A doença já afetou ao menos um integrante de quase todas as famílias. Em geral, é recebida de forma tão apavorante, que seu nome chegou a ser evitado durante muitos anos no Brasil. Chamava-se, apenas, de “a doença”. O anúncio da enfermidade é sempre cercado de cuidado pelos médicos, e de dor pelos familiares. A cada ano, são cerca de 518 mil novos casos de câncer no Brasil, incluindo os de pele.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Rio de Janeiro, é referência no tratamento da doença. Em sua estrutura, no entanto, um silencioso e bonito trabalho de auxílio espiritual está completando cinco anos. Católicos, evangélicos, espíritas, budistas, messiânicos, umbandistas, e até uma jovem muçulmana integram a grande equipe de atendimento aos enfermos. Trata-se do Núcleo de Assistência Voluntária Espiritual (NAVE).
O trabalho existe desde 2008. É coordenado pelo doutor José Adalberto Fernandes Oliveira. Na época vice-diretor do INCA, recebeu a incumbência de organizar o grande volume de religiosos que se dirigia ao Instituto para auxiliar os pacientes com câncer. Não foi difícil constatar, a princípio, que o trabalho era feito de forma desorganizada, sem qualquer metodologia. Experiente cirurgião – que trabalha no Instituto desde 1978 –, o doutor Adalberto buscou construir um padrão a partir de literatura especializada e da experiência daqueles que já faziam, há tempos, o trabalho.
“A primeira medida foi buscar a orientação de padres e pastores, a partir do trabalho que já faziam aqui”, conta o médico. Encontraram dicas do CARE, programa da Escola de Medicina de São Paulo. Mas no NAVE, a metodologia vai além, porque não reúne apenas religiões que utilizam a Bíblia como base, e se estrutura no apoio espiritual, e não religioso – intervenções de religiões específicas só são realizadas quando o paciente solicita.
Doutor Adalberto formou um Grupo de Coordenação Administrativa, composto por integrantes de todas as religiões, e elaborou coletivamente um regimento, de forma a fazer com que o trabalho jamais fosse vinculado somente a uma única pessoa. “O NAVE é construído de tal maneira que, para ele mudar, é preciso dez pessoas concordarem com a mudança”, sentencia. O órgão tem também um Conselho Consultivo.
Há três tipos de trabalho: o da secretaria, onde se organiza os papéis e informações, e se atende às visitas; a reza na capela, onde se ora coletivamente, e se atende doentes e familiares que procuram o local; e o atendimento aos leitos, em que cada voluntário vai aos leitos conversar com pacientes e familiares, fazer orações e até outras intervenções – como cânticos e leitura de textos. “Há casos em que quem precisa de ajuda não é o paciente nem seu familiar, mas os médicos ou enfermeiros”, conta Maria Aparecida de Loyola, coordenadora do núcleo espírita.
Cada atendimento é registrado em um formulário, e o próprio INCA faz questão de depois levantar os dados coletados, para verificar a eficácia do tratamento. “Há uma constatação impressionante. Quanto mais visitas, mais aumentam os sentimentos positivos, além da proporção. E quanto menos visitas, mais crescem os negativos. Pode conferir”, diz doutor Adalberto. O NAVE está desenvolvendo parcerias com órgãos como o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) e a Secretaria Municipal de Saúde.
Não é difícil, para quem participa das atividades, perceber a gratidão dos pacientes. Uma carta recentemente enviada por Teresa Rocha, irmã de uma paciente, é exemplo disso. “Venho agradecer o NAVE pelo apoio que nos foi dado. (Em Cabo Frio), os médicos disseram que só um milagre resolveria o problema (do câncer dela), pois não sabiam o que fazer para retirar o tumor. No dia 29 de janeiro, minha irmã se internou (no INCA) para fazer uma cirurgia na qual ela teria a bexiga removida e reconstituída com parte do intestino”, disse.
E continuou, referindo-se aos voluntários, vestidos de verde: “Quando eu estava angustiada, chorando por tudo, encontrei um grupo de jaleco verde que me acolheu, me apoiou, e ouviu meu desabafo. Foram tão atenciosos, rezando comigo e me confortaram com palavras lindas de esperança, que foram fundamentais para que eu suportasse a espera pelas sete horas de cirurgia. Por todas as orações, deste grupo, de amigos, familiares e minhas, hoje minha Irmã está tendo uma recuperação fantástica, que está surpreendendo até os médicos”, concluiu.
O INCA fica na Praça Cruz Vermelha, nº 23, no Centro do Rio de Janeiro, próximo à Lapa. O telefone do NAVE, cuja secretaria fica no quarto andar do edifício principal, é (21) 3207-1718.
Parabéns pela organização e atuação, fico comovida quando vejo coisas assim, bênçãos a todos.
Obrigada amigo LEANDRO UCHÔAS,mas voce esqueceu de mencionar,que voce tambem faz parte deste grupo,do qual muito me orgulho de participar,e de ter voce como amigo.bjs no seu coração.