Um capítulo da Ditadura: 41 anos depois

No dia 17 de setembro de 1971 foram assassinados o Capitão Lamarca e Zequinha Barreto, durante a conhecida “Operação Pajussara”, liderada pelo major Nilton Cerqueira e com a participação de Sérgio Paranhos Fleury, temido integrante do Esquadrão da Morte.
Nessa operação também morreram Iara Iavelberg, Luiz Antônio Santa Bárbara e Otoniel Barreto, irmão de Zequinha. Olderico Barreto, outro irmão, sobreviveu aos tiros e às torturas, ficou preso durante três anos em Salvador e hoje mora em Brotas de Macaúbas.
Para honrar a memória, há 13 anos acontece a Celebração dos Mártires, iniciativa do Bispo Luiz Flávio Cappio, e desde 2009, 17 de Setembro é feriado em Brotas de Macaúbas. São avanços, tudo foi acontecendo ao sabor de uma lenta abertura política.
Colher novos testemunhos, encontrar papéis, interpretá-los, compartilhar informações, chegar próximo à verdade… Esse é o caminho para preservar a memória e é um dos nossos maiores desafios.
Releituras
Ao passo que temos instalada a Comissão Nacional da Verdade, a sociedade brasileira agora deverá aproveitar para fazer releituras, encarar os fatos. Entender um período ditatorial não é uma tarefa simples, e sempre é válido lembrar do risco do anacronismo.
Volto a lembrar, a ditadura militar foi um projeto político, e hoje podemos ir muito além de entender os que decidiram combatê-la. Enxergamos suas marcas por ai. Torna-se indispensável a leitura do passado para entender o presente.
Basta abrir os jornais, atrocidades ainda são cometidas. Do presente, também deve fazer parte o anseio pela preservação da memória das violências cometidas lá atrás. A Ditadura não pode se repetir e devemos expulsar o que dela ainda resta.
Memorial
No povoado de Pintada, município de Ipupiara, foi construído o Memorial dos Mártires no local do assassinato de Zequinha Barreto e Carlos Lamarca. Agora, as famílias se preparam para fazer o translado dos restos mortais.
A família Barreto deseja trazer os restos mortais de Zequinha e Otoniel Barreto, que foram covardemente levados para Salvador. Foi uma das maiores crueldades, tirar da família o direito de enterrar seus entes na sua terra. Não resta dúvidas que isso faz parte do projeto de esquecimento. O translado será feito. A luta não terminou.
(*) Thaís Barreto é jornalista e sobrinha de Zequinha BArreto. Reprodução do blog Thaisbarreto.com.

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