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Eixos

Há dias em que apenas posso registrar o essencial

O fundamental

Aquilo em que a vida consiste

O pertencimento que dá uma sensação de segurança e paz

Acolhimento

A identidade que redescubro quando escuto outras pessoas

O passado que finalmente passa e se vai

Vêm a plenitude da vida

A ascensão do dia a dia

A subida que me aproxima do sublime

Somente esta vivência intensa e plena

Pode me dar a força para permanecer de pé

E prosseguir na caminhada

Subindo, sempre a subir

Escutar com o coração, falar com o coração,

Repõe a minha humanidade

A vida não pode ser cancelada

A vida não é cancelada

Não existe algo tal como o cancelamento da vida

O que há é uma potenciação que joga o passado para atrás

Quanto mais nos empenhamos em intensificar os nossos elos com o presente

Criar, amar, construir coletivamente, fazer o bem, partilhar

Desfrutar da vida como um dom divino

Eis o que deve cada vez mais demandar o nosso esforço, centramento, ação e atenção.

Sentido da política

Os governos deveriam agir para garantir a preservação e o pleno desenvolvimento da vida da cidadania. Isto, que pode parecer uma obviedade, necessita ser relembrado. Ou seja, os governos não devem ser o lugar da gestão de interesses particulares, corporativos ou setoriais.

Há de haver na sociedade um espaço em que todas as pessoas tenham iguais direitos e sejam tratadas sem qualquer tipo de discriminação. Uma outra obviedade que precisa ser relembrada.

Nos dias de hoje, o que temos, o que se vê, é um desvio total da função do estado. Grupos contrários aos mais elementares direitos da pessoa vêm usando o lugar da gestão pública para obtenção de benefícios pessoais ou classistas.

Esta desfiguração chega às pessoas como um total menosprezo pela vida. A política passa a ser uma palavra desprezível. Sinônimo de impunidade para todo tipo de delitos. No entanto, pode ser o contrário. Pode ser o exercício do crescimento na diferença.

O estímulo ao convívio enriquecedor de manifestações culturais de diferentes origens. Promover a participação cidadã na política vêm sendo um objetivo proclamado e praticado pelas Nações Unidas, o Papa Francisco, e um sem-número de entidades e movimentos civis.

Não se trata somente da política partidária, mas também das ações cidadãs que promovem os direitos humanos, sociais e laborais. O exercício da atividade educativa e artística, o esporte, as habilidades manuais como o artesanato, criam nas pessoas sentimentos de bem-estar.

Redescobrimos o valor do jogo, da brincadeira, o prazer de criar. Percebemos que a nossa vida tem outros sentidos do que o de meramente produzir ou ganhar dinheiro. A política se refaz desde dentro para fora, desde a pessoa para a comunidade e na comunidade. E daí para a sociedade mais abrangente, para a humanidade.

Rumos

Todas as coisas mudam constantemente. Nem sempre para melhor. A imprensa e a comunicação não são uma exceção.

A tendência parece ser cada vez mais a substituição do estudo e a reflexão pela mera reação. A história e a filosofia cedem espaço para falas desconexas.

Como se o presente e a vida fossem descartáveis. É preciso ter cuidado com as modas. Podemos ter entrado num beco sem saída.

Não existem atos sem consequência. O descuido, a desatenção, pagam-se caro, em qualquer esfera de atuação.

Quando dissociamos a nossa presença das nossas origens, facilmente caímos em descaminhos. A vida é uma superação contínua que, no entanto, crava as raízes em bases sólidas.

Caráter. Determinação. Valores superiores. Solidariedade. Trabalho em comum. Conhecimento da trajetória da humanidade. Criação. Criatividade.

As tecnologias digitais têm disseminado uma cultura da superficialidade. Nada vale muito a pena. Tudo passa num instante. Nada exige demasiado esforço.

Está aí um país e um mundo, famílias e pessoas tropeçando em ações desconexas, dissociadas. A vida passa rápido. Que tenha valido a pena ter vivido!

A vida tem algum sentido?

Poder dizer o que nos acontece tem efeito sanador. Falar de nós mesmos, de nós mesmas. Partilhar a nossa experiência. Como está sendo a nossa vida? O que temos aprendido com o confinamento? A vida tem algum sentido? Qual o sentido da minha vida?

A pandemia tem exposto a céu aberto o sistema em que vivemos. O dinheiro é mais do que a vida, no atual sistema. Hoje é recordada a data em que foi dado o golpe de estado de 2016 no Brasil.

Uma eleição viciada conduziu à presidência da república alguém sem qualquer qualidade. Um setor significativo da cidadania colaborou com a quebra da ordem institucional. Pessoas indiferentes à dor alheia. Gente que não têm qualquer sentimento com relação às demais pessoas.

Os mortos vivos. As mortas vivas. Gente que não quer saber de nada. Não querem se dar ao trabalho de ver qual é o seu lugar na sociedade. Aceitam qualquer cousa que ouvem. Não refletem.

Morrerão como você e eu. A diferença é que alguns de nós fazemos de tudo por honrar a vida. Dar um sentido às horas do dia. Ninguém é mais do que ninguém.

Somos todos, todas, parte do tecido cósmico. Podemos nos integrar a essa textura tênue que sustenta tudo e contêm tudo. Esse é o tesouro que nenhum ladrão pode roubar.

Resiliência

Cheguei ao Brasil 44 anos atrás. Buscando uma esperança. Uma possibilidade de recomeço. Aqui fui acolhido. Encontrei o meu lugar.

O tempo passou. Terminaram a ditadura brasileira e a ditadura argentina. Começavam tempos de redemocratização. O tempo continua a passar. Veio a internet. A globalização. A pandemia. Parece um furacão.

Fui e continuo a ser uma pessoa que têm um entranhável amor à vida. As violências e carências que vivenciei me potenciaram para uma maior sensibilidade e solidariedade.

Especialmente com relação a quem sofre abusos, injustiça, exclusão. Tornei-me avô, o que significa que de acordo com critérios externos, que sou velho.

Algo no meu coração me diz que velho é quem perde a esperança, quem baixa os braços. Eu não desisti nem de mim mesmo nem da minha história de vida nem dos meus valores.

Continuo muito parecido àquele menino que consegui transformar as dores em flores. Não é vanglória. É recordação. É justiça. Fiz isto comunitariamente. Coletivamente. Família e amigos. E a rede da Terapia Comunitária Integrativa.

Fluindo

Tenho estado a refletir sobre a confiança como oposta ao medo, a aceitação e a compreensão como contrárias à culpa, e a fluidez e integração ou integridade como opostas à compulsão e à dissociação. A fluidez contém a confiança, a aceitação, a compreensão e a integração.

Esta meditação tem sido praticada em situações cotidianas. E a conclusão provisória a que tenho chegado é que a fluidez, que pode ser expressa em uma imagem de água correndo, contém tudo que preciso para viver no dia a dia. A fluidez pode ajudar muito a enfrentar todo tipo de situações da vida diária.

Também tenho refletido sobre a conotação positiva, uma atitude que é encorajada no contexto da Terapia Comunitária Integrativa. Valorizar o que funciona, valorizar o processo, nunca o resultado. Valorizar a minha própria experiência e a experiência das pessoas à minha volta.

Centrar os esforços na minha mudança pessoal, e não na expectativa de que os outros mudem. Privilegiar a co-participação em contraposição à atitude de “salvador da pátria”. A Terapia Comunitária Integrativa é um lugar para ser. A Terapia Comunitária Integrativa é um lugar onde se pode viver.

Tudo isto contribui para uma cultura de paz. Inclusão ao invés de pre-conceito. Paz interior, derivada de uma atitude fluente, que me permite compreender que sou tão humano quanto as pessoas com quem convivo ou com quem me encontro no dia a dia. A minha vida não precisa (não pode nem deve) se reduzir a uma teoria ou a uma ideologia.

Posso ter minhas crenças, assim como outras pessoas as delas. Mas a vida é mais do que crenças. A vida não é uma ideologia nem uma teoria. A vida é um mistério inexplicável, do qual me aproximo quando me entrego a essa inexplicabilidade. Então vem a mim uma força calada que me conduz e me consola.

Sinto-me integrado a um movimento que inclui pessoas de diversas classes sociais e categorias profissionais e níveis educacionais. Pessoas de diferentes culturas e nacionalidades. É o movimento da Terapia Comunitária Integrativa, onde re-encontrei e continuo a re-encontrar a minha identidade pessoal e o meu sentido de viver.