“Foi-se Chico Mendes. Foi-se Dorothy Stang. Foram-se muitos outros que lutavam pela floresta e por seus povos. E continuam indo. Esta semana, foi a vez de Sebastião Bezerra da Silva, 40 anos, encontrado morto e com sinais de tortura numa fazenda em Dueré, Tocantins. Mal saiu na imprensa.
Secretário regional do Movimento Nacional dos Direitos Humanos e coordenador do Centro de Direitos Humanos de Cristalândia (TO), Sebastião levava a causa em frente mesmo com constantes ameaças de morte. Até que elas se concretizaram. Coisa comum numa Amazônia em que a governança insiste em não dar as caras.
O Greenpeace esteve na região há pouco menos de uma década, seguindo os passos da soja, que começava a avançar pela região. “O Cerrado e a floresta estavam sendo destruídos, a concentração de terra aumentava cada vez mais e os relatos de trabalho escravo apareciam de todos os cantos”, recorda Nilo D’Ávila, que estava à frente da pesquisa de campo na época. Foi quando Sebastião cruzou nosso caminho. “Ele fez um relato preciso da movimentação da indústria da soja. E foi quem primeiro me alertou sobre a relação entre desmatamento e trabalho escravo”.
Era esse seu trabalho: alertar para tudo aquilo que estava fora da ordem na região. Acabou pagando o preço, 14 anos depois que Pe. Josimo Morais Tavares – outro precursor da defesa dos direitos humano por ali – também morreu pelos mesmos motivos. A roda continua viva. Até quando?”
Notas públicas
Leia abaixo a nota da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e do Movimento Nacional de Direitos Humanos sobre o tema:
“NOTA PÚBLICA
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) vem a público manifestar sua indignação pelo bárbaro assassinato de Sebastião Bezerra da Silva, representante regional do Movimento Nacional dos Direitos Humanos em Tocantins.
Nesta oportunidade, solicitamos ao Governo do Estado de Tocantins que empenhe toda sua energia para apurar os fatos e responsabilizar os autores. Todos os indícios apontam para uma execução motivada pela defesa dos Direitos Humanos que sempre pautou a ação e a conduta de Sebastião Bezerra da Silva.
A garantia da liberdade dos defensores dos Direitos Humanos é condição para o pleno exercício da democracia e dos direitos fundamentais de cada cidadão e cidadã de nosso país.
Brasília/DF, 1º de março de 2011
André Lázaro
Secretário-Executivo da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.”
“Nota de Pesar – Defensor de DH é assassinado em Tocantins
Coordenação Nacional do MNDH – Movimento Nacional de Direitos Humanos
É com o mais profundo pesar e a mais profunda consternação que o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) registra o assassinato, no Estado de Tocantins, do advogado Sebastião Bezerra da Silva, coordenador do Centro de Direitos Humanos de Cristalândia (TO) e secretário do Regional Centro-Oeste do MNDH.
O corpo de Sebastião Bezerra da Silva, 40 anos, foi encontrado na madrugada desta segunda, 28 de fevereiro, na fazenda Caridade, em Dueré, sul do Estado.
Sebastião Bezerra da Silva foi torturado antes de ser morto e o assassino ou os assassinos tentaram enterrar apressadamente seu corpo.
Neste momento de dor e de pesar, o Movimento Nacional de Direitos Humanos vem solidarizar-se com a família de Sebastião Bezerra da Silva e com todos os seus companheiros do Regional Centro-Oeste do MNDH.
Desde o momento em que soube do acontecido, o MNDH vem acompanhando pormenorizada e intensivamente as informações a respeito do assassinato.
Confiamos que as autoridades policiais do Estado de Tocantins realizem um trabalho diligente na apuração dos fatos, e confiamos, igualmente, na transparência das investigações para que este crime contra um defensor dos Direitos Humanos não fique impune.
Brasília-DF, 28 de Fevereiro de 2011.