Vencendo

Convença uma pessoa de que há algo de errado com ela, e a terá nas suas mãos. Li isto em algum livro de Osho (Bhagwan Shree Rajneesh). Desde que somos crianças, temos ido acreditando que muitas coisas estavam erradas conosco, ou, pior ainda, que nós mesmos é que estávamos ou éramos errados. Mas em algum momento, começamos a ver que há algo que podemos fazer por nós mesmos. É muito simples, e ao mesmo tempo dificílimo: amar-nos a nós mesmos. Aceitar o ser que somos. Isto é fácil de dizer, mas muito difícil de realizar. A sociedade capitalista está construída sobre a divisão da pessoa contra ela mesma.

Você aprende a não gostar de si mesmo. Gosta de solidão, e lhe convencem de que deve estar com gente o tempo todo. É calado ou calada, e o convencem ou a convencem de que deve estar falando o tempo todo. Gosta de pintar ou de cantar ou de poesia, e ouve que você é um vagabundo, que tem que trabalhar. Você aprende a se detestar de maneiras muito subreptícias ou evidentes. Aprende a estar em desgosto consigo mesmo ou consigo mesma. E o caminho de volta, que Paulo Freire e Max Weber bem como Adalberto Barreto e outros esboçaram, se lhe figura como algo muito distante.

Parece que está demasiado difícil isto de começar a gostar de mim mesmo ou de mim mesma de novo, ou pela primeira vez. Nada do que vale a pena é fácil, mas não é impossível. Há um começo, e está em cada um, em cada uma de nós. Eu não vou enunciar receitas, mas apenas partilhar algumas impressões. E não vou enunciar receitas não por não querer, mas porque não as tenho. Tenho apenas uns vislumbres, e alguma pouca experiência, aprendida com gente que vem nesta caminhada da libertação. Saber que não há receitas já nos desafoga, nos descomprime. Mas não basta. É necessário fazer alguma coisa. Dar pequenos passos. Ensaiar algumas alternativas. Ir soltando a programação culpabilizante e da baixa auto-estima que engolimos durante anos. Saber que isso não é nosso, que essa auto-rejeição é um mecanismo de dominação.

E que não há nada errado comigo nem com você. Isto é, suponho, ou espero. O que quero dizer, é que há um passo muito tênue, quase imperceptível, uma pequena aproximação a nós mesmos, ao ser que em verdade somos, e consiste em tentar nos conhecer, tentar saber quem somos. Valorizar a nossa caminhada, as nossas lutas, as nossas vitórias. Descobrir que há em nós mecanismos de sobrevivência e de enfrentamento de situações difíceis, que entraram em ação no passado, e que continuam agindo a nosso favor. Aprender a confiar em nós mesmos, mesmo que tenhamos aprendido a não crer nas nossas próprias capacidades. Fomos capazes de chegar até aqui. Estamos vivos, vencemos. E os caminhos que se delineiam à nossa frente, não nos encontrarão sem esperança nem sem fé. Ao contrário, todos nossos tesouros internos estão e estarão conosco por todo o sempre, até a vitória final.

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