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Contas de campanha: Prefeitura do Rio paga R$ 19,9 mi por área de doador de Eduardo Paes

A Prefeitura do Rio pagou R$ 19,9 milhões para comprar o terreno de uma empresa de propriedade de dois doadores da campanha de 2008 do prefeito Eduardo Paes (PMDB). O imóvel será usado para oreassentamento da favela Vila Autódromo, na zona oeste, que dará lugar a instalações para os Jogos Olímpicos de 2016.

Proprietária do imóvel, a Tibouchina Empreendimentos pertence à Rossi Residencial e à PDG Realty. As duas empresas fizeram doações à campanha de Paes. A Rossi contribuiu com R$ 200 mil – o que corresponde a 20% do total que a construtora distribuiu nas últimas eleições municipais. A PDG fez pelo menos nove doações ao prefeito, no valor total de R$ 45 mil, por meio de empresas controladas por ela. A campanha de Paes arrecadou R$ 11,4 milhões.

Matéria da Alfredo Junqueira e Bruno Boghossian n’O Estado de S.Paulo: http://bit.ly/y2dn8J

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O governador Sérgio Cabral não cumpriu o acordo que fez com a Assembleia Legislativa para a reposição dos dias parados pelos professores que fizeram greve por melhores salários.

O acordo foi feito entre as lideranças e foi vetado, agora, pelo governador: “Cabral não tem nenhuma consideração pelos professores. Ele paga mal e descumpre um acordo que foi feito pelos seus líderes na Assembleia. Pelo acordo, não haveria descontos dos dias parados com a reposição das aulas perdidas”, afirmou o deputado Paulo Ramos.

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DESRESPEITO COM A DEMOCRACIA. Secretário de Transportes do Rio, Julio Lopes diz que traçado do metrô é para eleger o sucessor do Cabral em 2014.

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Saúde do Rio de Janeiro em último lugar

Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde (IDSUS), divulgado nesta quinta-feira (1/3), aponta o Rio de Janeiro como a capital com a pior avaliação.

Do deputado Marcelo Freixo: “O pref. do Rio está irritado com o Ministério da Saúde. A cidade ficou em último lugar no índice de desempenho do SUS. Quem devia estar irritado?

O prefeito alega que os dados são de 2009 e 2010. Pergunta que não quer calar: quem era o prefeito na época? Francamente! Basta visitarmos hoje as unidades de saúde para percebermos o quanto o desrespeito ao cidadão permanece.

Na última pesquisa do IBOPE, 54% dos entrevistados elegeram a saúde pública como maior problema do Rio. Esse dado não é de 2010, é atual.

Um dos grandes problemas é a privatização via Oorganizações Sociais (OS’s). Compare o salário de um médico concursado com outro contratado por uma OS. Vergonha!”

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BOA INICIATIVA. Rio Sem Homofobia faz consulta pública de livros e filmes LGBT para acervo de bibliotecas estaduais. Sugestões serão analisadas, selecionadas e estarão disponíveis ao público em geral.

“Para o recebimento de sua sugestão, solicitamos que a mensagem encaminhada contenha a informação se é livro ou filme, o título completo da obra, a autoria, o ano, a editora ou a produtora”, afirmam os organizadores. Para colaborar, basta enviar as sugestões até o dia 12 de março de 2012, para o e-mail riosemhomofobia@gmail.com

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METRÔ RIO. Domingo, dia 11, às 10h, tem ato em Copacabana (posto 6), em defesa do Metrô que queremos.

Não tem dinheiro, Cabral?

O Governo do Estado do Rio de Janeiro, quando pressionado para aumentar salários de professores, bombeiros, policiais, entre outras categorias, sempre vem com a mesma resposta: suposta limitação do orçamento estadual.

Enquanto se recusa, sob esse pretexto, a conceder aumento real para os servidores, com incrível facilidade costuma dispensar ou pagar milhões à iniciativa privada.

Por exemplo, só no D.O. do Executivo do último dia 6 de fevereiro, houve a publicação de contratos de quase R$ 200 milhões ao todo. Caso da contratação emergencial e sem licitação de duas empresas pela Secretaria de Obras, para intervenções na Região Serrana, e, pela Secretaria de Saúde, de O.S. pertencente ao empresário Arthur César Filho, conhecido como Rei Arthur pelo alto volume de dinheiro obtido dos cofres públicos em contratos e isenções fiscais concedidos pelo governo Cabral.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) deu entrada no início do mês, na Alerj, em requerimento de cópias de todos esses contratos, para averiguar as condições em que foram realizados.

Acesse o pronunciamento de Freixo e os requerimentos em http://bit.ly/xdTR5a

10 motivos para #ForaCabral

Para Cabral é normal…

1 – Viajar no jato do amigo empresário pra ir à festa do amigo empreiteiro que tem contratos de R$ 1 bilhão com o governo do Estado do Rio de Janeiro. (O Globo)

2 – Renunciar R$ 50 bilhões para os cofres do Estado, beneficiando as empresas do amigo empresário, termas, motéis e até mesmo o cabeleireiro da primeira-dama Adriana Ancelmo Cabral. (Veja)

3 – Achar ético e moral que a primeira-dama, apesar de ter uma função pública, represente com o seu escritório de advocacia a Supervia e o Metrô Rio, concessionárias do governo. (EstadãoO Globo)

4 – Permitir que a mesma primeira-dama receba, através de sua ONG Rio Solidário, toneladas de aço e ferro dos desmontes dos bondes tombados de Santa Teresa como doação para revenda. (Blog do vereador Paulo Messina)

5 – Descumprir decisões judicias e sucatear os bondes de Santa Teresa, que são um símbolo da cidade, causando a morte de sete pessoas. (Jornal do BrasilAMAST)

6 – Manter o empresário Julio Lopes à frente da Secretaria de Transportes, como se nada disso tivesse acontecido. (O Globo)

7 – Prometer em campanha diminuir os gastos com publicidade, mas no governo aumentá-los para R$ 99 milhões ao ano. (Estadão)

8 – Gastar com a terceirização de veículos da Polícia Militar valor suficiente para triplicar a frota. (Extra)

9 – Construir Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) pré-moldadas de metal mais caras do que as de alvenaria. (O Globo)

10 – Chamar de vândalos e irresponsáveis os bombeiros que em qualquer lugar do mundo são chamados de heróis. (O Globo)

Se você também não acha nada disso normal e não vê a hora de Sérgio Cabral sumir do Rio de Janeiro e ir para Paris de vez, compartilhe.

É preciso educar Sérgio Cabral

“Sem resolvermos a questão da segurança, reconquistando territórios e reduzindo os índices de criminalidade a níveis aceitáveis, não é possível melhorarmos a educação do nosso povo e obtermos desenvolvimento econômico, mediante a atração de investimentos e a criação de empregos para a população. A paz é sinônimo de liberdade e desenvolvimento. Sem ela, tudo o mais perde o sentido.” – Sérgio Cabral Filho, em artigo para a Folha de S. Paulo, 28 de setembro de 2010  (disponível aqui)

O artigo do Governador Sérgio Cabral intitulado ‘A paz traz liberdade e desenvolvimento’, publicado pela Folha de S.Paulo, precisa ser comentado. Em todo o texto, escrito a convite do próprio jornal (estendido apenas ao candidato do PV, Fernando Gabeira), Cabral fala de duas questões que considera prioritárias no mandato que passou e no que provavelmente virá: segurança e educação.

É muito claro para qualquer morador do Rio de Janeiro que a questão da segurança de fato foi uma prioridade dos últimos quatro anos do governo estadual. A campanha midiática sobre as UPP’s não poderia ser ignorada por ninguém, tamanho foi o apoio dos setores ricos da sociedade – e seus jornais – ao novo modelo de combate ao crime. No entanto, é preciso sempre duvidar do que a grande mídia divulga, e nesse caso, pensando por outro lado a questão da violência e a sua atual forma de combate, é possível vislumbrar uma certa inversão de valores e condutas.

As Unidades de Polícia Pacificadora possuem em sua essência uma clara contradição – a necessidade da arma para manter a ordem (e não a paz, como se costuma dizer). A paz é justamente uma situação que não requer a presença de armas, que não requer a dominação de uns por outros, onde não há brecha para o terror. Não preciso perguntar ao Policial Pacificador se ele tem medo de uma invasão de traficantes e nem à população de favelas ocupadas se ela tem medo do policial. Afinal de contas, o que representa a polícia para essa população? Aliás, o que representa o Estado para essa população? São a mesma coisa, visto que é a violência a única manifestação da presença estatal em suas vidas.

As UPP’s estão aí para mudar esse paradigma e ‘trazer a República para a favela’, segundo o próprio Secretário de Segurança Pública, Mariano Beltrame – a quem o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa, chamou de ‘um menino de Deus’. Que lindo seria se fosse verdade. A atuação do Estado na retomada das áreas onde se desenvolveu o tráfico (é diferente dizer que elas estão ‘tomadas pelo tráfico’, como sugere a mídia e os governantes) é obviamente uma iniciativa de remoção da pobreza. Basta, para comprová-lo, constatar que as favelas que já receberam as UPP’s estão em áreas ricas ou estratégicas do território estadual (visando os espetáculos da Copa e das Olimpíadas). Basta olhar para o lado na Linha Vermelha – trajeto do aeroporto internacional para a zona sul – e ver ‘muros de isolamento acústico’, ao invés de pobreza. Ou então escutar os moradores de favelas ‘não-pacificadas’, que reclamam que a redução do número de traficantes nas zonas nobres da cidade e arredores aumenta o número deles nas zonas pobres – migração já admitida inclusive pelo próprio governo. É também uma iniciativa de expansão do capital, bastando, para comprová-lo, avaliar o interesse direto das suas instâncias maiores nas UPP’s: Coca-Cola, Xerox, Rede Globo, Fundação Roberto Marinho, Light, Banco Mundial – todos tiveram representação na cerimônia de lançamento da UPP Social (nome e roupa nova para a mesma política), em agosto.

Beltrame, o 'Menino de Deus', em cerimônia de lançamento da UPP Social

Mas o pior de tudo é o meio como se faz essa remoção: através da violência. Através da violência contra o pobre. Cabe aqui perguntar: quem inaugura a violência? O pobre, historicamente oprimido, privado de direitos básicos, desenvolvido no berço da discriminação social, política e econômica, convivendo com toda a sorte de atrocidades? Ou o Estado, historicamente ausente por opção político-econômica, discriminatório por determinação social e violento por necessitar de sua ordem burguesa? É aceitável que se puna o pobre por sua própria miséria? Aliás, essa miséria é só dele, como levianamente  sugeriu o Arnaldo Jabor em recente artigo publicado no Estadão e republicado na Veja – demonstrando aliás a essência de sua diferença para um verdadeiro indivíduo de esquerda? Ou será que a miséria do meu semelhante, numa transferência catártica simples de se fazer, é também minha? Por último, quem é o verdadeiro traficante, o garoto da favela que é morto pela polícia ou os barões da droga, vizinhos de porta do Governador? O fato é que, independentemente da resposta, os ‘meninos de Deus’, armados com seus caveirões da paz, invadem as casas, revistam suspeitos, interrogam cidadãos com seus métodos religiosos, matam quem tiverem que matar – paladinos da justiça que são – e tomam de assalto o território alheio. Em resumo, violentam a população pobre das favelas.

Agora, apesar de toda a violência que já praticamos contra as populações pobres, elegemos o maior símbolo dela (de nós para eles e, a reação óbvia, deles para nós) como o réu último dessa conjuntura que se impõe na nossa realidade. Invade, mata, e bota na conta do Papa, é faca na caveira – e aplausos da classe média! A meu ver há aí, sim, uma grande inversão.

Não bastasse toda essa conjuntura desigual por execelência, o Governador vem a público dizer que sem controlar a violência (da maneira que ele entende que deve ser controlada) é impossível melhorar a educação do nosso povo. Pelo amor de Deus, não é possível que seja necessário dizer que esta é a maior das inversões que se pode cometer no âmbito da Educação. O Governador que vai se reeleger está enganado, está errado em uma questão onde não cabe mais o erro. É justamente o contrário disso, e todo e qualquer educador, pedagogo, filósofo da educação, até mesmo os mais reacionários sabem: o instrumento mais eficaz, mais racional, mais verdadeiramente efetivo na promoção da paz (da verdadeira paz) é o desenvolvimento da educação de qualidade, emancipadora e crítica e de acesso universal. Essa é uma inversão de valores que, fruto de aspirações políticas ou de ignorância, não se pode admitir de um Governador de nenhum Estado do Brasil ou do mundo.

Ao Sr. Governador é preciso mostrar que a paz se conquista não com armas, não com violência, não com criminalização do pobre. A paz se conquista com Justiça Social, conceito que este representante – afundado em seu compromisso com os interesses da burguesia – jamais entenderá. Chamar menino de favela de otário, bajular de maneira asquerosa o presidente, viver em cobertura de luxo e com carro blindado, isso tudo é muito fácil. O difícil é abrir o espaço de seu governo para o diálogo, para a diferença e finalmente, para o injustiçado. Isso ele não faria nem se quisesse.

A SEMANA #04 :: A história da Mercearia Paraopeba

A história da Mercearia Paraopeba, em Itabirito (MG), e seus personagens. Ah, se a TV mostrasse nosso Brasil… que bom seria. (Dica de @B_r_a_n_c_a via @brsamba)


Pense bem antes de votar. Fundamental é não fazer alianças com qualquer um.


Coluna semanal, atualizada toda segunda-feira, via GBlog e @gustavobarreto_. Sugestões para gustavo@consciencia.net

Nota de repúdio ao governador Sérgio Cabral

O atual governador do estado do Rio e candidato à reeleição Sérgio Cabral assumiu finalmente o descaso de sua gestão com a população mais pobre. Perguntado sobre a queda do número de matrículas na rede estadual de ensino, Cabral respondeu:

– Além de a rede privada ser muito grande no estado, há muito tempo a classe média perdeu a confiança de matricular seu filho em colégio público. E não há melhora de qualidade em serviço público se não há classe média usufruindo dele. (…)

As declarações, publicadas no jornal O Globo deste domingo, revelam que o verdadeiro compromisso do atual governo estadual é apenas com a parcela mais rica da população. Isso porque, em sua fala, Cabral demonstra que o alvo das políticas públicas promovidas por sua gestão é apenas a camada mais rica da sociedade fluminense.

No entanto, vale lembrar que, segundo o último levantamento do Ipea, só o número de indivíduos vivendo em domicílios pobres ou indigentes no Rio chega a quase quatro milhões de pessoas – estatística que não leva em conta, por exemplo, os que nem domicílio possuem. Ao mesmo tempo, isso explica também o fato de o estado ter ficado, no último levantamento do Ideb, em penúltimo lugar no ranking nacional.

A melhora dos serviços públicos apenas quando estes são usufruídos pela classe média não é uma prerrogativa de governo: é uma escolha política. Aliás, tal posicionamento é notório não apenas na educação, mas também na atual política de segurança e na gestão da saúde pública, entre outros setores do estado.

A propósito, é deplorável também o fato da matéria “Cabral: ‘Você não muda isso em quatro anos’” não problematizar a questão, aceitando a posição do governador como natural e se dedicando a tratar apenas aspectos pontuais mas não estruturais de seu posicionamento.

A declaração de Cabral contradiz todo o seu discurso eleitoreiro que dissimula uma falsa preocupação com as classes mais pobres e historicamente menos favorecidas. Reflete, afinal, que o governo de Cabral é um governo que fecha os olhos à pobreza e à miséria e que se dedica exclusivamente à manutenção da ordem estabelecida.

E por detrás dos panos…

Sem participação popular e com baixa implementação de políticas sociais, UPPs não conseguem resolver o problema estrutural da violência carioca, a exclusão

Policial militar observa o Santa Marta: para morador da Maré, UPP pratica remoção maquiada

(foto: João Reis)

Um ano e meio depois de sua instalação, a primeira Unidade de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro, no Morro Santa Marta, virou referência do novo modelo de política de segurança pública do estado. Apesar disso, especialistas e moradores criticam o sistema atual e afirmam que ele não funciona tão bem quanto o resto da sociedade imagina.

Para o morador do Complexo da Maré, F. M., a experiência do Santa Marta mostrou como a UPP é ineficiente em promover uma desfavelização efetiva. Segundo ele, é claro que com as unidades houve a diminuição do número de mortes e de confrontos, mas elas trouxeram também a tributação dos moradores.

– Com as UPPs entra também a conta de luz, de água e de outros serviços que acabam afetando o custo de vida. As pessoas que vivem nas favelas não têm condições de pagar essa tarifação e há, portanto, uma remoção camuflada, porque as pessoas saem da comunidade para locais mais longe dos grandes centros – analisou.

Para ele, o que acontece na verdade é uma mudança no perfil socioeconômico local que passa, então, a ser ocupado por uma classe média baixa que não se importa em morar em uma favela mas sem violência e com tributações reduzidas.

E é essa a experiência de J. L., antiga moradora do Santa Marta. Segundo ela, muitos amigos e conhecidos já tiveram que deixar o morro por conta da alta do custo de vida no local.

– Os aluguéis todos subiram. Hoje, para morar num conjugado pequeno você tem que pagar pelo menos uns 400 reais – disse.

Para Silvia Barboza, assessora de fomento à produção habitacional do município do Rio de Janeiro, o projeto das UPPs falha porque deveria estar atrelado a uma política de geração de emprego e de renda.

– É preciso atuar na origem dos motivos que levaram essas pessoas a essa situação de empobrecimento, não adianta só polícia – explica Silvia, que trabalha na Secretaria de Habitação do Rio. – É claro que o custo de vida sobe porque está sendo levada infra-estrutura, mas é preciso criar mecanismos para que as pessoas que vivem ali possam pagar por esses serviços.

Para ela, antes de tudo é preciso uma articulação da política de segurança pública com outras pastas, como a de Desenvolvimento Econômico. Uma ação a ser fomentada poderia ser, por exemplo, segundo ela, a atuação da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) nas comunidades que estão recebendo as UPPs. Por meio do sistema Firjan, de acordo com Silvia, podem ser criadas possibilidades de capacitação de moradores para trabalharem em mercados carentes de mão de obra qualificada hoje.

Apesar disso, para o Subtenente Ronaldo Tancredo, que faz parte da equipe responsável pela UPP Santa Marta, o novo modelo não é só policial e está trazendo também ações socioculturais que têm como objetivo integrar e estimular a inclusão da favela.

– Temos que ter uma ação policial efetiva, claro, mas é fundamental também trabalhar com as crianças, que são o futuro da comunidade – explica ele. – Temos projetos de artes marciais e de música, por exemplo. Tem criança que antes nem falava com os oficiais e que hoje se dá super bem com a gente. Isso é policiamento comunitário.

Para Silvia, no entanto, o grau de associação das UPPs à políticas sociais ainda é muito baixo, principalmente no que diz respeito à geração de renda. Segundo a arquiteta, é necessário, em primeiro lugar, que haja uma participação maior das comunidades envolvidas.

– A UPP não é suficiente porque não dá voz à população local. É preciso fortalecer as formas próprias de organização de cada favela, respeitando a autonomia dos movimentos populares. A comunidade precisa participar da decisão de suas próprias questões – afirma. – A pessoa que não é escutada é um potencial agressor porque sofre de uma violência internalizada.

Como exemplo, Silvia cita o Mutirão, projeto pai do Favela Bairro e forte nas décadas de 80 e 90 no Rio. O objetivo era levar infra-estrutura às favelas mas, ao mesmo tempo, criar espaços coletivos para discussões públicas que incentivassem a consciência política e a organização da população para conquistar sua cidadania.

– O Mutirão levava saúde, obras, reflorestamento e capacitação junto com um processo de participação popular. Assim as mudanças aconteciam mas permanecia a rede social que existia nas comunidades. É provável que o governo não trabalhe com isso hoje porque não existe interesse em ouvir de fato a população.

Para C. N., morador do Santa Marta que participa da Associação de Moradores, existem muitas falsas verdades no projeto das UPPs. Ele conta que o policiamento não é efetivo e que se resume aos arredores da instalação da unidade e à entrada da favela. Além disso, segundo ele, os índices de violência teriam aumentado dentro da própria comunidade.

– Hoje em dia a gente tem que dormir de porta fechada. Tem que ficar tudo trancado porque senão roubam mesmo. E não adianta ir falar com os policiais, não acontece nada. Antes não era assim, pelo menos o tráfico tinha controle sobre o que acontecia aqui dentro – explica.

Para Tancredo, é normal que cresça o índice de outros delitos já que antes a maior parte dos crimes cometidos estava relacionada ao tráfico de drogas, que deixou desempregados muitos moradores. Além disso, segundo ele, existem também questões legais que atrapalham que todos os criminosos sejam presos.

– Tem gente que eu vejo, passo todos os dias, e sei que é ladrão ou que era traficante. Mas eu não posso fazer nada, não tenho provas.

Sobre o baixo policiamento na favela, Tancredo afirmou ainda que existem oficiais fazendo rondas pela comunidade durante todo o dia. Apesar disso, enquanto a equipe de reportagem esteve presente no morro, por cerca de três horas só um oficial em serviço foi encontrado fora das instalações da unidade principal.

Como se livrar da pobreza?

Em um primeiro momento até que foi fácil. Com ajuda das mais modernas técnicas de edição, os vídeos oficiais da candidatura do Rio de Janeiro à sede dos Jogos Olímpicos de 2016 fizeram desaparecer todas as favelas da cidade. O problema é que, uma vez campeões, Eduardo Paes e Sérgio Cabral perceberam que, veja só, elas ainda estavam por lá – e mais: abrigando quase um terço da população do Rio em condições notoriamente precárias de infra-estrutura. A questão, então, passou a ser como livrar-se delas o mais rápido possível.

A estratégia, no entanto, havia começado muito antes. O governo já tinha lançado a chamada Unidade de Polícia Pacificadora, que começou em uma experiência – hoje considerada modelo – na favela Santa Marta. O objetivo, segundo a Secretaria de Segurança Pública, era devolver o controle do território, antes em poder de bandidos, aos seus verdadeiros donos: os moradores das comunidades ocupadas. A ideia, em um primeiro momento, parece boa, mas é preciso cuidado.

Antes de tudo, é importante lembrar que, para a grande maioria dos moradores, viver nas favelas não é uma escolha, é sua única possibilidade. Não é vontade de ninguém, vale reforçar, morar em localidades sem infra-estrutura de serviços. Afinal, ninguém realmente deseja viver sob a ocorrência constante de apagões, falta de água e problemas de esgoto. Mas como fazer quando é preciso sustentar uma família inteira e não há um sistema de transporte de qualidade que possibilite o deslocamento casa-trabalho? Simplesmente não há opção.

As famílias que vivem nas favelas só estão lá porque não têm poder aquisitivo para estar em um lugar com mais qualidade de vida. As UPPs, no entanto, desconsideraram esse fato e trouxeram uma tarifação de serviços – ainda por cima de qualidade duvidosa – que não permite que grande parte da comunidade ali instalada possa pagar. Conclusão: os moradores, sem a capacidade de suportar essa tarifação, vêem-se obrigados a se mudar das favelas para outros lugares mais afastados dos grandes centros. Ocorre, como se pode notar, uma remoção camuflada, já que os morros passarão a ser ocupados por uma classe média baixa, estes sim com poder aquisitivo para pagar pela tributação. A violência e a pobreza, no entanto, continuam existir – mas agora longe dos olhos da Zona Sul carioca.

Mas é claro que seria inviável fazer isso com todas as favelas. Até porque algumas delas, como as localizadas ao longo da Linha Vermelha, atrapalham mais por estarem localizadas justamente na principal rota de boas vindas da cidade. E é então que a Secretaria Municipal de Obras anuncia a construção de uma “barreira acústica” ao longo de uma das maiores vias expressas do Rio.

A tática seria quase perfeita, se não fosse por uma questão. Depois de abandonar a população dos morros cariocas por décadas, o poder público voltaria finalmente sua atenção às favelas para proteger seus moradores do grave problema da poluição sonora causada pelos carros que trafegam em alta velocidade na Linha Vermelha? Dificilmente.

O projeto é, obviamente, um reflexo da política do poder público com relação às comunidades carentes que, ao invés de buscar promover as favelas por meio da oferta de uma infra-estrutura habitacional de qualidade, prefere cobri-las dos olhos das elites, atuando a partir da violência policial e de uma remoção maquiada. E o pior: é aplaudida pela sociedade que, embriagada pela mídia, parece não ver as implicações reais de tais medidas.

Parece evidente, portanto, diante do contexto em que nos encontramos, a necessidade de parar e refletir sobre a atual política adotada pelo poder público com relação às favelas. E, segundo essa lógica, é necessário que haja, antes de tudo, participação das comunidades afetadas pelos planos do governo – e não somente a aplicação direta de decisões tomadas nas portas fechadas dos gabinetes.

Sobre a cobiça humana

Causa, em mim, uma angústia profunda ao testemunhar, pela televisão, os recentes “incidentes da Natureza” na região central de Angra dos Reis e na Ilha Grande. Mas não só por conta das perdas irreparáveis. Também pela lógica que a manterá, depois deste momento inicial de “indignação”.

Perdi um amigo em Paraty, Bernhard Metzger, e fui obrigado a reconhecê-lo no mesmo IML de Angra dos Reis, apesar da minha indignação com o descaso das autoridades locais. Ele era suíço e não tinha qualquer obrigação – assim como milhares de turistas – de saber que o mar da região não é para brincadeira. Nenhuma placa de sinalização na praia de Trindade, onde ele se despediu de nós. Nenhum informe. Quase nenhum apoio oficial diante do nosso desespero. Na semana seguinte, eu observava durante horas a praia. Famílias inteiras passavam pela mesma situação. Desconhecem totalmente os perigos da ressaca, o poder da Natureza, pouco sabem sobre os riscos iminentes.

No lugar de alertas, recebemos apenas panfletos mostrando “as maravilhas de Paraty”, oferecendo serviços, hotéis luxuosos. Em toda a região é assim. A mídia, igualmente, nem sequer nota. Toda semana alguém é pego pela ressaca, pelos deslizamentos, por falta de aviso. O problema é complexo, mas temos que dar o nome aos bois: é descaso e cobiça.

Na época, sem holofotes, eu tive que ficar durante uma semana em Paraty buscando Bernhard no mar, quase que implorando por atenção. Alguns exemplos de reação: o gabinete da prefeitura de Paraty duvidou da minha palavra (!) e o editor-chefe do RJTV tratou com desrespeito a namorada do rapaz, fazendo pouco caso do ocorrido e desdenhando da dor alheia (!!). Por uma questão de ética, não citarei o nome desse monstro em forma de humano, mas ele sabe quem é. Um típico editor de TV, a la Boris Casoy. A solidariedade veio apenas da população. Das pessoas reais.

Mídia a serviço da espetacularização

No caso mais recente, nem sequer os holofotes ajudam: a imprensa se limita a noticiar as histórias trágicas, depoimentos de parentes, sobreviventes e conhecidos. Mostra ainda recortes de depoimentos de políticos, que se limitam a desinformar o público ou fazer demagogia, conforme demonstrarei neste artigo. E voltam a se preocupar com o turismo, com os negócios. É tudo muito previsível. Que atividade mais medíocre é o jornalismo hoje em dia.

Uma única reportagem no Jornal da Band dia dois de janeiro – que por sinal é uma das poucas que não está no site deles! (aqui) – possui uma fala lúcida (e se alguém souber de outras, comente aqui nesta postagem). Um especialista, geólogo, é objetivo e direto neste vídeo: “Neste tipo de região o ser humano não poderia nem chegar perto”. Poderia, claro, explorar, conhecer, como eu mesmo gosto de fazer. Mas nunca, em hipótese alguma, ocupar. Em seguida o Jornal da Band mostrou um infográfico que deixa claro o posicionamento do especialista. É aterrorizante ver o quanto a tragédia estava anunciada.

“Esta área é instável naturalmente. Ocorrem escorregamentos mesmo sem a ação humana. No caso específico do desabamento na Ilha Grande era uma das situações naturais mais críticas, mais instáveis que se conhece. Costa bastante íngreme, com uma camada delgada de solo sobre uma laje de rocha impermeável, ou seja, de forma nenhuma poderia ser autorizada a ocupação do sopé daquelas encostas”, disse o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, em matéria no Portal Terra.

Essa situação era conhecida. E não só pelos especialistas.

Nesta matéria, e em outras declarações, o vice-governador e secretário de Obras do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, confirma em letras garrafais que a situação era conhecida. Há muito tempo. Agora, apenas após uma tragédia, eles “anunciam” mudanças (será?). Ou alguém com o mínimo de bom senso acredita que, da noite para o dia, um político qualquer “descobre” que existem 40 pontos suscetíveis a deslizamentos em uma única cidade?!

Sobre o turismo e a cobiça humana

A região de Angra dos Reis, todo o seu entorno – incluindo Paraty, onde meu amigo morreu – é conhecida pelos riscos. Mas a equação é conhecida: a mais importante secretaria destas cidades não é a de obras, e sim a de turismo. É pelo turismo que os políticos da região – e também os do governo estadual – pensam. É com o bolso.

Voluntaria ou involuntariamente, turistas e moradores em encostas, se afetados por qualquer tragédia, são considerados “efeito colateral”. Este é o pior tipo de “ação humana”: o descaso. O que deve ser feito não o é em nome do lucro, do turismo, do interesse em gerar renda a partir da exploração de áreas perigosas.

Eu já fui na Ilha Grande dezenas de vezes e a praia mais longe que visitei foi Aventureiro. Mesmo não sendo geólogo, sei que é inimaginável que se ocupe aquela região seriamente. No mínimo, com chuva forte, é essencial a evacuação imediata.

Solução e tecnologia já existem há anos

O Brasil já possui tecnologia. É simples. Basta o município se interessar em fazer uma carta geológica. Seria fácil se os nossos ditos “representantes” não estivessem comprometidos com medidas eleitoreiras e burras, como atenuar as exigências que restringiriam a ocupação desordenada do solo pelo homem. Foi o que o Senhor Sergio Cabral, co-responsável por estas mortes, fez. Quase toda a “imprensa”, que se diz livre, omitiu esta informação. Na TV a informação sumiu. Reproduzo matéria de suma importância na Folha de S. Paulo:

Tragédia anunciada
Renata Lo Prete

Em setembro, três meses depois da edição do decreto de Sérgio Cabral (PMDB) que permitiu ocupação maior em áreas de preservação ambiental, como o local da tragédia em Angra dos Reis, o Ministério Público Federal na região elaborou um parecer apontando irregularidades nas novas regras.

O texto alerta para o risco de crescimento imobiliário desordenado e defende que esse tipo de alteração territorial só poderia ser feita por meio de lei. O relatório foi enviado ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Para referendar o documento, os procuradores se ampararam em uma decisão sobre um caso semelhante do ministro Celso de Mello, do STF.

Dado seu caráter tolerante para com as construções de ricos e famosos, as regras do governo do Rio para Angra ganharam na região o apelido de “decreto Luciano Huck”, em alusão à casa que o apresentador tem no local. […] (Matéria reproduzida no Blog do Noblat)

“Nossa briga sempre incluiu uma política que modificasse essa ocupação desordenada. A gente derrubava tanto casas populares como mansões clandestinas que ocupavam encostas, mas ainda é difícil mudar a realidade”, afirmou Carlos Minc, que foi secretário de Meio Ambiente do Estado. A pressão política que representa a cobiça humana, infelizmente, é maior.

Agora Cabral vem posar de administrador competente, “denunciando” a situação em Angra?! Demagogo. Assassino. É isso o que ele é. Se não foi ele o responsável, que aponte os responsáveis pelas autorizações criminosas, ou deve ser ele o responsabilizado. Porque, no fundo, este é o ponto central: quem autorizou o decreto assassino de Cabral?

E assim seguimos, perdendo nossas Yumis e Bernhards (fotos ao lado). Pessoas com sonhos do tamanho do mundo.

Lembro-me que Bernhard comprou uma edição de um jornal popular carioca. Ele se preocupara em aprender o português antes de vir para o Brasil.

Bernhard conhecera, por mim, a situação de uma creche em Shangrilá, periferia de Belford Roxo, em que 72 crianças de famílias da região passavam enormes dificuldades. Essa é uma das regiões mais problemáticas do Brasil, com toda sorte de dificuldades. Queria conhecer o local, intervir na realidade. Era um apaixonado pela vida e não admitia sua supressão a quem quer que fosse. Como Yumi, que transparece com facilidade sua grandeza espiritual. E assim seguimos, sem nossas Yumis e nossos Bernhards.

Se a Natureza não tem representante legal, falemos por ela. Não é culpa da chuva. É a ação humana, ou sua falta. É a cobiça pelo lucro e o desrespeito à Natureza os verdadeiros responsáveis por esta situação. Até quando?

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Dedicado aos pais de Bernhard Metzger e a Ana Rachel Dantas, pela surpreendente força interna. E ao Bernhard, que está conosco.