro da Organização Mundial do Comércio em abril de 1999, em Seattle, os Estados Unidos. Outros protestos ganham força até que os grupos se reúnem com grande força em Porto Alegre, em 2001, formando um espaço de múltiplas causas, tanto globais quanto locais, porém se destacando pela intensificação da mundialização das lutas sociais e dos embates políticos. Podemos observar que o levante zapatista ocorrido em 1994 no estado mexicano de Chiapas também pode ser considerado um marco na organização destes movimentos.

Aqui ganha especial importância dois elementos fundadores dos direitos humanos, já no final do século 18: a sua empatia e a sua universalidade. A solidariedade com outros povos e a internacionalização das reivindicações já fora observada, por exemplo, no fenômeno conhecido como “haitianismo”, com a revolução negra no Haiti se tornando uma referência para outras partes do mundo, incluindo o Brasil. Por aqui, os escravocratas se referiam ao fenômeno com temor, dada a sua carga libertária e as notáveis consequências que os acontecimentos no Haiti tiveram para a intensificação de movimentos rebeldes entre os escravos.

Estes grupos não só participam ativamente dos protestos no Brasil como trazem a experiência de mais de uma década de intensas mobilizações por todas as partes do mundo. Atualmente, integrantes do movimento “Occupy” ou do 15M espanhol são alguns dos exemplos por ora citados. Movimentos ambientalistas, dos negros e das mulheres, quando politizam suas reivindicações, poderiam ser incluídos neste grupo.

2.4 Movimentos libertários.

Estes grupos possuem características certamente similares a outros grupos, porém sua ênfase é no questionamento sistemático das instituições e na proposição de novos modelos da política e do fazer política. E por “instituições” podemos incluir tanto os regimes políticos capturados por interesses econômicos – como ditaduras do norte da África ou democracias formais em todo o que se convencionou chamar de ‘Ocidente’ – quanto as organizações e entidades que compõe sua estrutura, como sindicatos, partidos políticos e a própria ideia de Nação.

O Estado é visto aqui como uma instituição facilmente corrompível e fruto de um sistema de representação incapaz de dar conta das demandas da população. Neste caso, o próprio sistema é o problema.

2.5 Movimentos liberais.

Usamos aqui a palavra liberal no seu sentido clássico: tratam-se dos grupos mais conservadores ou mais distanciados da participação política que, por qualquer motivo que seja, decidiram se unir às manifestações. Aqui observam-se, por exemplo, os grupos de indivíduos que rejeitam não só os movimentos tradicionais – como partidos e sindicatos – como também a própria ideia de “movimento social”. Além disso, unem-se aos protestos (em parte) categorias profissionais historicamente distantes da maior parte da população – como os médicos e jornalistas – e organizações não governamentais que não se identificam com nenhum dos demais grupos.

A maior parte dos liberais reserva-se o “direito” de buscar participar das mobilizações sem abrir mão de sua “individualidade”, ressaltando o tempo todo que está se mobilizando apenas como “cidadão”. A ideia de cidadania, aqui, é importada do ideário liberal estadunidense e britânico do indivíduo que não necessariamente integra uma coletividade e age quase sempre em função de interesses próprios e imediatos. A adesão de centenas de milhares de pessoas sem qualquer vínculo histórico com a democracia direta e a mobilização popular foi um fator decisivo para que, pelo menos em números absolutos, alguns dos protestos ganhassem uma repercussão internacional. Movimentos ambientalistas, dos negros e das mulheres, quando despolitizam suas reivindicações, poderiam ser incluídos neste grupo.

2.6 Movimentos 2.0.

Alguns movimentos, como destacamos anteriormente, possuem tendências coalizacionais, porém neste caso cabe destacá-lo. Isso porque uma das principais conclusões de distintos grupos que se mobilizaram foi de que a mídia de grande circulação é um dos principais representantes das instituições do envelhecido Estado-nação. Ressalta-se que esta conclusão não é recente, evidentemente, mas foi reforçada. Foi a partir dessa análise, em geral presente nas manifestações a partir das palavras de ordem como “A mídia mente” e “Abaixo a Rede Globo, o povo não é bobo”, que surgiram centenas de novos comunicadores.

Eles se reúnem em coletivos e realizam a cobertura em tempo real, sempre a partir das ferramentas multimídia proporcionadas pelo desenvolvimento técnico-científico das ferramentas de informação e de comunicação nos últimos 50 anos. São exemplos de novos atores sociais a “Mídia NINJA” [sigla para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação], o grupo “Rio na Rua” e o próprio grupo “Anonymous”, coletivo global que se especializou em se infiltrar em sistemas de informação de governos e de grandes empresas com o objetivo de democratizar informações que sejam de interesse público.

Em alguns momentos, as mídias de grande circulação se veem obrigadas a acompanhar o “ritmo” da cobertura da mídia dos movimentos 2.0. No entanto, na maior parte das vezes, o que ocorre é uma verdadeira guerra informacional, cuja repercussão se torna, por vezes, maior que o próprio debate de temas como educação ou saúde. Esta disputa toma não só tempo como demanda técnicos da área de comunicação ou autodidatas que façam as tecnologias funcionarem a serviço dos manifestantes. (Veja a reação de um jornalista da mídia tradicional a um destes projetos e a interessante resposta do coletivo: http://bit.ly/12zufAr)

3. QUAIS DIREITOS REIVINDICAM E QUEM OS REIVINDICA?

Agora que temos um breve mapeamento – certamente inconcluso, porém em pró-posição – dos manifestantes que ocupam as ruas em centenas de cidades no Brasil principalmente desde junho de 2013, será possível questionar agora a própria divisão adotada acima e, sobretudo, nos questionar o que os move. Ou seja: quais direitos reivindicam? Qual é a relação entre todos esses movimentos e, sobretudo, qual a relação de cada um deles com esta conjuntura notavelmente global?

Como argumentávamos no início desta análise, o cidadão pleno seria o titular de três direitos: civis, políticos e sociais. Esses direitos são datados historicamente, porém é importante mapeá-los antes de começarmos a avaliar o cenário contemporâneo. Vamos a eles:

3.1 Os direitos civis são direitos primeiros, fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. É o direito de ir e vir, escolher o trabalho, manifestar o pensamento, organizar-se, ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis. A liberdade individual é uma premissa.

3.2 Os direitos políticos se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Organizar partidos, votar, ser votado, participar de consultas por meio de referendos, conferências representativas e conselhos consultivos. No Brasil, o único direito político consolidado é o direito de votar e, em um menor nível, de ser votado.

A premissa, neste caso, é a existência de partidos legítimos e um parlamento representativo. O poder poderá, ainda, ser exercido diretamente pelo povo, desde que haja mecanismos para isso – em alguns países, incluindo o Brasil, qualquer cidadão pode, por exemplo, apresentar um projeto de lei, desde que reúna uma determinada quantidade de assinaturas significativa de outros cidadãos. O projeto de lei “Ficha Limpa”, que trata da idoneidade de candidatos a cargos políticos e que foi aprovado em 2010, é o exemplo mais bem acabado desta ideia. E, por fim, há os:

3.3 direitos sociais, que devem garantir a participação na riqueza coletiva. Educação, trabalho, salário justo, saúde e aposentadoria são alguns dos direitos sociais, que podem existir – em tese e na prática – sem os direitos civis e sem os direitos políticos, tendendo no entanto a ser arbitrários. A ideia central é a busca, sempre inacabada, de justiça social. A educação popular, pontua o próprio Marshall, é definida como um direito social, porém tem sido historicamente um pré-requisito para a expensão de outros direitos. (Carvalho, 2010)

Esquematicamente, a princípio, dois aspectos divergentes podem ser destacados. Podemos observar, sem muita dificuldade, que quase a totalidade dos direitos reivindicados nas ruas estão presentes no rol de direitos descritos acima. Basta citar o direito de ir e vir. Por outro lado, podemos igualmente notar não só a ausência de questões tidas como centrais atualmente – como a questão de gênero, o debate sobre sexualidade e a defesa do meio ambiente em um contexto de profundas mudanças climáticas –, como também uma estrutura de direitos excessivamente vinculada às instituições da democracia formal.

A formalidade de países de legislações liberais faz com que os movimentos sociais no Brasil, por exemplo, tenham suas lideranças perseguidas pela polícia por mecanismos como “desacato à autoridade” ou “auto de resistência” – acusações que podem ser formalizadas de modo extramente subjetivo. No primeiro caso, os agentes de segurança podem deter – e até prender – qualquer pessoa que tenha “desacatado” a autoridade, o que pode ser interpretado livremente pela autoridade, mas não pelo manifestante. No segundo caso, bem pior, o mecanismo serve para imputar a uma situação de conflito a suposta necessidade – por parte do agente de segurança – de “autodefesa”, uma forma de justificar uma possível execução sumária.

A formalidade da lei se mostrou, durante as manifestações, muito mais eficiente do que sistemas anteriores sem vigência do sistema internacional e nacional de direitos humanos – é preciso reconhecer – porém absolutamente ineficiente para dar conta das garantias fundamentais para cidadãos em tempos de crise política.

As recentes crises de todo tipo ora observadas – econômicas, sociais, políticas, culturais, étnico-confessionais – desencadearam centenas de protestos nos últimos anos. E, em quase todos os casos, derrubaram mitos de sociólogos apressados que buscam explicações imediatas e desinteressadas. Muitos especialistas, por exemplo, não hesitaram em apontar dois aspectos supostamente “fundamentais” para o surgimento de movimentos globais de contestação da ordem estabelecida. O primeiro seria econômico: o desemprego em países da Europa, a crise nos EUA etc. O segundo seria de ordem política: as ditaduras estariam sendo derrubadas em alguns países, o que teria gerado uma reação em cadeia em países com regimes políticos semelhantes.

Poucos foram os que procuraram explicar por que intensas manifestações tomaram forma em países que não possuíam nenhuma das duas características formalmente apresentadas. Ou seja, não estavam em uma crise econômica profunda nem tampouco eram uma “ditadura”, no sentido tradicional da palavra. Brasil, Turquia e Suécia não ajudam a fechar a “conta”.

“Talvez exista algo de errado com a nossa percepção de Paraíso”, ironizou o filósofo esloveno Slavoj Zizek. Um mal-estar estava por trás de protestos aparentemente limitados – na Turquia a transformação de um parque em centro comercial, no Brasil 20 centavos a mais na passagem de ônibus etc.

Este mal-estar não possui, por um lado, uma interpretação inequívoca que pode ser desvelada por um estudioso iluminado. No centro dos próprios embates, há o principal deles: do que se trata isso tudo que está acontecendo?

A pergunta deste capítulo – “Quais direitos reivindicam e quem os reivindica?” – não é uma questão que deva ser respondida, e sim disputada. No Brasil, perguntamo-nos: a corrupção é generalizada, parcial ou o próprio sistema é corrupto? Os serviços públicos são ruins, os que os administram é que são maus gestores ou o próprio modelo de gestão destes serviços não nos serve mais? E a democracia: é uma farsa, uma criança que precisa ser estimulada ou o menos pior dos sistemas políticos e que deveria, portanto, ser defendido? Ao mesmo tempo que as pessoas marcham, também formulam e disputam essas e outras questões.

A principal questão, no entanto, diz respeito a uma pergunta que, o tempo todo, é “respondida” da mesma forma, em quase todo o espectro midiático, por quase todo “especialista” em relações internacionais: é uma crise global? Não, afirma em uníssono um número bem determinado do que Pierre Bourdieu chamou de fast-thinkers, os habitués da mídia. Eles propõe uma espécie de fast-food político, opinião pré-digerida, a partir de onde pode-se concluir mais rapidamente sobre uma situação de difícil entendimento. Estes especialistas estão sempre disponíveis a parir um artigo ou dar uma entrevista. Em um nível um pouco mais desenvolvido, alguns canais de TV fechada propõe debates entre dois ou três destes especialistas – “pessoas que se conhecem, que almoçam juntas, que jantam juntas”, ironiza Bourdieu.

Portanto, estes opinólogos têm não só negado a mundialização das manifestações populares, como também negado, sempre que possível, até mesmo o caráter nacional e local dos protestos. “É fácil observar como essa particularização de protestos ajuda os defensores da ordem mundial existente: não há nenhuma ameaça contra a ordem global como tal, e sim problemas locais específicos”, aponta Zizek, que acrescenta:

A tendência geral do capitalismo global atual é direcionada à expansão do reino do mercado, combinada ao enclausuramento do espaço público, à diminuição de serviços públicos (saúde, educação, cultura) e ao aumento do funcionamento autoritário do poder político.(…) O que une esses protestos é o fato de que nenhum deles pode ser reduzido a uma única questão, pois todos lidam com uma combinação específica de (pelo menos) duas questões: uma econômica, de maior ou menor radicalidade (de temáticas que variam de corrupção e ineficiência até outras francamente anticapitalistas), e outra político-ideológica (que inclui desde demandas pela democracia até exigências para a superação da democracia multipartidária usual). [Vide posição completa em http://bit.ly/12zxZBR%5D

Um dos temas centrais do “debate” na mídia brasileira sobre as manifestações foi o caráter “pacífico” ou não dos protestos. Até então, a imprensa brasileira possuía um padrão sistemático de cobertura das manifestações: em praticamente 100% dos casos, a paralisação de qualquer sistema produtivo contemporâneo – o trânsito, o local de trabalho etc. – era rechaçado e até mesmo criminalizado. Ressaltava-se, sobretudo, o quanto um setor havia “perdido” – algo sempre na casa dos milhões de reais por dia – sem destacar que essa perda principalmente uma perda do lucro das grandes empresas e dos governos.

A partir da recente onda de manifestações – agora nacionais e notavelmente em maior número – a mídia precisou rever sua estratégia e passou a adotar o mantra da “importância das manifestações pacíficas”, que sempre acabavam com “alguns poucos vândalos que não representam os manifestantes”. O vandalismo seguia o mesmo padrão do “terrorismo” que, como notou Noam Chosmky em numerosos textos, nunca era o terrorismo de Estado, apenas de cidadãos e grupos minoritários. A notável violência policial, que chegou à população sobretudo por meio da Internet e, a partir daí, ao tecido social, quase nunca aparecia em toda a sua dimensão na TV e no rádio, sobretudo nos serviços abertos de radiodifusão.

Sobre o tema da violência, cabe uma interessante observação de Zizek feita em entrevista no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, em fevereiro de 2009. Diz ele: “(…) É preciso desfetichar a violência. Esse horror à violência hoje é parte dessa ideologia liberal da tolerância. Você começa a criticar a violência e no final você advoga a tortura. Acho que Gantánamo e tudo o mais são uma consequência necessária desse aparente liberalismo antiviolência”.

Zizek aponta que, em geral, a violência é identificada como “algo que abala o ritmo natural das coisas”. Quando alguma coisa interrompe o “fluxo normal das coisas”. Ele alerta que é preciso “mudar a perspectiva” e ver a “violência invisível que precisa estar presente o tempo todo para que as coisas aconteçam como normais”. E acrescenta: “Este é o tipo de violência que me interessa. Pode ser econômica, da polícia… O aspecto da violência política que me interessa não é tanto a violência física, matar as pessoas etc. Se você realmente deseja mudar o funcionamento básico da ordem existente, isso é, por definição, percebido como violência”. (Acesse o vídeo com este trecho em http://youtu.be/29YFfKZD1B0 e a transcrição na íntegra em http://bit.ly/1b56vc0)

O filósofo esloveno sentencia: “Sou a favor da violência, mas para mim Gandhi foi mais violento do que Hitler”. E argumenta:

A violência de Hitler, matando milhões, foi — usando o termo de Nietzsche — uma violência reativa. Ele tinha medo de que alguma coisa, de fato, mudasse. O fascismo foi uma tentativa desesperada de salvar o capitalismo. O que Gandhi fez — embora ele fosse contra a violência — foi greve, boicote, interrupção de todo o funcionamento da economia da colônia e do aparato do Estado na Índia. Sou a favor dessa violência.

Manifestantes têm relatado há pelo menos duas décadas essa dualidade em relação à cobertura da imprensa. Como descrevem Hardt e Negri:

Muitos manifestantes têm se queixado de que a violência de uns poucos incita a polícia, monopoliza as manchetes e eclipsa as mensagens de muitos, além de criar divisões entre os manifestantes. Isto certamente é verdade, mas devemos reconhecer também que, infelizmente, os meios de comunicação voltam sua atenção para os protestos por causa da violência. Sem violência, eles não têm matéria. Existe uma espécie de cumplicidade objetiva entre a mídia e os pequenos grupos de manifestantes que destroem propriedades e procuram entrar em confronto com a polícia. A atenção dos meios de comunicação assim obtida é, na melhor das hipóteses, uma faca de dois gumes. (2005, p.363)

No caso brasileiro, não só a polícia detinha essa informação, como passou a infiltrar membros da corporação com o objetivo de minar a ação pacífica da maioria. Em outros casos, nem sequer foi necessário. Em todos os casos, a violência se fez ouvir.

O mais importante, no entanto, não foi a guerra informacional acerca de quem iniciou a violência, em cada um dos protestos pelo país. Assim como o que ocorreu no primeiro grande protesto global que teve início em Seattle durante um encontro da Organização Mundial do Comércio, em 1999, o principal marco foi a criação de um poder popular, que começa a se organizar a partir do temor das autoridades de que algo mais grave possa acontecer. Assim como o então presidente Bill Clinton e outros dirigentes cederam, à época, a pressão dos manifestantes nas ruas e reconheceram a autenticidade das “preocupações” daquela multidão, no Brasil a presidente Dilma Rousseff se apressou em declarar apoio às manifestações.

“O Brasil hoje acordou mais forte. A grandeza das manifestações (…) comprovam a energia da nossa democracia. A força da voz da rua e o civismo da nossa população. É bom ver tantos jovens e adultos, (…) juntos com a bandeira do Brasil, cantando o hino nacional e dizendo com orgulho ‘sou brasileiro’ e defendendo um país melhor”, afirmou Dilma no dia 18 de julho sobre as intensas manifestações do dia anterior. Como boa social-democrata alinhada ao discurso de esquerda (mas não necessariamente à esquerda em si), a presidente do Brasil destacou três dos conceitos mais recorrentes dentro desta linha de pensamento: o povo, a democracia e a Nação. Em todos os casos, é o Estado – e apenas o Estado – o tomador das decisões estratégicas.

Dilma fez uma menção, comum em seu governo, à “nova classe média”, as pessoas que saíram da pobreza seja por meio dos programas de transferência de renda, seja pela melhoria dos indicadores econômicos no país. “Surgiram cidadãos que querem mais e que tem direito a mais. Sim, todos nós estamos diante de novos desafios. Quem foi ontem às ruas querem mais. As vozes das ruas querem mais cidadania, mais saúde, mais educação, mais transporte, mais oportunidades. Eu quero aqui garantir a vocês que o meu governo também quer mais, e que nós vamos conseguir mais para o nosso país e para o nosso povo”, disse Dilma, novamente fazendo menção a conceitos como cidadania, povo, país etc. Sempre mantendo a fé pública no sistema de representação, apesar de sua popularidade ter caído grosseiramente.

Este capital político teve certamente um beneficiado: a multidão – conforme formulado por Hardt e Negri –, que se tornou uma espécie de “centro de convergência” para as centenas de milhares de reivindicações. Não importa tanto, neste contexto, quem exatamente são. O que mais importa é que nasceu, ao que tudo indica, um novo poder constituinte, uma espécie de poder popular que parece difícil de ser minado tão facilmente como costumava ser. No momento em que este artigo era finalizado, pelo menos três sedes do Poder Legislativo tradicional se encontravam ocupadas, incluindo a da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

O analista político Noam Chosmky, um antigo ativista que se destacou por questionar implacavelmente a política externa norte-americana e a denunciar sua influência na concepção de ditaduras por todo o mundo, abordou recentemente o caráter global dos protestos e as similaridades entre manifestações como as da Turquia e as do Brasil.

Embora sejam protestos diferentes e com suas peculiaridades, comentou, as manifestações nos dois países são “tentativas de o povo recuperar a participação nas decisões”. É uma forma, diz, de “ir contra o domínio dos interesses de grupos econômicos”. Chosmky argumenta:

Trata-se de um movimento global contra a violência que ameaça a liberdade em diferentes países. As pessoas estão indo as ruas para defender bens comuns, aqueles que são compartilhados dentro das sociedades. O capitalismo baseado na massificação de privatizações não compreende a gestão coletiva, aí esta o problema. Os movimentos que ocorrem neste momento são legítimos, na tentativa de recuperar a participação popular na gestão destes bens.

O linguista lembra que, para muitas sociedades, a propriedade privada se tornou aparentemente a única possibilidade de divisão de territórios e recursos. “Isso está acabando com essa noção do que é comum”, afirma, acrescentando que “o termo democracia pode parecer óbvio para alguns, e aí está a ameaça. Há vários tipos de democracia, várias formas de aplicação deste conceito. O que podemos pensar é: este tipo de democracia onde a esmagadora maioria da população não tem participação alguma é a que queremos?”

Segundo Chomsky, 70% da população norte-americana, por exemplo, não tem qualquer influência sobre a política nacional. A maioria da população não tem poder, por exemplo, sobre políticas públicas que afetam suas vidas diariamente. (Vide matéria sobre sua breve posição em http://bit.ly/12zxSGk)

Antes do próximo tópico – uma discussão sobre o estado da democracia – cabe uma análise do mesmo autor sobre a particularidade do que tem ocorrido em toda a América Latina. Devemos lembrar que o continente tem passado por intensas transformações que, grosso modo, estão modificando a própria estrutura de muitas sociedades e imputando aos povos que aí vivem novos desafios. Até pouco tempo atrás a Bolívia, por exemplo, possuía um governo extremamente subserviente aos interesses do Norte político. Desde 2006, o país possui uma liderança sindical indígena, seguindo muitos outros países da região que tem eleito líderes menos alinhados à submissão aos interesses europeus e norte-americanos. Cada país, com seu contexto diferente, tem experimentado cenários semelhantes.

“Na última década, pela primeira vez em 500 anos, desde as conquistas espanhola e portuguesa, a América Latina começou a enfrentar alguns de seus problemas. Iniciou um processo de integração”, lembra Chomsky. “Os países estavam muito separados uns dos outros. Cada um tinha uma relação própria na direção do Ocidente, primeiro Europa e depois Estados Unidos. Essa integração é importante. Significa que não é tão fácil dominar os países um a um. As nações latino-americanas podem se unificar para se defender contra uma força exterior.”

O outro acontecimento – destaca –, que seria “o mais importante e muito mais difícil”, é que os países da América Latina estão “começando individualmente a enfrentar seus enormes problemas internos”. Países dotados de importantes recursos naturais, como Brasil e Venezuela, passaram a enfrentar de frente suas desigualdades internas e retomar projetos de desenvolvimento. Afirma Chomsky:

A América Latina tem uma enorme quantidade de riqueza, mas está muito concentrada nas mãos de uma pequena elite, de perfil europeizado e branca em sua maioria, existindo ao lado de uma enorme pobreza e miséria. Há algumas tentativas de começar a fazer frente a esse quadro, o que é importante – outra forma de integração – e a América Latina está, de algum modo, se afastando do controle estadunidense.

Chomsky é reticente quanto à força das transformações globais que ora ocorrem, argumentando: “Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais como entidades unificadas sem divisões internas, podemos ver que há uma mudança do poder mundial, mas a direção dessa mudança é da força de trabalho mundial para os donos do mundo: o capital transnacional, as instituições financeiras mundiais.” (Na íntegra em http://bit.ly/12zzGPP)

Esta análise específica, contudo, não nos ajuda a entender o problema da democracia e das distintas reivindicações dos movimentos nas ruas a fundo. E é por isso que passaremos agora a abordá-los em detalhes.

4. A CRISE DA DEMOCRACIA E A MULTIDÃO

O problema da democracia nos remete, quase sempre, à crise de representação, tema sobre o qual todos falam, quase sempre com um ar de ceticismo ou de desenvergonhado otimismo. A falta de representação popular, por exemplo, no Congresso brasileiro é um dos temas sobre o qual os próprios deputados e senadores falam constantemente, oferecendo no entanto propostas de reformas pífias que não conseguem nem sequer renovar o quadro político nacional ou local – quanto mais promover mudanças no seio do sistema. Esta crise – afirmam Michal Hardt e Antonio Negri (2005) – tem a ver não só com a corrupção e a insuficiência das instituições e das práticas, mas também com o próprio conceito de democracia.

Hardt e Negri promovem um debate sobre quatro “categorias lógicas” que nos ajudam a entender o perfil dos manifestantes e de suas reivindicações. Vamos a elas.

4.1 Social-democratas.

Esta linha de pensamento afirma que a democracia é debilitada ou ameaçada pela globalização em termos estritamente econômicos. Se desregulamentada, a globalização tem o poder de minar as estratégias políticas nacionais democráticas. Tentativas de controlar suas economias são substituídas por programas neoliberais de privatização, destruição do bem-estar social etc. Após reassumir sua soberania – argumentam – é possível retomar as funções democráticas do Estado ora desgastadas pelos ataques neoliberais.

4.2 Cosmopolitas liberais.

Ainda se constituindo como uma posição política à esquerda, os cosmopolitas liberais consideram que a globalização – igualmente questionada – é boa para a democracia. Esta linha de argumentação aponta que é preciso garantir uma melhor regulamentação institucional e política da economia, sem abandonar em absoluta a integração com outros países, sobretudo os mais industrializados ou os mais ricos em algum recurso essencial. A soberania dos Estados-nação é relativizada diante da soberania da governança global, com o multilateralismo representando a solução para grande parte dos problemas globais. Em geral esta posição busca manter a ordem global e prevê uma crítica contundente às nações que frequentemente “agem sozinhos”, como os Estados Unidos.

4.3 Hegemonia global norte-americana.

Aqui há concordância de que a globalização traz bons frutos, porém a partir de uma posição de que o domínio do capital é inerentemente democrático. Esta posição, amplamente disponível em meios de comunicação de massa de TV e de rádio, costumam classificar os países capitalistas como o “mundo livre”. Aqui fica fácil perceber que a expansão da hegemonia do estilo de vida norte-americano seria, igualmente, a expansão da própria democracia. Para “propagar” a liberdade e a prosperidade, os EUA devem agir – se necessário unilateralmente – de modo a refazer o mapa político global.

4.4 Conservadores calcados em valores tradicionais.

Esta visão concorda com os sociais-democratas quanto ao fato de a globalização criar obstáculos para a democracia, porém por razões bem distintas: o foco aqui é a ameaça aos valores conservadores tradicionais. Concordam inclusive que a desregulamentação dos mercados globais promove a anarquia das forças econômicas globais.

O centro da crítica, no entanto, não é econômico: é cultural. Críticos dentro dos EUA argumentarão que esta hegemonia global prejudica os valores tradicionais no país, enquanto críticos fora do país declararão a falência moral dos norte-americanos para justificar o fechamento completa a qualquer ideia de abertura política ou econômica. O ceticismo é frequente nesta linha de argumentação.

Estas quatro posições gerais não dão conta, no entanto, do problema colocado anteriormente aqui: a crise de representatividade e a criação de um Estado permanente de exceção e de crises econômicas e políticas que termos observado recentemente. A reafirmação da soberania nacional tem se mostrado insuficiente, em grande parte, para melhorar os sistemas políticos extremamente centralizados e autoritários.

Voltamos ao caso estudado – os protestos de grandes proporções de junho e julho de 2013 no Brasil – para destacar que, de uma certa maneira, a crise da democracia permeou todas as manifestações, com os manifestantes questionando não só a ausência de direitos, como a mudança na forma como estes direitos são ofertados. A imposição de direitos e sua supressão arbitrária foi um dos principais alvos dos presentes nas ruas. “Os manifestantes recusam as noções de democracia vindas de cima promovidas por ambos os lados da guerra fria”, apontam Hardt e Negri.

Não faltam insatisfações e queixas. Em todo o mundo, milhões de manifestações buscam a igualdade e chamam atenção para a quantidade expressiva de pobres e famintos. “Organizações religiosas e sem fins lucrativos fornecem enorme assistência aos carentes, mas não podem mudar o sistema que produz e reproduz a pobreza”, afirmam os autores. “É mesmo impressionante o número de pessoas que, tendo começado na ação assistencial voluntária, passam à militância e aos protestos contra o sistema econômico.”

Por fim, no capítulo final deste artigo, vamos abordar os conceitos que parecem ter sobressaído durante os protestos no Brasil, em linha com a nossa análise: o amor e o humor.

5. A BIOPOLÍTICA CONTRA O BIOPODER

Conforme destacamos anteriormente, parece ser mais importante apreender essa nova produção coletiva que Negri e Hardt denominam de biopolítica do que mapear os manifestantes segundo um padrão estritamente político.

Cabe aqui relatar um acontecimento que ajuda a compreender este cenário. Durante a primeira metade da década de 2000, um repórter de um grande jornal carioca de circulação nacional convidou o então estudante de sociologia Renato Kress e eu a apresentar a revista da mídia alternativa que coordenávamos, dentro de uma pauta que falaria sobre o ciberativismo. Em um dado momento, o fotógrafo nos solicitou que ficássemos próximos a um computador e que fizéssemos uma “expressão de ativista”, o que significava – conforme explicado – expressar raiva, própria da então visão dominante do que seria um militante. Algo como um cidadão indignado marchando em meio a uma massa de trabalhadores e gritando, irritado, palavras de ordem contra governos ou empresas.

Educadamente o fotógrafo foi informado de que nós faríamos a expressão facial à qual estávamos acostumados: sorriríamos. E assim saiu a foto, publicado alguns dias depois.

Esta concepção da indignação e da raiva como elementos essenciais de quem deseja transformar sua sociedade é certamente datada e desconsidera a nova dinâmica das manifestações, observadas durante os protestos de junho e julho de 2013. No lugar do espaço reservado e previsível, as recentes manifestações – da última década, mais visíveis desde junho – são múltiplas e imprevisíveis, pois nelas contem a própria produção biopolítica descrita por Negri e Hardt.

“(…) O fato de a produção biopolítica ser ao mesmo tempo econômica e política, de criar diretamente relações sociais e de colocar as bases do poder constituinte ajuda-nos a entender que a democracia da multidão de que tratamos aqui pouco se assemelha à ‘democracia direta’ como era tradicionalmente entendida, na qual cada um de nós usaria do tempo de nossas vidas e de nosso trabalho para votar constantemente sobre cada decisão política”, afirmam os autores.

“Basta lembrar a observação irônica de Oscar Wilde de que o problema do socialismo é que ocuparia noites demais”, ironizam.

A produção biopolítica, ao contrário, apresenta “a possibilidade de fazermos o trabalho político de criar e manter as relações sociais de maneira colaborativa nas mesmas redes comunicativas e cooperativas da produção social”, e não em “intermináveis reuniões noturnas”. A produção das relações sociais “não só tem um valor econômico como também é obra da política”.

Não é apenas o poder que é constituinte, mas sobretudo a democracia e a cidadania são produzidas em meio à vida real de pessoas comuns, que produzem o comum. “A produção econômica e a produção política coincidiram, e as redes colaborativas de produção sugeririam um arcabouço para uma nova estrutura institucional de sociedade”, ou seja, uma democracia na qual todos criamos e mantemos a sociedade de maneira colaborativa através de nossa produção biopolítica.

Os autores articulam sua perspectiva a partir de bases teóricas que, agora percebemos, está tomando forma em diferentes contextos sociais, como na Turquia, no Brasil, nos EUA e no Egito – em cada país com consequências distintas. “(…) A definição da democracia da multidão e de seu poder constituinte também exige um ponto de vista político capaz de reunir em determinado tempo e espaço o poder comum da multidão e sua capacidade decisória. Isso não quer dizer que aquilo que reconhecemos até aqui dos pontos de vista ontológico e sociológico seja secundário ou irrelevante.”

Negri e Hardt argumentam que um dos mais graves erros teóricos políticos é considerar o poder constituinte como um “ato político puro separado do ser social existente”, como “mera criatividade irracional”, o “ponto obscuro de alguma expressão violenta do poder”. Afirmam: “Ele [o poder constituinte] é uma decisão que emana do processo ontológico e social do processo produtivo; é uma forma institucional que desenvolve um conteúdo comum; uma manifestação de força que defende a progressão histórica da emancipação e da libertação; é, em suma, um ato de amor.”

As manifestações em todo o Brasil estavam repletas de mensagens – algumas retomando inclusive mensagens dos movimentos de 1968 – que retomavam o amor como instrumento de transformação social e política. Afirmam Negri e Hardt:

As pessoas hoje em dia parecem incapazes de entender o amor como um conceito político, mas é precisamente de um conceito de amor que precisamos para apreender o poder constituinte da multidão. O moderno conceito de amor é quase exclusivamente limitado ao casal burguês e ao espaço claustrofóbico da família nuclear. O amor tornou-se uma questão estritamente privada. Precisamos de uma concepção mais generosa e irrestrita do amor. Precisamos recuperar a concepção pública e política de amor comum às tradições pré-modernas. (…) Precisamos recuperar hoje esse sentido material e político do amor, um amor forte como a morte.

E acrescentam: “Isto não significa que não possamos amar nossa mulher, nossa mãe e nosso filho. Significa apenas que nosso amor não termina aí, que o amor serve de base para nossos projetos políticos em comum e para a construção de uma nova sociedade. Sem esse amor, não somos nada.” (Mensagens como “Mais amor por favor” têm sido sistematicamente vistas durante as manifestações, veja registro em http://on.fb.me/18fVbGf)

Um outro elemento que tem chamado atenção nos protestos é o humor utilizado pelos ativistas. Parte dessa nova concepção de política, onde a vida não pode ser dissociada da participação nos processos decisórios, os manifestantes têm buscado exemplos de não resistência, em estratégias que se assemelham aos verificados na Turquia.

“Os turcos estão em processo de elaboração de um relato histórico improvável que exemplifica como o poder do humor e da inovação pode ser efetivamente aproveitado contra a repressão e os abusos do governo”, escreveu Ozan Varol em um artigo sobre o tema no jornal The Huffington Post.

Varol destacou um “guia” de cinco passos de como turcos “pararam de se preocupar e aprenderam a amar gás lacrimogêneo”. (O artigo original encontra-se em português em http://on.fb.me/18fVLnv e no original em inglês em http://huff.to/14OeSU5)

5.1 Transformando os insultos em elogios.

Quando o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan descreveu os manifestantes como “Capulcu” (pronuncia-se “CHA-pul-dju”, algo como “ralé”), em vez de tomá-lo como um insulto, os manifestantes abraçaram seu mais recente rótulo com orgulho. A palavra se transformou rapidamente em elogio. Milhares de turcos usuários do Facebook mudaram seus nomes ou apelidos para “Capulcu” e celebridades nacionais e internacionais se descreveram como “Capulcu” para expressar seu apoio.

A raiz do substantivo turco (Capul) foi então convertida em um verbo, acrescentando o sufixo em inglês “ing” e criando um neologismo (Capuling), que agora significa “em pé por seus direitos”. Um vídeo da música intitulada “Every day I’m Capuling” foi prontamente criada ao som da letra “Every day I’m Shuffling”, do grupo LMFAO.

No Brasil, a expressão “vândalos” foi a utilizada pela imprensa e por autoridades e, assim como na Turquia, centenas de milhares de usuários das redes sociais passaram a se descrever como “vândalos”, chegando inclusive a criar a expressão “Wandalismo” – uma menção honrosa a um dos maiores ícones da música brega brasileira, o já falecido cantor Wando. O verbo também foi intensamente re-significado: “vandalizar” passou a ser referenciado pelos ativistas como algo positivo, que promove a desordem de modo a movimentar as coisas e minar o poder estabelecido por toda a parte.

5.2 Se você levar um tapa, dê a outra face.

Muitos manifestantes na Turquia passaram a se referir com orgulho às lesões em decorrência do abuso policial como “beijos de Erdogan”. Quando o gás lacrimogêneo chegava, alguns responderam com gritos de “Mais!” Quando um lapso raro ocorreu no uso desenfreado de gás lacrimogêneo, os manifestantes ligaram para a polícia para expressar suas preocupações e perguntar quando e onde o uso do artefato recomeçaria, “para que eles pudessem aparecer em tempo hábil para consumir sua dose diária”.

No Brasil, os manifestantes respondiam à truculência da polícia com balões de amor, um “ataque” de flores e até mesmo beijos apaixonados para os policiais. Em um dos mais curiosos “incidentes”, uma manifestante do Rio de Janeiro consegue abraçar e beijar um policial que, sem saber o que fazer, apenas vira o rosto – do contrário o beijo seria na boca – sem conseguir esconder no entanto sua satisfação com a menina. (veja a foto em http://bit.ly/18fVTU4)

5.3 Responder à violência com humor.

Os manifestantes na Turquia têm respondido ao uso de gás de pimenta jogando pimentas vermelhas na polícia. A pimenta já tem até apelido: “Red Hot Chili Erdogan” e “Gasfather”. Um grupo de estudantes da Universidade de Bogazici, em Istambul, compôs e cantou uma música de jazz que compara o gosto de gás de pimenta ao mel.

Outros slogans humorísticos encontrados por motivos de protesto incluem “Gás lacrimogêneo faz maravilhas em sua pele”, “Gás lacrimogêneo ajuda a perder peso” e “Eu não tomo banho há dias; Lavem-me, canhões de água!” Bombas de gás lacrimogêneo tornaram-se um substituto popular para os vasos para flores presentes durante os namoros que começaram por motivos de protesto.

No Brasil, um dos pontos altos das manifestações são as mensagens bem-humoradas, que dão conta de todo o rol de direitos reivindicados. Em muitas mensagens, os manifestantes pediam serviços públicos com o mesmo padrão da Fifa – tida como extremamente exigente na preparação da Copa das Confederações e da Copa do Mundo –, ao passo que cantavam marchas de carnaval temáticas para denunciar a corrupção e o descaso com a saúde, a educação, a segurança e os transportes.

Em outro episódio curioso, os manifestantes de pelo menos duas grandes cidades reagiram ao envio de policiais militares fortemente equipados pertencentes à Tropa de Choque passando a usar uma espécie de “armadura” denominada “Tropa de Nhoque”. (veja uma das fotos http://on.fb.me/12zmFFL)

5.4 Estratégias cotidianas.

Muitos manifestantes na Turquia não tiveram suas rotinas modificadas e continuaram a trabalhar ou ir à escola. À noite, trocam suas roupas civis diariamente por roupas especiais e máscaras de gás enquanto marcham. Muitos fazem exercícios nos protestos com aulas de yoga (‘Guerreiro’ é a postura preferida) ou dançam tango enquanto vestem máscaras de gás. Outros fazem uma pausa nos protestos para estudar para exames finais. Uma estudante foi fotografada durante um protesto tirando uma soneca ao lado de uma placa que diz: “Tenho uma prova final às 2 da tarde. Por favor me acorde um pouco antes”.

No Rio, bandas se apresentaram durante as manifestações e rodas de samba e de funk – dois ritmos extremamente populares entre os cariocas – eram comuns em meio aos carros de som e gritos de ordem. As manifestações eram realizadas quase sempre por volta das 17h, garantindo que o maior número de manifestantes chegasse aos locais a tempo. Uma rede nacional de serviços, desde médicos até advogados, foi formada exclusivamente para os manifestantes.

5.5 Burlar a censura da mídia através da criatividade.

Os manifestantes turcos e brasileiros aproveitaram o potencial das redes sociais para criar iniciativas de produção coletiva de conteúdo, bem como para organizar protestos contra os meios de comunicação de massa que insistiam em criminalizá-los. Apesar de alguns episódios de violência contra membros da imprensa no Brasil, a grande maioria das iniciativas buscou ironizar a manipulação da mídia – como no caso do jornal criado no YouTube “Vândalo News” (assista em http://youtu.be/JXp37zTYiX8), em menção ao adjetivo predileto da mídia de TV aos manifestantes – e até mesmo produzir, em meio ao silêncio da imprensa tradicional, sua própria cobertura, com o fez a mídia “NINJA”. Apesar da evidente qualidade inferior, um apoiador sentencia: “Antes a verdade em 240p do que a falsidade em Full HD”. (Leia aqui relato sobre o tema: http://on.fb.me/12zP5PY)

6. CONCLUSÕES AMOROSAS E RISONHAS

As recentes manifestações no Brasil parecem seguir padrões de movimentos como o 15M espanhol, os Occupy pelo mundo e os da Turquia e de alguns países do Norte da África. Deixa também clara esta nova dinâmica que não obedece hierarquias – e sim a própria dinâmica das mobilizações. Em episódios memoráveis, parte da imprensa e alguns governantes tentaram “criar” lideranças para passar a imagem de que havia disposição para o diálogo – estratégia notoriamente fracassada, visto que os protestos não obedeceram tais lideranças e, na maior parte das vezes, estas foram inclusive rechaçadas por tentar simular uma falsa hierarquia.

Uma outra evidência que pôde ser observada é a representatividade desta multidão, no caso brasileiro. O governador do Rio de Janeiro havia convocado uma manifestação em novembro de 2012, utilizando centenas de milhares de reais e toda a máquina estatal disponível, para reivindicar a não redistribuição dos recursos do petróleo entre os estados. Conseguiu reunir, segundo dados otimistas, 200 mil pessoas – incluindo centenas de milhares que vieram de ônibus, de cidades do interior. Sem um único centavo gasto, uma das manifestações levou cerca de 1 milhão de manifestantes, em junho de 2013.

Os governos, partidos, sindicatos e outras instituições públicas devem notar que a crise global da democracia afeta todas as formas de governo e não pode ser revertida apenas com “boa vontade política”. A crise é mais profunda e explica em parte a repulsa também a instituições tradicionais vistas até pouco tempo como do campo da esquerda. Por outro lado, a sede por liberdade e democracia real parece ser enorme – e igualmente parece madura, após quase 15 anos de protestos globais pelo mundo. No Brasil observamos o mesmo padrão.

É pouco provável que as instituições tradicionais saiam imunes por muito tempo sem aderir às redes comunicativas e colaborativas e começar a produzir as transformações em conjunto com estes novos atores sociais. As primeiras reações da maior parte dos governantes brasileiros são basicamente estratégias suicidas, com respostas fracas e, inclusive, a manutenção de algumas práticas corruptas – mesmo em meio a centenas de protestos que continuam a ocorrer em todo o país.

Para Negri e Hardt, esta multidão “é composta de diferenças e singularidades radicais que nunca podem ser sintetizadas numa identidade. (…) Os novos movimentos que exigem a democracia global não só valorizam a singularidade de cada um como princípio organizador fundamental como a postulam como um processo de autotransformação, hibridização e miscigenação”.

Para os autores, a decisão de abraçar a multiplicidade da multidão passa por um ator de amor, um ato de criação de uma nova humanidade, espírito que norteia grande parte dos manifestantes céticos com a democracia formal. “Ante o estado de exceção destrutivo do biopoder, (…) existe também um estado de exceção constituinte da biopolítica democrática.” O acúmulo de propostas e reivindicações – ao que parece – atingiu um momento que torna oportuna a experimentação de novas formas de representação no Brasil. O aprofundamento, e não a negação, de um processo democrático verdadeiramente aberto e participativo.

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(*) Este trabalho foi apresentado para os professores Giuseppe Cocco e Henrique Antoun, no contexto de um curso do Doutorado na Escola de Comunicação da UFRJ. Este autor participou de cerca de 10 manifestações ao longo dos últimos dois meses.

 

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