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Hoje o Eduardo foi Morto no Complexo do Alemão

Ele só tinha 10 anos. Mas, morreu de forma brutal com pedaços da morte entrando na sala da mãe no rápido instante que foi até a porta de casa.  Morreu também um pouco de nós, ou não? Morreu um pouco da nossa sensação de luta, ou não? Porque, agora, exatamente agora, diferentes amigos me dizem o mesmo: – me sinto impotente!

Ouvi isso de diferentes pessoas, idades e lugares. Desde uma adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro a um amigo de mais de 40 lá no Rio Grande do Sul. “Podia ser qualquer um aqui de casa. Podia ser alguém que conheço”, ambos disseram.  Ouvi também de uma amiga mãe de dois filhos, moradora de Madureira, na Zona Norte da cidade e de outra amiga jornalista de Brasília: “pensei no meu filho sentado no sofá”. Ouvi ainda de um chargista famoso de causas sociais, acostumado a desenhar com a ponta do lápis sobre diferentes tipos de situações: “Diante dessa barbárie, não sei mais o que desenhar. Minha criatividade está nula”. Já de uma amiga pessoal e colunista de jornal ouvi: “Não sei o que escrever. Estou aos prantos”. Enfim, ouvi muitos relatos iguais que expressam o mesmo sentimento: empatia e impotência.

Todos somos Eduardo no coração, ou não?

E a tragédia não foi só com Eduardo Ferreira ontem (02/4). Foi com muitos Eduardos. Na quarta-feira (01/04), uma mãe, de 41 anos, foi baleada com tiro de fuzil dentro de casa. A filha, de 14 anos, correu para tentar socorrê-la. Foi atingida com mais tiros. A mãe está num caixão. A filha no hospital. Onde? Ora, lá no mesmo Complexo do Alemão que no intervalo de 24h está enterrando 5 pessoas da comunidade. Ora, na mesma cidade chamada Rio de Janeiro com favelas pacificadas. Ora, na mesma cidade de muitos Eduardos moradores de outros lugares da cidade.

Lá no Alemão já ouvi muitos relatos, mas alguns me marcaram feito ferro em brasa.  O primeiro foi: “a pacificação é um pisar gradativo no nosso cotidiano. A pacificação nos retirou o que mais diz ter dado: o direito de ir e vir”. Nunca vi uma explicação tão lúcida e simples sobre a militarização da vida. Você já?

A segunda frase foi: “aquele dia não acabou. Vivemos aquele dia até hoje”. Eduardo, infelizmente, está nas estatísticas e nos nossos corações para lembrarmos que essa frase é a realidade histórica sobre aquele 28 de novembro de 2010, data da entrada das Forças de Pacificação no Complexo do Alemão.

A vida no sentido concreto é retirada das pessoas de favelas não pacificadas ou pacificadas como o Complexo do Alemão a conta-gotas, mas a vida no sentido simbólico é retirada diariamente com a velocidade e o tamanho de um tsunami. Eu queria só entender quando vamos parar de nos tocar só quando ocorrem essas tragédias, esses fuzilamentos, porque Eduardo foi fuzilado e por um programa de segurança pública chamado Unidade de Polícia Pacificadora.

Quando vamos parar de ter uma empatia só “de momento” para ampliarmos essa empatia a ponto de começarmos a conversar com um olhar do “eu ao nós” e não do “eu’ e/ao “outro”. Ou seja, enxergar a pessoa ali da estatística, a morta, como um de nós? Mas, veja, digo todo dia. Quando nossa empatia vai parar de ser seletiva não só com quem se morre, mas também seletiva  sobre o momento, com a temporalidade de sentirmos essa empatia?

Porque se a conversa permanecer nesse “eu” e “outro” ou nesse “Eu ao Nós”, mas com data de validade, Eduardo vai ser esquecido no meio dessas estatísticas, a impotência vai imperar e a esperança vai se esvair mesmo para sempre. Estaremos dominados pelo medo, pelo risco da perda de alguém amado, pelo temor de gente, presos a falta de alteridade completa as pessoas não vistas como nós. Pedimos mais grades, mais segurança a qualquer custo, mais polícia, mais punição a qualquer preço, menos patamar da idade penal…

Estamos e permanecemos impotentes a tudo que acontece porque a conversa está entre o “eu” e o “outro”. Porque se estivesse entre o “eu ao nós”, iríamos para as ruas com cada ser que víssemos e não diferenciaríamos a morte do Eduardo daquele filho, primo, marido, vizinho, amigo, que está do outro lado do pc, na cama ou no sofá agora.

Se essa empatia não acontecer de forma plena e sim estanque num único momento de dor, seguiremos por essa metáfora de vida por mais décadas e décadas como vejo desde que nasci, nesse contínuo conflito armado disfarçado por uma sensação de segurança que promove um tática de guerra como política de segurança pública revestida de sentidos de paz,  acreditando nisso como uma força, o último mancho do navio possível. Seguiremos precisando nos agarrar a essa boia posta como salvação para termos alguma sensação de segurança. Mas veja: é só uma sensação.

E eu, como muitos cidadãos, como muitos cariocas, fluminenses, moradores de favelas, não moradores de favelas, capixabas, paulistas, negros, brancos, pardos, velhos, crianças, jovens, seja lá qual seja sua identidade nessa vida a reclamar da violência, a contar casos, a se sentir impotente. NÓS vamos seguir contando (ou não) os mortos, paralisados, morrendo de medo desse tal suposto “outro”.

Quanto a mim, na identidade de pesquisadora com um trabalho intitulado “Onde estão os mortos? Silêncios e construções de sentidos da pacificação no Complexo do Alemão” não paro de achá-los e contá-los, sobretudo, nas favelas. Sobretudo no presente.

A estratégia de sobrevivência na favela, como diria um intelectual orgânico do Complexo do Alemão, tem um limite: a bala do genocídio.

Sem mais,
Tatiana Lima

Charge de Carlos Latuf mostra caixões nos lugar das gôndolas do teleférico no Complexo do Alemão.

 

Onda de assaltos e roubos no Caju

Nas últimas semanas ocorreram diversas invasões a residências na Quinta do Caju, assaltos a mão armada na Rua do Cemitério e no Bar Pejô, no último domingo, dia 20. Quando o bar já estava sendo fechado, foi anunciado o assalto dentro do bar, que só tinha funcionários.

Há relatos de moradores de que vários objetos e dinheiro foram roubados enquanto eles dormiam ou iam para o trabalho, deixando a casa sozinha. Os casos vão desde roubo de roupas em varais até televisões, celulares e dinheiro.

Há também assaltos à mão armada sendo realizados à noite, por homens de moto, na rua do Cemitério, Rua Monsenhor Manoel Gomes, próxima a passarela 01.

Quando o Governo fala em “pacificação”, muitos pensam em Segurança para viver melhor. Mas o que se tem visto em todas as favelas com UPPs é que a Polícia enquadra e persegue trabalhadores, impõe toques de recolher e proibe festas ao ar livre em várias favelas e acaba gerando mais insatisfação, insegurança e medo nos moradores, pois além da Polícia proporcionar diversos casos de violência sofridos por quem mora nas favelas, os que são feitos por outros contra os moradores não são apurados.

Isso é mais uma prova de que a UPP protege as grandes empresas e seus interesses (no Caju e em outros lugares), pois para o Governo, trabalhador tem que ser controlado e vigiado, enquanto o rico é protegido pela Lei. Ou o Eike Batista pagava parte do salário dos policiais da UPP porque ele é bonzinho e se preocupa com nós, favelados?

UPP não é segurança, é controle militar sobre pobre e favelado!

P.S: quem tiver mais notícias sobre esse e outros assuntos do bairro, pode nos passar por mensagem, que divulgamos por aqui.

Fonte: Caju Notícias

Jovem é baleado por policiais da UPP do Chapéu Mangueira, no Rio, e moradores descem para protestar

Jornal A Nova Democracia

Moradora do Chapéu Mangueira ampara criança atingida por spray de pimenta. Centenas de pessoas sofreram com uma ação policial truculenta. Elas protestavam justamente contra uma abordagem que quase acabou em execução sumária por parte de policiais da UPP do Chapéu Mangueira. Foto: reprodução do vídeo

Na manhã deste sábado, 31 de maio, a equipe de reportagem de jornal A Nova Democracia foi ao Morro Chapéu Mangueira, no bairro do Leme, zona Sul do Rio, após receber a denúncia de que um jovem havia sido baleado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local.
O crime aconteceu às 7h30 da manhã e a vítima, o jovem Felipe da Silva, de 21 anos, saía de casa para comprar pão, segundo familiares. No caminho, bateu boca com policiais após uma revista e acabou preso.

Ao invés de levar Felipe para a delegacia, PMs sequestraram o jovem e o levaram para a mata que cerca o Morro da Babilônia, vizinho ao Chapéu. No local, Felipe foi torturado e baleado na barriga pelos policiais.
Revoltados, moradores desceram o morro e bloquearam a Avenida Princesa Isabel, importante via do bairro de Copacabana. Não demorou muito para que PMs disparassem jatos de spray de pimenta contra a massa, intoxicando mulheres e crianças, como se vê nas imagens.
O jornal AND entrevistou os parentes de Felipe, que mostraram fotos do PM acusado de atirar contra o jovem e queixaram-se do regime de terror imposto por policiais na favela, sob o comando da tenente Paula Apulchro, de apenas 25 anos.
* * *
Atualização de domingo (1/6), 00h13


Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência: “ATENÇÃO! Hoje [sábado] durante o protesto que se seguiu a mais uma ação violenta da UPP, quando um jovem foi atingido, ferido gravemente e arrastado pelo chão no Chapéu Mangueira, moradoras e moradores foram ameaçados de prisão pela comandante da Unidade, Tenente Paula Apulchro, que inclusive ameaçou: “quando for de noite vocês vão ver”.
Diante dessa ameaça, o do histórico de desmandos e violências da PM, moradores decidiram realizar uma VIGÍLIA hoje à noite na Associação de Moradores da Comunidade do Chapéu Mangueira. Vai haver exibição de filmes e outras atividades. É importante a presença de gente de fora, de advogados e da imprensa livre! As fotos são do policial que efetuou os disparos e da tenente. Mais informações com Rachel no telefone 98280-7208.”

Complexo do Alemão, no Rio, tem apenas uma escola e 13 bases de UPP

Na Praça do Conhecimento, luta por direitos. Foto: Carlos Coutinho

Rogério Daflon, do Canal Ibase
Na Praça do Conhecimento, no Complexo do Alemão, policiais filmavam nesta terça-feira (17) uma reunião em que lideranças locais e de favelas de diferentes pontos do Rio debatiam as violações de direitos humanos na cidade. Um dos objetivos era tornar público um manifesto contra procedimentos ilegais, como o próprio ato desempenhado pela polícia naquele momento.
Aquela câmera tornou o clima tenso e alguns moradores protestaram contra a postura totalitária dos agentes da Polícia Militar. Ali, se fazia uma tentativa de mobilizar moradores para lutar pelos seus direitos.
Morador do Alemão, David Amen, do Instituto Raízes em Movimento, pontuou que a ação policial nas favelas, mesmo aquelas que possuem as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) tem transformado as comunidades em territórios onde vigora o regime de exceção. Na reunião, também foi discutida uma reportagem do jornal Extra, que veiculou a informação de que traficantes dariam R$ 200 para moradores opinarem contra as UPPs.
– A imprensa, ao agir assim, desrespeita o favelado – disse David.
Para a jovem artista plástica Marluci Souza, nascida na localidade de Alvorada, o maior desrespeito dessa política de segurança é o desdém em relação à educação no Complexo do Alemão. Seu raciocínio faz saltar aos ouvidos algo extremamente perverso.
– O Complexo tem 100 mil habitantes, nenhuma escola de ensino fundamental e apenas uma de ensino médio. Já as bases da UPP são 13, com um contêiner de dois andares em cada uma das cinco estações e mais oito conteineres em diferentes pontos. E há mais uma delegacia aqui, embora haja duas em bairros do entorno. Já reclamamos com o governo do estado, com as secretarias estaduais, mas a resposta é sempre a mesma: a segurança é prioritária. Isso é um equívoco enorme.
Morador protesta contra acusação. Foto: João Lima

As políticas públicas equivocadas e as violações de direitos humanos geraram um manifesto contundente que marca o início de uma séria de ações das favelas do Rio, a fim de denunciar atos de repressão no cotidiano dos moradores . Abaixo, a íntegra do manifesto:

“Queremos ser felizes e andar tranquilamente na favela em que nascemos.
Durante décadas o Estado não reconheceu a favela como parte integrante da cidade, negando aos seus moradores direitos básicos. Hoje, depois de três anos de ocupação da segurança pública no Complexo do Alemão, percebemos que ainda temos um longo caminho a seguir na garantia de direitos, uma vez que, o braço do Estado que mais entra na favela é o braço armado. Sem escola não há pacificação, sem saúde não há pacificação, sem saneamento básico não há pacificação, sem lazer não há pacificação. O símbolo da paz no Rio de Janeiro não pode ser armas, a pistola, o fuzil e os blindados.
Nas ultimas semanas, as manchetes dos jornais foram tomadas por matérias sobre os conflitos que acontecem cotidianamente nas favelas com a ocupação policial – as UPP´s, sobretudo no Complexo do Alemão. Junto com as manchetes, vieram as declarações do secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, que apresentou a opção de ampliar a militarização como possível solução para os problemas. Parece que, ao seu ver, toda solução de conflito passa pela ampliação da presença da polícia e de outras forças militares no teritório.
Entendemos que essa perspectiva precisa ser mudada, uma vez que é possível perceber que só a presença da polícia nos territórios ocupados não tem trazido a paz. Existem vários casos, em favelas com UPP, de abuso de poder, arbitrariedades e desaparecidos, como é o caso do Amarildo , na Rocinha, e da morte de jovens por policiais da UPP como: André de Lima Cardoso, 19 anos, Pavão-Pavãozinho; José Carlos Lopes Júnior,19 anos, morador de São João; Thales Pereira Ribeiro D’Adrea, 15 anos, Morro do Fogueteiro; Jackson Lessa dos Santos, 20 anos, Morro do Fogueteiro; Mateus Oliveira Casé, 16 anos, Manguinhos; Paulo Henrique dos Santos, 25 anos, Cidade de Deus; Aliélson Nogueira, 21 anos, Jacarezinho; Laércio Hilário da Luz Neto, 17 anos, Morro do Alemão e Israel Meneses, 23 anos, Jacarezinho. Nesta política não podemos deixar de citar os policiais mortos na ação suicida do Estado. Não aceitamos essas mortes, nenhuma vida vale mais que a outra e é preciso que o Estado se responsabilize. Afinal, qual é a paz que queremos promover? A paz bélica ? A paz militarizada?
Nesse domingo, 16, a capa do jornal extra anunciava que os moradores de favela tinham ido às ruas se manifestar a mando do tráfico e estariam recebendo dinheiro para isso. Mais uma vez a grande imprensa tem sido uma ferramenta de criminalização dos movimentos populares e da favela. Repudiamos totalmente a forma com que os meios de comunicação têm feito a cobertura da ação da polícia no Complexo do Alemão e em outras favelas. Entendemos que o morador de favela não pode ser visto como um inimigo. O governo diz que as favelas estão pacificadas, mas então porque tanta arma ostentada pela polícia? Queremos mais diálogo entre os moradores de favela e segurança no território, queremos a liberdade de ir e vir, queremos mais escolas, saneamento básico para morador ao invés de teleférico para turista, queremos a garantia do direito de expressão onde o baile funk se insere, não queremos a violação do domicílio sem mandato. Entender as demandas do Complexo é simples, entender as demandas da favela é simples , porque o papo é reto.
As propostas de “PAZ” devem ser construídas coletivamente com toda a favela. Não se constrói uma politica de paz com o pé na porta, agredindo gratuitamente seus moradores, não se constrói paz com caveirão. No atual modelo, “independente de quem manda”, os moradores continuam sem ter sua voz ouvida. Temos a consciência de que o pobre tem seu lugar.”
Assinam:
Ocupa Alemão
Instituto Raízes em Movimento
Ibase
Alemão de Notícias
Complexo do Alemão
Educap
Jornal Voz das Comunidades
Favela não se Cala
IDDH
Rede Universidade Nômade
O Cidadão
Fórum Social de Manguinhos
Fórum Rede da Juventude
Coletivo Mariati
Favela em Foco
Norte Comum
Observatório de Conflitos Urbanos

Policiais da UPP disparam munição letal contra moradores em protesto no Manguinhos, no Rio

Jornal A Nova Democracia

Na noite de quinta-feira (20) e na manhã de sexta-feira (21), a equipe de AND foi à favela de Manguinhos apurar uma denúncia de que PMs da UPP estariam disparando tiros de munição real contra moradores.
Segundo relatos, a polícia teria ido a um galpão atrás da Biblioteca Parque de Manguinhos para retirar cerca de 100 famílias que ocupavam o local. Diante da resistência dos moradores, PMs começaram a disparar bombas de gás e efeito moral contra a população, que respondeu com uma chuva de pedras e garrafas.
Foi quando PMs teriam começado a disparar munição letal contra moradores. Várias pessoas ficaram feridas e quatro jovens foram baleados. Um deles se encontra internado em estado grave no Hospital Salgado Filho.
Enquanto isso, o monopólio da imprensa fantasia um suposto ataque orquestrado pelo tráfico contra as UPPs para justificar uma ocupação do exército às vésperas da Copa do Mundo.

Cinco anos de UPP invadindo a favela

Imagem: Latuff

Nossas bandeiras contra a criminalização da favela sempre estiveram pelas ruas. Nos últimos meses, pautas que antes eram só das favelas passaram a ocupar outros espaços da cidade. Foram inúmeros os protestos em que o tema da segurança pública apareceu.
Tema este que automaticamente envolve o debate da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), além da desmilitarização da polícia; remoções; direito à cidade; educação; saúde; liberdade sexual; sistema penitenciário, entre outros.
São pautas históricas, mas que também tem a ver com o momento deste lugar conhecido como “cidade maravilhosa”. Afinal, o Rio de Janeiro é a cidade escolhida para receber os megaeventos que serão em 2014 e em 2016. E, para que ela esteja preparada para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas, os governantes estão mudando as estruturas físicas deste território. Mas o território escolhido para ser sacudido mais uma vez, é o lugar habitado por uma população pobre, negra e favelada.
A invasão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas cariocas, que começou há exatamente 5 anos, é exemplo disto. Afinal, este é mais um modelo de cidade com a ideia de proteger o asfalto e os turistas para a chegada dos jogos. Política esta feita de cima para baixo para o preparo da cidade. Mais uma forma brutal e esclarecida de racismo do Estado que trata a favela como criminosa e violenta.
Na Rocinha, um ajudante de pedreiro, o Amarildo, foi exterminado por esta tal Unidade de Polícia Pacificadora. Caso que percorreu o mundo. Lá, assim como nas 18 favelas que estão hoje ocupadas pela UPP, outros moradores têm desaparecido.
“Entre 2007 e 2012, foram registrados 553 casos de desaparecimento nas 18 primeiras comunidades. Os relatórios do ISP indicam aumento progressivo anual até 2010, quando o indicador atingiu o seu ápice (119 ocorrências)”, dados do Instituto de Segurança Pública em matéria do UOL publicada em agosto de 2013.
Além da força armada, estas favelas que são invadidas pela UPP, passam a ter o terreno “valorizado”. O local passa a ter a luz, a água e os impostos legalizados. Mas, sem qualquer condição de trabalho, moradia ou outro direito, os moradores sofrem com o aumento de cada pedaço do seu chão e passam a ter que sair dos seus locais de moradia e ocupar outros espaços mais baratos da cidade. Sendo este fato conhecido como “remoção branca”.
A maior parte das favelas que recebem a UPP estão localizadas nas áreas nobres do Rio, ou em locais estratégicos da cidade como no caso dos Conjuntos de Favelas da Maré e do Alemão, ambas próximas ao aeroporto internacional e das vias expressas que ligam ao centro cidade.
Nós moradores e moradoras de favela não aceitamos esta tal política mais que racista que é vendida pela mídia como um ideal de paz para as favelas cariocas. Nós favelados e faveladas não nos calaremos nunca enquanto houver pobre, negro e favelado sendo exterminado. O que queremos é ter o direito à cidade. Queremos ter o direito de existir, de ser, de viver, de se sentir parte e não margem deste tal sistema que apenas controla e mata favelado todos os dias.
_________________
Gizele Martins integra o jornal O Cidadão (www.jornalocidadao.net)

Cinco anos de UPP invadindo a favela

Imagem: Latuff

Nossas bandeiras contra a criminalização da favela sempre estiveram pelas ruas. Nos últimos meses, pautas que antes eram só das favelas passaram a ocupar outros espaços da cidade. Foram inúmeros os protestos em que o tema da segurança pública apareceu.

Tema este que automaticamente envolve o debate da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), além da desmilitarização da polícia; remoções; direito à cidade; educação; saúde; liberdade sexual; sistema penitenciário, entre outros.

São pautas históricas, mas que também tem a ver com o momento deste lugar conhecido como “cidade maravilhosa”. Afinal, o Rio de Janeiro é a cidade escolhida para receber os megaeventos que serão em 2014 e em 2016. E, para que ela esteja preparada para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas, os governantes estão mudando as estruturas físicas deste território. Mas o território escolhido para ser sacudido mais uma vez, é o lugar habitado por uma população pobre, negra e favelada.

A invasão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas cariocas, que começou há exatamente 5 anos, é exemplo disto. Afinal, este é mais um modelo de cidade com a ideia de proteger o asfalto e os turistas para a chegada dos jogos. Política esta feita de cima para baixo para o preparo da cidade. Mais uma forma brutal e esclarecida de racismo do Estado que trata a favela como criminosa e violenta.

Na Rocinha, um ajudante de pedreiro, o Amarildo, foi exterminado por esta tal Unidade de Polícia Pacificadora. Caso que percorreu o mundo. Lá, assim como nas 18 favelas que estão hoje ocupadas pela UPP, outros moradores têm desaparecido.

“Entre 2007 e 2012, foram registrados 553 casos de desaparecimento nas 18 primeiras comunidades. Os relatórios do ISP indicam aumento progressivo anual até 2010, quando o indicador atingiu o seu ápice (119 ocorrências)”, dados do Instituto de Segurança Pública em matéria do UOL publicada em agosto de 2013.

Além da força armada, estas favelas que são invadidas pela UPP, passam a ter o terreno “valorizado”. O local passa a ter a luz, a água e os impostos legalizados. Mas, sem qualquer condição de trabalho, moradia ou outro direito, os moradores sofrem com o aumento de cada pedaço do seu chão e passam a ter que sair dos seus locais de moradia e ocupar outros espaços mais baratos da cidade. Sendo este fato conhecido como “remoção branca”.

A maior parte das favelas que recebem a UPP estão localizadas nas áreas nobres do Rio, ou em locais estratégicos da cidade como no caso dos Conjuntos de Favelas da Maré e do Alemão, ambas próximas ao aeroporto internacional e das vias expressas que ligam ao centro cidade.

Nós moradores e moradoras de favela não aceitamos esta tal política mais que racista que é vendida pela mídia como um ideal de paz para as favelas cariocas. Nós favelados e faveladas não nos calaremos nunca enquanto houver pobre, negro e favelado sendo exterminado. O que queremos é ter o direito à cidade. Queremos ter o direito de existir, de ser, de viver, de se sentir parte e não margem deste tal sistema que apenas controla e mata favelado todos os dias.

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Gizele Martins integra o jornal O Cidadão (www.jornalocidadao.net)

Sobrevivente da rebelião popular do Jacarezinho conta como foi baleado

Por Patrick Granja e Guilherme Chalita / A Nova Democracia

As imagens a seguir, foram gravadas com um telefone celular pelo motoboy Ivan Martins dos Santos Filho, de 33 anos na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro.  Ivan registrou as imagens momentos antes de ser acertado por um tiro de pistola, que segundo ele, teria sido disparado por um policial militar. O episódio aconteceu na última quinta-feira, dia 5 de abril, quando PMs da Unidade de Polícia Pacificadora teriam assassinado o jovem trabalhador Aliélson Nogueira, de 21 anos. Em protesto contra a morte de Aliélson, moradores se insurgiram contra as forças de repressão e teriam sido reprimidos com tiros de munição real. Um deles, endereçado a Ivan. Acompanhda do presidente da associação de moradores do Jacarezinho, Rumba Gabriel, nossa equipe de reportagem foi ao hospital Salgado Filho conversar com o motoboy que trabalha em uma das maiores companhias aérea brasileiras. Devido à questões internas do hospital, a entrevista não pode ser filmada.

 Ivan contou que, no caminho para o hospital, um outro policial teria sugerido que a viatura desse algumas voltas a mais antes de levá-lo ao posto de emergência. Nesse momento, o rapaz contou que já havia perdido muito sangue. Já no Salgado Filho, o trabalhador teria sido intimidado por PMs que teriam o acusado de envolvimento com o tráfico. Ivan contou ainda que presenciou o momento em que policiais da UPP atiraram contra o container da Unidade. O relato é um indício de que a versão apresentada pela PM, de que havia um tiroteio na favela, pode ter sido forjada pelo comando da UPP em conluio com o monopólio dos meios de comunicação.

Policiais da UPP atiram para matar na favela do Jacarezinho

Por Patrick Granja e Guilherme Chalita / A Nova Democracia

Na noite da ultima quinta-feira, dia 4 de abril, a equipe de reportagem da AND, juntamente com a Agência de Noticias das Favelas, foi ao Jacaré, na zona norte do Rio, apurar a denúncia de que um jovem teria sido assassinado por policiais da Unidade de Policia Pacificadora. Segundo testemunhas, Alielson Nogueira, de 21 anos, estaria comendo um cachorro quente, no momento em que foi baleado na nuca. Moradores disseram que, no local, acontecia um protesto contra a prisão arbitraria de um trabalhador. Durante a manifestação, um policial identificado por moradores como “Andre”, teria atirado contra a massa e acertando Alielson.

Quando chegou à favela do Jacaré, nossa equipe se deparou com um cenário de rebelião popular. Centenas de moradores tomaram as ruas da favela e, corajosamente, enfrentaram as tropas de repressão do Estado reacionário. O objetivo dos manifestantes era proteger o corpo do Alielson, para que PMs não modificassem a cena do crime. O confronto só teve fim no momento em que policiais civís chegaram para periciar o local do assassinato. Durante a madrugada, o monopólio dos meios de comunicação noticiava que o jovem trabalhador teria sido baleado em um suposto confronto entre traficantes e policiais, versão negada pela população.