Educar é dizer a verdade. É muito estranho tentar educar um adolescente com falsidades, afastando-o da realidade ou, especialmente, com hipocrisia.
O lançamento do GTA 5 traz de volta à mesa a discussão e até o processo que a Rockstar sofreu nos EUA por causa da violência, prostituição e uso de drogas no jogo. Bem, dessa vez, a violência aumentou, a prostituta está mais ousada e as drogas se multiplicaram. É possível fumar maconha, ter alucinações e até visitar uma plantação da erva nada escondida em um rancho.
Mas, estávamos falando de educação. Eu, que sou rato velho de vídeo-game, confesso que fiquei um pouco abalado quando o meu personagem, Trevor, um psicopata sádico com tendências homossexuais, tomou a iniciativa de torturar um informante a pedido de um agente do FBI corrupto.
Como jogador, pude escolher entre eletrocutar os mamilos, esmagar as bolas com uma chave inglesa, afogamento e até arranquei um dente dele. Tudo sem qualquer remorso, afinal, Trevor é assim.
Quando eu já pensava em julgar o psicopata, dizendo dele o que todos devem estar pensando a essa altura, o agente corrupto me pede para “dar um jeito” no informante e ele corta as amarras. Afinal, o Trevor não recebe ordens de ninguém. Joga o informante no carro e manda ele ficar calado, pois tinha acabado de salvar a sua vida. No caminho, o psicopata assassino dá uma aula particular de ética:
– O que aprendemos? Responde! O que aprendemos?
– Eu não sei… Tá doendo muito… Minha boca…
– Exato! E conseguimos alguma informação? Não! Porque a tortura é um péssimo jeito de conseguir informação. É uma diversão para sádicos como aquele idiota do FBI e como eu.
Trevor explica ao informante que ele não tem mais família, filhos, esposa, nada. Deixa-o em um aeroporto e manda ele sumir, se valoriza a própria vida.
A coisa toda é tão ousada quanto educativa. Mas é educação de qualidade, sem demagogia, sem hipocrisia, sem o falso moralismo a que os americanos estão tão acostumados. Por isso GTA pagou todo o custo no primeiro dia de vendas – porque ele diz a verdade.
Pingback: A ética do GTA 5 | Debates Culturais – Liberdade de Idéias e Opiniões