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Vale é eleita a pior empresa de 2011 em votação popular

Após 21 dias de acirrada disputa, a mineradora brasileira Vale foi eleita na quinta (26/1) a pior corporação do mundo no Public Eye Awards, conhecido como o “Nobel” da vergonha corporativa mundial. Criado em 2000, o Public Eye é concedido anualmente à empresa vencedora, escolhida por voto popular em função de problemas ambientais, sociais e trabalhistas, durante o Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos.

Este ano, a Vale concorreu com as empresas Barclays, Freeport, Samsung, Syngenta e Tepco. Nos últimos dias da votação, a Vale e a japonesa Tepco, responsável pelo desastre nuclear de Fukushima, se revesaram no primeiro lugar da disputa, vencida com 25.041 votos pela mineradora brasileira.

O Jornal das 10 da Globonews repercutiu a eleição.

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O monstro amazônico: a serviço do colonizador

Lúcio Flávio Pinto, jornalista paraense que mantem o Jornal Pessoal (JP), via Agência Edital.

Em 1980 a Companhia Vale do Rio Doce ainda era estatal (foi privatizada por FHC em 1997). Seu patrão era o governo federal, controlado pelo último general do ciclo de presidentes do regime militar, iniciado em 1964, com a deposição do presidente constitucional, João Goulart.

A CVRD estava a meio caminho de colocar em produção a melhor jazida de minério de ferro do planeta, na serra dos Carajás, 550 quilômetros ao sul de Belém. A entrada desse excepcionalmente rico minério –o mais usado pela indústria contemporânea– no mercado, em 1984, revolucionou a siderurgia mundial.Dentre outros motivos, por desbancar alguns gigantes industriais, como a americana United States Steel (que foi dona exclusiva de Carajás de 1967 a 1969, quando os militares a obrigaram a se associar à CVRD), a 1ª do ranking nessa época; e favorecer a ascensão das empresas japonesas, chinesas e coreanas, deslocando o eixo hegemônico internacional na Amazônia para a Ásia, uma tendência ainda em processo na economia global. Uma história que permanece inédita, como quase tudo na Amazônia recente.

Com Carajás, a Vale consolidou sua posição de maior produtora de minério de ferro interoceânico, abriu para si o mercado asiático, galopou para o topo das mineradoras, tornou-se a maior empresa brasileira e a maior exportadora do país. Não é pouco poder. Mas a Vale queria e quer mais.

Em 1980 ela entregou ao governo um estudo que encomendara. O título estava em inglês: Metal Amazon. O texto, também. O documento nunca precisou ser traduzido para atingir seus objetivos: ampliar ainda mais o domínio da mineradora sobre um território muito maior.

A província mineral de Carajás, a mais importante que existe na Terra, ocupa 1,5 milhão de hectares. Mas a Vale desejava controlar um território 10 vezes maior, de 15 milhões de hectares, equivalente ao tamanho do Estado da Paraíba.

Para não provocar as previsíveis reações, um órgão oficial foi criado para exercer sua jurisdição sobre esse quase-Estado (coincidente, em território paraense, com o Estado de Carajás, que irá a julgamento plebiscitário no dia 11 de dezembro, a partir de projeto de um representante político do Vizinho Tocantins, não exatamente por acaso).

Nesse espaço, o governo federal, por delegação da empresa, executaria um vasto programa de infraestrutura e de indução a investimentos produtivos, que chegaria a 62 bilhões de dólares (valor da época). O programa, do qual o projeto Carajás da Vale passou a ser apêndice (embora nele tenha tido origem), passou a ser conhecido superlativamente por “Carajazão”, ou Grande Carajás, para poder distingui-lo (nem sempre com sucesso) do Carajás “apenas” mineral.

Recursos públicos iriam subsidiar tanto ferrovias, portos, estradas e hidrovias quanto siderúrgicas, metalúrgicas e reflorestamentos, em escala ciclópica e com energia explosiva. Era preciso acelerar o ritmo da ocupação, alargar-lhe o horizonte e colocar os produtos gerados a caminho dos mercados internacionais, especialmente da Ásia.

Na base ideológica e técnica dessa empreitada, o tal Metal Amazon, a Amazônia era comparada ao monstro de Loch Ness (ou Lago Ness, localizado na Escócia). Os engenhosos ideólogos, que continuam a movimentar as engrenagens da formação das fronteiras econômicas, recorreram à figura mitológica do monstro para explicar o “fator amazônico”, um elemento complicador próprio da região (tão selvagem quanto as brumosas paragens escocesas), a onerar os investimentos públicos e privados.

Mesmo sendo constituída pela maior floresta tropical do mundo (com um terço da mata remanescente), a maior de todas as bacias hidrográficas e a presença humana remontando a mais de 10 mil anos, a Amazônia, nessa bitola colonial, seria um “espaço vazio”.
Árvores, águas e nativos são invisíveis por essa ótica, que tem sido a matriz da política de dominação da região. Mais do que isso: são um estorvo para o desenvolvimento e o progresso, estes, sim, conceitos estranhos ao bioma amazônico e a toda sua história anterior à chegada dos europeus. Mas impositivos nos tempos atuais. Ferramentas dos colonizadores vitoriosos, que consideram visões mais íntimas do universo florestal como reminiscências de um tempo morto e enterrado pela “modernidade”. Um anacronismo.

Daí ter-se desencadeado a maior destruição de florestas de toda história humana (mais de 700 mil quilômetros quadrados em menos de meio século), pondo-se abaixo um recurso muito mais nobre, como a madeira e toda diversidade biológica, e substituindo-o por outro de valor incomparavelmente inferior.

É o que explica um município rico em florestas, como São Félix do Xingu, também no sul do Pará, abrigar agora o maior rebanho bovino do país. Milhares e milhares de exuberantes árvores multicentenárias foram abatidas –e continuam a ser derrubadas– para dar lugar a pastos. Sobre essa vegetação rasteira se multiplicaram os animais, com rebanho de 2 milhões de cabeças, sem, no entanto, adquirir qualidade bastante para lhes conferir maior valor agregado minimamente satisfatório no mercado da carne. Maior município pecuário brasileiro é apenas um título de pobreza quantitativa.

É também por isso que o orçamento de uma grande hidrelétrica, como Belo Monte, no rio Xingu, antes mesmo de começar a ser construída, no intervalo de apenas dois anos, passa de 19 bilhões de reais para R$ 28 bilhões (movimento acompanhado pelas grandes empreiteiras nacionais, que pularam da posição de concessionárias de energia para o posto que lhes cabe, de construtoras de grandes obras, em geral superfaturadas).

O exemplo mais recente é o da ponte sobre o rio Negro, ligando Manaus a Iranduba, no Estado do Amazonas, inaugurada no dia 24 do mês passado pela presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. Com 3.600 metros de extensão, é a maior já construída sobre águas fluviais no Brasil. Devido aos “fatores amazônicos” engendrados pelo monstro de Loch Ness, o custo da obra cresceu 90% além do limite previsto, indo a mais de R$ 1 bilhão, nos quatro anos em que foi construída.

Justificativas, números e planilhas sempre são apresentados para dar endosso à obra ou carimbar seu custo extraordinário. Mas quando nenhum argumento é convincente, o desconhecido e inexplicável é chamado à ribalta para assustar os céticos ou iludir os crentes. E assim, sob a face do monstro, a Amazônia desaparece.

BNDES busca novos sócios polêmicos

Da Plataforma BNDES

Nesta sexta-feira (02/09), o jornal Estado de São Paulo circulou a notícia de que o BNDES se prepara para ser sócio da empresa Foxconn no Brasil. A fabricante do iPad e do iPhone da Apple é conhecida pelas denúncias de violar leis trabalhistas na Ásia. Um dos casos mais graves foi a onda de suicídios de trabalhadores ao longo de 2010, quando 14 pessoas tiraram a própria vida.

Em maio deste ano, a agência de notícias EFE informou que mais dois trabalhadores da Foxconn haviam cometido suicídio em 2011. Assista ao vídeo abaixo A verdade sobre o Ipad da Aple (legenda em inglês) produzido por uma organização não governamental de estudantes e pesquisadores, com sede em Hong Kong. “Acordamos antes dos galos, vamos dormir depois dos cães, e nos alimentamos pior do que os porcos”, diz um dos trabalhadores entrevistado. De acordo com outro funcionários, é comum dizer na empresa que “mulheres trabalham como homens, homens como máquinas”.

Outra possível parceria do BNDES, de acordo com o jornal Valor Econômico, pode ser feita com as companhias do setor de petróleo e gás. O foco do banco seriam os fornecedores de materiais e equipamentos, podendo incluir também empresas de médio e pequeno porte. Vale lembrar, no entanto, os desafios ambientais e trabalhistas do setor. Esta semana o Greenpeace fez um protesto contra a exploração em Abrolhos (BA), mais importante banco de corais do Atlântico Sul. E, no último mês, a maior empresa brasileira do setor, a Petrobras, teve oito trabalhadores mortos em acidentes de trabalho, todos terceirizados. De acordo com centrais sindicais, a companhia precisa dar mais segurança aos seus trabalhadores.

Veja as notícias:

BNDES poderá participar do capital de companhias do setor de petróleo e gás
O BNDES poderá ter participação acionária em empresas fornecedoras de materiais e equipamentos destinados à cadeia de petróleo e gás, inclusive em companhias de pequeno e médio porte. Essa participação se daria por meio do braço de investimentos do banco, o BNDESPar.

BNDES será sócio da Foxconn
Ainda não há prazo definido para o início do projeto da nova fábrica, e sua localização também é incerta. Nessa fase das negociações, o governo busca reunir dois tipos de sócios brasileiros para o investimento – estimado em US$ 8 bilhões, dos US$ 12 bilhões que a Foxconn teria prometido investir no Brasil.

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Como o Pronaf do Lula encolheu até chegar ao patamar do FHC

Nem Kadafi, nem imperialismo

O Conselho de Segurança da ONU e a União Européia aprovaram sanções contra Muamar Kadafi. Ou seja, os poderosos do mundo se voltaram contra o ditador. Nessa situação, algumas forças de esquerda caem na tentação de ver no governante líbio um aliado. Não é nada disso.

Kadafi assumiu o poder através de um golpe de estado contra um regime monárquico, em 1969. Aproveitou a Guerra Fria para se alinhar ao imperialismo soviético. Nada a ver com socialismo ou o poder para o povo. Só uma maneira de se posicionar no tabuleiro mundial de modo a ganhar vantagens.

Nessas quatro décadas, o ditador líbio já expulsou bases militares americanas e inglesas de seu país. Apoiou a causa palestina. Logo depois, expulsou palestinos da Líbia. Teve sua residência oficial bombardeada por Reagan. Aderiu à Guerra ao Terror de Bush. Desde então, tornou-se queridinho de gigantes do petróleo como BP, Exxon e Chevron. Protegido de Raytheon e Northrop, corporações da indústria armamentista. Virou compadre de multinacionais como a Dow Chemical.

Tudo isso sem falar na total falta democracia e participação popular. Kadafi não é aliado da esquerda mundial só porque os poderosos do planeta deram-lhe as costas. O que o imperialismo quer é apagar pavio que incendeia o mundo árabe. Deter as revoltas populares que ameaçam seus interesses numa das regiões mais valiosas do planeta.

Não é verdade que aqueles que incomodam os imperialistas são necessariamente nossos aliados. Pensar assim é fazer o jogo que interessa ao inimigo. É confundir socialismo com ditadura política, personalismo, fanatismo, conservadorismo, estupidez.

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Mais de Sérgio Domingues em http://pilulas-diarias.blogspot.com
Leia também: A ditadura do mito do socialismo ditador

Não bate no bico

É batata! Aparece uma matéria maluca como essa da ligação Dirceu-Telebrás e é só esperar – em, no máximo, 48 horas, surge uma outra que revela o real objetivo da cascata. No caso da Folha, a matéria explicativa é a que dá conta que a Oi teria oferecido R$ 140 milhões aos credores da Eletronet, ficando, em troca, com a exclusividade de uso das fibras óticas. Caso feche o negócio, a Oi teria um acréscimo significativo em sua rede, botando pressão nas concorrentes Telefônica, Claro e TIM.

Fiquei apenas com uma dúvida – qual das concorrentes obteve os documentos sobre a oferta citados na matéria e os entregou à Folha? Meu palpite é que foi a Telefônica, que tem sofrido tremenda pressão da Oi em São Paulo, ainda mais depois do “caladão” que impôs à capital paulista, gerando enorme prejuízo financeiro e de imagem à empresa. Pode ser a Claro também, mas como essa já tem as linhas das Embratel não seria assim tão ameaçada com o movimento da Telecom brasileira. A TIM eu duvido porque já tem muitos problemas para arrumar mais esse.

Enfim, seja quem for, a matéria folhosa de hoje revela que realmente a de ontem era mesmo um lobby empresarial brabo, travestido de “simples” ataque político.

[Do Coleguinhas]

Primeiro encontro dos atingidos pela Vale será em abril

Diversas organizações sociais e sindicais do Canadá, Chile, Argentina, Guatemala, Peru e Moçambique estão convidadas para o 1° Encontro Internacional de Populações, Comunidades, Trabalhadores e Trabalhadoras atingidos pela Vale do Rio Doce. O encontro será entre os dias 12 e 15 de abril de 2010, no Rio de Janeiro.

A Vale, dona que quase todo o minério de ferro do solo brasileiro, é hoje uma empresa transnacional, que opera nos cinco continentes. É a 14a companhia do mundo em valor de mercado, explorando os bens naturais, as águas e o solo, precarizando a força de trabalho dos povos em todo o mundo.

Ela foi uma empresa estatal até 1997, quando foi privatizada de maneira fraudulenta pelo governo Fernando Henrique Cardoso a um valor sub-avaliado de R$ 3,4 bilhões de dólares. Desde então gerou lucro de 49 bilhões de dólares, e distribuiu a seus acionistas 13 bilhões de dólares, êxitos que obtém às custas da exploração dos bens naturais, das águas e solo e pela precarização da força de trabalho dos povos nos países que explora.

(Do Boletim NPC)

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