As ameaças existem e ignorá-las poderá ser trágico

Vamos falar sério.

A eleição de Dilma Rousseff está mais do que definida.

O escândalo da invasão de dados siligosos de pessoas próximas a José Serra não tem apelo eleitoral suficiente para alterar o resultado do pleito.

Nem mesmo para evitar que a eleição seja decidida no 1º turno.

Mas, dá combustível para tentativas golpistas. Dos mais inflamáveis.

O jogo não vai ser virado. A mesa, talvez.

Foi com que sonharam os articuladores do  Cansei!.  Quando o que seria sua  Marcha da Família com Deus Pela Liberdade só mobilizou 4 mil gatos pingados, decidiram recuar, à espera de oportunidade melhor.

Resignaram-se ao cumprimento integral do segundo mandato do presidente Lula.

Aceitarão, da mesma forma, o mandato da sucessora que Lula produziu, mais a perspectiva de que ele próprio conquiste outro (eu quase ia escrevendo  um quarto…) em 2014?

Têm oito anos de pão e água pela frente e um mote e tanto para tentarem reeditar 1964.

Daquela vez, o pretexto era a conspiração comunista internacional, o  ouro de Moscou, etc. Funcionou.

Em 2007, ergueram o espantalho do Fôro de São Paulo, Chávez, etc. Não funcionou.

Agora, o bicho-papão será o estado policial, tentacular, conforme proposto pela Veja em recente matéria de capa (foto acima) cujo texto e ilustração têm mais a ver com   sci-fi do que com jornalismo…

Sejamos francos: existe organização popular suficiente para que a resistência a uma eventual quartelada seja mais eficaz do que em 1964?

Não. A ênfase do lulo-petismo tem sido a de ganhar eleições, não a de estruturar, fora e independentemente do Estado, o poder popular. Então, a tomada do governo pelas forças reacionárias o privaria da fonte principal de sua força e capacidade de reação.

Podemos confiar em que as Forças Armadas desta vez não cedam à tentação golpista?

O quadro é pior do que em 1964, quando a maioria dos militares queria respeitar a Constituição, um núcleo de conspiradores esforçava-se para assumir a liderança da caserna e havia remanescentes dos cabos e sargentos que heroicamente impediram a primeira tentativa de usurpação do poder, em 1961.

Agora, a maioria continua preferindo atuar profissionalmente, o núcleo de oficiais conspiradores existe (contando com expressivo contingente de nostálgicos da ditadura) e nada restou de espírito resistente nos escalões inferiores.

Então, o fiel da balança é o poder econômico.

A anemia do  Cansei! se deveu à falta de apoio do grande capital, dos banqueiros, da agroindústria, da Rede Globo. Os senhores do Brasil consideravam que seus interesses estavam sendo bem servidos e não viam motivos para aventuras.

Nada indica que tenham mudado de opinião, haja vista a profusão de recursos com que abastecem a campanha de Dilma.

Mas, nada é definitivo na política e os cenários se modificam com muita rapidez.

Podemos dar como favas contadas que haverá cidadãos querendo derrubar o governo no início de 2011.

Não se produziu até agora o fato político capaz de alterar os humores dos verdadeiramente poderosos.

Mas, tudo é possível. Há sempre um Gregório Fortunato para fazer uma monumental lambança, ou um Cabo Anselmo para incitar radicalização desmedida.

Então, seria sensato, talvez até providencial, se os dirigentes petistas tomassem duas providências:

  • apagarem o incêndio na Receita Federal, demitindo superiores que não zelaram como deveriam pelos dados sob sua guarda e apurando rigorosamente as responsabilidades desses aloprados que, com suas ações criminosas e estúpidas, acabaram servindo como inocentes úteis para a arregimentação das forças inimigas;
  • passarem a se preocupar um pouco menos com a eleição, que marcha a contento, e um pouco mais com a sustentação do resultado que sairá das urnas.

Outubro não é preocupante. A incógnita são os meses seguintes.

2 comentários sobre “As ameaças existem e ignorá-las poderá ser trágico”

  1. Ora, vamos…
    Gosto de seus artigos, mas às vezes sua visão aguda parece prejudicada por uma espécie de ingenuidade. Acredita mesmo que houve quebra do sigilo fiscal dessa trambiqueirinha? Nunca houve. A armação é visível. Acredita mesmo que demitir A ou B vai satisfazer a Veja ou a Folha? E satisfazer esses patifes, pra que? O povo não está nem aí. Pelo contrário, a palhaçada da quebra do sigilo está agindo contra a candidatura do espantalho fas elites: o povo se questiona, com razão, porque, afinal de contas, essa Verônica fica tão estressada com a revelação de sua vida fiscal. Quem não deve, não teme.
    Sua visão de forças armadas golpistas também é um tanto anacrônica. As coisas mudarm muito desde 64. As elites cometeram o erro de não mandar mais seus filhos ao colégio militar e o quadro de oficiais se proletarizou. Dificilmente um apelo ao golpe encontraria eco nas casernas. Devemos temer o golpe, sim, das instituições ainda controladas pela elite conservadora: o congresso nacional e, em especial, o poder judiciário. Daí, sim poderá vir a tentativa de um golpe “branco”, no estilo hondurenho. Abraços.

  2. O ruim não são os 95% de falsidades que a mídia golpista impinge, mas os 5% de verdade que servem para tornar crível todo o resto.

    Cometeu-se uma lambança, que pode permanecer restrita aos escalões inferiores.

    Mas, de tanto esquivar-se das providências óbvias a serem tomadas num caso desses, o PT se arrisca a municiar golpistas.

    Quanto à caserna, tanto quanto em 1964, não se dispõe a quarteladas, mas pode ser arrastada a isso por manipulações e provocações. Não temos garantia nenhuma desse lado.

    É o grande capital que decide se haverá ou não golpe. E, para nós, ele jamais será confiável. Por enquanto, seus interesses vão em sentido contrário. Mas…

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