Da Normose a Autonomia: entre mascara e transparencia

Debatemos com frequência

Sobre temas atuais

Sobre quem reflete a práxis

Cuja instigação nos traz

Bom diálogo entre nós

Nos convida sua voz

A formar-nos sempre mais

Recebi bela incumbência

Para comentar em versos

O livro sobre normose

De peritos nele imersos:

Leloup, Crema e Weil, ao lado

Pelos três elaborado

Sobre o livro, então, converso

A normose é a expressão

Dum consenso introjetado

Sob a forma de valores

Que se tornam, assim, legado

A reger um povo inteiro

Sob um mesmo cativeiro

Só por poucos questionado

Eis um traço bem marcante

Das temíveis ditaduras

Ditam pensamento único

Nas caladas mais escuras

Bem pior é quem se cala

Omitindo a sua fala

Reforçando essa estrutura

Normose é patologia

Que aniquila o ser humano

Lhe tolhendo a identidade

Entregando-o ao tirano

Ele se desumaniza

Segue a direção da brisa

Sucumbindo a medo insano.

Resulta da desistência

De se manter consciente

Lhe retira a liberdade

E o faz preso à corrente

Nada há que o conforte

Sucumbe à pulsão de morte

Tem horror ao diferente

O desejo à liberdade

Sempre mais vai reprimindo

Só emite parecer

P´ra dizer: “Tá tudo lindo!”

Sua opinião esconde

E assim só perde o bonde

Dos embates vai fugindo

A normose tem lugar

Em diversos ambientes

Na esfera da política

Nas igrejas bem se sente

Até na Academia

Que diversa se anuncia

A normose está presente…

No campo religioso

Se revela um instrumento

De obediência cega

Só à letra estando atento

Passa longe o essencial

Só se busca um mero aval

Não se escuta a voz do “Vento”

Toda vítima de normose

Só no hábito se ampara

Tem pavor da consciência

Ativismo é sua tara

Não indaga, não se inquieta

Cumprir leis é sua meta

Mudar isto é coisa rara…

A normose é patológica

Faz sofrer, diversamente

Gera angústia e psicose

Desarruma a nossa mente

Cria estigma do “normal”

“Naturalizando” o mal

Cumpre regras, simplesmente.

Plenitude é nossa meta

Que o desejo incentiva

A normose impõe o medo

Nos deixando à deriva

Rumo ao aniquilamento

Nos tornando desatentos

Nossos planos desativa…

Entre “plêuroma” e “kénosis”

Oscilamos algum dia

Tendemos à Liberdade

Mas o medo esvazia

Minha ação instituinte

Já não vejo como pinte

Vai “pro brejo” a Utopia…

Cada máscara que usamos

Para esconder a face

Só depõe contra nós mesmos

Pois daí frustração nasce

Pois, por mais que a “maquillage”

A fingir bem nos engaje

Chega um dia, e cai a classe…

Expressões dessa normose

Dita a moda, a cada dia

Um padrão determinado

Que a tantos asfixia:

Peso, grife, loja fina

Muitos chegam à ruína

De viver perdem a alegria…

Um normótico proceder

Tem origem na fofoca

Há quem viva dessa indústria

Em doença desemboca

Por aí vai muita gente

Que prazer somente sente

Com fuxico de dondoca

Outro agir também normótico

Dos piores se revela

Quando em nome do Sagrado

Alguém mete outro em cela

O explora e aliena

Pelo medo, impondo pena

Usando palavra bela.

Só se livra da normose

Quem em busca vai de si

Se assumindo como é

Com os outros chora, ri

Dialoga abertamente

Procura ser transparente

Evitando tititi…

Normose tem mais a ver

Com a gula de ter tudo

Consumir sem ter limite

Até gente vira escudo

Objeto de brinquedo

Gente assim, mais tarde ou cedo

Vai sofrer de mal agudo…

Em todos e cada um

De normose há sempre um pouco

Nos diversos ambientes

Fazemos algo de louco

Ao curtir regras alheias

Desprezando nossa “aldeia”

Submissos ao sufoco

Quais espaços de normose

Entre nós são mais freqüentes?

Nos institucionais

São diversas as correntes

A forjarem desde cedo

As neuroses como o medo

Que se mostram eficientes

Na família, nas igrejas

No trabalho, na escola

Até mesmo nos esportes

A normose então assola

Só escapa, quem procura

Enfrentar a ditadura

Aos clichês não dando bola…

Jà basta de preconceitos!

Quer de gênero ou etnia

Ou também de procedência

O estigma arrepia!

Respeitar o diferente

Eis um passo bem à frente

Rumo à nossa Utopia.

Nós não somos condenados

Da normose a ser reféns

Nem de regras alienantes

Nem dos nossos próprios bens

Nossa consciência chama

A urdirmos nova trama

Este apelo tu já tens!

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