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Dossiê revela impactos e violações da Vale S.A. pelo mundo

Casos de oito países e seis estados brasileiros estão reunidos no “Dossiê dos Impactos e Violações da Vale no Mundo”, que será lançado na quinta-feira (15), no Rio de Janeiro. Participantes do I Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale vão em marcha até a porta da empresa, onde fazem manifestação.

Dia 15 de abril – quinta-feira

11h – Lançamento do “Dossiê dos Impactos e Violações da Vale no Mundo 2010”
Local: ALERJ (Auditório Nelson Carneiro, 6º andar – Centro, RJ)

Abertura:
Deputado Estadual Marcelo Freixo – Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania da ALERJ
Introdução ao Dossiê: Karina Kato (PACS), Ana Garcia (RLS), Gabriela Scotto (RBJA)
Casos emblemáticos: USW – Canadá; Eixo Carajás; Moçambique; Minas Gerais; América do Sul

13h – ATO PÚBLICO EM FRENTE À SEDE DA VALE
Participe! Traga suas faixas, bandeiras, apitos, tambores, megafones…
Endereço: Avenida Graça Aranha, 26

… e hoje (quarta 14), das 20h à meia-noite, tem confraternização no Mercado das Pulgas, no Largo dos Guimarães, em Santa Teresa. Compareça e troque experiências!

Conheça e acesse: atingidospelavale.wordpress.com

Operários da Vale no Canadá estão em greve há sete meses

Faz sete meses que operários da Vale no Canadá da empresa Inco estão em greve. Os mesmos reclamam de uma série de perdas trabalhistas. Com a compra da Inco em 2006 a Vale passou a ocupar o segundo lugar no setor de mineração no mundo.

O movimento sindical de Campo Grande, no Rio de Janeiro, em encontro realizado no início do mês aprovou uma nota de solidariedade aos trabalhadores canadenses.

E ao mesmo tempo aproveitou para denunciar que o empreendimento desenvolvido pela Vale na região tem impulsionado a destruição ambiental. A Vale desenvolve em Campo Grande um projeto junto com a ThyssenKruppa Companhia Siderúrgica Atlântico (TKCSA). [do blog de Rogério Almeida]

Leia ainda:

A anti-imprensa

O jornalista Jorge Amorim divulgou no seu blog “Na Ilharga” a seguinte nota:

“Hei, Liberal! Na cerimônia de posse do Dr. José Raimundo Trindade, na presidência do Idesp*, entre os especialistas que participaram da abertura do ciclo de debates estava o jornalista Lúcio Flávio Pinto, nome que o jornal se recusa a publicar como se não existisse, mas existe e presta inestimáveis serviços ao Estado do Pará.

E é bem maior do que esses editoriais hipócritas, como o de hoje, que pretensamente defende a liberdade de expressão, assunto sobre o qual O Liberal não tem nenhuma autoridade moral para sobre ele discorrer, dado o seu longo histórico de ligações com o obscurantismo e o desrespeito às liberdades cidadãs”.

Mandei uma mensagem ao blogueiro, agradecendo por sua gentileza: “O grupo Liberal é poderoso, mas, quando agride os fatos e os escamoteia do seu registro jornalístico, trai sua razão de ser (bem informar os leitores) e joga uma rosa amarela e medrosa sobre o seu epitáfio: aqui, a história não aconteceu”.

A exclusão do meu nome do registro em todos os veículos de comunicação da família Maiorana já é um caso patológico. Ainda assim, constitui uma anomalia, que cumpre denunciar, além de não ser a única. Certa vez, o recentemente falecido Tadeu Ponte e Sousa foi mandado em avião fretado a Marabá para cobrir um debate sobre o maior empreendimento econômico então em andamento no país, a fábrica de cobre da Salobo Metais, controlada pela Companhia Vale do Rio Doce. O encontro foi em pleno domingo, mas lá estava o repórter enviado de Belém e a equipe local da TV Liberal. A razão? A Vale tinha se recusado a continuar a patrocinar o Salão Arte Pará. Flagrada em pecado mortal, apanharia até voltar a comparecer ao cofre do grupo Liberal.

Aquela era uma oportunidade que não podia passar em branco. Todos os preparativos sugeriam que haveria críticas à empresa, que hoje é a maior da iniciativa privada no Brasil. Só havia um problema: eu era o único palestrante. Tadeu me procurou e expôs seu problema. Lamentei não poder ajudá-lo. De volta à sede, ele escreveu um bom e longo texto reconstituindo o intenso debate. Só não identificou o autor das afirmativas aspeadas, que tantas polêmicas provocaram. Era uma oração com sujeito oculto. Ou psicografada.

Quando o público, formado por mais de 500 pessoas, se surpreendia diante de algumas informações que eu lhe fornecia, lembrava-lhe que os dados já tinham sido publicados neste jornal. Só não se tornaram de conhecimento mais amplo por se tratar de uma pequena publicação alternativa. Infelizmente, não apareciam nas páginas da grande imprensa, como de O Liberal, presente naquele momento, com seu enviado especial na primeira fila. Sugeri aos presentes que consultassem a edição do dia seguinte do jornal para verificar o que iria sair. A reação deve ter sido semelhante a de Jorge Amorim agora.

Uma empresa jornalística que assim procede sistematicamente (e não apenas contra um desafeto tão visado, como eu) pode manter a ilusão de credibilidade por algum tempo, mas não tanto quanto imagina – nem sobre tantos leitores quanto apregoa. O crescimento do universo de espaços jornalísticos, semi-jornalísticos e anti-jornalísticos na internet se deve, em grande parte, a esse modo de proceder tão pouco profissional, ético e moral. Se a crença nesse tipo de imprensa se estiola, permanece de pé um axioma: jornal que agride os fatos agride a si mesmo; se suicida involuntariamente.

(*) Nota da edição: Idesp: Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará. O evento mencionado aconteceu no dia 26 de janeiro de 2010.

(*) Jornalista paraense. Publica o Jornal Pessoal (JP). Publicado na Agência Adital.

Primeiro encontro dos atingidos pela Vale será em abril

Diversas organizações sociais e sindicais do Canadá, Chile, Argentina, Guatemala, Peru e Moçambique estão convidadas para o 1° Encontro Internacional de Populações, Comunidades, Trabalhadores e Trabalhadoras atingidos pela Vale do Rio Doce. O encontro será entre os dias 12 e 15 de abril de 2010, no Rio de Janeiro.

A Vale, dona que quase todo o minério de ferro do solo brasileiro, é hoje uma empresa transnacional, que opera nos cinco continentes. É a 14a companhia do mundo em valor de mercado, explorando os bens naturais, as águas e o solo, precarizando a força de trabalho dos povos em todo o mundo.

Ela foi uma empresa estatal até 1997, quando foi privatizada de maneira fraudulenta pelo governo Fernando Henrique Cardoso a um valor sub-avaliado de R$ 3,4 bilhões de dólares. Desde então gerou lucro de 49 bilhões de dólares, e distribuiu a seus acionistas 13 bilhões de dólares, êxitos que obtém às custas da exploração dos bens naturais, das águas e solo e pela precarização da força de trabalho dos povos nos países que explora.

(Do Boletim NPC)

Leia todas as notícias já publicadas sobre a Vale do Rio Doce clicando aqui.

MST ocupa ferrovia da Vale do Rio Doce por investimentos sociais

MST, Via Campesina e garimpeiros ocuparam com 6 mil pessoas a estrada de Ferro Carajás, responsável por transportar minério de ferro da maior mina da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) ao porto, na manhã da última quarta-feira (07/11), no município de Parauapebas (PA), para exigir investimentos em educação e saúde na região e participação popular nas decisões da empresa, que se apropria de forma privada de bens públicos, como a terra e recursos naturais.

“Queremos colocar a Reforma Agrária e o gerenciamento dos nossos recursos naturais no centro do debate político sobre o desenvolvimento social e econômico para o estado do Pará”, afirma Ulisses Manaças, da coordenação estadual da Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Pará, que realiza a jornada de lutas por reforma agrária e em defesa dos recursos naturais.

Na pauta de reivindicação, os manifestantes pedem que a Vale do Rio Doce aumente a sua contribuição financeira ao governo pela exploração mineral. Além disso, pedem que a companhia, junto com governos estadual e federal, crie um programa social de caráter emergencial nas áreas na qual tem operações, para a construção de moradias, hospital e um programa de educação.

Os movimentos sugerem também que seja criado um conselho deliberativo com representantes da CVRD, do Estado e da sociedade civil para discutir os projetos de mineração e de uso de recursos ambientais da região. Em setembro, 94,5% de votantes rejeitaram o controle privado da Vale do Rio Doce em plebiscito popular, organizado por 60 entidades, com a participação de 3 milhões, 729 mil e 538 brasileiros.

Abaixo, leia a carta com as reivindicações dos manifestantes à Companhia Vale do Rio Doce.

PAUTA À COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD) DA JORNADA DE LUTA PELA REFORMA AGRÁRIA E EM DEFESA DOS RECURSOS NATURAIS DO POVO BRASILEIRO

À Direção Da Companhia Vale do Rio Doce – CVRD

Não é novidade as notícias que saem na imprensa em nível nacional e internacional sobre a lucratividade e a influência política e econômica da Companhia Vale do Rio Doce na região, no Brasil e no mundo, quando a província mineral de Carajás completa 40 anos (1967-2007), e a mina de Carajás atinge o recorde de 1 bilhão de toneladas ao mesmo tempo que a empresa é líder mundial no mercado de minério e ferro.

Também não é novidade os bilhões que a empresa lucrou, principalmente em 2007, ano que marca o 10º aniversário de sua privatização pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, ano que inicia uma campanha popular para a sua reestatização como empresa estratégica para a soberania nacional.

Não é novidade que a “CVRD seja a maior companhia de mineração diversificada das Américas, líder mundial do mercado de ferro e pelotas, segunda maior produtora global de manganês e ferroligas, além de maior prestadora de serviços de logística do Brasil. E que está presente em 13 Estados e em mais de 20 países nos continentes”.

Não é novidade que a “CVRD vá investir US$ 20 bilhões nos próximos cinco anos, sendo, que em 2008 investirá US$ 4,2 bilhões no Pará. Investir no níquel nos projetos Onça Puma e Vermelho, no cobre do Salobo e 118; no ferro, com o projeto Serra Leste e aumento da Serra Norte e Serra Sul; e no alumínio, na mina de Paragominas e uma refinaria em Barcarena”. Não é novidade que a “CVRD esteja participando com 30% dos investimentos na construção da hidrelétrica de Estreito no Maranhão e que construirá uma usina termelétrica em Barcarena. Que vão passar de 32.600 empregos em 2007 para 68.000, em 2012”.

Não é novidade a marca histórica de 1 bilhão de toneladas, suas ações sócio-ambientais, os nove (09) projetos que a Fundação Vale desenvolve em municípios que a companhia atua no Pará. Que os trens transportam minério da mina no município de Parauapebas no Pará até São Luis no Maranhão, numa distância de 892 quilômetros de estrada de ferro. Que o complexo Carajás tem capacidade para exportar 100 milhões de toneladas ano. Que o os investimentos da companhia dobrarão para o próximo período.

Sabemos de tudo isso e nos causa espanto que por trás desses números, cifras bilionárias e um alto padrão de desenvolvimento tecnológico nos seus empreendimentos, é medíocre a responsabilidade social da empresa em relação ao Estado do Pará e a população local do Sul e Sudeste, onde estão montados e previstos os maiores investimentos da Empresa.

Destacam-se numa lista de contradições desse modelo de produzir riquezas; os crimes ambientais da qual a empresa é citada, os processos trabalhistas, os salários mais defasados do Brasil, a ingerência nas comunidades Indígenas e Quilombolas e camponeses sem terra, a falta de parcerias mais profundas em infra-estrutura social, uma vez que a empresa é a principal beneficiária da Lei Kandir que lhe isenta de pagar um único centavo pela exportação de ferro, ao mesmo tempo em que repassa aos municípios mineradores a CFEM – Contribuição financeira pela exploração mineral – mais baixa do mundo (2%), comparado as outras mineradoras a nível internacional, que chegam até 7,5% de toda a riqueza produzida.

Que compromissos têm a CVRD com o desenvolvimento social e econômico da região com comportamento dessa natureza, de não se achar responsável pelas contradições sociais hoje tão prementes em todos os níveis da vida social?

A pauta que agora apresentamos para negociação com a direção da Companhia não é imaginária, inventada em laboratório, ela é síntese das contradições criadas pela natureza dos investimentos e a forma de gestão da empresa em relação aos recursos naturais, a geração de riquezas e a política de investimentos sociais que afetam os Trabalhadores do Campo e da Cidade.

1. Que a Companhia Vale do Rio Doce, como empresa que monopoliza a extração de ferro e outros minerais do subsolo do Estado do Pará, aumente o repasse da “Contribuição financeira pela exploração mineral” de 2% para 6% como forma de compensar os municípios mineradores e o Estado, que recebem os impactos da migração, do desemprego e etc na sua infra-estrutura social.

2. Que a Companhia Vale do Rio Doce corte o repasse de ferro às Empresas de
Ferro Gusa, instaladas no Pará e no Maranhão que não cumpram responsabilidade ambiental e social.

3. Que a CVRD, os governos Federal e Estadual e municípios mineradores onde a companhia atua sejam responsáveis por um programa social de caráter emergencial nas áreas:

a) Construção de moradias populares em especial nos municípios impactados pela migração provocado pelos investimentos da CVRD como assegura seu próprio diagnostico;

b) Construção de Unidades de Saúde, em proporção às demandas provocadas em buscas desses serviços e dos critérios de sua universalização;

c) Construção do hospital regional de Parauapebas e Tucuruí, devidamente equipados com profissionais e tecnologia médica apropriada para alta e baixa complexidade;

d) Implementação de um amplo programa de educação para a erradicação do analfabetismo e garantia de acesso a universidade pública, gratuita e de qualidade;

e) Instalação de unidades produtivas e programas que garantam a geração de mais empregos, renda e diversificação da economia no campo e na cidade;

f) Implementação de um amplo programa de Segurança Social que oriente desde projetos sociais preventivos, até a repressão organizada contra todos que atente a vida dos indivíduos e a coletividade;

g) Construção de uma Escola Técnica Profissionalizante que as atenda as diversas áreas: Agricultura (agroflorestal), Indústria e Comércio, como condição de inserção produtiva de milhares de homens e mulheres num novo modelo de desenvolvimento.

4. Que o Distrito Florestal de Carajás colocado em pauta por força da Companhia aos governos Federal e Estadual para ser implementado nessa região (baseado no plantio de eucalipto para carvão vegetal e uso da floresta natural) seja substituído pelo Distrito Agroflorestal Sustentável (que significa reflorestar com árvores nativas da região e garantia da biodiversidade);

5. Que os garimpeiros tenham autonomia sobre o território de Serra Pelada, que seja cessada a ingerência da CVRD sobre a forma de cooptação e repressão das organizações dos garimpeiros;

6. Que seja criado um Conselho Deliberativo com representantes da CVRD, do Estado e da sociedade civil para discutir e deliberar sobre os projetos de mineração e de uso de recursos ambientais da região. Que acompanhe e decida o programa de investimentos dos recursos destinados pela CVRD aos municípios, com apresentação de projetos de acordo com os interresses locais;

7. Implementação de um pólo industrial na região de Carajás para verticalização da produção que agregue valor industrial aos recursos naturais extraídos na região, na transformação de produtos manufaturados de interesse da sociedade, com a produção de utensílios eletrodomésticos, peças industrias, espécie de Zona Especial de Produção orientada por um novo modelo de produção;

8. Que a Companhia Vale do Rio Doce repasse sistematicamente os recursos dos acordos estabelecidos entre ela e as Comunidades indígenas impactadas pelo grande projeto Carajás;

9. Que a Companhia Vale do Rio Doce estabeleça, juntamente com os movimentos sociais, uma agenda para discussão de todos os projetos minerais já implantados e a serem implantados na região;

10. Que as comunidades Camponesas, áreas de reforma agrária, indígenas e quilombolas sejam ressarcidas em forma de investimentos em infra-estrutura social pelos impactos sócio-ambientais advindos das atividades do projeto Carajás.

Assentamentos Palmares, Parauapebas, Pará
6 de novembro de 2007

MST – CPT – MAB – MPA – VIA CAMPESINA-PA – UJCC – Sindicato dos Garimpeiros de Serra Pelada – Articulação de Mulheres do Campo e da Cidade – Associações de Moradores de Parauapebas – Grupo União Palmares

Informações à imprensa: (94) 3369-3097

Comunicação MST – Mariana Duque
Tel.: (21) 2533-6556 / 9736-3678
Site: http://www.mst.org.br

Trabalhadores ocupam ferrovia da Companhia Vale do Rio Doce

Protesto tem como objetivo denunciar a política de apropriação dos recursos naturais feita pela empresa e a situação de pobreza da população local diante dos lucros da Vale. Por Pedro Carrano, Agência Brasil de Fato.

Cerca de 2.600 famílias, entre trabalhadores e trabalhadoras do MST, do sindicato de garimpeiros de Serra Pelada, pequenos produtores rurais e juventude urbana do Pará, ocuparam na quarta-feira (17/10) um trecho da Estrada Ferro Carajás (EFC), cuja concessão de uso é da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) (Veja infográfico – território sob controle). O ato é parte da Jornada de Lutas pela Reforma Agrária e em defesa dos recursos naturais do povo brasileiro.

A estrada transporta os minerais da maior jazida de ferro do mundo, a mina de Carajás. A paralisação da ferrovia se deu próxima ao assentamento do MST Palmares II, localizado a 20 km da cidade de Parauapebas. A política da CVRD de apropriação do meio-ambiente com o destino de exportação, bem como a contradição entre os altos índices de produção da empresa e, por outro lado, as duras condições de vida do povo local, foram as principais denúncias dos movimentos.

Dados do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – demonstram que, na região Amazônica, 295 mil pessoas dominam 11% de toda a riqueza produzida, enquanto 11 milhões de habitantes, metade da população da Amazônia, possuem 16% da renda per capita. As denúncias da mobilização vão mais longe. Estão direcionadas ao modelo capitalista exportador de matérias-primas, que se reflete na região na forma de expansão das monoculturas da soja e do eucalipto.

A mobilização se insere na ofensiva das organizações sociais que defendem a nulidade do leilão de privatização de venda da Vale do Rio Doce. Em um plebiscito popular com a participação de mais de 3,7 milhões de eleitores brasileiros, realizado no início de setembro, 94,5% dos brasileiros votaram pela retomada da companhia privatizada pelo governo Fernando Henrique Cardoso (Leia reportagem com os resultados do plebiscito).

Reivindicações

A manifestação na ferrovia gerou uma pauta política direcionada para o governo federal, para a governadora Ana Julia (PT-Pará) e para a companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Entre as 15 exigências na pauta dos movimentos estão a reestatização da CVRD, assim como a criação de um imposto para os estados onde a mineradora desenvolve atividades (uma vez que a Vale hoje não aplica o Decreto-lei datado de 42 que prevê 85% dos lucros investidos em 14 estados).

Outra pauta é a da participação popular nos rumos da companhia, por meio de um Conselho Deliberativo com representantes do Estado, da CVRD e da sociedade civil “para discutir e deliberar sobre os projetos de mineração e de uso de recursos ambientais da região”. Os manifestantes exigem o aumento do pagamento de royalties para os municípios mineradores, que passem dos 4 aos 10% sobre a riqueza produzida. Os movimentos querem também mais investimentos nas áreas de saúde e educação em municípios na região de influência da Vale, como Paraupebas, Tucuruí e Marabá.

A manifestação mira também o fim da Lei Kandir, que exonera as empresas exportadoras de impostos, e ocorre ao mesmo tempo em quae a Vale é questionada pelo Ministério Público em duas frentes: a primeira com processos trabalhistas; a segunda pela ampliação da produção de carvão mineral.

Um ponto importante toca na questão dos mineradores de Serra Pelada, que, segundo o manifesto dos movimentos sociais, sofrem repressão da CVRD, buscam autonomia em relação à empresa, e exigem a aprovação no Congresso Nacional de um estatuto do garimpeiro.

Por sua vez, a companhia deixou o silêncio que a caracterizou ao longo do Plebiscito Popular realizado entre 1º a 9 de setembro, exigindo a nulidade do seu leilão. Em nota de divulgação, a companhia clama pela retirada dos manifestantes com uso da força policial. Existe a possibilidade de intervenção da Polícia Federal e Militar, a partir de autorização judicial, requerida pela companhia.

“A CVRD está comunicando a invasão à Justiça Federal para que sejam tomadas as medidas judiciais cabíveis, inclusive quanto à mobilização de força policial, para retirada dos manifestantes. A CVRD espera que as autoridades tomem, o mais rapidamente possível, as providências necessárias para pôr fim à invasão e destaca sua perplexidade por ser alvo de manifestantes que apresentam reivindicações que não têm qualquer vínculo com a Companhia, como a “defesa da reforma agrária e protesto contra o imperalismo”, diz o item 7, da sua nota.

A CVRD informa que transporta diariamente 1300 passageiros pelos seus trilhos – ainda que relatos apontem precariedade na condição de transporte para passageiros sem recursos. O apelo à presença policial para retirada dos manifestantes já havia sido feita pela companhia noutro momento. No dia 22 de agosto, em Belo Horizonte, durante ocupação pacífica de empresa pertencente a Vale, 136 manifestantes foram presos.