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Com Maduro, Lula critica sanções dos EUA contra Venezuela e defende expansão do Brics

Por Lucas Estanislau

Presidentes classificaram reunião como ‘momento histórico’; chefe de Estado venezuelano não visitava o Brasil desde 2015

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu nesta segunda-feira (29) o mandatário da Venezuela, Nicolás Maduro, em Brasília. Ambos se reuniram de forma privada e, em seguida, com ministros dos dois governos na primeira visita de um presidente venezuelano ao Brasil desde 2015.

Após a reunião, Lula classificou o encontro como um “momento histórico” e afirmou que os países buscam uma “integração plena” em diversas áreas. Não houve, no entanto, assinatura de acordos bilaterais até o fechamento desta reportagem.

“Eu espero que a relação entre Brasil e Venezuela não seja apenas uma relação comercial, ela pode ser política, cultural, econômica, de ciência e tecnologia, entre as nossas juventudes, entre as nossas universidades, entre nossas Forças Armadas, trabalhando juntas na fronteira para combater o narcotráfico em toda a fronteira”, afirmou o petista.

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O presidente brasileiro ainda criticou o bloqueio imposto pelos EUA contra a Venezuela e disse que é inexplicável que “um país tenha 900 sanções só porque um outro país não gosta dele”.

“Eu sempre acho que um bloqueio é pior do que uma guerra. Porque uma guerra mata soldados, mas um bloqueio mata crianças, mata pessoas que não tem nada a ver com que está em jogo”, afirmou.

Maduro também fez críticas à política externa dos EUA em relação à Venezuela e disse que “o mundo que está nascendo não deve estar marcado por sanções e pela pressão do dólar”.

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“Ele deve ser um mundo marcado pela liberdade. Eles não falam de liberdade? Onde está a liberdade financeira e monetária quando um país é proibido de fazer transações financeiras no mundo? Quando impedem que barcos carregando insumos cheguem à Venezuela?”, questionou o presidente venezuelano.

Economia, energia e enfrentamento ao dólar

Os presidentes também mencionaram a reativação de convênios econômicos e energéticos. Maduro afirmou que a Venezuela está pronta para reativar o fornecimento de energia elétrica a Roraima, único estado brasileiro que não está conectado com o sistema nacional de energia.

“Temos 120 Mega Watts disponíveis, estamos prontos e precisamos de um investimento básico de US$ 4 ou US$ 5 milhões para reconstruir as linhas de transmissão. Se conseguirmos esse investimento, estaríamos muito prontos para reconectar [a hidrelétrica de] Guri a Roraima, esperamos a cooperação e o investimento de empresários brasileiros”, disse o presidente da Venezuela.

Maduro voltou a mencionar o setor privado do Brasil ao falar da crise econômica no país. Entre 2014 e 2022, estima-se que a Venezuela tenha perdido cerca de 75% do PIB após entrar em recessão e sofrer as consequências das sanções impostas por Washington contra sua indústria petroleira.

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“A resistência nos levou a estabelecer uma economia de guerra, um modelo de recuperação. No ano passado, tivemos um crescimento de 15% e neste anos há previsões do FMI e de vários organismos que a Venezuela vai crescer 5%. Estamos preparados para retomar as relações virtuosas com os investidores e empresários brasileiros. A Venezuela está de portas abertas, com todas as garantias, para que voltemos aos tempos de investimentos brasileiros”, disse.

Lula, por sua vez, ao falar em integração econômica, aproveitou para criticar o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apontado como responsável pela diminuição do fluxo comercial entre Brasil e Venezuela.

Durante os primeiros mandatos de Lula, o saldo comercial entre os dois países atingiu recordes, como por exemplo o registrado em 2008, quando as exportações brasileiras para o país vizinho ultrapassaram os US$ 5 bilhões. Entre 2017 e 2022, a balança comercial entre Brasil e Venezuela chegou aos níveis mais baixos dos últimos 20 anos, menores até do que as cifras do último mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

 

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“Isso é ruim para a Venezuela e é ruim para o Brasil, porque o comércio extraordinário é aquele que funciona em via de duas mãos”, disse Lula.

Os presidentes também foram questionados sobre a possibilidade do ingresso da Venezuela nos Brics. Ambos disseram que o assunto não foi tratado na reunião, mas Maduro expressou que o país tem intenções de solicitar entrada e Lula disse que, pessoalmente, é favorável.

“Será a primeira reunião oficial dos Brics que eu vou participar depois de oito anos e existem várias propostas de outros países que querem entrar. Nós vamos discutir, porque não depende só da vontade do Brasil, então se houver um pedido oficial, nós vamos discutir. Se você perguntar minha vontade, eu digo: eu sou favorável”, disse.

Maduro, por sua vez, classificou o Brics como um “elemento avançado” na construção do que chamou de “mundo novo, multipolar” e destacou, principalmente, as possibilidades de articulações financeiras dentro do bloco.

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“Os Brics se transformaram em um grande imã de todos os países que querem um mundo de paz, mais de 30 países querem entrar nos Brics. Agora, no Banco dos Brics está uma grande brasileira, a presidenta Dilma Rousseff. […] Se nos perguntarem, diremos que sim, queremos ser parte dos Brics, de maneira modesta, acompanhar a construção da arquitetura desse novo mundo que está nascendo”, disse.

Lula ainda mencionou as dificuldades na obtenção de divisas por parte da Venezuela, culpando o bloqueio dos EUA. O presidente brasileiro ainda disse que sonha com a criação de “uma moeda entre nossos países, para que a gente não dependa do dólar”.

“Só um país tem a máquina de fazer dólar e esse país faz o que quiser com o dólar. Não é possível que a gente não tenha mais liberdade. Eu sonho que os Brics possam ter uma moeda, como o Euro na União Europeia”, disse.

Narrativa contra a Venezuela

A Maduro, o presidente Lula afirmou que caberia aos venezuelanos construírem uma “outra narrativa” para enfrentar o que chamou de “preconceito” contra o país vizinho.

“O Maduro sabe qual foi a narrativa que construíram contra a Venezuela. Durante muitos anos o Celso Amorim e eu andávamos pelo mundo explicando que [a Venezuela] não era do jeito que diziam que era. Eu vou a lugares que as pessoa nem sabem onde fica a Venezuela, mas sabem que lá tem um ‘problema de democracia'”, disse.

Lula destacou que a “narrativa” de Maduro seria “infinitamente melhor do que a que eles tem contado sobre você”.

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“Está nas suas mãos construir sua narrativa e virar esse jogo para que a gente possa vencer definitivamente e a Venezuela possa voltar a ser um país soberano, onde somente seu povo, através de eleições livres, diga quem vai governar esse país. Nossos adversários vão ter que pedir desculpas pelo estrago que fizeram na Venezuela”, afirmou.

Lula ainda disse que conversou com outros países sobre a possibilidade do fim do bloqueio e criticou o ex-deputado Juan Guaidó, dizendo que achava “a coisa mais absurda do mundo, para pessoas que defendem a democracia, negarem que você [Maduro] era presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo, e um cidadão que foi eleito deputado, ser reconhecido como presidente”.

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O presidente ainda afirmou que existe um “preconceito contra a Venezuela” e disse que advogou pela liberação das reservas de ouro que pertencem ao Estado venezuelano, mas que estão retidas no Banco da Inglaterra.

“Eu me lembro que discuti com algumas pessoas sobre as reservas de ouro da Venezuela. A Venezuela tem uma reserva de 31 toneladas de ouro em Londres e essa reserva foi colocada sob a guarda do Guaidó. Eu dizia aos meus companheiros europeus que não compreendia como a União Europeia, um continente que construiu uma democracia tão plena, poderia aceitar a ideia que um impostor pudesse ser presidente só porque eles não aceitavam o presidente eleito”, disse.

Edição: Thales Schmidt

Fonte: Brasil de Fato

(29-05-2023)

Hacer juntos

Hacer juntos, juntas.

Recuerdo mis tiempos de estudiante de Sociología en la Universidad Nacional de Cuyo. Mendoza, Argentina. Años 1970. Cuando trabajábamos juntos en el centro de estudiantes, no había peleas. No había disputas. Nos reíamos. Cuando me jubilaron de la UFPB en 2000, me junté al trabajo comunitario en salud en Cabedelo, Paraíba, Brasil. Con esa gente empecé a sentirme de vuelta vivo. Cuento este proceso en mi libro “Um terapeuta comunitário em busca de si mesmo” (2019). Cuento allí también cómo en 2004 empecé a colaborar con la Terapia Comunitaria Integrativa que llegaba al barrio de los Ambulantes, en Mangabeira. Había en un pizarrón escritas estas palabras: Juntos podemos resolver todos nuestros problemas.

Hoy pasaron más de 20 años de estas jornadas. He andado por Argentina, Uruguay, Bolivia, Venezuela, México. Siempre con la TCI.

Entonces ví que la comunidad es indestructible. La gente se da las manos. Se junta. Hace junta.

Ahora puedo respirar. Mi sueño de estudiante se hizo realidad.

***

Entre las actividades de ese tiempo de luz, una revista Consciencia, hecha a pocas manos. No importa cuántas sean. Importa que sean varias manos. Esto es lo que libera. Puentes.

Debe ser por eso que me agarro con uñas y dientes tanto a esta revista como a la TCI y al arte, que son una sola cosa. Si la vida no es arte, no tiene pasión ni amor, entonces no es vida, es semi-vida.

Ninguno de mis textos deja de ser una colcha de retazos, una suma, una síntesis de vida alrededor. Vida vivida, escuchada, sentida, vista.

Cuando me vi y me veo, y cada vez me veo más, una sola cosa, el mismo que fui y sigo siendo, risueño, cada vez me río más. Me río de todo y de nada. Y es la risa mía. La de siempre.

Pasó el tiempo. Siento las hojas por donde ando y que hago. Escribo para vivir. Haber rehecho mi vida, haber recuperado mi razón para vivir, es mi triunfo, que modesta y humildemente comparto en cada parto que son estas líneas.

Un dibujo, una canción canturreada o gritada, como Help. Soy el sueño que soñé.

Venezuelanas realizam manifestação em repúdio a atentado contra Cristina Kirchner

Por Lucas Estanislau

Centenas de mulheres venezuelanas se reuniram em Caracas neste domingo (4) para repudiar o atentado que ocorreu contra a vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, na última semana. Sob o lema “Todas com Cristina”, o ato reuniu militantes feministas e setoriais de igualdade de gênero do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). 

“Tentaram calar a voz de Cristina e o que fizeram foi multiplicar e elevar o espírito da mulher latino-americana”, afirmou Diva Guzmán, ministra para Mulher e Igualdade de Gênero, durante a manifestação.

Na última quinta-feira (1), a vice-presidenta argentina foi alvo de uma tentativa de assassinato em frente a sua casa no bairro de Recoleta, em Buenos Aires. O agressor se aproximou de Cristina enquanto ela cumprimentava a militância reunida no local e tentou disparar uma arma de fogo contra o rosto da peronista. Segundo a imprensa argentina, a pistola estaria carregada com cinco balas e teria falhado no momento do atentado.

Durante o ato em Caracas, Guzmán classificou o ataque como “uma tentativa covarde do fascismo que pretende calar a voz de uma mulher que é referência de liderança na América Latina”.

“Aqui estão as mulheres e homens, idosos, pessoas com deficiência e pessoas negras, toda a diversidade do povo venezuelano transmite seu carinho e respaldo à liderança de nossa irmã Cristina”, afirmou a chavista.

As militantes também criticaram o sistema judicial argentino, citando o caso do avião venezuelano que está bloqueado em Buenos Aires desde junho por determinação dos EUA. Além disso criticaram o processo em curso contra Cristina, acusada de desvio de verbas em obras públicas no período que engloba a presidência de seu falecido marido, Néstor Kirchner, e dela.

A defesa de Cristina e movimentos peronistas da base do governo classificam o processo como um caso de “perseguição política”.

‘Acúmulo de ódio’

Ainda no domingo, o presidente venezuelano Nicolás Maduro afirmou que a tentativa de assassinato contra a ex-presidente da Argentina é resultado de um “acúmulo de uma campanha de ódio” no país.

Em entrevista à Rádio10 argentina, o mandatário afirmou que o ataque “dispara os alarmes da violência e do ódio” e que “existe um acúmulo de mensagens de ódios, com intenção de eliminar o adversário” na política regional.

“[O ataque] é resultado de um acúmulo de uma campanha de ódio, de uma polarização negativa, excludente, baseada na intolerância, são campanhas de ódio que têm o objetivo de travar uma guerra psicológica, feita sobretudo por quem controla grandes meios de comunicação e grandes redes sociais, eles sabem os efeitos que as campanhas de ódio têm”, disse.

Maduro também revelou que na noite do atentado conversou com o presidente argentino Alberto Fernández e que mais tarde teve uma conversa “muito bonita” com Cristina Kirchner.

“A primeira coisa que fiz na noite do atentado foi enviar uma mensagem de voz ao presidente Fernández, de solidariedade, de apoio, e pedi a ele que transmitisse essa mensagem à vice-presidenta. E ontem [sábado, 3] à tarde tive uma conversa com a vice-presidenta Cristina para expressar a preocupação e o apoio de todo o povo da Venezuela. Foi uma conversa muito espiritual, muito bonita”, afirmou.

O presidente venezuelano ainda lembrou do ataque que sofreu em 2018, quando drones carregando explosivos detonaram próximo a um palanque onde discursava em Caracas e disse que para “interromper esse acúmulo de ódio […] a Justiça deve funcionar, porque se existe impunidade, as pessoas que promovem a morte, a eliminação dos adversários sentem que têm o caminho livre”.

“Nós aqui na Venezuela derrotamos o modelo golpista que quiseram nos impor com a pretensão de que, se tivesse sucesso, seria levado a outros países, no sul e no mundo inteiro, porque quando já não possuem as circunstâncias e os votos, o império e a oligarquia sempre agem da mesma forma. É a mesma lógica em diferentes épocas, com diferentes rostos e nomes, mas no final o que aconteceu agora com a vice-presidenta era um golpe, eliminar o adversário como eliminaram Salvador Allende e acabaram com a vida dos povos. O que foram as ditaduras no século XX na América Latina? Mais de 100 golpes de Estado. Isso foi um modelo de dominação imperial e oligárquico que se impôs e o século XXI não pode repetir isso”, disse.

Edição: Arturo Hartmann

Fonte: Brasil de Fato

A inventividade revolucionária de Ludovico Silva

Em seu denso “Filosofia da Práxis” (Expressão Popular, 2007), Adolfo Sánchez-Vásquez, ao tratar de criatividades na perspectiva marxista, faz questão de assinalar que nem toda criatividade se reveste de relevância social, mas somente a que comporta uma intencionalidade revolucionária. Não raramente, deparamos com a mídia comercial a anunciar, com estardalhaço uma iniciativas pretensamente “original”, e quando analisarmos criticamente, nós a percebemos desprovida de predicado capaz de nos trazer uma inovação relevante, sob o ponto de vista da mudança social. Também ao interno das forças de esquerda, atribui-se valor extraordinário a certos feitos cuja contribuição resta, por vezes, duvidosa. Este não é, com certeza, o caso da figura do filósofo venezuelano Ludovico Silva (1937-1988), sobre quem nas linhas que seguem, me ocorre tecer umas brevíssimas notas.

Seu percurso inicial, a despeito das condições intelectuais familiares serem favoráveis (parentes próximos seus também se destacavam, especialmente no campo das Letras), seus primeiros anos de universitário se caracterizam por seu empenho e desempenho privilegiados, no campo das Letras, a partir da filosofia, que concluiu obtendo aprovação “Summa Cum Laude” pela Universidade Central da Venezuela. Alternou temporadas de estudos em Madrid (filosofia), e, Paris e na Alemanha (Filologia Românica).;

Já antes de seu giro pela europa, ele cultivava um gosto especial por línguas (além de espanhol. também o francês, o Alemão, entre outras), bem como pela literatura, pela poesia, pela comunicação (radiofônica)., ao tempo em que lograva promover interlocução com poetas latinoamericanos de renome, inclusive Ernesto Cardenal (Nicarágua). Também começou a despertar interesse pela leitura de Marx, inclusive sob O Capital, mantendo-se igualmente atento às outras obras marxistas.

No entanto, foi a partir do seu regresso da Europa, que Ludovico Silva dedicou atenção especial, a um mergulho profundo e crítico acerca do legado de Marx. Já tinha em torno de trinta anos de idade quando iniciou um período de leitura mais detida da obra de Marx, sem que isto em nada tenha afetado a qualidade e a excelência do seu trabalho. Muito ao contrário. Com efeito, em 1970, nos vai brindar com um dos textos mais fecundos – “A Mais Valia Ideológica”, seguido de “Teoria e Prática da Ideologia”.

Conquanto fosse também um marxólogo importa assinalar que Ludovico Silva militando em distintas trincheiras anticapitalistas, especialmente no campo da Filosofia e da Literatura (mais particularmente da Poética: os jovens, os chamavam “Ludo, o Poeta”) – campo de militância no qual faz lembrar a militância de Antonio Candido – ofereceu ao campo revolucionário latinoamericano valiosas contribuições, por meio de obras tais como “O Estilo literário de Marx”, “Anti-manual para uso de Marxianos, Marxistas e Marxólogos”, entre outros.

Pela forma como trata e analisa minuciosamente a obra de Marx, Ludovico ganha autoridade e respeito, perante os militantes e pesquisadores do legado marxiano, de modo a elaborar um trabalho hermenêutico persistente das obras de Marx, insurgindo-se  de modo contundente, contra toda postura dogmática – principalmente contra o Marxismo soviético, postura a qual se deve, inclusive, a ocultação durante décadas, de parte expressiva da obra de Marx, atitude agravada pelo comportamento ultra-seletivo de partes ou trechos dos escritos Marxianos. Notemos, por exemplo, que a publicação dos “Manuscritos Econômico-Filosóficos” só veio a lume em 1932.

O primeiro grande impacto de sua obra foi causado por seu livro “A Mais-Valia Ideológica”, publicado em 1970. Nele, o autor se revela sobremaneira criativo, ao formular, em linha sequencial ao conceito de “Mais-Valia” da lavra de Marx, a categoria “Mais-Valia ideológica”. Partindo da formulação marxiana do mais-valia, Ludovico se dá conta da carga semântica igualmente presente nas relações capitalistas, da dimensão imaterial do mecanismo de exploração e geração do lucro, observável na extração material de mais-valia, desta feita arrancada, na exploração física/material do trabalhador alienado, mas do seu espírito e da sua psiquê, a medida que tal exploração se estende, do chão da fábrica, para o lar do trabalhador, de modo que os aparelhos ideológicos – especialmente os meios de comunicação de massa, da indústria cultural – mantém prisioneiro o trabalhador: ele se torna refém de suas ideias, toda grade de valores, de crenças, de ideias que o mesmo sistema dominante faz circular, dia e noite, pelo rádio, pela televisão, na família, na escola, na igreja, etc. Outro aspecto não menos importante contido na “Mais-Valia Ideológica”, tem a ver com a descoberta pelo explorado de que, dando-se conta dos mecanismos de exploração por ele sofridos, passa a enfrentá-los, neles identificando seu inimigo de classe: o patronato, o sistema capitalista.

A partir desta brevíssima notícia acerca de Ludovico Silva e de aspectos de seu legado – cujo intento é apenas o de instigar especialmente os jovens das classes populares – importa agora ressaltar alguns ensinamentos recolhidos de sua contribuição teórica.

Um primeiro ponto a destacar de seu legado: o entendimento de que também Marx e em qualquer outro clássico não devemos tomar como acabada sua produção, como se fosse algo cristalizado ou congelado no tempo, a ser mecanicamente aplicado em toda e qualquer conjuntura. Ao contrário, até em respeito a essas mesmas figuras que não se cansam de insistir sobre o caráter histórico e, portanto, mutável da realidade, não se trata de assumi-los como uma obra acabada, fechada, válida integralmente para qualquer situação.

O bom entendimento das teses marxianas feito por Ludovico Silva se mostra, com efeito, bastante fecundo, especialmente, no caso do conceito de “mais-valia”, à medida que, vai além de uma interpretação meramente econômica, ou seja, partindo do seu alcance especialmente econômico. Ludovico Silva o estende criativamente à esfera ideológica, isto é, mostra como a extração da mais-valia não se dá apenas no chão da fábrica. O mesmo trabalhador, que é sugado no ambiente fabril, também vai ser sugado no próprio ambiente do lar. Aqui a exploração se faz no plano ideológico, por meio do componente ideológico, fazendo-o refém da grade de ideias, valores, crenças incutidas pelo sistema patronal, através dos meios de comunicação, da propaganda, dos programas radiofônicos e televisivos, todos controlados pelo patronato que financia a mídia hegemônica.

A este respeito, cumpre observar o alcance deletério da “Mais-Valia Ideológica”, sob um duplo efeito: do ponto de vista estritamente econômico, extrai do trabalhador a vantagem ou o lucro do seu sobretrabalho, ao mesmo tempo em que, com a mais-valia ideológica, ao incutir em sua cabeça falsas explicações sobre a verdadeira causa de seu empobrecimento, anula sua capacidade de exercício crítico, impedindo ou dificultando extremamente sua capacidade de resistência, o que resulta em uma vantagem significativa para a manutenção e fortalecimento do mesmo sistema de exploração. Por outro lado, em se tratando de uma experiência dialética, ao sofrer a exploração, o trabalhador também acaba apreendendo sua capacidade de lutar contra a exploração, seja no âmbito pessoal, seja no âmbito coletivo. Ao observarmos nossa atual conjuntura, nos damos conta da impactante atualidade deste relevante legado de Ludovico Silva. Inspirados em seu frutuoso trabalho, somos historicamente instados a nos servir do seu achado (mais-valia ideológica) como um valioso instrumento político-pedagógico de fortalecimento de nossa tarefa organizativa, formativa e de luta, nos diferentes campos de atuação e militância de nossas organizações de base.

À medida que nossas organizações de base, articulando adequadamente sua tríplice tarefa (organizativa, formativa e de luta), forem capazes de assegurar condições favoráveis aos trabalhadores e trabalhadoras de exercitarem uma leitura crítica do mundo, acabarão fazendo impactantes descobertas, à semelhança das que fez o “Operário em Construção” do célebre poema de Vinícius de Moraes, a merecer especial atenção nos trabalhos de base.

João Pessoa,  25 de Julho de 2022

Foto: Karl Marx

Com apoio do governo, ONU abrirá escritório de direitos humanos no país

Foto: FEDERICO PARRA/AFP/Getty Images

O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e o Governo da Venezuela assinaram na sexta-feira (20) um memorando de entendimento estabelecendo uma estrutura para futuras discussões e cooperação.

A iniciativa prevê a presença permanente no país de uma equipe de dois oficiais de direitos humanos da ONU.

O documento fornece uma base para o diálogo contínuo, com vistas à conclusão futura de um acordo que prevê um escritório nacional da ONU de direitos humanos na Venezuela.

O memorando também visa proteger e promover os direitos humanos na Venezuela através de uma série de novas etapas. Isso inclui, disse a ONU, o fortalecimento dos mecanismos nacionais de proteção dos direitos humanos e o acesso à justiça, bem como a facilitação de visitas dos relatores especiais da ONU nos próximos dois anos.

Os detalhes dessas atividades serão apresentados em um plano de trabalho futuro, a ser acordado entre o Governo da Venezuela e o Escritório da ONU dentro de 30 dias após a assinatura.

A equipe de direitos humanos da ONU trabalhará com as autoridades e as apoiará no cumprimento dos compromissos de direitos humanos acordados no contexto da visita da alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, a Caracas, em junho de 2019.

No memorando, o governo comprometeu-se a permitir que funcionários de direitos humanos da ONU tenham acesso a centros de detenção e liberdade de circulação em todo o país.

“Eu e meu escritório estamos empenhados em trabalhar em estreita colaboração com as autoridades, bem como com organizações da sociedade civil, para promover e proteger os direitos humanos e liberdades fundamentais de todos no país”, disse Bachelet.

O Memorando de Entendimento, assinado em 20 de setembro por Bachelet e pelo ministro do Poder Popular das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, vence em um ano.

Floreciendo

Yo no nací para sufrir. Pero el sufrimiento me hace crecer, siempre que yo tenga la humildad necesaria para reconocer ésto.

Algunas veces he llegado a pensar que me podría gustar escribir alguna cosa. Decir por ejemplo de unas plantas de chinitas florecidas que me pareció que podría llegar a querer pintar o dibujar.

Pero las ví tan lindas allí como son, en ese su estar ahí, tan bellas y anaranjadas. Tan ejemplares en sus formas hermosas, que me detuve en mi intento por duplicarlas. Estos días me han traído a mis hijos e hijas más adentro.

Uno se alimenta también del amor de sus hijos. Algo se va consolidando adentro mío. El amor de la familia nos constituye y fortalece. Es como si nos fuéramos unificando con la tierra. Con el aire.

Con el sol, con el viento, con todo lo que existe. Fortalecidos en nuestra brevedad. En este pasar que es eterno mientras dura. Anoche asistí a un monólogo de Ernesto “Flaco” Suárez, en el teatro-bar Los Angelitos.

¡Cuánta belleza en ese decir poético que reúne las lágrimas y las risas! Los dolores y alegrías de una vida en la que ví espejada la mía. ¡Cómo el tiempo va integrando de otra manera, dolores agudísimos que nos tocó vivir en el ayer!

Ayer mismo me preguntaba: ¿cómo lo que hago hoy se inserta en mi historia de vida? El monólogo de Suárez termina con él reencontrando su sentido de ser juglar. Creo que muchos reencontramos también nuestro sentido de estar aquí.

Un aquí vasto como el ahora. Un aquí que por la gracia de Dios, contiene el florecer de esos dolores que nos tocó soportar durante años.