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O mundo é uma canção Beatle

Quando vi a capa de Sgt Peppers não podia acreditar no que via. John, Paul, George e Ringo, os Beatles, vestidos de farda militar, cada uma de uma cor, uma verde, outra vermelha, outra azul e uma outra amarela. Sorrindo, com aquele olhar bondoso e sereno, alegre, que ainda guardo na minha memória, depois de tantos anos.

Era como que estivessem dizendo, está tudo bem. Não se preocupem que isto também vai passar. Isto racionalizo agora, na hora apenas me alegrei com uma alegria que o tempo não apagou. Hoje pensava em algo que já disse em outro escrito, mas que desta vez veio com mais clareza. Há uma canção Beatle para cada momento.

Quando acordo, é Good morning, good morning, e aquele cantarolar de galos na madrugada anunciando o dia que chega. Enseguida, Mr. Postman, o carteiro trazendo boas notícias. Já mais tarde, o sol chega, Here comes the sun. E pela tarde afora, para onde você for, é Michelle, Girl, She loves you, Mr Moonlight, The Inner Light, Sumbarino Amarelo, She´s a woman, Kansas City, Chains, Boys, Misery, Can´t buy me love, Dear Prudence, Blackbird.

A vida é uma canção Beatle, não é verdade? É, sim, ó se é, é mesmo.

John Winston Lennon, Os Beatles

Pouca coisa poderia ser dita que não batesse no estereótipo. Algo gostaria, no entanto, de tentar dizer, a partir do visto em entrevista de Raimundo Fagner na televisão, dias atrás. Lembrava o compositor e cantor cearense, em moda nos tempos em que cheguei ao Brasil, como os Beatles influenciaram a sua vida. Contou que seu pai e seus irmãos disputavam o banheiro para cantarem em casa, e que ele mesmo aprendera sozinho a tocar violão, graças ao instrumento ganhado de padres salesianos que elaboravam tais tipos de objetos, na sua infância.

Escutando Fagner falar, vendo seu rosto e as suas expressões, lembrava de algo que ele dissera: I wanna hold your hand foi a canção que mais o impactou naquela época, na sua infância. Algo nele mudo para sempre ao ouvir essa música. Comigo, fora Twist and Shout. Lembro que quando ouvi pela primeira vez essa canção, estava no colégio interno. Um colega nosso, Ringo Tealdi, tocava bateria e algumas dessas canções eram ouvidas entre nós. Eu soube que eu era possível, que eu podia ser. Anos depois, já de volta em Mendoza, na minha cidade natal, os Beatles continuavam a tocar e a subir nas paradas de sucesso. Cada novo disco deles era como que um embalo para a vida.

Eram tempos difíceis. Anos de fatos que não devo lembrar. Fatos que marcaram a minha vida ao ponto de hoje, mais de 30 anos depois, não poder mais ouvir algumas palavras, sequer alusões a determinadas coisas. Mas não é para lembrar o que hoje não posso nem devo lembrar, e sim para lembrar o que me permitiu estar agora, nesta manhã de 31 de agosto de 2009, estar escrevendo estas coisas, e lembrando daqueles quatro cantores e músicos que tornaram possível a vida de gente como eu, espalhada aos milhares pelo mundo afora. Estados Unidos se prepara para instalar bases militares na Colômbia, repetindo fatos e situações que levaram a sentimentos que nunca mais devem se repetir na vida de ninguém.

É necessário que se reflita e em tempo se detenha essa iniciativa. Não é tempo disso, das coisas que os que passamos por aqueles anos, não podemos sequer evocar. É tempo de recordar o que deteve a escalada da violência naqueles e nestes tempos, e que os Beatles, de um modo ou de outro, estão sempre a recordar: Nothing you can do that can´t be done. Não há nada que possas fazer que não possa ser feito. Tudo que precisas é amor. All you need is love. Love, love, love. Qué pode superar o poder do amor. Nem crenças, nem instituições ou ideologias, nada pode ser maior ou mais forte do que o amor. E ele toca o coração de todas as pessoas. Nesta madrugada em eu estas linhas são escritas, quero recordar algo que também os Beatles e John Lennon nos lembram. O poder da paz, e aí a figura de Mahatma Gandhi é evocada, sem dúvida.

Paz e amor, bandeiras daqueles tempos e destes tempos, de todo tempo. Obrigado, John, obrigado, Paul, George, e sobre tudo Ringo. Obrigado por nos lembrarem, agora e sempre, de que há uma única revolução inadiável, uma que não envolve agressões a ninguém nem a nós mesmos, e que está únicamente nas nossas mãos, a revolução interior. Gandhi disse alguma vez, ter assumido a imensa tarefa de tentar mudar a única pessoa que ele poderia mudar, a sí mesmo. Os Beatles nos lembram da luz interior, a mudança de mente e coração, imprscindível para ver o outro e a outra pessoa como um semelhante. Não um igual que não somos produção em série, mas um semelhante, alguém em que, como em mim e nas folhas e nas estrelas, no brilho do sol e no mistério da vida, está manifesta a vontade desse ser a quem chamamos de Deus, a Divina Mãe, Pacha Mama, Inti, ou como possamos chamá-lo ou chamá-la.

Que mais do que de novas crenças, precisamos de novas experiências, como Gandhi fazia e os Beatles também fizeram e continuam a fazer, com a sua constante presença no mundo de hoje. Paz, amor. Não sei como possam a ti, leitor ou leitora, soar estas palavras. Não estou querendo convencer ninguém de nada. Apenas partilhar coisas que sinto que devo escrever nesta madrugada.

Diálogo sobre Los Beatles y otras cosas

–Había un conjunto tocando allá abajo. Eran unos tales de Beatles, que hacían el mayor suceso y lo siguen haciendo, aún disueltos, hace ya tantos años. ¿Te acordás? Éramos jóvenes ainda. Qué linda palabra, ainda, deberían hacer más palabras así. Era una de las que más me gustaba cuando llegué a Brasil, en 1977.
–Ya tuviste que decir el año. Qué van a decir.
–¿Y yo qué sé lo que puedan decir? Sé que desde ese año todo empezó mejorar cada vez más en mi vida, y sigue mejorando día a día, minuto a minuto, todo el tiempo, todos los días, incesantemente.
–Hoy llevamos a mi suegro al Memorial São Francisco. E eu com isso? Ya sé que no te importa, pero lo quería decir y lo dije.
–Bueno, sí, lo dijiste, ¿y ahora?
–¿Ahora qué?
–Eso es lo que pregunto yo, ¿y ahora qué?
–Ahora los Beatles siguen cantando, como hace tanto tiempo, como siemrpe, y una moto pasa, y te tengo que dejar para irme a trabajar, ¿está bien?
–Tudo bem, como decimos aquí. Hasta al vista, até, inté, até mais, obrigado, viu?
— Desculpe qualquer coisa. Vou indo.
–Es muy lindo. Chau.
–Chau. Gis la revido, como dice mi papá, que no sé qué quiere decir pero suena bien. Mi papá cumple 88 años el viernes. ¿Qué te parece?
–Fantástico, ¿qué me va a parecer?
–No sé, te pregunto nomás, no seas así, no te pongas quisquillosa.
–Apois, é isto, tenho mais o que fazer, vou me embora, vou dar o fora. Tudo bem?
–Tudo bem. Chau, até.
–Ya vas a empezar de nuevo?
–No, ahora me voy mismo. Chau y até, viste, che?
–Chau