Vida de colônia

Apesar do vasto e rico vocabulário da língua portuguesa, nada mais indicado do que o uso de um termo chulo para expressar indignação quanto a determinados acontecimentos. Neste momento, cabe explorar o desvio como recurso catártico – a fim de purificar, minimamente, nosso já combalido espírito – em referência aos anúncios de aumentos de preço de serviços básicos e impostos LOGO APÓS o período eleitoral.

Portanto, com o perdão do leitor, aí vai: só podem estar de sacanagem com os cidadãos cariocas!

Primeiro, veio a notícia do aumento do IPTU em 30%, depois de o prefeito Eduardo Paes, antes de sua reeleição, ter garantido que não iria autorizar tal incremento. Em seguida, dois anúncios desalentadores: a tarifa dos ônibus da cidade aumentará em 11%, passando dos atuais (e absurdos) R$ 2,75 para (revoltantes) R$ 3,05, a partir de janeiro de 2013; e, para concluir a festa, a Light, que atende a 3,5 milhões de consumidores no estado do Rio, aumentará em 11,85% a conta de luz, percentual este que supera os níveis de inflação.

Tais novidades já seriam o suficiente para tirar o cidadão do sério, principalmente pelo fato de terem vindo à tona tão logo findaram as eleições, o que traduz o jogo sujo e perverso que os políticos fazem com o eleitor.

No entanto, se levado em conta um contexto mais amplo, no qual se insere a pesada carga tributária a que o brasileiro está sujeito – sem que isso implique, em absoluto, no retorno em forma de atendimento de qualidade por parte do Estado –, e, consequentemente, nos exorbitantes preços que paga por produtos e serviços, tais anúncios assumem um caráter ainda mais provocativo, de verdadeiro deboche com o cidadão.

Aspecto este que se torna ainda mais grave se for considerada a hipótese de que, nos valores absurdos com que o brasileiro se depara nas prateleiras, estão embutidos gastos que os empreendedores têm com políticos, que, não satisfeitos com seus desproporcionais e absurdos privilégios já previstos em lei, costumam exigir, como se sabe, “contrapartidas” para aprovar empreendimentos no país. Assim, aumentam-se preços para amortizar o “investimento extra”.

Some-se a isso a sensação de que as empresas, tanto nacionais quanto estrangeiras, parecem superexplorar o consumidor brasileiro, o que talvez se deva ao histórico colonial que marca a trajetória do país e/ou a um exagerado deslumbramento do cidadão tupiniquim com o status que determinados bens eventualmente simbolizam.

Isso ficou mais que evidente após a publicação de um artigo na revista Forbes, no qual o autor, Kenneth Rapoza, ridiculariza os preços pagos por carros considerados de luxo no país. Apesar de destacar o peso dos impostos, o jornalista dá a entender que o brasileiro, no fundo, confunde preços altos com qualidade. “Sorry, Brazukas (sic). Não há status em comprar Toyota Corolla, Honda Civic, Jeep Cherokee ou Dodge Durango; não se deixe enganar pelo preço cobrado”, comenta Rapoza.

Outro exemplo de abuso é o que acontece com a internet no país, onde o usuário paga R$ 79 reais por uma conexão de 1 mega. Enquanto isso, na França, paga-se R$ 2,78 por 19 megas; nos EUA, R$ 5,66 por 5,2 megas; e (pasmem!) no Japão, R$ 0,52 por 66 megas.

Enfim, a moral é que, no Brasil, paga-se muito e recebe-se pouco. No fim das contas, de 500 anos para cá, pouco mudou nesta supercolônia dos trópicos, à exceção de sua posição no ranking das maiores economias globais – o que, pelo visto, pouco importa em termos de qualidade de vida para seu povo.

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