Você aprende a não gostar de si mesmo. Gosta de solidão, e lhe convencem de que deve estar com gente o tempo todo. É calado ou calada, e o convencem ou a convencem de que deve estar falando o tempo todo. Gosta de pintar ou de cantar ou de poesia, e ouve que você é um vagabundo, que tem que trabalhar. Você aprende a se detestar de maneiras muito subreptícias ou evidentes. Aprende a estar em desgosto consigo mesmo ou consigo mesma. E o caminho de volta, que Paulo Freire e Max Weber bem como Adalberto Barreto e outros esboçaram, se lhe figura como algo muito distante.
Parece que está demasiado difícil isto de começar a gostar de mim mesmo ou de mim mesma de novo, ou pela primeira vez. Nada do que vale a pena é fácil, mas não é impossível. Há um começo, e está em cada um, em cada uma de nós. Eu não vou enunciar receitas, mas apenas partilhar algumas impressões. E não vou enunciar receitas não por não querer, mas porque não as tenho. Tenho apenas uns vislumbres, e alguma pouca experiência, aprendida com gente que vem nesta caminhada da libertação. Saber que não há receitas já nos desafoga, nos descomprime. Mas não basta. É necessário fazer alguma coisa. Dar pequenos passos. Ensaiar algumas alternativas. Ir soltando a programação culpabilizante e da baixa auto-estima que engolimos durante anos. Saber que isso não é nosso, que essa auto-rejeição é um mecanismo de dominação.
E que não há nada errado comigo nem com você. Isto é, suponho, ou espero. O que quero dizer, é que há um passo muito tênue, quase imperceptível, uma pequena aproximação a nós mesmos, ao ser que em verdade somos, e consiste em tentar nos conhecer, tentar saber quem somos. Valorizar a nossa caminhada, as nossas lutas, as nossas vitórias. Descobrir que há em nós mecanismos de sobrevivência e de enfrentamento de situações difíceis, que entraram em ação no passado, e que continuam agindo a nosso favor. Aprender a confiar em nós mesmos, mesmo que tenhamos aprendido a não crer nas nossas próprias capacidades. Fomos capazes de chegar até aqui. Estamos vivos, vencemos. E os caminhos que se delineiam à nossa frente, não nos encontrarão sem esperança nem sem fé. Ao contrário, todos nossos tesouros internos estão e estarão conosco por todo o sempre, até a vitória final.
Gosto dos seus escritos,o marxista entre em duelo com o religioso,O ser social e o subjetivo parecem que vão cindir Tenho um pouco de dificuldade com o politico. Deve ter alguma explicação?