Tragédia anunciada por quem?

Por Gustavo Barreto, da redação

Questão importante e central no caso do vôo 3054: tragédia anunciada por quem? Todos os meios da grande imprensa propagam com uma certa arrogância, rancor e natural indignação a expressão “tragédia anunciada”, que acredito que será a expressão mais importante do caso, seguido da expressão “grooving”, que são as ranhuras na pista que evitam derrapagens e ajudam na drenagem de água.

Estranho que, ao mesmo tempo que a imprensa de grande circulação nos diga que a “tragédia foi anunciada” – com todo o estranhamento sobre a liberação da pista de modo irresponsável –, nos pareça nova as expressões “grooving” e “ranhuras” no contexto de um aeroporto.

Claro: a pressão da imprensa nunca foi essa. Só aparecia efetivamente e exclusivamente quando o gancho jornalístico era um acidente com um avião que, neste caso, se transformou em tragédia. O número de casos de acidentes anteriores impressionam. E por que impressionam? Porque não foram anunciados. Nunca foram anunciados. São muitas as novidades para o grande público.

E o que era anunciado, então? Lembramos todos claramente. A pressão era contra o governo, até mesmo contra as empresas, com foco nos atrasos dos vôos. As imagens –
novamente, façamos o pequeno esforço individual – eram de passageiros indignados e desolados porque esperaravam horas e horas nos aeroportos.

Agora, como uma grande “novidade”, a imprensa afirma que “também há a questão da segurança da própria pista” (TV BandNews, 17/07/2007 – 22h35).

Ora bolas: os pilotos e controladores de vôo em Congonhas reclamam desde o dia 30 de junho, pelo menos! Por que dia 30? Porque dia 30 foi um dia depois da abertura da pista principal do Aeroporto de Congonhas, depois de 45 dias de reformas. Não é estranho, portanto, que agora aparecem fontes antes obscurecidas, que reclamavam da situação há algum tempo. São fontes desoladas, porque poderíam ter salvo vidas se fossem ouvidas devidamente por autoridades e pela mídia.

Havia um frenesi – incorporado pela mídia, pelo governo, pelas empresas e pelos próprios passageiros – por uma velocidade que não conseguiremos suportar. Deixamos de nos preocupar em ter a serenidade que deveríamos ter ao lidar com questões tão importantes, principalmente por se tratarem de questões diretamente relacionadas com a vida. É possível perceber isso na fala de autoridades notáveis, como o presidente da Infraero e dos jornalistas que trataram do tema, sem que o tema da segurança – ou da serenidade, se preferirem – seja sequer considerado.

Portanto – retomo a questão – até que ponto esta tragédia foi anunciada anteriormente, como afirma a imprensa em peso, e não posteriormente, de modo oportuno?

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Por que a Rede Globo demorou mais de 45 minutos depois das primeiras coberturas – com destaque para a Bandeirantes – para iniciar as transmissões da tragédia? E mais: enquanto a BandNews deu cobertura ampla e irrestrita sobre o assunto, a equivalente GloboNews deu igual destaque ao Pan-Americano, ignorando por grandes intervalos o assunto até a meia-noite do dia 17, enquanto muita coisa ainda estava acontecendo.

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