Não poderia deixar de dizer alguma palavra, por modesta que seja, em uma circunstância como esta, em que a Igreja Católica aparece nos meios de comunicação, por causa da notícia da renúncia do Papa.
É bastante notório, o quanto esta e outras instituições cristãs estão em muito afastadas de Jesus e do Evangelho, tendo enveredado de maneira mais ou menos aberta ou encoberta a serviço da dominação, do poder e do dinheiro.
Como muitas pessoas por todas as partes do mundo, creio que não precisamos de instituições para viver no amor, na verdade, na bondade e na justiça.
Isto é: ainda precisamos, mas cada vez deveremos estar a precisar menos, e talvez ésta seja uma oportunidade, no caso da Igreja Católica, de dar um passo decidido na direção da liberdade, da libertação, no sentido do amor e do Evangelho.
Pode parecer que a gente estivesse sonhando, ou vivendo em um mundo ilusório, mas não é assim. O contrário é que é a verdade. Se cada um de nós, na nossa família, no nosso dia a dia, no mundo das relações em que estamos inseridos, fosse capaz de viver o amor de Jesus Cristo, o amor incondicional, não precisaríamos de instituições de nenhuma natureza: nem igreja, nem estado, nem exércitos e nenhuma outra forma de dominação.
Seriamos todos irmãos e irmãs, unidos na vivência do Espírito, no respeito à natureza, à terra e a tudo que vive. Não me sinto na posição de crer que possa ser dono da verdade, mas também não acho que seja correto me omitir em um silêncio que seria um grito contido.
É tempo de ação, e isto nos foi lembrado por um padre que foi um peregrino e um profeta, um padre que viveu entre nós até bem pouco tempo atrás, e que nos deixou como herança a lembrança de que o amor é o começo, o meio e o fim do caminho: o Padre José Comblin.
Esta lembrança é uma fonte de inspiração e de esperança para muitos pelo mundo afora. A lembrança de que nós podemos, de que nós somos uma semente viva de eternidade, que pode e deve ser atualizada por um compromisso com o amor, a todo instante.
Foto: José Comblin
Doutor em sociologia (USP). Terapeuta Comunitário. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora, 2001. Publicado em espanhol pela Editora Homo Sapiens. Buenos Aires, 2005), Mosaico (João Pessoa: Editora da UFPB, 2003), Resurrección, (2009). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/