O Greenpeace na França acaba de produzir uma série de sete vídeos sobre extração ilegal de madeira no Congo. Nos episódios, a atriz francesa Marion Cotillard visita vilarejos no país africano em uma investigação sobre a cadeia de destruição das florestas da região.
No primeiro dos sete episódios, Marion chega à cidade de Oshwe acompanhada de Gregoire Lejonc, do Greenpeace. Lá descobrem os perigos que ameaçam as florestas antigas. No segundo episódio, Marion revela as dificuldades e as conseqüências de um país com uma governança precária.
A República Democrática do Congo possui a segunda maior floresta tropical do mundo, superada apenas pela Amazônia. Mais de 60% da população do Congo depende diretamente ou indiretamente das florestas do país para subsistência.
O Greenpeace acredita que é essencial manter intactas as florestas nativas. A proteção beneficia o ambiente e o povo congolês, através de fundos internacionais que pagam para evitar a destruição das matas.
Novos episódios serão colocados no ar semanalmente. Confira os dois primeiros:
Desde setembro de 2007, conflitos se renovaram em Kivu Norte, na República Democrática do Congo, causando deslocamento maciço na região. Foto: Sven Torfinn/Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Apesar da globalização pregar o progresso da civilização através da livre circulação comercial em escala planetária, o amplo continente africano é sistematicamente excluído e explorado. Na República Democrática do Congo (RDC) a situação é sub-humana, a miséria atinge milhares de pessoas não só através de guerras, mas também com doenças, água contaminada, violações, dentre outros fatores que representam um cenário de calamidade humanitária. Leia nesta reportagem especial de Eduardo Sá e Gustavo Barreto, para o Fazendo Media.
Histórico
Desde os primórdios, a RDC, terceiro maior país africano com cerca de 62 milhões de habitantes, padece em conflitos étnicos. Mas a partir da intervenção ocidental, quando se tornou colônia da Bélgica no início do século passado, as guerras ficaram mais complexas, dado os interesses envolvidos, e dramáticas para a população local.
Por volta de 1950 surgem movimentos nacionalistas, desencadeando a independência do país em 1960, seguida de reveses em meio a golpes, contra-golpes e guerras civis. Patrice Lumumba, principal líder anti-colonialista, pregador da desobediência civil, defendia que a soberania do país estivesse acima das divergências tribais e étnicas. Foi o patriarca de independência e o primeiro-ministro da RDC: “Conclamo-os a esquecer suas disputas tribais. Elas nos exaurem. Elas trazem o risco de sermos humilhados no exterior”, declarou em seu primeiro discurso. Mas Lamumba foi traído pouco depois por Joseph Mobutu, que assumiu o poder emplacando uma ditadura alinhada às transnacionais, grandes potências ocidentais, ao FMI, aos ricos da África do Sul, dentre outros poderes econômicos. Mobuto era um dos homens mais ricos do mundo em sua época, governou por três décadas, período em que o país temporariamente se chamou Zaire; o recomeço da rapina.
As pressões e conflitos foram se acentuando. Em 1994 ocorre o genocídio em Ruanda, levando milhões de hutus (uma das etnias da região, rival da maioria tutsi congolesa) para o país, de modo a agravar a crise. Em 1997 Laurent Kabila, sucedendo um governo provisório, greves e rebeliões, derruba de vez o regime de Mobuto. Mas é morto por seu guarda-costas em 2001, sendo substituído por seu filho, Joseph Kabila, então presidente. A família representava os interesses nacionalistas, afinados ao patriarca Lumumba.
Todo esse contexto político se desenrola envolto a interesses econômicos. A República Democrática do Congo é repleta de diamantes, seus vastos e ricos recursos minerais são espoliados sistematicamente. O país possui petróleo, enquanto a população local sofre na miséria, refém dos conflitos. Por conta da escassez de rodovias e ferrovias, sem ter para onde ir, a população está dispersa de maneira sub-humana pelos lugarejos e florestas país afora.
A situação hoje
Milhares de congoleses sem terem para onde ir devido ao conflito: muitos deles ficam dispersos pelas matas da região e vulneráveis às doenças. Foto: Médicos Sem Fronteiras (MSF).
O leste congolês é o mais afetado pelos conflitos. Estima-se que 250.000 civis encontram-se desprezados nas localidades de combate, que se estendem por diversas áreas do país. O quadro é emergencial, assolado de fome, água contaminada, falta de habitação, doenças tratáveis, deslocamentos coletivos, violações aos direitos (principalmente das mulheres e crianças) e muitas guerras (financiadas por estrangeiros), dentre outros fatores.
Segundo o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – composto pelo balanço entre renda, longevidade e educação – de 2009, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a República Democrática do Congo (RDC) encontra-se no 176º lugar dentre as 182 nações pesquisadas. Vale destacar que, a partir do Haiti (149º lugar), quase todos os países são africanos, revelando o total abandono do continente pelos países ricos; fica evidente que a globalização não é benéfica mundialmente. Tem seus próprios critérios.
Muitas pessoas se encontram inacessíveis, ações humanitárias são suspensas por falta de segurança, incessantemente ocorrem assassinatos de civis, violações aos direitos humanos, assaltos, extorsões, recrutamentos forçados, saques generalizados nas áreas de risco. Recentemente a BBC Brasil informou que “campos que abrigavam cerca de 50.000 deslocados no leste da RDC foram destruídos”. A cidade de Goma, ao leste do país, é o caso mais alarmante.
No dia 2 de dezembro de 2008 o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) voltou a atuar na RDC devido à degradação no país. A ONU mantém 17.000 congoleses abrigados. No dia 21 de abril de 2009 a agência de informações da ACNUR noticiou que “com as últimas ondas de violência, o ACNUR estima em mais de 1,4 milhão o total de deslocados no leste da RDC”.
A Missão da ONU no país, conhecida pela sigla MONUC, atua no país desde 30 de novembro de 1999, a partir da resolução 1279 do Conselho de Segurança, com o objetivo de acompanhar o o acordo de cessar-fogo em todo o país. Com o aumento da crise humanitária, diversas agências e fundos da Organização passaram a atuar.
Campo de refugiados, na RDC: nem nesses locais os moradores da região estão totalmente imunes às doenças, segundo a MSF. Foto: Médicos Sem Fronteiras.
Além das mortes devido ao combate e dos problemas com o deslocamento populacional, o país sofre com epidemias de cólera, ebola e mortes por doenças de fácil prevenção e tratamento, como a malária e a diarréia, dentre outras. Conforme reportou o Fazendo Media (leia aqui), numa série sobre a República Democrática do Congo, cerca de 5 milhões de pessoas morreram desde o início oficial dos conflitos, em 1998, não só por causa da violência, mas também por doenças negligenciadas no país, como a malária e o sarampo.
O país tem uma população de aproximadamente 62 milhões, em franco declínio por causa da crise humanitária. Outra doença que se alastra no país é a Aids, que assola todo o continente, segundo o relatório de 2009 feito pela UNAIDS: “A África Subsaariana continua a ser a região mais afetada, com 71% de todas as novas infecções”. Em 2008, afirmava que “mais de dois terços das pessoas vivendo com HIV moram na região subsaariana, onde também ocorrem mais de 75% dos óbitos associados ao HIV”.
Uma das poucas organizações humanitárias que continua atuando nas áreas mais violentas, a Médicos Sem Fronteiras afirma que “a rotina diária das pessoas se tornam apenas a sobrevivência e a fuga da violência”. A organização divulgou no dia 22 de dezembro de 2008 seu relatório anual sobre As dez crises humanitárias mais negligenciadas, constando entre elas a República Democrática do Congo.
O conflito atual
Essa guerra pelo domínio político, militar e econômico na RDC se estende há 25 anos, tendo à frente as elites africanas patrocinadas por países desenvolvidos com interesses na região. Apesar de poucas multinacionais importantes instalarem-se no país, a principal fonte do desenvolvimento econômico do monopólio paraestatal do governo é o capital privado estrangeiro em busca das riquezas africanas, afirma Peter Erlinder, da Global Research, em artigo publicado no site Rebelion, no dia 11 de dezembro de 2008. Fato que reduz a influência do presidente, evidencia o subdesenvolvimento do país e consequentemente prejudica sua administração.
Os conflitos são atribuídos muito mais às questões econômicas que ao genocídio de 1994 em Ruanda, propagado pela mídia, num processo que envolve os governos da RDC (Kabila), da Ruanda (Paul Kagame) e os rebeldes congoleses (Laurent Nkunda), sob influências externas do ocidente; os Estados Unidos e o Reino Unido com seus aliados são apontados na linha de frente. No final do de 2008 Laurent Nkunda foi preso, fazendo com que a milícia de etnia tutsi, Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), teoricamente perca parte de sua influência neste contexto.
Peter Erlinder argumenta que “os meios de comunicação tendem a não tratar a maioria das ligações entre o sofrimento no Congo [RDC], Uganda e Ruanda (…) E quando informam sobre as razões da guerra no Congo, explicam que o general Nkunda declarou guerra para proteger a minoria tutsi, que a continuação da luta tem a ver com ‘o genocídio de Ruanda’ e que os ‘genocidas hutus’ devem ser expulsos da leste do Congo para proteger tanto os tutsis congoleses como o próprio território da Ruanda”. A questão da soberania nacional nunca é posta em debate pela imprensa, tanto menos os interesses econômicos no café, madeira, ouro, diamantes e minérios do país, por exemplo.
O mercado internacional ignora que por trás de uma commodity lucrativa pode estar o trabalho infantil e a guerra civil.
Claro que a mídia não é a origem do problema, nem sua única solução, mas é através dela que se irradia o olhar ocidental do processo, muitas vezes não contribuindo em nada para a paz na região. Não são abertos espaços para as vozes internas se manifestarem, não necesariamente seus representantes, portanto a imprensa reproduz o viés daqueles que não conseguem solucionar o problema há mais de duas décadas, ao invés de pressionar denunciando as mazelas sistêmicas.
Também no Rebelion, o jornalista Juan Carrero Saralegui, em artigo no dia 20 de março de 2009, ao analisar a reportagem do escritor chileno Mario Vargas Llosa ao jornal espanhol El País, reforça a insuficiência e manipulação de informações sobre os poderosos interesses econômicos na região. Para ele um dos principais problemas é a imagem que a mídia internacional propaga de um “estado falido” na RDC, cujo seu exército representa um dos principais agressores no conflito.
Com isso é estimulado uma solução ocidental ao problema e não são apresentadas as dificuldades enfrentadas por Kabila no controle das suas tropas, que são enormes. Os jornais “tampouco explicam que o salários dos militares são ridículos e os mesmos que impedem que o Congo cresça economicamente estão encantados com essa imagem internacional de algumas tropas congolesas que se dedicam à pilhagem”, complementa o artigo. A soberania nacional não está em pauta.
Outro problema crescente é a atuação violenta do grupo rebelde Exército de Resistência do Senhor (LRA), acusado de realizar ataques cada vez mais mortais e raptar crianças para usar como soldados em suas fileiras. Segundo o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), os rebeldes assassinam uma média de 102 civis por mês na antiga província Oriental da RDC desde dezembro passado, média mais alta do que a dos últimos dois anos, que era de 64 assassinatos por mês. Pelo menos 302 pessoas, incluindo 125 crianças, também foram sequestradas entre dezembro de 2009 e março deste ano e um significativo número de civis foi mutilado durante os ataques do LRA contra aldeias.
Segundo o OCHA, o LRA cresceu em direção à remota região nordeste da RDC nos últimos anos e começou a realizar incursões nessa área. Conhecido por ataques particularmente brutais contra civis e pelo uso de crianças sequestradas como soldados, carregadores e escravos sexuais, o LRA é acusado por inúmeras violações dos direitos humanos. A maioria de seus líderes mais antigos foi acusada pelo Tribunal Penal Internacional por vários crimes de guerra.
A recente série de atentados na antiga província Oriental obrigou milhares de civis a fugirem de suas aldeias e complicou os esforços da ajuda humanitária para prestar socorro na região. “A maioria das crianças sequestradas pelo LRA desde 2008 conseguiu escapar e está recebendo suporte e assistência dos agentes humanitários. Apenas 30% dos milhões de dólares destinados ao financiamento de ajuda humanitária à República Democrática do Congo foi recebido até agora”, relatou o OCHA.
Quem financia a desgraça subsaariana?
Se o país vive uma crise humanitária, não tem condições nem para suprir as necessidades essenciais à população, de onde vem tanta arma para todas essas mortes?
Em investigação realizada pela Anistia Internacional, “estas armas e munições entram no país procedentes do Sudão, China e outros lugares. A MONUC – força de manutenção da paz da ONU – não conta com nenhum procedimento para garantir a correta salvaguarda, distribuição, armazenamento e uso do material militar por parte de unidades determinadas das forças armadas da República Democrática do Congo”. E complementa que “o continente perde uma média de 18 milhões de dólares por ano como resultado dos conflitos armados”. O narcotráfico também influi nos negócios bélicos da região que, nessa conjuntura, se torna extremamente rentável, em contraste a toda pobreza e condições sub-humanas as quais o povo está submetido.
Slavoj Zizek, filósofo esloveno, disse em artigo republicado na agência Carta Maior, em relação à exploração dos minérios e à indústria bélica, que “de acordo com essa investigação (da ONU em 2001), a exploração dos recursos naturais no Congo pelos senhores da guerra locais e por exércitos estrangeiros era ‘sistemática e sistêmica’. O exército de Ruanda fez no mínimo 250 milhões de dólares em 18 meses, vendendo coltan, que é usado para fazer celulares e laptops. A investigação concluiu que a guerra civil permanente e a desintegração do Congo ‘criaram uma situação em que todos os beligerantes ganham. O único a perder nesse negócio monumental é o povo congolês’. Por trás da fachada de uma guerra étnica, discernimos então os contornos do capitalismo global”. A indústria bélica prolifera, sobretudo a de armas de pequeno porte, irradia a morte segundo seus interesses, de maneira genocida, nas periferias das grandes potências.
Crianças, vítimas dos conflitos
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), aproximadamente 1,9 milhão de pessoas no país – metade crianças – continuam morando longe de suas casas após terem sido desalojadas em decorrência de conflitos armados. A ausência de fundos dificultaria a assistência aos desabrigados. Para alcançar as necessidades humanitárias dos que precisam de ajuda neste ano, o UNICEF requisitou 133 milhões de dólares, mas apenas pouco mais de 20 milhões de dólares foram recebidos até agora.
Segundo o Fundo, uma campanha de vacinação alcançou mais de 400 mil pessoas, incluindo 85 mil crianças até cinco anos de idade e quase 43 mil mulheres grávidas na região leste da RDC, onde o conflito se iniciou há mais de uma década. Entretanto, a falta de fundos dificultou a imunização de mais 80 mil crianças até um ano de idade e de mais de 16 mil grávidas. De acordo com agências humanitárias da ONU, civis tem sido alvos frequentes de ataques, estupros e recrutamentos para grupos armados por parte de combatentes.
Mulheres e crianças, as mais vulneráveis e atingidas pelas guerras
Em uma clínica móvel em Rugari, mulheres aguardam na fila para que seus filhos sejam examinados. Foto: Guillaume Le Duc/MSF.
Os que mais sofrem com todos esses conflitos são as mulheres e as crianças, aquelas violentadas sexualmente mediante as mais cruéis circunstâncias, dentre outras atrocidades a que estão subordinadas, e estas exploradas como mão-de-obra barata sem ter a menor noção do porquê de toda essa situação. A organização britânica Save the Children afirmou em reportagem da BBC Brasil que “houve um aumento acentuado no número de crianças sendo sequestradas para lutar ao lado dos rebeldes. Antes da atual onda de violência, havia cerca de 3 mil crianças-soldado no país”.
A Human Rights Watch informou no dia 29 de abril de 2009 que “das 91 mulheres e meninas que se sabe terem sido vítimas de violência sexual nos últimos meses, pelo menos 56 relataram que eram estupradas pelos soldados governamentais. As vítimas muitas vezes tem sido acusadas de serem esposas dos combatentes da FDLR (Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda). As tropas do governo, indisciplinadas e não remuneradas, tem pilhado e queimado centenas de casas, detido arbitrariamente civis, desrespeitado culturas locais e saqueado os seus bens”.
As condições das mulheres são ilustradas pelo relato de Eve Ensler, ativista e autora da peça Monólogos da Vagina – traduzida para mais de 45 línguas e exibida em teatros em todo o mundo – no Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2007, registrado anteriormente também no Fazendo Media: “A situação não é mais do que um feminicídio e temos que a reconhecer e analisar tal como é. É um estado de emergência. As mulheres são violadas e assassinadas a toda a hora (…) No entanto, o crime mais terrível é a passividade da comunidade internacional, das instituições governamentais, dos meios de comunicação… a indiferença total do mundo perante tal extermínio”.
No vídeo abaixo, em inglês, o fotojornalista Marcus Bleasdale apresenta seu documentário “Rape of a Nation” (Estupro de uma Nação).
No vídeo abaixo (em inglês), produzido por uma organização humanitária presente na RDC, é possível visualizar as condições de uma comunidade que sofre com a falta de mantimentos, a presença de forças armadas e a presença cada vez maior de refugiados.
Um garoto joga futebol no campo de refugiados Oyam, em Uganda, em frente a uma cabana abandonada. Foto de E. Denholm, em dezembro de 2007, para a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR/UNHCR).
No começo desse ano, o jogador profissional de futebol Bjorn Heidenstrom pegou sua bicicleta na Noruega, seu país de origem, rumo à África do Sul. Heidenstrom planeja chegar lá antes das finais da copa do mundo, que será em junho. Já chegou no continente africano e tem arrecadado fundos para os refugiados.
Heidenstrom não está sozinho. Muitos “viajantes humanitários”, como são denominados, se dedicam a causas específicas na África. A iniciativa Play4Africa, baseada na Espanha, embarcou numa longa viagem para promover a sensibilização da população no que diz respeito a problemas como jovens africanos refugiados de guerra ou perseguidos. O objetivo é reforçar o “direito dos jovens a brincar”.
Um comboio do grupo deixou Almeira, no sul da Espanha, no último dia 7 de março, com o objetivo de chegar no dia do jogo de estreia da Copa. Eles devem parar em diversas cidades, levando futebol e ajuda humanitária para comunidades pobres. Sudão, Ruanda e Quênia, com milhares de jovens fãs do esporte mais popular do mundo, são alguns dos países que serão visitados. UGANDA ACUSA SUDÃO DE ABRIGAR CRIMINOSOS DE GUERRA
Uganda acusou essa semana o Sudão de apoiar a resistência contra o país, por meio do apoio a Joseph Kony, líder do grupo Exército de Resistência do Senhor [Lord’s Resistance Army, ou LRA]. O grupo estaria se movimentando nas florestas ao sul do Sudão, na República Democrática do Congo (RDC) e na República Centro-Africana. Kony é procurado por crimes de guerra.
Yoweri Museveni, presidente de Uganda, se pronunciou sobre o caso. “Se os sudaneses querem acomodá-lo em Darfur, não faz nenhuma diferença, pois eles o apoiaram muito mais no passado”, protestou.
Forças congolesas das Nações Unidas conseguiram desestabilizar a LRA e desarmar alguns membros do grupo, que é acusado de sequestrar crianças e usá-las como soldados e escravos sexuais. No entanto, os rebeldes continuam a realizar ataques a civis na região nordeste da RDC, na República Centro-Africana e nas regiões de fronteira do sul do Sudão. (Com informações de www.savedarfur.org. Imagem: UN Photo/Albert Gonzalez Farran) INCENTIVO À EDUCAÇÃO BÁSICA NA REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) está promovendo uma campanha para garantir que 145 mil crianças na República Centro-Africana afetadas pelo conflito no país tenham acesso a livros de literatura, matemática e ciência.
Com fundos do governo belga, a agência da ONU conseguiu fornecer até o momento 60 mil livros de matemática, 60 mil de francês (língua oficial, juntamente com o sangho, que também usa muitas palavras em francês) e 2.400 guias para professores para o Ministério da Educação local.
Nos últimos anos, o país tem sofrido com conflitos esporádicos entre forças do governo e rebeldes, bem como reflexos da violência em países próximos, com centenas de milhares de pessoas deslocadas.
Segundo a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), a população possui pouco acesso ao sistema educacional, chegando em 2008 a apenas 56% da população masculina e 49% da feminina. Além disso, a taxa de abandono é alta (54%), especialmente entre as mulheres.
A OCHA indica que o número insuficiente de livros é prejudicial à qualidade do aprendizado: há dois livros para cada 9 estudantes. A entidade informou ainda que o projeto atende diversas prefeituras dentro de áreas de conflitos armados. FUTURO DAS CIDADES
Cerca de 3,3 bilhões de pessoas vivem em cidades em todo o mundo. O número representa 51% da população global e a tendência é subir. De acordo com o Programa Populacional das Nações Unidas, em 50 anos, os centros urbanos vão abrigar dois terços da população.
No início de março, Curitiba sediou a Conferência Internacional das Cidades Inovadoras – CICI2010, que discutiu o futuro das cidades e como transformá-las em ambientes propícios ao desenvolvimento econômico, social e ambiental. Saiba mais em www.portalodm.com.br EVENTO NA PUC RIO DISCUTE REFORMA NA ONU
Diplomatas brasileiros, franceses e britânicos se reúnem na PUC Rio para discutir o papel do Brasil na reforma das Nações Unidas. O seminário internacional “Por que a Reforma da ONU está paralisada?” é promovido pelo Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (IRI/PUC-Rio), com o apoio das Embaixadas do Reino Unido e da França e do Centro de Informação das Nações Unidas (UNIC-Rio), no dia 18 de março, às 17h30.
Diplomatas e acadêmicos brasileiros, britânicos e franceses tentarão responder a questões relativas à dificuldade encontrada pela comunidade internacional em reformular e revitalizar seu principal organismo de representação multilateral, e como o Brasil pode agir para impulsionar este ambicioso projeto – reafirmando a crescente importância do país em discussões de âmbito global.
O debate será realizado no auditório do Rio Datacentro e terá a participação de Alain Dejammet e Lord David Hannay, ex-representantes permanentes de seus países nas Nações Unidas. Os embaixadores Gelson Fonseca, que também já esteve à frente da Missão do Brasil na ONU, e Marcel Biato, integrante da assessoria especial de Política Externa da Presidência da República, apresentarão a posição oficial brasileira. A mesa terá ainda a participação do professor Paulo Esteves (IRI/PUC-Rio). O encontro será mediado pela professora doutora Mônica Herz (IRI/PUC-Rio).
O encontro é aberto a estudantes e jornalistas, e terá transmissão ao vivo por videoconferência para outras universidades em diferentes regiões do país, permitindo que alunos e professores da UFRGS, USP, UNB e PUC-SP e PUC Minas também participem. O evento contará ainda com transmissão simultânea pela internet nos seguintes endereços: Portal PUC Rio Digital (http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/) e UKinBrazil (http://ukinbrazil.fco.gov.uk/undebate).
Começou no domingo, 10 de janeiro, a 27ª Copa Africana de Nações, reunindo as 16 melhores seleções de futebol do continente negro. Infelizmente, uma tragédia já marcou para sempre esta CAN. Na sexta, 8, um ônibus que transportava a delegação de Togo, do Congo – onde os togoleses se prepararam – a Angola, país-sede da competição foi metralhado por guerrilheiros da Frente de Libertação do Estado da Cabinda (FLEC), que há quase 35 anos luta pela independência do enclave angolano, situado entre o Congo e a República Democrática do Congo.
Três homens não sobreviveram aos disparos – o motorista congolês, além de um dos auxiliares técnicos e do assessor de imprensa da seleção de Togo – e o goleiro Kodjovi Obialé está internado em estado grave, correndo risco de sequelas motoras. Nossos sentimentos às famílias das vítimas e nossos melhores pensamentos com a delegação de Togo, que desistiu de jogar a CAN a pedido de seu governo. Chocante que os nomes das vítimas fatais não apareçam nos jornais e sites.
O que não se pode aceitar é que alguns se aproveitem do trágico atentado para atacar a imagem da África e do futebol daquele sofrido continente, como se um incidente como esse não pudesse ocorrer em qualquer parte do mundo, afetando um evento esportivo de tal magnitude.
Por acaso na Grã-Bretanha e na Espanha também não há violentas lutas separatistas? Então como as Copas do Mundo de 1966 e 1982 puderam ser realizadas – em época em que as guerrilhas do IRA e do ETA eram mais atuantes, sendo ainda coadjuvadas por outros grupos igualmente violentos – e, tem mais, com vários jogos, no caso da Espanha, em cidades então turbulentas, como Bilbao e Barcelona? Como as Olimpíadas de 1972, em Munique, continuaram mesmo após a morte de dezenas de atletas israelenses feitos reféns por ativistas palestinos?
Clubes da Inglaterra, ao que parece, dão de ombros para esse chamado à coerência. Chelsea F.C e Portsmouth, que somados cederam sete jogadores a diferentes seleções classificadas para a CAN Angola-2010, pasmem, exigiram a devolução de “seus” atletas, os mesmos que, em sua maioria, foram comprados como mercadoria na feira ainda na pré-adolescência – quando algumas centenas de dólares são suficientes para seduzir famílias famintas – por essas megamultinacionais da bola.
Vale lembrar que mais de 90% dos jogadores inscritos na Copa Africana de Nações são contratados de clubes europeus. E o que dizer da imprensa europeia, se apressando em questionar até mesmo a realização da Copa do Mundo na África do Sul? Acaso a Europa esqueceu-se da enorme (enorme? Infinita!) parcela de responsabilidade na tragédia de violência, miséria e fome em que se transformou o continente onde praticamente nasceu a humanidade?
E, lamentável, setores da imprensa brasileira – até mesmo aquele canal de esportes que se orgulha de ser independente, politicamente correto e crítico, a ESPN Brasil – parecem ter comprado a tese de que africano não tem que se meter a organizar evento internacional! Ou no mínimo reproduzem as críticas fáceis, esquecendo de fazer o devido resgate histórico e as obrigatórias contextualizações.
Vamos contar uma historinha para, quem sabe, refrescar a memória dessa gente, talvez acometida da mesma doença que vitimou o jornalista Boris Casoy. Até o século 19, os atuais Congo, República Democrática do Congo (que um dia já foi Zaire) e o enclave angolano da Cabinda eram todos parte do histórico Reino do Congo, já então invadido e espoliado por franceses, belgas e portugueses.
Num belo dia de 1885, quando as pressões da industrializada Grã-Bretanha já haviam obrigado à abolição do tráfico negreiro África-Américas, as potências colonizadoras europeias resolveram se reunir em Berlim e formalizar uma “partilha” do continente africano, para iniciarem uma nova etapa de exploração, talvez mais sofisticada. Nos salões perfumados da capital alemã, o antigo Congo foi dividido em Congos Francês, Belga e Português. O Congo Português é a Cabinda.
Poucos anos depois da partilha, os belgas exigiram um litoral para seu Congo “Kinshasa” – assim os portugueses cederam parte de seu litoral (a franja sul do território) e isolaram para sempre a atual Cabinda de Angola (veja mapa). Em 1975, com a vitória das forças libertadoras da África Portuguesa sobre as tropas de Lisboa na Guerra do Ultramar, o MPLA, movimento libertador de Angola, conseguiu reunir Cabinda ao território da nova República de Angola. Desde então, os cabindenses lutam por sua independência contra o exército angolano, motivo pelo qual, provavelmente, aconteceu o terrível atentado do dia 8.
Jornalistas brasileiros, acordem! Essa crise tem as impressões digitais do colonialismo e do imperialismo europeus, mas há quem insista em negar. Mesmo quando se sabe que a Europa, através de seu futebol explorador do trabalho infantil, associado a patrocinadores como Adidas e Nike, que fabricam material esportivo através de mão-de-obra barata ou precária (adivinhem onde?), quando não com trabalho escravo mesmo, continua a reproduzir na África a lógica espoliadora de todas as etapas do imperialismo: a primeira etapa colonialista (marcada pelo Pacto Colonial e pela escravidão dos negros), o pós-Conferência de Berlim (com o acúmulo de capital das metrópoles via empobrecimento das colônias) e a conjuntura atual, de submissão dos interesses locais às transnacionais sediadas nas antigas metrópoles. Pobre Mãe África…