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Presencia de Elias Cândido

Hoy es el día siguiente. Me trato de acostumbrar a mantener un cierto tiempo de espera frente a la partida de una persona amiga. Dejar que vaya llegando el sentimiento de qué es lo que esta persona dejó en mí, que la muerte no irá a borrar.

Me cuesta todavía pensar que no volveré a verte, Elías. Una parte mía se fue con vos. Quedará tu risa, quedará tu manera clara y directa de hablar, tu sentimiento de solidaridad incansable. La transparecia de tu alma, que llegaba de manera imediata a mi interior.

¡Cómo aprecio la simplicidad con que andabas entre nosotrxs! Sin ningún rebusque. ¡Cómo es grande el impacto de quien actúa por presencia! Esto es lo que me quedará de vos, Elías, sobre todo. Tu presencia. Ella me va a acompañar hasta que me toque a mí también ir hacia el lugar donde estás.

Vida

La vida es un mínimo

Casi una inexistencia

Su brevedad eterniza momentos

Esto ha sido así desde siempre

No cambia porque la tecnología digital

La inmediatez, la prisa, la presión,

Puedan estar empujándonos continuamente

A una especie de pérdida de lo presente.

Esto que está aquí

Este lento transcurrir de la tarde hacia la noche

Las respiraciones que se suceden ininterruptas

Toda esta inmensidad inalcanzable

Nos abriga y guarda

No busco expresar cosas nuevas

Sino más bien no olvidar las más antiguas

 

Mensagem do Papa Francisco na missa pelos migrantes

O Salmo Responsorial nos lembrou que o Senhor ampara os estrangeiros, assim como às viúvas e os órfãos do povo. O salmista faz menção explícita destes segmentos particularmente vulneráveis, tantas vezes esquecidos e expostos à exploração. Os estrangeiros, as viúvas e os órfãos são os sem direito, os excluídos, os marginalizados, pelos quais o Senhor tem especial solicitude. Por isto Deus pede aos israelitas que tenham uma especial atenção para com eles.

No livro do Êxodo, o Senhor adverte o povo para não maltratar de algum modo as viúvas e os órfãos, porque Ele escuta seu grito. A mesma advertência é retomada duas vezes no Deuteronômio, com o acréscimo dos estrangeiros entre os segmentos a serem protegidos. E a razão desta advertência é explicada claramente no mesmo livro: o Deus de Israel é Aquele que faz justiça ao órfão e à viúva, que ama o estrangeiro e lhe dá pão e vestimenta. Esta preocupação amorosa para com os menos privilegiados é apresentada como um traço distintivo do Deus de Israel, e também é demandada como um dever moral a todos aqueles que quiserem pertencer ao Seu povo.

Eis por que devemos ter uma atenção particular para com os estrangeiros, como também pelas viúvas, pelos órfãos, bem como por todos os descartados dos nossos dias. Na Mensagem acerca do 105º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, repete-se como um refrão o tema: “Não se trata apenas de migrantes”. E é verdade: não se trata só de estrangeiros, trata-se de todos os habitantes das periferias existenciais que, à semelhança dos migrantes e dos refugiados, são vítimas da cultura do descarte. O Senhor pede-nos para colocarmos em prática a caridade nos seus embates. Pede-nos para restaurar sua humanidade, junto com a nossa, sem excluir ninguém, sem deixar fora a ninguém.

Mas, contemporaneamente ao exercício da caridade, o Senhor nos pede que reflitamos sobre as injustiças que geram exclusão, em particular por conta dos privilégios de poucos que, para serem mantidos, se produzem em detrimento de muitos. O mundo atual é, a cada dia, mais elitista e mais cruel com os excluídos. É uma verdade que provoca dor: este mundo é, a cada dia, mais elitista, mais cruel para com os excluídos. Os países em via de desenvolvimento continuam a ser empobrecidos em seus melhores recursos naturais e humanos, em benefício de poucos mercados privilegiados. As guerras interessam apenas a algumas regiões do mundo, mas as armas, quanto à fabricação, são vendidas e produzidas noutras regiões, que depois não querem mais ter responsabilidade pelos refugiados, produzidos por tais conflitos. Quem paga o preço são sempre as crianças, os pobres, os mais vulneráveis, aos quais se impede de se sentarem à mesa e para eles só restam as migalhas do banquete.

É neste sentido que devem ser compreendidas as palavras duras do profeta Amós, proclamadas na primeira Leitura: Ai dos que vivem tranquilos e apenas afeitos aos seus prazeres em Sião, que não estão preocupados com a ruína do povo de Deus, que se apresenta evidente aos olhos de todos. Eles não se preocupam com a ruína de Israel porque estão demasiado ocupados com garantir vida boa para si, comida deliciosa e bebidas refinadas. É impressionante, como a uma distância de 28 séculos, tais advertências conservam intacta sua atualidade. De fato, também hoje, a cultura da boa vida nos leva a pensar em nós mesmos, tornando-nos insensíveis aos gritos dos outros, trazendo a indiferença em relação aos demais, levando mais à globalização da indiferença.

Ao final, corremos o risco de nos tornar, também nós, tal como aquele homem rico de que nos fala o Evangelho, que não dá atenção ao pobre Lázaro “coberto de feridas, ansioso para se alimentar com o que caiu da mesa”. Preocupado em demasia em comprar roupas de grife e em organizar lautos banquetes, o rico da parábola não vê o sofrimento de Lázaro. Também nós, por demais preocupados em preservar nossa boa vida, corremos o risco de não nos darmos conta do irmão e da irmã em dificuldade.

Mas, como cristãos, não podemos ficar indiferentes frente ao drama da velha e nova pobreza, da mais escura solidão, do desprezo e da descriminação de quem não pertence ao nosso grupo. Não podemos permanecer insensíveis, com o coração anestesiado, frete à miséria de tantos inocentes. Não podemos não chorar. Não podemos não reagir. Peçamos ao Senhor a graça de chorar, aquele pranto que converte o coração ante tais pecados.

Se quisermos ser homens e mulher de Deus, como pede São Paulo a Timóteo, devemos conservar sem mácula e de modo irrepreensível o mandamento; e o mandamento é amar a Deus e amar ao próximo. Não podem ficar separados! E amar ao próximo como a si mesmo quer dizer também empenhar-nos seriamente em construir um mundo mais justo, onde todos tenham acesso aos bens da terra, onde todos tenham a possibilidade de se realizarem como pessoas e como famílias, onde a todos sejam garantidos os direitos fundamentais e a dignidade.

Amar ao próximo significa sentir compaixão pelo sofrimento dos irmãos e das irmãs, aproximar-se, tocar suas feridas, condividir suas histórias, para manifestar concretamente a ternura de Deus em suas adversidades. Significa fazermos próximos de todos e peregrinos machucados e abandonados nas estradas do mundo, para aliviar suas feridas e leva-los ao lugar mais próximo de acolhimento, onde se possa prover suas necessidades.

Este santo mandamento foi Deus quem deu ao Seu povo, e o marcou com o sangue do Seu filho Jesus, para que seja fonte de bênçãos para toda a humanidade. Para que, juntos, possamos empenhar-nos na construção da família humana, de acordo com o Projeto original, revelado em Jesus Cristo: todos irmãos, filhos do único Pai.

Hoje também temos necessidade de uma mãe, e nos confiamos ao amor materno de Maria, Senhora do caminho, Senhora de muitos caminhos dolorosos. A ela confiamos os migrantes e os refugiados, assim como os habitantes das periferias do mundo e aqueles que se fazem seus companheiros de viagem.

Trad: AJFC

Digitação: EAFC

As sete palavras-chave do Concílio Vaticano II

A redação desta revista solicitou-me que fizesse uma apresentação das sete palavras-chave do Vaticano II. Claro que qualquer escolha desse tipo é um pouco arbitrária.

No entanto, sem dúvida há algumas palavras bem representativas do significado do Concílio — ainda que não houvesse consciência clara desde o início daquilo que essas palavras deviam significar. Os últimos documentos são, com certeza, mais representativos porque os bispos estavam mais conscientes daquilo que queriam — sobretudo daquilo que se esperava deles naquela hora da história.

Surpreendentemente, o Concílio realizou-se no final de uma época histórica. Dois anos depois da conclusão do Concílio, explodiram as revoltas dos estudantes nos principais centros do mundo, e essas revoltas eram os primeiros sinais de uma imensa revolução cultural que ia começar nos anos 70 do século XX. Tratava-se de uma nova economia, inspirada numa globalização imperial na qual as multinacionais se tornariam, em menos de 40 anos, as donas do mundo; um movimento de mudança cultural cujo sinal mais evidente era a emancipação das mulheres. Realizou-se a desconstrução de todas as culturas tradicionais, e a TV construiu uma nova cultura de massas que conquistou grande parte do mundo. Tudo isso não foi, nem podia ser, imaginado pelos Padres do Concílio. Eles procuraram fazer uma adaptação da Igreja a um tipo de sociedade em via de extinção. Logo depois, apareceu a nova sociedade, e, até agora, a Igreja não reagiu. Não somente não reagiu, como também se dedicou a procurar impedir essa evolução, como se ainda tivesse audiência nesta nova sociedade.

Assim mesmo, depois destes 40 anos que mudaram o mundo como nunca antes na história — porque desta vez mudaram o mundo inteiro —, é possível salvar o que pode ser útil ainda hoje das mensagens do Vaticano II, na espera de um novo Concílio de estrutura completamente distinta, para oferecer um início de resposta a esta nova sociedade que está se construindo.

1. Primeira palavra: homem

No Concílio, os documentos foram escritos em latim, e, nessa língua, a palavra homo (“homem”) refere-se aos dois sexos — varão e mulher. Em português prevaleceu o costume de restringir o sentido da palavra “homem”, fazendo dela uma palavra que significa as pessoas de sexo masculino, o que torna a linguagem mais difícil. Homo deve ser traduzido por “ser humano”, embora essa expressão seja pouco elegante. Aqui tomamos a palavra “homem” no sentido da humanidade completa.

No seu discurso conclusivo do Vaticano II, o Papa Paulo VI quis destacar os pontos fundamentais da mensagem do Concílio. Nesse discurso ele deu a maior ênfase ao tema do “homem”. Na convicção dele, esse tinha sido o tema fundamental. O Concílio quis dirigir-se ao ser humano contemporâneo.

O Papa falou tanto do homem, e sobretudo do homem contemporâneo, que no final do seu discurso fez esta pergunta: “Tudo isto e tudo o mais que poderíamos dizer acerca do Concílio terá porventura desviado a Igreja em Concílio para a direção antropocêntrica da cultura moderna? Desviado, não; resolvido, sim. Mas quem observa honestamente este interesse prevalecente do Concílio pelos valores humanos e temporais não pode negar que tal interesse se deve ao caráter pastoral que o Concílio escolheu como programa”[1].

Com certeza, o Papa estava muito marcado pela Constituição Gaudium et Spes quando preparou o seu discurso de conclusão. De fato, podemos dizer que essa Constituição constitui a exposição mais clara das intenções do Concílio. A preocupação pela humanidade estava subjacente em todos os documentos porque sempre houve o interesse de apresentar as realidades da Igreja como resposta às necessidades ou às aspirações do homem moderno. Mas a Gaudium et Spes explicitou o que estava meio implícito nos outros documentos.

Desde então o ser humano mudou muito. Tivemos a concentração da economia nas mãos das multinacionais, a afirmação do império americano, o enfraquecimento de todos os Estados, uma cultura do individualismo, a desintegração social, a começar pela família e pelo mundo do trabalho, o fenômeno da exclusão dos “inempregáveis”, a multiplicação de religiões novas que tornam obsoleta a estrutura secularizada da sociedade moderna. O que triunfa hoje são os fundamentalismos. As Igrejas tradicionais perderam a sua relevância. A situação do homem atual é bem diferente daquela que estava vivendo os seus últimos suspiros quando se reuniu o Concílio. Claro que as soluções oferecidas naquele tempo, são, na atualidade, obsoletas. Hoje, a Igreja terá de fazer mudanças muito mais radicais, se quiser ser ouvida no mundo, e não ficar fechada num gueto — como já está acontecendo. Mas, em todo o caso, o Vaticano II rompeu com a série de Concílios da cristandade — o que já é um grande mérito.

Uma palavra vizinha da palavra homem é a palavra mundo, também muito destacada pelo Vaticano II. O mundo são os seres humanos. No Vaticano II ainda não apareceram os problemas ecológicos e o mundo significa a humanidade com toda a sua complexidade, com todos os aspectos da vida humana.

2. Segunda palavra: liberdade

A Declaração sobre a liberdade religiosa Dignitatis Humanae foi um dos documentos que suscitaram maior oposição. Boa parte do episcopado ainda não havia percebido que a cristandade já pertencia ao passado. Continuava a viver como em época anterior à Revolução Francesa. No entanto, o otimismo prevaleceu e o documento foi aprovado.

Essa declaração limitava-se à liberdade religiosa. O reconhecimento da liberdade religiosa não era coisa tão extraordinária, mas o importante era que a palavra liberdade entrava no vocabulário eclesiástico. Além disso, com o reconhecimento da liberdade religiosa, tornou-se possível o ecumenismo e a evangelização de todos os povos.

A Constituição Gaudium et Spes dedicou um parágrafo à “liberdade” (n. 17). Aludiu a esse tema diversas vezes. De modo geral, ela acrescenta à palavra liberdade um adjetivo que tende a limitar a sua extensão. Fica claro que essa palavra dava medo — como continua a dar medo. João Paulo II sempre usava a palavra liberdade com um adjetivo. O Concílio diz “liberdade justa”, “liberdade responsável”, “liberdade honesta”, “liberdade ordenada”, “liberdade autêntica”. O próprio Papa Paulo VI, no seu discurso de conclusão, exaltando os valores humanos, fala das aspirações humanas “à vida, à dignidade da pessoa, à honrada liberdade, à cultura, à renovação da ordem social, à justiça, à paz”[2]. Somente a liberdade foi limitada por um adjetivo: “honrada”. Nem a paz nem a justiça, nem a dignidade, nem a cultura devem ser “honradas”.

Mas o que importa é que a palavra liberdade seja usada sem condenação. Na tradição anterior, quando um documento eclesiástico usava a palavra liberdade, era no sentido de condenar. Agora a palavra recebe um sentido positivo. O Concílio ainda está longe do que propõe São Paulo, mas já dá alguns passos nesse sentido.

A adoção da palavra liberdade foi decisiva, pois inaugurou nova época. Essa palavra foi até aplicada à vida dentro da Igreja. Isso significou mudança de clima. Alguns católicos já se sentiram animados a criticar certos documentos ou certas decisões da hierarquia, o que teria sido impensável anteriormente. Estamos longe ainda de uma Igreja em que os leigos se sintam livres, mas os primeiros passos foram dados.

3. Terceira palavra: povo de Deus

“O Concílio, mais do que das verdades divinas, se ocupou principalmente da Igreja, da sua natureza, da sua estrutura, da sua vocação ecumênica, da sua atividade apostólica e missionária”[3]. Assim dizia Paulo VI no discurso de conclusão do Concílio. Que o tema da Igreja estava sempre presente e que a Igreja conciliar queria definir o seu lugar e a sua estrutura no meio do mundo atual é evidente. O tema da Igreja está em todas as páginas. Porém há muitos elementos que eram tradicionais e foram pura repetições. Mas a intenção do Concílio era destacar alguns aspectos da Igreja mais atuais nos nossos tempos.

O Concílio quis explicitamente destacar o tema do povo de Deus, escolhido como prioritário para expressar a realidade da Igreja. Os temas do Corpo de Cristo ou do templo do Espírito Santo já haviam sido integrados na eclesiologia tradicional. Mas o tema do povo de Deus, apesar de ser central na eclesiologia do Novo Testamento, não havia merecido nenhuma atenção na eclesiologia tradicional. Seguindo os passos de Belarmino, a eclesiologia tradicional definia a Igreja pela sua estrutura hierárquica. A Igreja definia-se pelos seus poderes. Os leigos eram simplesmente receptivos, passivos. O seu papel consistia em receber o que a hierarquia lhes dava — os chamados meios da salvação — e em obedecer. A hierarquia era a forma e os leigos eram a matéria.

O Concílio quis explicitamente corrigir essa eclesiologia. De certo modo, podemos legitimamente pensar que o que estava mais na mente dos Padres conciliares era exatamente a superação da eclesiologia tradicional, que já estava em contradição com todos os movimentos apostólicos do século XX.

Pela expressão povo de Deus, os Padres conciliares queriam afirmar o papel ativo de todos os batizados, particularmente dos leigos. Os leigos têm participação ativa em todas as obras de evangelização da Igreja e têm formas de participação nos ministérios da hierarquia. Não são cristãos de segunda categoria, pois todos são chamados à mesma santidade, todos têm vocação missionária. Todos os cristãos são iguais, embora haja diversidade de ministérios entre eles. A missão dos leigos consiste em dar testemunho do Reino de Deus no meio do mundo e trabalhar para transformá-lo, para que se torne presente nele o fermento do Reino.

Antes do Concílio, os Papas já haviam aceitado a colaboração ativa de certos movimentos de leigos como participação na missão da hierarquia. Mas agora o Concílio proclama que não se trata de participação nos ministérios da hierarquia, mas de vocação própria.

Esse reconhecimento do papel ativo dos leigos não foi seguido de mudanças estruturais. O novo direito eclesiástico reconhece pouquíssimos direitos aos leigos. No entanto, o novo código reconhece a legitimidade do direito de associação dos leigos. Já não estão na dependência constante do clero. Isso vale principalmente para as mulheres, que não tinham nenhum meio para conquistar a autonomia. Porém, há evidente contradição entre as afirmações teóricas do Concílio e a prática. Até hoje as afirmações teóricas não têm aplicação concreta.

Ao lado da expressão povo de Deus podemos colocar as palavras vizinhas comunidade e comunhão, muito usadas pelos documentos conciliares. De fato, a abertura conciliar permitiu a proliferação de pequenas comunidades que despertaram a suspeita da hierarquia, mas perseveram com o apoio de alguns membros dela. Essas comunidades tomam apoio na teologia conciliar sobre a Igreja.

A promoção teórica dos leigos encontrou na prática bastante oposição na hierarquia, até que João Paulo II conseguiu restaurar quase por completo a imagem tradicional do bispo, que preserva a sua autoridade e impede que os leigos tomem iniciativas relevantes.

A Cúria romana suprimiu do seu vocabulário a expressão “povo de Deus” desde 1985. De igual maneira a Cúria procurou eliminar a expressão “comunidade eclesial de base”. Conseguiu eliminar essa “expressão perigosa” do documento sinodal da América. Continua lutando para que tal expressão nunca mais apareça num documento oficial. Continua falando dos leigos, mas com insistência na participação deles na missão do clero. Quer leigos a serviço dos movimentos diocesanos ou paroquiais, leigos discipli­nados, obedientes e sem iniciativas. Quer que os leigos estejam à disposição do clero dentro de um quadro pastoral clerical em que eles não têm nenhum poder de decisão. Dessa maneira, a novidade conciliar fica esvaziada.

O perigo é que os chamados “novos movimentos leigos” — que de leigos nada têm, porque são totalmente clericais — se fechem em movimentos de gueto, alheios à vida social, ou melhor, ocupando posições de poder dentro do aparelho que dirige o mundo, mas sem contato com a população.

Estamos começando a nos interrogar à luz da história. Na Idade Média, durante séculos, os leigos pediram uma reforma da Igreja — que lhes facultasse ascensão dentro dela. Com o Concílio de Trento acabaram-se todas as aspirações da sociedade leiga. O erasmismo e o partido humanista foram destruídos, perseguidos e eliminados da Igreja católica. Em nome da luta contra o protestantismo, formou-se um sistema de gueto que fez aliança com os reis absolutos, os ditadores daquele tempo. Hoje há movimentos católicos poderosos que se infiltram no sistema das multinacionais e se legitimam em nome da luta pela ortodoxia, uma luta fundamentalista. Esses movimentos poderiam esmagar todas as tendências que se manifestaram no Vaticano II. A principal ameaça é que a Igreja católica adote o sistema de marketing que deu tanto sucesso às Igrejas protestantes chamadas eletrônicas nos Estados Unidos, e que a Igreja faça aliança com o sistema das multinacionais — rainhas absolutas na atualidade. Deus queira que a história não se repita!

4. Quarta palavra: colégio episcopal

A palavra colegialidade não foi usada pelos textos conciliares. Porém, desde então, ela foi usada frequentemente para comentar os textos e expressa uma das grandes aspirações da assembleia e da Igreja inteira.

Depois do Vaticano I, o episcopado viu suas atribuições sendo cada vez mais reduzidas. Pio IX havia lançado a Igreja romana numa grande ofensiva contra a modernidade. Ele queria mobilizar todas as Igrejas nesse movimento. Havia, em várias regiões, tentativas de reconciliação com o mundo moderno. Tudo isso foi implacavelmente reprimido, e Pio IX iniciou um movimento de nomeações episcopais com o critério da total submissão à Cúria romana. A partir dele começou a tendência de concentrar todas as nomeações episcopais nas mãos do Papa, e essa concentração de poder entrou no primeiro código de direito canônico (1917) sem resistência por parte do episcopado — por sinal totalmente absorvido pela Guerra Mundial. Desde Pio IX os bispos foram ficando cada vez mais controlados pela Cúria e esse movimento atingiu o auge no pontificado de Pio XII. Naquele tempo, ninguém imaginava o que aconteceria a partir de 1979 — porque era difícil imaginar que pudesse haver concentração de poder ainda maior do que no pontificado de Pio XII.

Quando João XXIII anunciou a convocação do Concílio Vaticano II, a Cúria romana organizou a sabotagem da preparação do Concílio. Não conseguiu impedir a sua realização, mas continuou organizando a oposição durante todo o Concílio. O temor da Cúria era que os bispos adquirissem maior autonomia, o que era justamente a esperança de muitos bispos. Durante todo o Concílio os bispos tiveram consciência de que havia um combate permanente entre eles e a Cúria romana e que o Papa não podia ou não queria decidir.

Desde o anúncio do Concílio, espalhou-se a ideia de que se tratava de completar o Vaticano I — que havia sido interrompido pela conquista de Roma pelas tropas da Itália. O Concílio Vaticano I tinha definido os poderes do Papa. Isso havia criado certo desequilíbrio, do qual os bispos eram as vítimas. Agora haveria uma oportunidade para completar o Vaticano I, insistindo nos poderes dos bispos. De fato, houve essa ilusão.

No Concílio falou-se muito dos bispos. Porém, na questão principal, que era a relação entre os bispos e o Papa, houve pouco avanço. Afinal, falou-se com tanta insistência do poder do Papa, que, como comentou o teólogo protestante Oscar Cullmann, o Vaticano II insistiu mais nos poderes do Papa do que o Vaticano I. No concreto, os bispos não se viram atribuídos de direitos novos. Não houve modificação na relação entre os bispos e a Cúria. Passados 40 anos do encerramento do Concílio, os bispos têm menos poder do que antes de Vaticano II, e a sua dependência, o controle por parte da Cúria, aumentou.

As conferências episcopais foram reconhecidas, mas logo a seguir enquadradas num sistema de controle que as manteve inócuas. Elas são os órgãos de transmissão dos planos elaborados em Roma com base em critérios de política pontifícia em que o valor supremo é o prestígio do Papa na sociedade.

Os bispos não têm a menor possibilidade de influir na Corte romana. Os chamados sínodos não vão muito além de cerimônias de homenagem ao Papa. O mesmo ocorre com as reuniões dos cardeais. Graças a um sistema de delação, as nunciaturas transformaram-se em agências de informação da Santa Sé. Elas transmitem a Roma o que os “informantes” lhes comunicam. A questão dos bispos fracassou com o Concílio, ganhando destaque a Cúria romana. As Conferências episcopais podem reunir-se, mas não têm poder de decisão em matéria de liturgia, de direito canônico, de nomeações de bispos e de julgamento dos teólogos, por exemplo. Os bispos também não podem tomar decisões de relevo para os seus seminários porque tais determinações competem a Roma.

5. Quinta palavra: diálogo

No célebre discurso inaugural do Concílio Vaticano II, pronunciado no dia 11 de outubro de 1962, João XXIII destacou dois temas que deviam, na mente dele, orientar não somente o Concílio, mas a marcha da Igreja nos tempos seguintes.

O segundo dos temas era: “A Igreja sempre se opôs a estes erros; muitas vezes até os condenou com a maior severidade. Agora, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez de sua doutrina do que renovando condenações”[4]. Isso parecia muito simples, mas na realidade era a inversão radical de uma prática de 1.600 anos. Tudo foi dito de modo tão simples que, na hora, muitas pessoas não prestaram atenção nessas palavras. Na realidade, elas deviam abrir uma nova época na história da Igreja.

O Papa não usou a palavra diálogo, mas essa palavra recebeu apoio claríssimo por parte de Paulo VI, e, desde então, ela faz parte do vocabulário eclesiástico. Era a tradução das palavras de João XXIII e a expressão da orientação que queria dar à Igreja. Daí em diante a palavra diálogo é repetida sem cessar. O que não quer dizer que a Igreja, na prática, esteja sempre atuando o diálogo. Mas, pelo menos, há certos proce­dimentos que já não são possíveis hoje em dia.

O Concílio usou abundantemente a palavra diálogo e sempre com a consciência de que estava realizando uma mudança radical. O diálogo significava uma mudança global de atitude da instituição eclesiástica em todas as áreas.

Deve haver diálogo entre a Igreja e o mundo: com os irmãos separados, com os judeus, com os não crentes, com todos os homens, entre a hierarquia e os leigos, entre bispos e sacerdotes. O diálogo é uma arte que deve ser cultivada e treinada nos seminários.

Na concepção do Concílio, o diálogo deve substituir as relações de dominação e de superioridade — que eram constantes na cristandade. Deve ser expressão da caridade, por levar em conta as pessoas dos outros que são diferentes, e não julgá-las com base em princípios abstratos supostamente universais. No tempo da cristandade, o clero devia impor a todos o sistema objetivo de crenças, preceitos ou ritos tradicionais sem levar em conta a subjetividade das pessoas. Agora, por fim, o Concílio reconhece a subjetividade e os valores das pessoas. Os bispos ou os sacerdotes agiam como representantes de uma ordem objetiva. Doravante o que se lhes pede é que estabeleçam relações de pessoa a pessoa com os outros, reconhecendo-os como diferentes. Trata-se de reconhecer a legitimidade da diferença em muitas áreas da vida pessoal ou social.

Na prática, depois do Concílio, muitos bispos e sacerdotes procuraram mudar o estilo das suas relações e o modo de agir no exercício da sua autoridade. Os próprios Papas, estimulados pelo exemplo de João XXIII, aproximaram-se da humanidade, deixando de lado aquela majestade que havia alcançado o auge com Pio XII — que parecia um ente celestial dotado de um poder total e absoluto.

Depois de 40 anos, podemos constatar que há mais cortesia e menos solenidade no relacionamento do clero com os leigos, dos padres com os bispos e dos bispos com a Cúria romana. No entanto, o diálogo não vai além da cortesia. Quando se trata de fazer concessões, de adaptar o sistema burocrático às situações locais, o diálogo acaba e o sistema mantém a sua intransigência. Na atualidade, o sistema curial parece ainda mais intransigente, porque as leis aumentaram e se tornam mais complexas, e a vigilância também aumentou. As formas são mais humanas, mas o fundo permanece inflexível.

6. Sexta palavra: serviço

A eclesiologia tradicional definia a Igreja como um sistema de poderes. Deus havia dado os seus poderes à Igreja, ou seja, à hierarquia. A Igreja podia definir-se por três poderes: o poder de dizer e ensinar a verdade por meio do magistério, o poder de santificar por meio dos sacramentos e o poder de governar por meio de um conjunto de leis obrigatórias. O conceito de poder fazia a ligação entre Deus e a Igreja, concebida como hierarquia. De certo modo, o episcopado era identificado com toda a Igreja, e, no entusiasmo da teologia medieval, um teólogo como Egídio de Roma podia ensinar que a Igreja era o Papa. Todos os poderes da Igreja estavam nas mãos do Papa. Ele era a Igreja, pois a Igreja era poder e ele tinha a plenitude desse poder.

Tal eclesiologia podia fazer sentido na época em que a relação da Igreja com o mundo era a luta entre o poder do Papa e o poder do imperador — ou o poder dos reis católicos. A eclesiologia romana devia exaltar o mais possível o poder do Papa para que pudesse contrabalançar o poder do imperador. Mas já faz tempo que essa problemática desapareceu. Aliás, nessa luta entre o Papa e o imperador pela direção da cristandade, onde estava o povo de Deus? Ao povo de Deus cabia fornecer exércitos a esses dois poderes.

O retorno à Bíblia tornou muito clara a oposição entre esse linguajar e o linguajar do Novo Testamento, em que prevalece o vocabulário do serviço. O próprio Jesus afirma que veio para servir, e não para ser servido. Os apóstolos aparecem como servidores do evangelho, ou do povo.

Por outro lado, os membros do clero que estavam mais em contato com a sociedade perceberam que essa afirmação de poder criava mal-estar e afastava da Igreja. O poder não é assim tão bem-visto na sociedade moderna. Depois de 200 anos de luta pela democracia, os dirigentes dos Estados tendem a apresentar-se como servidores do povo, e não como poderes sobre o povo. Eles são eleitos pelo povo e, na ideologia dominante, os poderes residem no povo, que os delega a diversas entidades ou pessoas.

O Concílio levou em conta esses dois aspectos e procurou evitar todo triunfalismo, toda proclamação enfática de poder. Usou abundantemente o vocabulário do serviço.

De acordo com o Vaticano II, a Igreja existe para servir, e não para ser servida. Ela não reclama para si nenhuma autoridade senão a de servir os homens. Os ministros da Igreja devem servir seus irmãos. A missão dos bispos é o serviço. Eles receberam o encargo de servir a comunidade, usam do poder e da autoridade não como quem manda, mas como quem serve. A autoridade dos superiores deve ser exercida em espírito de serviço. Os presbíteros são chamados para servir o povo de Deus. Devem educar-se ao espírito de serviço.

7. Sétima palavra: missão

De modo geral, é notório que os textos sobre a missão são muito fracos e carecem de unidade. No entanto, houve vontade dos Padres conciliares de mudar o sentido da missão na consciência e nas instituições da Igreja.

Até o Concílio, prevalecia ainda a visão tradicional que fazia das “missões” uma parte marginal da Igreja. O principal era a cristandade tradicional. Pequena parte do pessoal e dos recursos da Igreja estava destinada a evangelizar os povos situados fora dos limites da cristandade. Essa atividade missionária estava reservada a institutos específicos de homens e de mulheres e não atingia a vida das dioceses ou das paróquias. Essas mandavam algumas ajudas financeiras, mas a atenção dada às missões era muito secundária.

Na prática, a ação missionária estendeu-se principalmente e quase exclusivamente aos territórios em poder dos Estados europeus ou norte-americanos, estreitamente ligada à presença militar, política e econômica das potências coloniais. Era parte da colonização ou da dependência semicolonial, como na China.

A obra missionária consistia em reproduzir em todos os territórios do mundo a estrutura do catolicismo europeu. A ideia era salvar as almas. Ao lado dessa finalidade principal havia também a finalidade de civilizar. Nisso as missões se integravam na empresa colonial, que se justificava pela tarefa de “civilizar” os povos não europeus.

Alguns missionários precursores lutaram desde o início do século XX por uma Igreja local — inserida nas culturas locais. No fim de muitas lutas, conseguiram a ordenação de sacerdotes e de bispos nativos. Mas a estrutura não mudou quase nada até o Vaticano II. No Concílio interferiram dois fatos. O primeiro foi a consciência da importância das novas Igrejas na África e na Ásia. O segundo foi a percepção da descristianização dos países de antiga cristandade, com a consequência de que eles eram também terras de missão e precisavam ser evangelizados. A diferença entre os dois setores do catolicismo estava diminuindo. A América Latina ainda não tinha fisionomia própria, que viria em Medellín, como consequência do Vaticano II.

Essas novas preocupações se expressaram nos documentos conciliares. Foi lançada a famosa fórmula de que a Igreja toda deve ser missionária, constituindo novo símbolo da Igreja renovada. Um documento oficial renunciava à ideia de que ainda existia cristandade. Também proclamava a necessidade de nova evangelização. Antes do Concílio, a Ação Católica tinha como projeto cristianizar a vida pública, mas não a evangelização dos habitantes da Europa. Agora os Padres começavam a reconhecer que a crise era muito mais profunda do que se queria aceitar outrora. Não se tratava apenas de restituir o lugar da Igreja na sociedade; o desafio era que a Europa estava perdendo a fé e precisava de nova evangelização.

Os documentos conciliares convocam todos os católicos para que se tornem missionários. Era uma novidade absoluta. Até então, a instrução dada aos católicos era que deviam permanecer fiéis à religião dos seus antepassados, submetendo-se a todas as instruções da hierarquia. A evangelização era tarefa de alguns missionários especializados reunidos nos institutos missionários reconhecidos pela Santa Sé e orga­nizados pela Congregação romana De Propaganda Fide.

Os documentos aludem à necessidade de adaptação da Igreja à diversidade dos povos, às diferenças de cultura. Na prática pouco se fez. A partir de João Paulo II, a Igreja católica tomou o rumo da restauração da cristandade, o caminho de uma nova concentração romana, de um reforço dado à uniformidade. Os novos movimentos foram os instrumentos ideais dessa nova uniformização do catolicismo. Eram movimentos in­ternacionais que comunicavam aos católicos uma mensagem e uma estrutura — a mesma para todos os povos em que estavam presentes. Produziram uma nova cen­tralização.

De qualquer maneira, o tema da evangelização estava lançado. O programa da evangelização do mundo tornou-se a prioridade da Igreja toda — pelo menos na teoria. Na prática, é muito difícil conciliar a evangelização com a restauração da cristandade e uma centralização exasperada.

Na América Latina, o tema da evangelização foi assumido pelos movimentos populares da Igreja e pela Conferência de Puebla. A partir dos anos 80, a evangelização ficou cada vez mais reduzida à propaganda — tal como é atualmente. Todas as campanhas de evangelização tornaram-se estéreis e a proporção dos católicos está diminuindo, enquanto cresce o número de protestantes pentecostais. O tema conciliar permanece como um desafio, à espera de circunstâncias mais favoráveis.

8. Conclusão

O Concílio Vaticano II pertence à história. O futuro mostrará se foi apenas um episódio ou se constitui um acontecimento significativo. Tudo vai depender do rumo que a Igreja escolherá. A América Latina está no centro das expectativas, já que mais da metade dos católicos são latino-americanos. Na Europa já não há esperança: a decadência é irreversível. Ali pode ser encontrado o melhor museu do catolicismo, mas apenas um museu. Daqui a pouco virão centenas de milhões de chineses para visitá-lo. Não é muito provável que esse museu desperte neles a fé. A Ásia e a África estão em plena expansão, mas ainda são minoritários.

Na América Latina, a opção pelos ricos constitui grave perigo. Se a Igreja se deixar envolver pelos ricos e for colocada a serviço da sua legitimação, tornar-se-á novamente, como na cristandade, a base da estrutura de opressão dos pobres. O futuro está em nossas mãos — se Roma não as atar! (julho-agosto 2005)

[1] Cf. Documentos do Concílio Vaticano II, São Paulo, Paulus, 2001, p. 671.

[2] Idem, p. 670.

[3] Idem, p. 666.

[4] Idem, p. 28.

Pe. José Comblin

El amor es la apuesta total en la vida

Si amas, una parte tuya comulga con el infinito.

Esto no te substrae de las vicisitudes comunes de la vida, pero todos tus pasos se ordenan en la dirección de la fuerza que rige el universo.

Una fuerza infinita te acompaña y multiplica tu resistencia.

Según el Padre José Comblin (foto), la parte nuestra que ama, no muere, permanece para siempre.

El mensaje de Jesús, según Comblin

A veces pienso que podría querer llegar a escribir algo sobre el Padre José Comblin. Ciertamente vienen muchas memorias en esos momentos. Pero sobre todo, una frase, que no sé si es de O Caminho. Ensaio sobre o seguimento de Jesus, o bien de A profecia na Igreja.

En todo caso, la frase es ésta: “El mensaje de Jesús es simple, pero esta simplicidad está para nosotros como la ciudad en la cumbre de la montaña. Nos movemos como si la fuéramos a alcanzar, sabiendo que tal vez nunca lleguemos allá.”

Esta mañana recordé esta frase, como muchas otras veces. Pero de alguna manera, parece que en esta oportunidad, la ficha cayó. Ciertamente recuerdo muchas otras cosas de Comblin, su sueño de una Iglesia pobre volcada hacia los pobres.

El pluralismo del mundo actual, en el cual vivimos, que él siempre enfatizaba. Su simplicidad. Esa su manera de decirnos cosas muchas veces solamente con su mirada, o con un humor muy suyo, que nos tocaba.

Ahora pienso que esa simplicidad del mensaje de Jesús a la cual él se refería, es de hecho algo para alcanzar. Algo a lo cual me dirijo, pensando que un día voy a llegar. Y también me queda claro que este intento de mi parte, no me disocia en absoluto de mi condición humana, sino al contrario, se integra y me integra.

“El cristianismo que explotó”

En lo que se refiere al “ad extra” de la Iglesia, la obra del Vaticano II consistió fundamentalmente en haber aceptado el desafío de la modernidad. En lo que se refiere al “ad intra”, fue haber reconocido y aceptado como un hecho la explosión del cristianismo. Gracias a esto podemos ahora afrontar las tareas del cristianismo no sólo a partir de la Iglesia católica sino a partir del cristianismo donde quiera que se encuentre. Y nos reencontramos con millones de hombres que no están recensados en el “Anuario pontificio”.
 
El cristianismo explotó primero debido a los cismas y separaciones institucionalizadas. Es el aspecto más visible de la explosión, aunque no necesariamente el más importante.
 
Además, también el ecumenismo actualmente institucionalizado puede ser engañador: puede ser muy reducido y de hecho lo es en la práctica. El cristianismo no está sólo presente y activo al interior de las iglesias o de las denominaciones cristianas, o sea de las organizaciones institucionalizadas que se denominan cristianas, sino también fuera de ellas.
 
En primer lugar el cristianismo permanece activo entre todos aquéllos que nacieron y fueron formados dentro de una Iglesia establecida y después se desligaron de ella voluntariamente, o de un modo insensible y práctico más que explícito. Es el caso de la gran mayoría de católicos de Europa y América Latina, o sea, de los que fueron bautizados en la Iglesia católica o cuyos padres fueron bautizados, y se apartaron de ella con o sin motivos invocados.
 
Algunos se apartaron de su Iglesia por razones cristianas. Al hablar del cristianismo en el mundo de hoy o de mañana debemos tenerlos en cuenta. En la época actual las iglesias son cada vez menos capaces de ser un lugar donde los cristianos se sienten como en su casa. ¿Es ésta una fase transitoria, breve o larga? ¿Quién lo sabe? Hay razones institucionales (oposición por el lenguaje dogmático, codificaciones morales, estilo de reuniones o de gobierno, estilo de la liturgia, y otros). Otros cristianos se apartaron de su Iglesia por conflictos respectos a la política, el socialismo, la ciencia, la psicología, la historia. Otros se apartaron por disputas personales. Finalmente otros nunca se apartaron de la Iglesia, fue más bien la Iglesia la que nunca estuvo presente en su mundo: las ciudades nuevas, los nuevos barrios o centros urbanos, las fábricas, administraciones, empresas privadas o públicas, etc.
 
Por otro lado el cristianismo está también presente en medio de pueblos donde todavía no penetró la misión institucionalizada de las Iglesias. Hay muchas personas que han aceptado y asimilado muchos elementos cristianos sin haber tenido jamás la ocasión de profesarse cristianos en una denominación oficial: es el caso de Asia o de África donde el mensaje cristiano precede muchas veces a los misioneros.
 
Igualmente los cristianos se encuentran dispersos por pertenecer a medios culturales e ideológicos diferentes y a menudo sin comunicación entre ellos. Además, una gran parte de las separaciones institucionales se deben a estas separaciones culturales.
 
Las diferencias culturales existen también al interior de las Iglesias creando tensiones y conflictos. Algunos diagnostican que tales tensiones preparan nuevos cismas.
 
Existen cristianos que viven mentalmente en todas las épocas que hemos enumerado en los capítulos precedentes. La iglesia católica tiene miembros que viven en cada una de las épocas. Aun siendo contemporáneos, su vida cristiana es vivida en tiempos enteramente distintos. Viven tal vez geográficamente unos al lado de otros pero a siglos de distancia.
 
La diversidad cultural no es espontánea, depende de la diversidad de medios sociales.
 
Hay cristianos que viven como los humanistas del renacimiento, dedicados a las letras latinas y griegas; son cada vez menos numerosos y es una pena, sin duda.
 
Otros cristianos viven en la cristiandad medieval: son los últimos hombres del campo. Existen en algunos rincones perdidos de Europa y en grandes regiones de América Latina. Existen también analógicamente en ciertas neocristiandades de África.
 
Hay cristianos que viven en el tiempo de las Reformas: las iglesias protestantes de tipo popular o pentecostales, o parroquias donde se vive el llamado catolicismo “tradicional” del Concilio de Trento y de la reforma católica del XVII. Pertenecen a ciudades pequeñas, ejercen profesiones que poco han variado desde aquel tiempo, o pertenecen a sectores sociales que en aquella época tuvieron su apogeo. Existen también los que son tradicionalistas sin saberlo, que consideran que nada cambió. Desde el siglo XVII, y los tradicionalistas nostálgicos que saben muy bien que hubo cambios pero no los aceptan. Los hay también que nunca aceptaron el Vaticano II y continúan combatiendo contra la modernidad.
 
Otros cristianos penetraron en la modernidad y creen en ella: burgueses u obreros militantes. Muchos se desligaron de sus iglesias, pero otros permanecieron fieles y esperaron mucho del Vaticano II.
 
(La “doble clandestinidad”)
 
Hasta hace pocos años eran escasos los revolucionarios cristianos. Tenían que practicar una doble clandestinidad: en relación al partido y en relación a la Iglesia. Hoy su número aumentó y salieron de la doble clandestinidad. Los partidos revolucionarios aceptan a los cristianos y las Iglesias se resignan a aceptar a los revolucionarios. Se trata de intelectuales que buscan la reconciliación entre cristianismo y revolución.
 
Y están todavía las masas de los pobres marginados que son los emigrantes del mundo actual. Son las masas que emigran del antiguo mundo rural hacia el nuevo mundo industrial. Están perdiendo su identidad y no saben muy bien cómo identificarse. Pierden su antigua identidad cristiana sin saber exactamente lo que queda de ella. No es frecuente que encuentren una Iglesia en su camino para redescubrir su identidad cristiana.
 
El primer desafío del cristianismo debería ser esta masa de pobres, de anónimos, de los que no pertenecen a nada más. El verdadero cristianismo ¿no está donde está Cristo? ¿El Espíritu no está ante todo donde está Cristo?…
 
Extractado de: Tiempo de acción, Ensayo sobre el Espíritu y la historia, José Comblin, Págs. 420-424. Centro de Estudios y Publicaciones (CEP), Lima, Perú y Centro de Estudios Teológicos de la Amazonia (CETA), Iquitos, Perú.
 
Editado por Enrique Orellana Fernández, de Somos Iglesia Chile

Fuente: Teología Nordeste
http://teologianordeste.net/index.php/publicacoes/jose-comblin/97-el-cristianismo-que-exploto

“Están excomulgados”


Entre los agrestes y meridionales paisajes de la península itálica, una voz y una palabra retumbó en el aire y en el corazón de las gentes: “Están excomulgados”.
Esa voz y esa palabra provenían, nada menos, que del papa Francisco durante la visita que realizara a Calabria en las postrimerías del mes pasado.
Y se dirigían, directamente, a los mafiosos y a la mafia. Ciertamente enquistados en esas regiones pero también en tantas geografías de nuestro planeta.
Mafias económicas y financieras, mafias políticas y de tráfico de influencias, mafias de trata de personas y de narcotráfico, mafias para torturar y matar, mafias para la fabricación y tráfico de armamentos, mafias en la salud y en el tráfico de medicamentos, y hasta mafias eclesiásticas (Francisco dixit).
Es la primera vez, en siglos, que un Papa se planta valiente y proféticamente ante el crimen organizado, en cualquiera de sus versiones y derivaciones. Y, también, a quienes lo promueven y a quienes lo apoyan, aun con su silencio.
Algunas frases:
“Cuando la aceptación de Dios se sustituye por la adoración al dinero, se abre camino al pecado, a los intereses personales y al abuso. Cuando no se adora a Dios, las personas se convierten en adoradores del mal como lo son aquellos que viven de la deshonestidad y de la violencia”.
“¡L’Ndrangheta (mafia) es esto: adoración del mal y desprecio del bien común! Este mal debe ser combatido, debe ser alejado y ¡es necesario decirle que no! La Iglesia que sé que está tan comprometida con la educación de las conciencias, debe dedicarse cada vez más para que el bien pueda prevalecer. Nos lo piden nuestros chicos, nos lo piden nuestros jóvenes necesitados de esperanza. Para poder responder a estas exigencias la fe nos puede ayudar. ¡Aquellos que en su vida tienen este camino del mal, como lo son los mafiosos, no están en comunión con Dios: están excomulgados!”
En la mayoría de los países -por no decir, en todos- debido a que la expresión “mafia” a muchos les suena un tanto fuerte, se la ha sustituido por “asociación ilícita de personas con el fin de delinquir”. Es lo mismo, pero suena más refinado; sin embargo, los modos de actuar y los efectos son igualmente criminales y devastadores. Por eso, están excomulgados.
¿Qué es la excomunión?
Ex-comulgar significa separar al que convive con nosotros, que es de los nuestros, que comulga con nosotros. En nuestro caso, a los mafiosos que continúan pensándose y diciéndose católicos.
No pueden acceder en forma activa a los ritos sagrados ni recibir los sacramentos. Y en sus conciencias -si ya no están totalmente endurecidas- son sabedores de que ya no pertenecen a la comunidad católica. Claro está, mientras persistan en sus actitudes y no demuestren arrepentimiento “reparando” -hasta donde sea posible o equivalentemente- el mal provocado a tantos.
Francisco está mirando hacia adentro de los suyos -de la Iglesia Católica- y tiene el derecho de poner límites, es su deber poner límites, se arriesga a poner límites.
Justamente las sociedades que ponen límites son las que saben quiénes son, qué quieren y con quiénes lo quieren alcanzar. Aquellas que todo lo disimulan, todo lo perdonan sin arrepentimiento de los agresores, están condenadas a diluirse en las medianías.
Si la falta de respeto a las normas se banaliza, si la agresión se disimula o minimiza, si “todo vale”, en definitiva nada vale; y quienes pierden son los más débiles e indefensos.
Se necesita convicción y valentía para tomar iniciativas en este terreno, cuando enfrente están los poderosos y sus redes secretas.
Si vemos que hay acciones incorrectas en nuestra sociedad, si el bien común nos dice que hay sectores que prevalecen por su usufructo del poder, dejarlos actuar es cobardía.
Si para enfrentar la corrupción hacemos el cálculo de los votos o prestigio que perdemos, tenemos que apartarnos del camino de las decisiones.
Que gobiernen -en todas las instituciones- los que sean capaces de arriesgarse a perder, personalmente, por defender a los pobres, los indefensos, los humildes, los sin voz. No aquellos que se mantienen a flote, como el corcho, pues no atacan el mal social donde realmente se encuentra.
¿Qué efecto y alcance social tendrá esta excomunión?
Hace siglos, cuando un Papa lanzaba el anatema de la excomunión era algo realmente muy grave: la persona en cuestión perdía todas las relaciones sociales y todo lo que era necesario para el ejercicio de su función social.
Hoy en día, la excomunión está lejos de producir los efectos que produjo antaño. Obviamente, el efecto de las palabras de Francisco, al tratar de criminales a los miembros de las pandillas de la mafia, es diferente: es poco probable que las conciencias de los criminales se vean afectadas.
Pero el peso simbólico de la excomunión afecta a la narración pseudo-religiosa que la propia mafia promueve, y ayudará a cortar la relación que sus jefes han tenido con las iglesias locales.
Los pastores y obispos se ponen delante de su responsabilidad, y se hará cada vez más difícil para el crimen organizado crear un consenso social en torno a sí mismo.
En el caso concreto de la Argentina, todos conocemos la influencia -muy menguada en los últimos tiempos- que la Iglesia institucional ejerce sobre el entramado social.
Sería muy bueno escuchar de nuestros obispos y sacerdotes palabras valientes y proféticas como las que pronunciara Francisco y tomar las decisiones que correspondieren frente a los mafiosos.
Ya no basta con denunciar la corrupción y el crimen. Algo debe hacerse con aquellos que se titulan católicos y continúan atentando contra la vida y los derechos de las personas.
Baste imaginar, por ejemplo, cuál hubiese sido el curso de la historia si, en los tiempos de la última dictadura militar, el Episcopado argentino hubiese sancionado con la excomunión a todos los que torturaron, encarcelaron injustamente y criminalmente hicieron desaparecer a tantos argentinos.
Hoy, por lo menos, deberían abrirse todos los archivos eclesiásticos de aquella época a fin de conocer el destino de tanta gente y debería apartarse de los sacramentos y, en casos de la función eclesiástica, a quienes colaboraron con el genocidio.
Agrega Francisco: “Hoy, como obispo de Roma, estoy aquí para confirmarlos no sólo en la fe, sino también en la caridad, para acompañarlos y animarlos en su camino con Jesús Caridad. Quiero expresar mi apoyo al obispo, a los presbíteros y a los diáconos de esta Iglesia, y también de la Eparquía de Lungro, rica en su tradición greco-bizantina.
“¡Pero lo extiendo a todos! ¡A todos los pastores y fieles de la Iglesia en Calabria, comprometida valientemente en la evangelización y en el favorecer estilos de vida e iniciativas que pongan al centro las necesidades de los pobres y de los últimos. Y lo extiendo también a las autoridades civiles que buscan vivir el compromiso político y administrativo por lo que es: un servicio al bien común”.
El gran interrogante
¿Estaremos los católicos -con los obispos, sacerdotes, religiosos y religiosas al frente- dispuestos a tener la misma valentía profética de Francisco para enfrentar a todos los tipos de mafias y de mafiosos que están destruyendo a la Argentina?
¿Estaremos dispuestos a hacer un prolijo examen a quienes se acercan a recibir los sacramentos a fin de constatar su fe religiosa y su no participación en los crímenes de los mafiosos?
¿Estaremos dispuestos a aplicar la pena máxima de la excomunión a los mafiosos, y también a quienes los promueven y a quienes los apoyan, aun con su silencio?
El autor es sacerdote católico, miembro de Curas en Opción por los Pobres