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Reflexões sobre a vida durante a pandemia

Por Viviane Mosé*

Vivemos uma crise profunda. A civilização, com as suas sofisticadas construções tecnológicas, se vê suspensa e paralisada por um vírus. Por todo lado, a morte domina os noticiários, os corpos se acumulam, o sofrimento está exposto. Mas também as perdas econômicas, o desemprego, o desespero, o isolamento forçado. Vamos demorar a sair desta crise. Precisamos aprender a lidar com ela. Aprender a usar as redes sociais. Aprender a não usar. Aprender a parar. Estamos diante da impotência da vontade. Não há o que possamos fazer. Apenas parar, esperar. Não há dinheiro, fama, beleza que resolva. Há coisas na vida que nos obrigam. É preciso aprender a lidar com os limites, com as frustrações.

Assista:

*  Poeta, filósofa, psicanalista.

Fonte: YouTube

(26-05-2020)

O cadáver que ninguém quer enterrar

‘Querido, olhe! Ele já está reforçando suas ideologias!’ (Mark Anderson, andertoons.com)

Atualmente, há tantas informações disponíveis que nada mais parece estar disponível. O fato de um panda rolando na grama chamar centenas de vezes mais atenção que o assassinato de centenas pessoas em alguma cidade na Ásia ou na África mostra a falência do modelo de informação contemporâneo.

Um conservador como Philippe Breton tinha alguma razão, afinal, quando dizia que a TV aberta tinha, pelo menos, o mérito de forçar a reflexão sobre o que ‘todos’ deveriam ver – antes de ser completamente abandonada aos tubarões na maioria dos países.

A acomodação é completa quando as redes sociais que mais estimulam o esquecimento são as mais valorizadas como principal instrumento de “transformação social”, enquanto o mundo real desaba em mais de 15 conflitos inimaginavelmente sangrentos. Muitos em países que quase ninguém ouviu falar, como Eritreia ou Sudão do Sul; outros a alguns bairros dali.

Entre as falácias que se desconstroem pouco a pouco desde os anos 1990 está a de que o modelo da TV (de poucos para muitos) seria ‘revolucionado’ pelo modelo da Internet (muitos para muitos), com suas poderosas redes interativas. As mudanças, se existiram, privilegiaram a individualização cada vez maior de seus usuários, agora presos em seus guetos comunitários e bolhas digitais, superconfortáveis com as opiniões de pares ideológicos.

O péssimo jornalismo que se faz nos sites não profissionais de jornalismo – alguns lembrando o igualmente terrível e tradicional jornalismo dos grandes meios – demonstra que os sindicalistas estavam, em parte, certos nos anos 1990 e 2000: destruir institucionalmente a profissão de comunicador em prol dos novos modelos não alinhados não foi uma ideia exatamente brilhante.

Passados pouco mais de 15 anos após as primeiras experiências no Brasil, por exemplo, contam-se nos dedos os sobreviventes. O mesmo se repete pelo mundo, com as gloriosas exceções que confirmam a regra (o jornalismo, afinal, sempre teve bravos nanicos).

A crise na mídia de grande circulação não produziu novos atores – pelo contrário, continua o segmento de mídia superconcentrado em todo o mundo, enquanto os levianos adeptos da ‘ciberdemocracia’ continuam fingindo que está tudo bem. Até porque pega mal dizer que eles estavam grosseiramente equivocados.

O velho está cada vez mais exposto, o que não deu qualquer vantagem para o novo. Se é que há algo de novo.

Y

Ayer pasé algún tiempo dando una mirada a los textos que supongo podrían llegar a componer un libro que estoy imaginando. Un libro que vengo construyendo. Esta tarea siempre tiene la virtud de devolverme algunas sensaciones que aprecio mucho. Una de ellas, un sentimiento de unidad en la diversidad, ya que se trata de escritos que fueron producidos en momentos diferentes, y por lo tanto, traducen experiencias singulares.

La sensación de unidad viene dada sobre todo, por el hecho de que actualmente, vengo experimentando un sentimiento de estar sindo uno, de ser uno con mi historia, mis raíces, mi familia, mi trayectoria vital. Mi estar aquí, es cada vez más, el de alguien que es uno consigo mismo y con todo lo que lo rodea. Y también la sensación de unidad, es porque buena parte de mis escritos se refiere a experiencias y prácticas que conducen a lo uno, a lo que es entero, a lo que no tiene ni soporta división (como decía mi madre Gita Lazarte en uno de sus escritos).

Estas prácticas se sitúan en lo cotidiano, el vivir diario, tanto como en la convivencia familiar, la Terapia Comunitaria Integrativa, el arte (pintura y escritura, dibujo), la contemplación de lo bello, la poesía, la literatura, la oración, la vida espiritual, la salud mental comunitaria, es decir, los campos o esferas en los que vivo y actúo.

Lugar de mim

Nunca enfatizarei o bastante, o quanto tenho voltado a ser quem sou, graças ao diálogo. Um diálogo em boa medida possibilitado em particular por esta revista, mas também em espaços como a família e os amigos e amigas. Aquelas pessoas que nos querem bem, que se importam conosco.
A gente pode ter-se perdido, como creio que foi o meu caso, mas podemos nos ter de volta. E para isto, é imprescindível esse espaço aconchegante, caloroso e confiável, de algumas pessoas que verdadeiramente nos querem bem.
Não se volta pela mão de doutrinas ou teorias, dogmas nem fórmulas mágicas. Volta-se pela companhia de pessoas inteiras em quem começamos a ter reflexos do ser que somos. Reflexos que tínhamos deixado de ver, em função da necessidade imposta por papéis sociais em que fomos nos alienando, nos estranhando.
Alguém que acreditou em mim, alguém em quem fui tendo outra vez vislumbres do ser que sou, tornou-se uma peça chave na recuperação da minha identidade. Este alguém é alguém em particular, e várias outras pessoas. Volta-se em comunidade. Daí a Terapia Comunitária Integrativa como um lugar em que a pessoa pode ir se tendo de volta.
Pode ir se lembrando de quem é.
Como seres humanos, somos seres de habitação, seres que ocupam um lugar, ou muitos lugares. Mas os lugares não são espaços arbitrários. O lugar da nossa habitação, os lugares em que podemos ser e de fato somos quem somos, são lugares nossos, lugares próprios.
“Poéticamente habita o ser humano”, disse o poeta. Poéticamente, porque o lugar que somos, o lugar da nossa pertença, é um lugar integrado, não figurado. É um lugar real, feito por nós mesmos; não é um lugar emprestado, ou cedido por alguém.
No tempo em que comecei a me ter de volta em escritos, pela palavra lançada em busca de ecos no diálogo, esta revista era ainda um blog. O fato de ter sido aceito para formar parte deste espaço, foi muito significativo para mim.
Eu comecei a ter vislumbres do meu próprio ser, na medida em que ia interagindo com outras pessoas, algumas conhecidas diretamente, outras virtualmente. E nestes já mais de 13 anos de permanência neste espaço, a vida foi indo, a vida foi vindo, nesse seu vaivém.
Agora estou voltando da minha terra natal, Mendoza, Argentina, onde pude ir me incorporando a trabalhos formativos em Terapia Comunitária Integrativa, em Posadas (Misiones) e Paraná (Entre Ríos). Isto marcou uma inflexão.
Tive que sair da Argentina por causa da situação criada no país pela ditadura cívico-militar que se ensenhoreou da vida e da morte dos argentinos e das argentinas, nos anos de 1976 a 1983. Quebra, perda de raízes.
A recuperação da minha identidade vem ocorrendo nos espaços da Terapia Comunitária Integrativa, mas também no espaço da família e das redes solidárias, de amigos e amigas. Nas redes da saúde mental comunitária e da literatura e da poesia.
A literatura e a poesia como lugares em que se recupera a unidade da vida, a realidade da vivência, sua integridade. A vida tal como ela é, nos vem nestes espaços de refazimento, em que não somos genéricos (ninguém é genérico ou genérica), mas individuais: o ser que somos.
No exercício do diálogo propiciado pelas publicações nesta revista e também nos meus blogs e nos livros que fui publicando nestes 13 anos, foi se desfazendo o estranhamento em que tinha caído, sem me dar conta.
“Ninguém se enxerga sozinho. Necessitamos do outro como nosso espelho e nosso guia” (Peter Berger). Na medida em que fui me vendo nas falas e nas vidas, nas experiências e nas histórias de vida de outras pessoas, pude ir reconstruindo meu próprio lugar.
Pude ir me vendo de novo como um ser com raízes, com uma história pessoal e familiar parecida (embora única), em meio a esforços coletivos de recuperação da própria identidade. Isto é o que a Terapia Comunitária Integrativa possibilita.
Desfaz-se a ilusão da fragmentação, da solidão e do isolamento. Podemos nos ver novamente como coletivos, como partes de uma trama maior que nos inclui, nos contém e nos sustenta, nos dá sentido. Há uma esperança, há um amanhã, porque há raízes, há pertencimento.

Fim de ano

É o ano que se vai, ou somos nós que vamos passando? Um ano é muito tempo. Acontecem muitas coisas nesse período de tantos dias! Um dia já é muito tempo, que dizer, então, dessa continuidade de dias que é o ano que se vai.

Agora que falta pouco para o fim deste ano, é como se todos os finais de ano viessem se concentrar neste instante. Cada fim de ano, do primeiro, até os seguintes, todos, até o final do ano passado. Até o final deste ano, que ainda não chega.

Mas os sons dos foguetes na praia. E as luzes no céu e no mar. E os barcos flutuando nas águas da baia. Quantos trabalhos, pessoais e coletivos, reuniões, encontros, desencontros, quedas, tropeços, recomeços!

Dores, medos, sonhos, esperanças. Um amigo muito querido que partiu. Um ano que se anuncia incerto. Um quebra cabeças que se vai montando e desmontando a toda hora. Isto é a vida. As palavras vão para frente, os escritos ficam para atrás.

Mas desses escritos emana alguma coisa. Um invólucro tênue, que é a reunião de alguns fios de luz catados pelas ruas por onde andaste. Noites de vigília. Expectativas. A primeira formação de terapeutas comunitários em Montecarlo, Misiones, Argentina.

As idas a Mendoza. Tudo isto. O congresso da Terapia Comunitária Integrativa em Carapibus, Paraíba, Brasil. Olhas todo este tempo que faz redemoinhos e te envolve, gira e dá mais voltas. O seminário teológico José Comblin.

As redes de que participas. As viagens. O aprendizado a toda hora. Cada lugar, cada pessoa encontrada, tudo conflui para este agora que está por passar rapidamente. Já passa, já passou. Passará de novo.

Às vezes te parece que todo o presente já foi vivido. O presente é um passado imemorial que retorna. E o ano que vem, às vezes pensas, é um ano que volta, desde algum lugar muito distante.